A Bíblia e os benzedeiros


Autor: Con. Vidigal

Mariana (MG), 26/2/2004 - 09:46


Diz-se benzedeiro ou benzedeira a pessoa que pretende curar doenças e anular feitiços por meio de benzeduras. São pessoas que proclamam terem poderes especiais, superiores ao comum dos mortais, os quais, através de certos ritos, aspiram sanar determinadas moléstias ou libertar das invectivas do Diabo. São ditos também "milagreiros", mas nem a Ciência, nem a Bíblia fornecem base para se poder afirmar que modo de proceder deles se associa com o resultado que se tem em vista.

Não há nenhuma passagem bíblica na qual Deus tenha prometido atender quem o invocasse através de tais cerimônias ou artifícios. Eis o que Jesus proclamou: "Pedi e recebereis; procurai, e achareis; batei e abrir-se-vos-á" (Mt 7,7). Trata-se, portanto, apenas da oração e não de qualquer forma de curandeirismo. Este é fruto da imaginação e revela uma religião deturpada, anêmica, falsa. Não há proporção alguma entre o cerimonial dos benzedeiros e o resultado que se quer obter. É certo que doenças de fundo nervoso podem até desaparecer por força da sugestão e é daí que se multiplicam as ilusões.

Quando alguém, confiando no explorador da boa-fé de alguém, coloca em risco a saúde está pecando contra o quinto mandamento. A Bíblia ensina a oração e a medicina. Lemos no Eclesiástico: "Honra o médico por causa da necessidade; porque foi o Altíssimo que o criou. Porque toda a medicina vem de Deus. O Altíssimo foi o que produziu da terra todos os medicamentos, e o homem prudente não lhes fará oposição. Ao conhecimento dos homens pertence a virtude dos medicamentos. O Altíssimo deu-lhes a ciência deles, para ser por eles honrado na suas maravilhas. Com eles cura e mitiga as dores. Filho, não te desprezes a Ti mesmo na tua doença, mas faz oração ao Senhor e Ele te curará. (Ecl 38, 1-10). Neste trecho está a condenação de todo charlatanismo. Diz o ditado: "Ajuda-te que o céu te ajudará". Cumpre rezar e procurar o médico. De que valem então as preces? Valem muito, pois o Médico Divino, Jesus Cristo, contemplando o esforço humano de procurar a cura, a apressará, iluminará o Galeno e, sempre dará ânimo ao doente e aos que dele cuidam para suportar o sofrimento, dando-lhe uma aplicação transcendental: reparação das próprias faltas, purificação interior.

Quem escreve estas linhas percebeu ao vivo o valor da prece. Sua mãe já idosa quebrou o fêmur, teve que ser levada para a Capital mineira e lá os médicos se surpreenderam com a rapidez de sua recuperação após ser colocada a prótese. Os sacerdotes têm o poder de dar bênçãos em nome de Deus. Bênçãos de objetos sagrados e de pessoas. Quem percorre o Ritual percebe que há bênçãos litúrgicas para as mais diversas ocasiões, inclusive para os doentes.

Diz o Novo Código do Direito Canônico, no Cânon 1169, parágrafo 2: "As bênçãos, exceto as reservadas ao romano Pontífice ou aos Bispos, podem ser dadas por qualquer presbítero. Como Deus não pode ser nunca um "quebra galhos", os sacerdotes, em casos de doenças, abençoam os remédios ou recomendam que se procure o mais rápido possível o recurso da medicina, caso isto não tenha sido feito. Deve-se combater todo tipo de ignorância e, entre elas, a ignorância religiosa que leva tantas pessoas, até cultas, a recorrerem às manobras de benzedores, muitos até inescrupulosos. Cumpre que se combata o medo que leva, tantas vezes, a se atribuir caráter sagrado a práticas inteiramente vãs. É preciso que se combata toda espécie de superstição ligada a números, astros, objetos, ritos, por não haver lógica entre causa e efeito de tal atitude. É um ultraje a Deus todo comportamento supersticioso que, deste modo, afronta os ensinamentos bíblicos.

Fonte: Font, Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

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