Eucaristia: Cristo alimento
Fonte: Apologética Siloe
Autor: Guido Zamorano
Tradução: Rogério Hirota
Em Israel haviam multidões de sacrificios; muitos deles eram seguidos de banquetes. Estes eram os Banquetes de comunhão, em Hebraico "Selamin" que significa o sacrificio que une o povo entre si e por sua vez o povo com Deus.
Precedente na Bíblia do Sacrifício e banquete de comunhão na Antiga Aliança.
Levítico 6, 17-20
" O Senhor disse a Moisés: “Dize o seguinte a Aarão e seus filhos: eis a lei do sacrifício pelo pecado: a vítima do sacrifício pelo pecado será imolada diante do Senhor, no lugar onde se imola a vítima do holocausto. Esta é uma coisa santíssima. O sacerdote que oferecer a vítima do sacrifício pelo pecado comê-la-á em um lugar santo, a saber: no átrio da tenda de reunião. Todo aquele que tocar a sua carne será santo"
Levítico 7, 15
" A carne da vítima de ação de graças oferecida em sacrifício pacífico será comida no dia da oblação; não se deixará nada para o dia seguinte."
O sacrifício de Holocausto era o sacrifício da oferenda. Como vimos em Levítico 6, 17-20 a vítima oferecida pelo pecado do povo era sacrificada no altar do Holocausto. Cristo Jesus se ofertou por nossa salvação substituindo-nos na cruz e carregando nossos pecados "vítima oferecida pelo pecado", nesta oferta da mesma forma que a oferta de comunhão, a vítima era consumida totalmente e se entrava em uma "comum-união" com DEUS de Israel. Em nossa Eucaristia que é a vítima, oferta e sacrifício, deve ser consumida do mesmo modo que no antigo Israel. Hoje nossa oferta não são ovelhas nem animais. É Jesus o Senhor, por isso nossa comunhão não é simbólica, como as vítimas de Israel também não eram simbólicas, mas a própria vítima. Para o Hebreu e na mentalidade semita é necessário entrar em comunicação com o corpo se queremos estabelecer uma comunhão com o espírito.
Êxodo 12, 8-10
"Naquela noite comerão a carne assada no fogo com pães sem fermento e ervas amargas. Nada comereis dele que seja cru, ou cozido, mas será assado no fogo completamente com a cabeça, as pernas e as entranhas. Nada deixareis dele até pela manhã; se sobrar alguma coisa, queimá-la-eis no fogo."
Na ceia da Pascoa era sacrificado um cordeiro, macho e sem defeitos. Desde os tempos antigos se considera este cordeiro como prefiguração de Jesus Cristo. Este cordeiro devia ser consumido por completo na ceia Pascal. A Eucaristia é Nossa Ceia Pascal, nela o cordeiro não pode ser uma representação, é o mesmo cordeiro que é consumido. Nosso cordeiro já foi apontado por João o Batista (São João 1, 36) é Jesus, portanto na Eucaristia nos alimentamos do Corpo de Jesus, o Cordeiro de Deus.
- A Eucaristia no contexto neotestamentario
João 6, 51
"Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão, que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo."
Em João 6 tivemos o discurso mais difícil que Jesus fez e de fato a mas controversa. Jesus havia se declarado que Ele é o pão da vida.
Dias antes, Jesus já havia caminhado sobre as aguas, desafiando todas as leis naturais (São Marcos 6, 45-52) poucos momentos antes Jesus havia multiplicado os pães (São Marcos 6, 35-43) com estes dois fatos Jesus quis dizer a seus discípulos que Ele faz com o pão o que quer (o multiplica) e com seu corpo também (caminha sobre as águas), ou seja, que tem poder sobre seu corpo e sobre os pães.
Agora você acha difícil adentrar no mistério e proclamar que sua carne é pão? Ele não caminhou sobre as aguas? ..Algo impossível para um homem. Não multiplicou os pães?…algo impossível para um homem? Com certeza que sim mas não para Deus. Ele que tem o poder sobre as leis naturais de seu corpo e dos pães, logo pode transformar seu corpo em pão. Nesta passagem Jesus fala claramente, o pão que vai nos dar é sua carne, aqui esta explícito. Esta frase está isenta de simbolismo, mas para esclarecer ainda mais vamos ao texto grego original.
