O celibato na Bíblia



O celibato na Bíblia

Autor: D. Amaury Castanho


 

Jundiaí (SP), 18/5/2004 - 08:31


Se o leitor espera localizar no Antigo Testamento um texto favorável ao celibato, desista. Irá encontrar, logo no Gênesis, a ordem divina "Crescei e multiplicai-vos, enchei a terra"(Gn 1, 28). Deus mesmo é o instituidor do casamento e da família! Outros livros valorizam tanto a maternidade, que há passagens em que mulheres estéreis e sem filhos dizem preferir a morte. Casar-se e gerar filhos era para toda e qualquer mulher judia o sonho de sua vida. No fundo sabiam que de uma delas deveria nascer o Messias, o Salvador, repetidamente prometido por Javé e os profetas de seu povo.


A opção por uma vida celibatária e virginal é novidade do Novo Testamento. Maria de Nazaré, por exemplo, quando um enviado de Deus lhe anuncia que daria à luz o "Filho do Altíssimo", declara não entender como. Fizera um voto de virgindade: "Como se fará isso? Eu não conheço homem algum", não tenho e nem pretendo ter relação sexual com nenhum homem. A bela passagem está no Evangelho de São Lucas, no capítulo 1º, versículos de 26 a 38. Somente quando o Arcanjo Gabriel a esclarece e assegura que conceberia virginal e miraculosamente, "por obra do Espírito Santo", ela dá o seu consentimento: "Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra!". Dizia o seu "sim" ao misterioso plano salvífico de Deus, que quis para o seu Filho u'a mãe virgem, sem interferência de homem algum.


Mais adiante, Cristo se torna adolescente, jovem e homem adulto. Participou, com os Apóstolos e sua mãe, de um casamento na cidade de Caná da Galiléia. Realizou ali o seu primeiro milagre convertendo a água em vinho, para alegria do novo casal e dos participantes daquelas bodas. Ele mesmo, porém, conservou-se virgem toda a sua vida. Quando, aos 30 anos de idade, deu início à sua vida pública, anunciando a chegada do Reino de Deus, reuniu em torno de si doze homens. Pedro, um deles, era certamente casado. Os demais, menos João, muito provavelmente também o eram. Este, jovem, porém, era virgem e perseveraria sempre assim. Identifica-se como o "discípulo que Jesus amava". Certamente, não só por ter os seus 15, 16, ou 17 anos mas, também, porque virgem!


Ninguém encontrará nos quatro Evangelhos uma palavra sequer contra o casamento e a família. Pelo contrário, o divino Mestre proclamará e restabelecerá em um dos momentos mais importantes do seu magistério, o belo plano de Deus: "Deixará o homem seu pai e sua mãe. Unir-se-á à sua mulher e serão dois em uma só carne... Não separe o homem o que Deus uniu... Todo aquele que repudiar a própria mulher e desposar uma outra comete adultério" (Mt 19, 3-12). O casamento e a família, instituições de origem divina, deverão ser sempre a união de um homem com u'a mulher, sagrado e monogâmico, fecundo e indissolúvel. Esse foi o plano de Deus desde o princípio. O homossexualismo, a poligamia, o divórcio e a contracepção o subvertem.


O ensino de Cristo pareceu duro demais para os Apóstolos, tanto que tiraram uma conclusão radical indo muito além do que dissera o Mestre: "Se é assim, se essa é a condição do homem e da mulher, é melhor não se casarem!". É o momento em que Cristo aprofunda o problema declarando: "Nem todos são capazes de compreender o sentido destas palavras, mas somente aqueles a quem for dado. Alguns não se casarão por amor ao Reino dos céus. Quem puder compreender que compreenda"(Mt 19, 10-12).
Essa palavra do Filho de Deus ecoará pelos séculos, levando milhões de homens e mulheres a uma consciente opção celibatária, casta e virginal. Hoje os sacerdotes diocesanos e religiosos celibatários são cerca de 405 mil. As mulheres que consagraram a própria virgindade a Deus e aos interesses do seu Reino passam de 900 mil na Igreja católica. As Igrejas ortodoxas também contam com monges e monjas celibatárias, existindo comunidades de virgens em uma ou outra Igreja protestante, como na anglicana e luterana.


O texto citado acima, do próprio Cristo que, volto a repetir, optou ele mesmo pela virgindade, fundamenta a lei da Igreja para os que se sentirem vocacionados para o sacerdócio ou a vida religiosa. A motivação de fundo é o "amor ao Reino dos céus", o serviço da proclamação do Evangelho no mundo, a construção do Reino de Deus entre os homens e na sociedade. Claro, nem todos haverão de compreender essa opção, como aliás adiantou o próprio Cristo. A castidade e a vida celibatária, vividas generosa e fielmente, são fontes de alegria interior, liberando o homem e a mulher para o serviço total a Deus e aos homens.


O Apóstolo Paulo, também celibatário, acrescentará em sua 1ª Carta à Comunidade de Corinto, no capítulo 7, outras válidas razões em favor da virgindade. Espero poder refletir, ainda, sobre o pensamento do grande Apóstolo que, aliás, afirma o primado da virgindade sobre o casamento, quando a opção virginal tiver nobres motivos.

 

 

Fonte: Font, Dom Amaury Castanho - Bispo Emérito de Jundiaí

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