A mentalidade bíblica de católicos e protestantes



Fonte: Para defender sua fé católica

Autor: Irmãos Missionários


Queridos irmãos:


Outro dia li um conto de uma jovem de lindos olhos e que por tal motivo era admirada e perseguida pelos homens. Nesta história de ciência de ficção se dizia que seus olhos, para ela, eram ocasião de pecar, e como esta menina lia todos os dias a Bíblia, um dia leu esta frase: “Se teu olho te faz pecar, arranca-o”(Mt 5,29), e então ela tomou uma fatal determinação: jogou um ácido em seus olhos para que se queimassem e assim perdeu a vista para sempre...


Isto não é senão uma história que foi imaginada por um novelista com o fim de demonstrar o que pode acontecer ao interpretar a Bíblia ao pé da letra e sem consultar ninguém. Suponhamos que o exemplo seja certo. Se a menina tivesse perguntado a um sacerdote católico, este lhe teria dito que esta frase da Bíblia não se deve interpretar assim, mas que se trata de uma figura literária.


O que Jesus nos quer dizer aqui é que quando há algo que alguém ama muito e esse algo tão precioso é ocasião de pecar, deve-se renunciar a isso. Por exemplo: renunciar a uma amizade perigosa, deixar um negócio sujo, etc., e isso, mesmo que nos custe muito...Mas Jesus em nenhum momento nos quer dizer que tenhamos que mutilar nosso corpo, que está criado à imagem e semelhança de Deus.


Como é diferente interpretar a Bíblia sozinho ou consultando um entendido.


Se alguém não sabe e não consulta a ninguém, pode enganar-se ao interpretar a Bíblia. E se o que não sabe ensina outro é como um cego que guia outro cego. Os dois vão ao abismo (Mt 15,14).


Queridos irmãos, este fato é uma simples fantasia de um escritor. Mas todos conhecemos em nosso tempo fanáticos seguidores de seitas protestantes que chegaram ao suicídio coletivo com a Bíblia na mão...


É muito importante ter critérios claros para interpretar bem a Bíblia. Neste texto vamos observar com que distinta mentalidade os católicos e os protestante lêem a Bíblia. É um tema algo difícil, mas é um ponto no qual os católicos se diferenciam fundamentalmente dos protestantes. Em nossa explicação não queremos ofender ninguém. Toda pessoa merece nosso respeito e é digna de que a amemos, como Cristo nos ama. Mas queremos buscar a verdade, já que os erros merecem sempre nosso repúdio. “A verdade nos fará livres”.


Entendemos como “mentalidade bíblica” o critério, ou o modo de pensar, com que normalmente se interpreta a Bíblia. Primeiramente expliquemos a mentalidade bíblica dos católicos e logo a mentalidade dos protestantes,para finalmente dar algumas pistas para fazermos juntos uma leitura bíblica.


Mentalidade bíblica católica


É uma mentalidade histórico-crítica. O católico, com um profundo sentido de fé e de oração, valorizou em todo tempo o estudo sério da Bíblia. Este estudo aproveita as contribuições de várias gerações, e dá um sério fundamento à nossa espiritualidade bíblica. Quer dizer que não é fácil começar a estudar a Bíblia. Isto implica um mundo de conhecimentos. A Igreja Católica está ciente de que ler a Bíblia, sem uma adequada preparação, é tentar a Deus. Deve-se preparar para lê-la. Se não, pode acontecer qualquer coisa. Assim o ensina a história. Uma pessoa que sabe pouca história e pouca geografia e não tem costume de situar o que lê em seu contexto próprio,pode, com a Bíblia na mão, dizer grandes barbaridades.


Um estudo sério da Bíblia exige:


1.Conhecer do melhor modo possível o texto sagrado, em sua língua original ou em suas traduções, e manter-se razoavelmente fiel ao texto.

2.Conhecer a origem, a formação e a transmissão dos livros sagrados;seus muitos variados estilos literários e o contexto histórico em que foram escritos.

3.Exige-se também conhecer os condicionamentos culturais próprios da época em que se encarna e se transmite a Palavra de Deus. Sem dúvida muitos elementos culturais daquela época são relativos, mutáveis e passivos de melhoria.

