O Terror das seitas no terceiro milênio



Autor: Padre Inácio José do Vale


“O adversário está solto. Cada vez mais, o erro vai espalhando os seus enganos. A insensatez gera orgulho, arde a inveja, a cobiça chega até a cegueira, a impiedade deprava, a soberba incha, a discórdia exaspera, a ira enfurece. O Espírito de Deus leva à paz e a unidade, o espírito maligno sopra na direção da discórdia e do cisma”.


São Táscio Cecílio Cipriano (200/10-258).


Apologista da Fé e Bispo de Catargo


Marx, Nietzsche e Freud, além de outros, pareciam ter destronado da sociedade todos os deuses e crenças com as suas ideologias. No entanto, o que constatamos atualmente, é a proliferação de novas seitas religiosas.


Há séculos, profetas de todos os cantos tentam adivinhar a data do fim do mundo. A chegada do ano 2000 acirraram muitas previsões sobre o fim do mundo e todas falharam. Viradas de milênio, acreditam muitos, são propícias ao apocalipse.


Na entrada do ano 1000, muito crentes abandonaram propriedades e terrenos, de olho na última hecatombe. Como nada aconteceu, tiveram que recomeçar a vida do nada, depois de doar até a roupa do corpo a congregações religiosas.


No dia 5 de maio do ano 2000 aconteceu mais um raro espetáculo astronômico. Os planetas Saturno, Júpiter, Marte, Vênus e Mercúrio ficaram aproximadamente no mesmo alinhamento em que estão também o Sol, a Lua e a Terra. Esse raro alinhamento dos planetas provocou diversas especulações. Na imprensa sensacionalista apareceram “especialistas” afirmando que ele causaria enormes catástrofes sobre a terra... Cientistas sérios, entretanto, informaram que, na verdade, os planetas não ficarão completamente alinhados, havendo diferenças de até 30 graus entre eles.[1]


As reações e comentários sobre o eclipse ocorrido em 11 de agosto de 1999, mostram quanta confusão existe a respeito. O motivo principal desses acontecimentos foi as falsas profecias de Nostradamus. Diz a Santa Palavra de Deus: “que ninguém vos engane”.(Mt 24.4).


A PROLIFERAÇÃO DAS SEITAS


A China baniu a seita Fa Lun Gong, que diz ter cerca de 80 milhões de seguidores no país. A seita está proibida de práticas públicas e de divulgar sua doutrina.


Segundo autoridades chinesas, a seita, que recorre a exercícios de artes marciais e promove a idéia da reencarnação, é “diabólica” e “estava envolvida em atividades ilegais, advogando superstições e ameaçando a estabilidade social”.


A polícia chinesa prendeu cerca de cem líderes da seita desde o começo da semana. Milhares de seguidores preparavam protestos contra as prisões antes da medida do governo comunista.


Mais de 10 mil adeptos da Fa Lun Gong fizeram uma manifestação em Pequim em abril. Exigiam que o governo reconhecesse oficialmente a existência da seita.


Foi a maior manifestação na China desde os protestos estudantis da praça Tiananmen (Paz Celestial) há dez anos, reprimidos violentamente pelo governo.


O governo chinês baniu a Fa Lun Gong porque teme organizações sociais que não estejam sob seu controle e que possam servir de embrião para movimentos que venham a desafiar o regime.


A Fa Lun Gong mistura meditação com crenças populares chinesas e prega a luta contra a “depravação dos costumes”, como “homossexualismo e rock”.


O líder da seita, o chinês Li Hongzhi, vive nos EUA e afirma ter mais de 100 milhões de seguidores no mundo – 80% deles na China. O país, o mais populoso do mundo, tem 1,25 bilhão de habitantes.


As autoridades chinesas contestam essa estimativa, dizendo haver no máximo 2 milhões de seguidores no país.


Na China, as organizações religiosas têm de conseguir permissão do governo comunista para funcionar.


O país testemunha atualmente um crescimento de grupos religiosos e seitas. Eles avançam graças ao vácuo ideológico existente com a crise do comunismo.


Ou seja, a população troca os valores do regime marxista por novas orientações ideológicas.[2]


CORÉIA DO SUL


Na Coréia do Sul, como em outros países, a psicose do fim do mundo cria novas seitas pseudocristãs que geram verdadeiros desequilíbrios da personalidade dos seguidores. O fato mais recente, embora não divulgado pela mídia internacional, aconteceu em outubro, quando sete membros da seita Yongsaeng-gyo (Igreja da vida eterna) se suicidaram em Yagyang, na província de Kangwon. O pastor, a mulher, o filho e mais quatro seguidores se mataram para conseguir a vida eterna e escapar do fim do mundo.


