Em memória de mim

 


Em memória de mim

Autor: Dom Odilo Pedro Scherer (Bispo Auxiliar de São Paulo Secretário-Geral da CNBB)

Entre os vários aspectos da fé da Igreja Católica na Eucaristia, na Encíclica Ecclesia de Eucharistia (EE) o Papa João Paulo II recorda que ela é o “memorial” de Jesus Cristo. A Eucaristia não é relacionada apenas com um
gesto ou uma atitude em particular de Jesus, mas é o sacramento de sua pessoa e de sua obra redentora, no sentido mais pleno. Assim compreendemos bem o que o Concílio Vaticano II disse, e o Papa repete: “na santíssima
Eucaristia está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo” (EE 1).

Com efeito, quando a Igreja celebra a Eucaristia, é Jesus Cristo que a convoca e reúne mediante a palavra da fé; na pessoa. do ministro ordenado, é o próprio Jesus que preside a comunidade eucarística (cf. SC 7). E quando se
proclamam as Escrituras durante a celebração, é ainda Ele quem fala e evangeliza o seu povo. Quando a comunidade celebrante oferece preces e louvores ao Pai, é Jesus Cristo, Pontífice da nova e eterna aliança, quem
apresenta a Deus Pai as oferendas e oblações. E é Jesus que continua a se doar como alimento aos que se aproximam para recebê-lo na comunhão. Finalmente, quando a celebração é encerrada, Jesus envia novamente seus discípulos em missão para levarem a boa nova a toda criatura.

O Papa recorda o sentido e valor sacrifical da Eucaristia: é o sacramento do sacrifício de Jesus oferecido uma vez por todas sobre o altar da cruz (EE 12). O próprio Jesus no momento da instituição da Eucaristia, durante a
última ceia, deixou claro isto: entregando aos apóstolos o pão – “meu corpo” – Jesus aludiu à “entrega” deste corpo sobre a cruz em favor da humanidade; da mesma forma, ao lhes passar o cálice com o vinho – “meu sangue” – aludiu ao derramamento do seu sangue na paixão. A Eucaristia recorda a entrega livre, amorosa e total de Jesus a Deus Pai, em favor da humanidade; por isso ela é sacrifício verdadeiro (EE 13).

A Eucaristia é o memorial da paixão, morte e ressurreição de Jesus; não se trata de mera lembrança do passado, mas é presença sacramental. É o sacrifício de Jesus que se perpetua através dos séculos” (EE 11). Também não
é repetição do passado, não é outro sacrifício: é o único e suficiente sacrifício de Jesus pela nossa salvação, que se torna presente e atual, para que também nós tenhamos parte nele hoje e se realize assim a obra da nossa
redenção, no presente. A Igreja vive continuamente deste sacrifício redentor e tem acesso a ele não somente através de uma lembrança cheia de fé, mas também mediante um contacto atual. E, “por Cristo, com Cristo e em Cristo”, também ela oferece o sacrifício espiritual de si própria a Deus Pai (cf. LG 11).

Mas não é somente o mistério da paixão e morte de Jesus que é tornado presente, quando a comunidade se reúne para celebrar a Eucaristia: ela também faz a memória de sua gloriosa ressurreição dentre os mortos. Por isso
ela aclama: “proclamamos vossa ressurreição”. A Igreja reconhece e anuncia que Jesus está vivo e presente no meio dela: “ele está no meio de nós!” O Ressuscitado é o “pão vivo” e vivificante, que se doa continuamente para a vida do mundo e nutre a humanidade a caminho do reino definitivo (EE 14).

Por aí podemos compreender melhor o título que o Papa deu à Encíclica: “Ecclesia de Eucharistia” (A Igreja vive da Eucaristia). De fato, mais do que em qualquer outro sacramento, é na Eucaristia que a Igreja é continuamente congregada pelo seu Senhor, nutrida por Ele mediante o anúncio do Evangelho e pelo Pão da vida, redimida pelos méritos de seu sacrifício pascal, estimulada a viver na unidade da fé e da caridade, animada na esperança e enviada em missão. A Igreja tem os olhos continuamente voltados para seu Mestre e Senhor, que a conduz como Bom Pastor e por ela intercede sem cessar junto do Pai; de Jesus, ela recebe vida em abundância, mediante a
efusão do Espírito Santo.“Fazei isto em memória de mim” (Lc 22 19): esta ordem de Jesus na instituição da Eucaristia lembra continuamente a Igreja que ela está indissoluvelmente unida à pessoa e à missão de Jesus Cristo; Ele mesmo, com tudo o que fez e ensinou, permanece a referência irrenunciável para tudo o que a Igreja faz e vive. Lembra ainda que a missão de Jesus continua presente no tempo através da Igreja; esta missão só será eficaz quando a Igreja se une estreitamente ao seu Mestre e Senhor, como é significado e realizado na celebração do sacramento da Eucaristia.

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