A palavra utilizada para definir carne é "sarx", que em Grego quer dizer: "Carne, pedaço de carne, corpo, ser vivo, homem" vemos uma definição contundente de que Jesus utiliza uma palavra que denota corpo de carne e que não é de modo algum uma metáfora, fato que concordará com as palavras da última ceia. Existem outras duas palavras em Grego para definir carne, uma é "Kreas" que quer dizer: "Pedaços de carne" e é utilizado quando se fala de ingerir carne em uma comida normal (Rom 4, 21/1 Cor 8, 13) e "Sarkinos" que quer dizer "carnal" e é utilizado no sentido simbólico (Rom 7, 14/1 Cor 3, 1 / 2 Cor 3,3).
São João 6,55
"Minha carne é verdadeiramente comida e meu sangue é verdadeiramente bebida"
Se restou alguma dúvida sobre a intenção de Jesus no versículo 51, agora as dúvidas deveriam acabar. Jesus declara que seu corpo carnal (Sarx) é verdadeiramente comida. A palavra grega utilizada por Jesus para dizer verdadeira é "Alethes" que provém de "Aletheia" que quer dizer "Verdade, veracidade, sinceridade, realidade, esta palavra confirma a realidade da presença viva de JESUS no corpo e divindade da Eucaristia. Jesus não disse em momento algum que sua carne "significa", mas pelo contrário afirma ser verdadeira, "alethes". Esta mesma análise se aplica ao sangue de Jesus.
Se nos resta ainda duvidas se Jesus falou em sentido simbólico ou metafórico como diz os protestantes analisemos a reação dos discípulos:
São João 6, 60
" Muitos dos seus discípulos, ouvindo-o, disseram: Isto é muito duro! Quem o pode admitir?"
Os discípulos falavam perfeitamente o aramaico, que era a língua habitual de JESUS e entenderam perfeitamente que isto não se tratava de forma simbólica pois se fosse, esta reação devia ter sido excessivo. Eles reagiram escandalizados! Não é possível admitir que o "filho do carpinteiro fale de "comer sua carne e beber seu sangue"… é algo demente para eles, é algo que somente se entende na Fé. Jesus ao contrário de outras ocasiões não vai lhes explicar, por que é algo que não se pode ser explicado, mas que deve ser aceito. E é por isso que pergunta aos Apóstolos se também querem se retirar e Pedro responde que mesmo não entendendo nada sabe que somente de Jesus tem as palavras de "vida eterna". Assim a Igreja como Pedro permanece com Fé nas palavras de Jesus.
São João 6, 61
"Sabendo Jesus que os discípulos murmuravam por isso, perguntou-lhes: Isso vos escandaliza?"
Jesus aqui nos faz comparação. Se não entendem como podem comer seu corpo, menos ainda entenderiam sua Ascensão ao céu, ou seja, Jesus diz que é mais fácil aceitar a Eucaristia que aceitar sua Ascensão e sua Glorificação como Segunda Pessoa da Trindade. Atualmente quase todas as Igrejas aceitam a Ascensão e Glorificação de Jesus, mas não aceitam a Eucaristia que segundo o próprio Jesus é mais fácil de entender.
São Mateus 26, 26-28
"Durante a refeição, Jesus tomou o pão, benzeu-o, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai e comei, isto é meu corpo.Tomou depois o cálice, rendeu graças e deu-lho, dizendo: Bebei dele todos, porque isto é meu sangue, o sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens em remissão dos pecados."
Chegada a Ultima ceia. Ceia Pascal esta onde não existe cordeiro visto que Jesus vai tomar seu lugar. Chegado o momento Jesus solenemente declara que o pão é seu corpo em clara conexão com o discurso de São João 6. A palavra grega utilizada no Evangelho traduzida como "corpo" não é Sarx, como havia de se esperar, pois sarx significa também corpo, a palavra utilizada é "Soma" que quer dizer em grego "corpo, cadáver, corpo morto" que neste contexto de sacrifício ao dá-lo separado de seu sangue (o vinho) é expressamente claro que JESUS está se referindo a Ele como o Cordeiro pascal que é servido na Pascoa Hebraica já morto e não de forma alguma simbólica e que ficou faltando na Última ceia. A mesma explicação é serve para o vinho como sangue.
