O dízimo e a compaixão
Autor: Padre Zezinho
São Paulo (SP), 6/1/2004-07:52
O dizimo não salva. A compaixão sim! Algumas igrejas na hora do culto andam gastando 20 a 30 minutos de sua pregação para arrecadar dinheiro dos fiéis. Aí começa a diferença. Enquanto algumas igrejas gastam vinte minutos dando a Palavra em pregação, mais vinte minutos dando o Cristo na comunhão outras gastam mais tempo arrecadando ofertas. Fui ver em pessoa como se desenvolve o processo de arrecadação nesses templos onde há mais arrecadação do que pregação ou comunhão. Talvez um dia mudem, mas é chocante ver a enfase que dão ao dinheiro do templo.
A pregação a favor do dízimo e de arrecadação de dinheiro está na Bíblia. É claro que o dinheiro é necessário para erguer obras nascidas da fé. Malaquias, só para citar o último livro dos profetas do Antigo Testamento, é duro contra quem não paga o dízimo integral. É dez por cento e não tem choro!
O que não se ouve muito dos pregadores é a condenação dos juros excessivos( ) da pregação exagerada do dízimo( ); dos pregadores que sob pretexto de longas orações exploram as casas de pessoas com alguma posse para arrancar dinheiro delas; ( ) dos que cobram o dízimo até das ervas e da hortelã ( ) mas omitem o essencial que é a caridade para com os pobres e os demais deveres sociais( )
Se não falam em favor dos pobres, se não enfrentam traficantes e poderosos, se usam de sua pregação para nunca tocar naquilo que fere o povo de Deus, o dinheiro arrecadado acaba servindo apenas para pregar salvação e santidade pessoal, nunca a justiça, os direitos humanos, a caridade e a santidade coletiva, que nascem de leis justas e de anúncio e denúncia.
Quando as igrejas e acampamentos de re-avivamento da fé se tornam abrigo estratégico para onde o fiel deve vir três vezes por semana receber a proteção, as águas e os descarregos; quando a ênfase é no "venha a nós" mis do que no " ide aos que sofrem" os templos correm o risco de se tornarem agências arrecadadoras ou centrais do dízimo. A insistência demasiada no dinheiro e uma certa intransigência quanto ao dízimo integral pode colocar em descrédito uma Igreja ou aquele grupo de fé.
Numa Bíblia de mais de 1.000 páginas se juntarmos os textos que falam de dízimo, arrecadação e contribuição, não há mais do que três páginas. Se a Bíblia é um livro inspirado por Deus como pregamos então Deus não dá tanta ênfase ao dízimo. Dá muito mais ênfase aos direitos humanos e à justiça e à paz.
Jesus é claro sobre isso e questiona os contribuintes e arrecadadores de dízimo, quando diz que se alguém tiver alguma oferta diante do altar e se lembrar que algum irmão se sente injustiçado por ele, deve deixar seu dízimo ou oferta ali e primeiro ir fazer justiça e paz. Só então deve voltar.( Mt 5,24) Jesus acha que não é correto alguém posar de fiel diante de Deus se tal contribuinte não sabe ser irmão do outro.
Tributo, dízimo, contribuição são verbetes com relativamente poucas passagens na Bíblia. Sobre o dízimo há 2 passagens no Gênesis, 9 no Levítico, 6 nos Números,8 no Deuteronômio, 4 no 2 Cr, 7 no Neemias, 1 em Amós, 2 Malaquias... 1 em Mateus 23,23 e 2 em Lucas que ainda por cima mostram Jesus questionando a importância do dízimo; 5 em Hebreus.
Se o fiel se der ao trabalho de ver os outros verbetes sobre amor, caridade, palavra de Deus, justiça, paz, pobres verá o que é essencial para Deus. A Bíblia gasta muito pouco tempo com o dízimo. Se o fiel lesse bem tudo aquilo que ao dízimo se refere veria textos contundentes a exigir o dízimo integral e condenando o dízimo avaro como em Ml 3,8-12, mas veria também Jesus questionando os que acham que pagar o dízimo é prova de santidade...( Mt 23,23-24) Acusa os que insistem no dízimo acima da justiça e do respeito pelos outros, de filtrar um mosquito e engolir um camelo. E vai mais longe ao dizer em Lc 18, 10-14 que o fariseu, que pagava o dízimo integral profetizado em Ml 3,8-12, saiu diante do altar em pecado e que o publicano, tido como pecador por arrecadar dinheiro e impostos fora do templo, saiu arrependido e purificado.( Lc 18,14 )
A conclusão não é contra a contribuição ou contra o dízimo e, sim, contra ameaças veladas aos que não pagam, imposição ou ênfase excessiva no dízimo como forma de ser santo. Jesus questiona isso! Ajudar os carentes certamente justifica um fiel ( Mt 25,31-46). Pagar o dízimo, nem tanto. ( Lc 18, 14) Há coisa mais essenciais do que ser dizimista de uma igreja. Leiamos (Lc 11, 42). A prática da compaixão e da justiça nos torna santos. O dízimo é décimo: mas não pode ser imposto!
Fonte: Fonte Pe. Zezinho, scj
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