A polícia também denunciou que membros dessas seitas apocalípticas desaparecem da casa sem dar maiores explicações sobre seu paradeiro. Segundo Tak Ji-won, diretor do Instituto internacional de pesquisa sobre movimentos religiosos, os cultos apocalípticos cresceram muito no ano passado e já seriam mais de cinqüenta naquele país. Livros esotéricos e sobre as profecias do fim do mundo são best-seller também entre os não cristãos.[3]


ESTADOS UNIDOS


Nos Estados Unidos, o apocalipse é dado como certo por multidões e têm torcidas organizadas. A maioria concorda que alguns afortunados serão poupados por intervenção divina. A dificuldade dos crentes será localizar o Salvador entre os quase 1.200 profetas auto-aclamados, só nos arquivos do instituto Milennium Wathc, que pesquisa os milenaristas. 55 milhões de americanos acham que falta pouco para o mundo acabar. O Estados Unidos é um celeiro de seitas apocalípticas. De lá as seitas partem para o resto do mundo.


O medo do vírus apelidado de Y2K está levando multidões de americanos a preparar verdadeiras fortalezas, bem abastecidas e armadas. Por causa dessa paranóia, por exemplo, as rações desidratadas (do tipo MRE – usada pelas Forças Armadas americanas, e com preços no mercado de US$ 69,95 para pacotes de uma dúzia) tiveram um aumento de 1.500% nos últimos 20 meses. Muita gente está se unindo em comunidades belicosas e que adotam táticas de “sobrevivencialismo” – a arte de sobreviver sem depender de ajuda externa. É o caso de Bob Rutz, 67 anos, que montou uma comunidade em Kingston, no Arkansas. Junto da mulher ele comanda uma fazenda-fortaleza de 700 acres, onde 100 famílias se estabeleceram em lotes de três acres cada.


Grande parte dos “sobrevivencialistas” acreditam não apenas no vírus Y2K, mas também na supremacia da raça branca. Imaginam que durante a guerra civil que se seguirá à parada dos computadores, as diversas raças vão se digladiar. Na mais antiga destas comunidades, chamada Elohim City – em Muldrow, Oklahoma -, o fundamentalista e profeta Robert Milar ensina que haverá uma invasão asiática de América. Negros, hispânicos e judeus também se juntarão para acabar coma raça branca. Será a guerra de seis anos, começando no ano 2000. Em 2006 Jesus se revelará e Elohim City viverá um milênio inteiro de paz e prosperidade. Só com caucasianos. Na mesma linha está a World Church of the Creator. A organização ficou famosa depois de um de seus membros, Benjamim Nathaniel, matou e feriu negros, judeus e asiáticos no último dia 4 de julho. Para estes, a raça é uma religião, sendo que os brancos descendem de Abel e as outras etnias são herdeiras do sangue de Caim. O que Benjamim fez foi apenas um trailer da ação final. Ted Daniels, do Millennial Institute, acredita que a seita, na mira da polícia, tem estabelecidas dezenas de comunidades-fortalezas no interior dos Estados Unidos. Até dezembro vão derramar mais sangue. É, como se vê, o fim do mundo.[4]


ITÁLIA


O fascínio pela New Age (Nova Era) está mudando a cultura do italiano médio que, freqüentemente, recorre aos magos para solucionar seus problemas financeiros, de saúde e familiares.


De fato, cerca de 10 milhões de italianos gastaram, no ano passado, mais de um bilhão de liras (cerca de 600 milhões de dólares) em artigos (também livros e revistas) ligados ao esoterismo.


Pela pesquisa aparece que a preferência do italiano no campo esotérico é a astrologia (35%); a cartomancia (13,4%); espiritismo kardecista (10,5%) e magia em geral (6,9%) e outras práticas como quiromancia, tarô, runas, etc.


Entre os 10 milhões que recorreram a práticas mágicas, 57,8% manifestaram ceticismo; 6,5% dizem que foram, porque conheceram pessoas que teriam resolvido os problemas através da magia; 2,5% afirmam ter resolvido seus problemas pela magia e somente 2,5% afirmam abertamente que foram enganados pelos magos.


Os temas das consultas foram: amor, trabalho e saúde, embora ninguém afirmou ter resolvido seus problemas financeiros com ajuda dos magos.


Na Itália, conforme dossiê sobre as seitas do Ministério do Interior, haveria mais de 70 mil operadores de magia, astrólogos, cartomantes e curandeiros; 61 movimentos de seguidores da magia e 4.600 adeptos.