São Lucas 19
"Façam isto em memória de mim"
Esta ordem de Jesus de forma alguma dá a entender que a Eucaristia é um simbolismo mas a confirma como verdade. Vejamos: A palavra grega utilizada para "memória" é "anamnesis" que quer dizer "recordar, refrescar a memória, mencionar, pensar em algo" em nenhum momento a palavra é atribuída a símbolo. Com esta palavra Jesus ordena aos Apóstolos que sigam repetindo o que Ele acaba de fazer com as mesmas consequências, institui a ordem Presbiteral, Sacerdotal ao mandar os Apóstolos celebrar a Ceia Pascal com Ele como cordeiro sacrificado verdadeiramente e não como simbólico. Com isto se cumpre o Novo Pacto com a ordem dada à Israel em Êxodo 12, 14
"Conservareis a memória daquele dia, celebrando-o com uma festa em honra do Senhor: fareis isso de geração em geração, pois é uma instituição perpétua."
Você sabia que quando assiste a Eucaristia está assistindo a Ceia Pascal da Nova Aliança?
Voltando a palavra "anamnesis", ela é utilizada em Hebreus 10,3 "Pelo contrário, pelos sacrifícios se renova cada ano a memória dos pecados."… a cada ano se renova algo muito atual, os pecados. Memorial é a mesma coisa que atualização de uma realidade. E que realidade? Nossa comunhão com Jesus de uma forma íntima comendo seu corpo e bebendo seu sangue.
Levítico 2,2
"E levá-la-á ao sacerdote, filho de Aarão, o qual tomará um punhado de flor de farinha com azeite, e todo o incenso, e a queimará no altar como um memorial. Este é um sacrifício consumido pelo fogo, de agradável odor ao Senhor."
O odor desta farinha, queimada pelos sacerdotes no altar será um memorial, ou seja, que recorda ao Pai a oferenda ao mesmo tempo que ao oferente. O memorial da Eucaristia recorda ao Pai o Sacrifício de Cristo na cruz, único e suficiente que se atualiza como sacrifício incruento, onde não existe sofrimento; e que recorda ao Pai que somos os ofertantes e os beneficiados desta vítima, Jesus, que vai se derramar sua misericórdia sobre nós.
Em I de Coríntios 11, 26 diz São Paulo "Assim, todas as vezes que comeis desse pão e bebeis desse cálice lembrais a morte do Senhor, até que venha". Este versículo é de uma importância transcendental, pois reafirma o caráter sacrificial e escatológico da Eucaristia. Proclamamos o sacrifício de JESUS e o faremos até que Ele retorne em Sua gloria.
I Coríntios 10, 16
"O cálice da bênção, que benzemos, não é a comunhão do sangue de Cristo? E o pão, que partimos, não é a comunhão do corpo de Cristo?"
Neste Capitulo 10, São Paulo fala de um fato real "não devemos comer carne sacrificada aos ídolos" e como é diferente da presença real de Cristo na Eucaristia na comum-união com o crente. É o Cristo Jesus afirmando que a comunhão é o corpo e o sangue de Cristo.
I Corintios 1, 26-29
"Assim, todas as vezes que comeis desse pão e bebeis desse cálice lembrais a morte do Senhor, até que venha. Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpável do corpo e do sangue do Senhor. Que cada um se examine a si mesmo, e assim coma desse pão e beba desse cálice. Aquele que o come e o bebe sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a sua própria condenação."
Aqui São Paulo nos dá uma visão contundente da presença real de Jesus na Eucaristia. Primeiramente segundo São Paulo peca gravemente contra o Senhor, se torna culpável aquele que comer indignamente o Pão e beber do Cálice, ou seja, se peca contra o corpo e o sangue do Senhor, afirmação queperderia sentido se corpo e o pão , o cálice e o sangue, não fossem de fato os mesmo. Em seguida vai atribuir a condenação, um fato que somente se aplica por não aceitar com fé .
O que pensou a comunidade primitiva e os Padres da Igreja no primeiro século sobre este tema?