4.Exige-se ver a diferença radical, ainda que complementar entre o Antigo e o Novo Testamento já que existe uma grande evolução e mudanças doutrinais entre o Antigo e o Novo Testamento.

5.Exige-se ver toda a Bíblia como caminho para a plenitude em Cristo. É o que se chama o Cristocentrismo bíblico. Existe uma infinidade de problemas que exigem ao estudioso da Bíblia ser humilde e alegre, convencido que o

estudo da Bíblia é difícil, e ao mesmo tempo, fascinante e inesgotável.


Que significa ter mentalidade eclesial?


Quer dizer que o católico recebe e interpreta a Bíblia dentro da comunidade do Povo de Deus, dentro da tradição divino-apostólica, viva e histórica que é a Igreja. E isto não é por capricho ou devocionismo barato, mas porque assim o exige a natureza da Bíblia. Porque a Bíblia não é um livro estranho caído repentinamente do céu. O livro sagrado nasceu e se formou lentamente dentro de uma longa tradição, dentro da comunidade do Povo de Deus no Antigo


Testamento e dentro da comunidade da Igreja primitiva. De fato a Igreja poderia viver sem Bíblia escrita, mas não sem sua mensagem divina, sem sua Palavra, sem seu Evangelho e sem Cristo presente na comunidade. Isto é,antes que existisse a Bíblia escrita, já havia uma tradição viva da mensagem divina na pregação, na catequese, na liturgia e na vida dos primeiros cristãos.


É por isso que não podemos prescindir da tradição, do modo como nossos ante-passados na fé viveram,interpretaram e defenderam a Bíblia. Somos seus herdeiros.


Mas ainda, a expressão e a garantia da interpretação autêntica da bíblia,dentro da igreja, concerne de modo particular ao Magistério oficial da Igreja (ao Papa e aos Bispos, que são os legítimos sucessores dos Apóstolos) (Mt 16,19;Mt 18,18).


Sentir com toda esta tradição viva é, pois, sentir com a Igreja, é ter mentalidade eclesial. Não se trata de um tema fácil, mas tão pouco, por ser difícil, se vai deixar de lado esta tradição eclesial.


Isto tão pouco nos impede a iniciativa pessoal no estudo e reflexão da Bíblia. Ao contrário, antes nos incentiva, nos dá amplitude e segurança em nossa leitura bíblica. A mentalidade eclesial católica rejeita, portanto, a interpretação da Bíblia, sozinho ou em grupo, de forma independente e absoluta à margem da Igreja.


Advertimos que esta mentalidade eclesial, às vezes, se torna dificultosa especialmente quando se trata de inculturar o Evangelho em povos que viveram alheios a esta tradição e cultura cristã. Esta inculturação do Evangelho exige a originalidade da mensagem bíblica aterrisada em sua própria cultura, livre de condicionamentos e de ataduras culturais estranhas. A Bíblia nunca pode ser um pretexto para destruir uma cultura.


A mentalidade bíblica protestante


O protestantismo nasceu na Alemanha quando Martinho Lutero, sacerdote católico alemão, se separou da Igreja Católica em 1517. Hoje, somente na Europa e na América há mais de 600 diversas Igrejas protestantes com enormes diferenças de doutrina e de normas.


1. De onde nasce o divisionismo protestante?


Do famoso: Só a Bíblia!, e da interpretação pessoal da Bíblia.


A raiz de tantas divisões na Igreja protestante está na mentalidade com que o protestante lê e interpreta a Bíblia. O protestante, em geral, tem este critério para ler a Bíblia: Só a Bíblia! E sua interpretação pessoal.


O protestante, falando em geral, crê que só a Bíblia contém e manifesta por si mesma toda a revelação de Deus.

Não necessita da Tradição viva da Igreja. A Bíblia, por ser Palavra de Deus,é inteligível por si mesma. A iluminação que o Espírito Santo põe no coração de cada um diz – basta para interpretar corretamente a Palavra de Deus. E assim, por princípio e em geral, o protestante prescinde da Tradição da Igreja, da história da Bíblia e de sua complexidade humana.


Isto é um grave erro desde a perspectiva bíblica católica. Mas isto não tira que este amor pela Bíblia tenha produzido entre os protestantes grandes biblistas de fama internacional, e impulsionando muitos dentro do protestantismo a “viver o Evangelho” e a “seguir a Cristo”, de mil formas autenticamente cristãs, e com imensa liberdade de espírito, muito na linha de São Paulo e de São Francisco de Assis.


2.Só a Bíblia é suficiente?


A exagerada concepção de “só a Bíblia” levou o protestantismo a difundir a bíblia de qualquer maneira, por milhões, de edições sem nenhuma explicação orientadora, deixando a interpretação a gosto do leitor. Com igual critério,traduziu a Bíblia precipitadamente a outras culturas ou línguas aborígenes e insuficientemente conhecidas, originando inumeráveis novas e diversas Igrejas autóctones, sincretistas e indefiníveis.(Dizem que na África surgiram já mais de 2000 novas e diversas Igrejas protestantes, autóctones,e que algo muito parecido está acontecendo na Ásia).


O livre exame da Bíblia dentro do protestantismo criou a maior libertinagem interpretativa. Muitos entenderam a inspiração bíblica ao pé da letra, caindo num fundamentalismo bíblico totalmente defasado. Outros julgaram a Bíblia como um livro meramente humano. Pulularam pregadores independentes do Evangelho, sem nehuma filiação eclesial.


Caíram no “biblismo” e no “bibliocentrismo” (absolutização da Bíblia) e até na “bibliolatria” (culto idolátrico à Bíblia).


No século passado proliferaram, especialmente nos Estados Unidos, Igrejas escatalógicas, sobrevalorizando quase exclusivamente o livro do Apocalipse,fixando datas para o fim do mundo, assinalando com o dedo o anticristo, proclamando exatamente quantos e quais vão se salvar e excluindo o resto do mundo, cristãos ou não, como pagãos e abomináveis...


Enfim,com a Bíblia na mão chegou-se a atitudes realmente fanáticas,totalmente antiecumênicas, escravizantes e irracionais. Por isso um poeta disse com desprezo e com zombaria acerca dos que interpretam a Bíblia a seu gosto: “Inventam suas próprias doutrinas, apóiam-nas na Bíblia e as têm por

divinas”.


Queridos irmãos, como verdadeiros católicos devemos esperar que logo chegue o tempo em que leiamos a Bíblia juntos com os irmãos protestantes, com espírito de união, de amor, de paz e de fraternidade universal.


Que sejamos capazes de ler a Bíblia com uma mentalidade libertadora: Cristo,Deus-Homem, é de todos, Ele é nosso caminho, nossa verdade e nossa vida(Jo 14,6). A história humana é essencialmente uma história de amor e de salvação em Cristo(Col 1,13-20;Ef 1,3-14).


Resumindo: valorizamos em sua justa medida o amor que os evangélicos sentem pela Bíblia. Oxalá que os católicos tenham também um grande apreço pelo livro santo e seja nosso livro de cabeceira. Mas para nós a Bíblia e a Tradição têm que ir de mãos dadas e não podem se separar. E a garantia da Tradição nô-la dá o Magistério da Igreja, representado pelo Papa.


Graças a este Magistério, a Igreja Católica pode dizer: Um só Senhor, uma só fé, um só batismo. E também “Creio na Igreja Una,Santa,católica e apostólica”.


Mentalidade bíblica católica e protestante


Gal 3,1-6: “Ó insensatos Gálatas, quem vos fascinou a vós ante cujos olhos foi apresentada a imagem de Jesus Cristo crucificado?”


Ef 4,20-24: “Vós, porém, não foi para isto que vos tornastes discípulos de Cristo, se é que ouvistes e dele aprendestes, como convém, a verdade em Jesus. Renunciai a vida passada,despojai-vos do homem velho corrompido pelas concupiscências enganadoras renovai sem cessar o sentimento da vossa alma, e revesti-vos do homem novo, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade”.


2Pedro 1,20-22: “Antes de tudo sabei, que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal. Porque jamais uma profecia foi proferida por efeito de uma vontade humana. Homens inspirados pelo Espírito Santo falaram da parte de Deus.”

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