- Santo Ignácio bispo de Antioquía no ano 107 D.C. Escreve em sua Carta ao povo de Esmirna : "Que os afastem da Eucaristia e a oração (os hereges docetas) por que não confessam que a Eucaristia é a carne de Nosso Salvador Jesus Cristo que padeceu por nossos pecados e que por bondade do Pai o ressuscitou. Portanto, os que contradizem o dom de Deus litigiando, vão morrendo. Melhor seria amar para que também ressuscitassem"
Em sua carta a Igreja de Filadélfia diz: "Esforcem, portanto, por usar de uma só Eucaristia; pois uma só é a carne de Nosso SENHOR Jesus Cristo e um só é o cálice para unir-nos com seu sangue, um só o altar, como um só bispo junto com o Presbítero e com os diáconos companheiros meus; a fim de que quando façais, todo o façam segundo Deus".
-São Justino Mártir, ano 160 em sua Apologia 1 "Este alimento é chamado entre nós de Eucaristia do qual ninguém é lícito participar, mas somente aquele que crê que nossa doutrina é verdadeira e é purificado pelo Batismo para o perdão dos pecados e regeneração…. É o sangue e a carne daquele Jesus que se encarnou, pois os Apóstolos e os comentários por eles compostos, chamados de Evangelhos, nos transmitiram assim…"
-Santo Irineu, bispo de Lion, ano 180, livro "Adversus Haereses" " E como dizem também que a carne se corrompe e não participa da vida (a Carne) que é alimentada pelo corpo e o Sangue do Senhor? Portanto, ou mudam de conceito ou deixam de oferecer as coisas ditas".
-Tertuliano, ano entre 160 e 220 livro "Contra Marcion" "Pelo qual, no sacramento do pão e do cálice, já foi provado no Evangelho a verdade do corpo e a sangue do Senhor indo contra a teoria do fantasma proposta por Marcion".
-Santo Agostinho, anos 354-430 "E sendo assim que Cristo habitou nesta carne e nos deu sua mesma carne para que a comêssemos, ninguém pode comer sua carne se não a adora, vemos que como é possível adorar tal escabel dos pés do Senhor, sem que não pequemos adorando, mas que pequemos não adorando..
Os irmãos separados da comunhão com a Igreja Católica afirmam que quando Jesus disse: "Isto é meu corpo" disse de forma similar, como é o caso de São João 6, 35 onde Jesus diz: "Eu sou o pão de Vida’ ou como em São João 6, 12 onde disse: "Eu sou a Luz do mundo" ou também como em São João 10, 9 onde disse "Eu sou a porta".
Evidentemente que Jesus está descrevendo a si mesmo como "Pão de Vida", "Luz do mundo", "Porta" e em outra oportunidade como "O caminho", Jesus não é uma "Porta" ou um "caminho" fisicamente falando, é pura simbologia, mas examinemos uma destas orações, por exemplo: "Eu sou a Porta" esta oração se me recordo dos meus anos de estudante de gramática, se compõe de Sujeito e Predicado. O sujeito é de quem se fala e o predicado precedido de um verbo descreve uma ação do sujeito, neste caso Eu, é o sujeito ou seja Cristo e sou a porta é o predicado que descreve a Cristo como a entrada a salvação por meio de uma "porta".
Na Ultima Ceia Jesus disse "Isto é meu corpo". Isto é o sujeito, ou seja, o pão e meu corpo é o predicado que descreve ao sujeito ou seja Cristo (soma). Vê a diferença? Nos versículos anteriores do Evangelho Cristo descreve-se a si mesmo como a porta, luz, caminho, etc.. na Ultima ceia o Pão é descrito como o mesmo Cristo, seu corpo sacrificado. Logo então o Pão é o próprio Cristo.
Aos irmão que lerem este pequeno estudo de apologética sobre a Eucaristia, quero dizer a presença real de Jesus no pão e no vinho somente pode ser aceita pela fé, não por racionalização. Pois como disse Santo Agostinho "Se o entender não é Deus". Em que você grupo está? Entre os que abandonaram Jesus movendo a cabeça e dizendo "Que doutrina dura é esta!" ou no grupo que como Pedro ficaram dizendo "mesmo não entendo humanamente, sei que tens Palavras de Vida e onde posso ir que me leve a vida eterna?" Se permanecer na Fé tem a promessa do Senhor "Aquele que come minha carne e bebe meu sangue, viverá eternamente e eu o ressuscitarei no último dia". Que assim seja.
Postar um comentário