No período entre 1994-98, foram feitas 150 denúncias de coerção contra magos. As causas do aumento na busca do esoterismo, num país tradicionalmente católico, são várias: desde a TV que faz a publicidade dos magos até o conhecimento superficial da fé, a necessidade de uma segurança psicológica neste fim de século e um fascínio pela New Age com seu pseudo misticismo que faz referência à cultura oriental e a um individualismo exagerado.[5]


FRANÇA


Segundo o relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre as Seitas, recém-publicado na França há cerca de 200 delas, com 300 mil adeptos.


Baseado nas profecias de Nostradamus e de uma beata francesa, Paco Rabanne previu que no dia 11 de agosto a estação espacial MIR vai cair sobre Paris carregada de ogivas nucleares. As explosões matarão 20 milhões de pessoas. O Gers, região do centro da França onde é produzido o famoso foie-gras, também será destruído. “Eu estava na beira do Sena quando tive uma visão. Centenas de pessoas queimando vivas e correndo para todos os lados nas ruas de Paris. Os gritos eram tão aterradores que eu tive de tapar as orelhas. Muitos se jogavam no Sena, onde continuavam a queimar”, descreveu o costureiro-profesta Paco Rabanne.


Para o Rev. Jacques Trouslard, o maior especialista em seitas da França, devemos é ter medo dos apocalípticos. Segundo ele, são muitos os que esperam o fim do mundo para o dia do eclipse – a polícia francesa conta pelo menos 30 dos 300 mil franceses adeptos de seitas. “O contraste é violento entre os cientistas e os charlatões do Apocalipse, que usam o eclipse do sol e o fim do milênio para manipular, destruir e ganhar dinheiro.” Diz que é um erro acreditar que as seitas são inofensivas, que só afetam um punhado de malucos. “O risco não está em ser apocalíptica, mas em ser seita. Todas são perigosas. Não falo só por suicídios. A escravidão mental é pior, é a morte espiritual”.


Trouslard alerta ainda que é um engano pensar que os seus adeptos são marginais. Um estudo revelou que as seitas recrutam seus membros entre intelectuais, artistas e cientistas. A seita francesa de Saint Erme, que contava com 380 adeptos, tinha 72 médicos e mais de 20 professores universitários! Segundo ele, não é difícil descobrir por que pessoas esclarecidas podem se deixar levar por aberrações que cheguem ao suicídio coletivo. “Todos os ex-adeptos relatam processos de manipulação mental”.[6]


ESPANHA


A entrada de seitas começa a preocupar na Espanha. A Federação Européia de Centros de Investigação e Informação sobre Seitas (Fecris) elaborou um estudo que identificou as Organizações Não-Governamentais (ONG) como uma das principais portas de entrada de seitas no país. Através delas muitas pessoas são influenciadas e levadas a mentiras e enganos. Por isso, a Fecris está pedindo mais colaboração de governos, instituições e partidos políticos no sentido de estabelecer medidas legislativas para impedir o avanço desses grupos.[7]


BRASIL


Segundo o estudioso de seitas, o padre Oscar Quevedo,SJ, existem no Brasil, mais de 56 mil seitas e religiões. Pelos números do IBGE, as religiões e seitas que esperam de alguma forma o apocalipse reúnem 30 milhões de adeptos no Brasil.


O documento preparatório à conferência de Santo Domingo dizia que nos últimos 20 anos, de 30 a 40 milhões de pessoas na América Latina, que se identificavam com a fé católica, tinham passado para estas novas seitas religiosas. Na África acontece o mesmo fenômeno. As estatísticas de 1990, falavam de 10.000 seitas presentes no continente.[8]


Urandir Fernandes de Oliveira, pesquisador e paranormal, ele consegue emitir energia luminosa pelas mãos, e garante ter intimidade com seres de outros planetas desde os 13 anos de idade. “Pela ação do próprio homem o planeta está passando por transformações climática, geológicas e vibracionais que podem gerar grandes tragédias”, explica ele. Caso o caos se instale, Urandir já tem onde se refugiar. Ele e seus seguidores – que segundo o próprio já são mais de 150 mil em todo o Brasil – construíram uma cooperativa perto de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul. Urandir diz que os extraterrestres produziram 49 abrigos subterrâneos em diversos pontos do globo para abrigar os humanos quando o pânico tomar conta da raça. Um deles está no Brasil, mais exatamente nas proximidades de sua cooperativa. Urandir diz que foi avisado de que grandes corpos celestes estão vindo em direção ao nosso planeta, mas não vão colidir, pois uma nuvem de micropartículas – chamada cinturão de fótons – irá acelerar a órbita do sistema solar a ponto de deslocá-lo no espaço, salvando a humanidade.


A astronomia ignora o que seja o tal cinturão de fótons. “Essas pessoas usa jargões científicos e astronômicos para dar credibilidade ao que dizem, só isso”, despreza o pesquisador titular do Museu de Astronomia do Rio, Rogério Mourão. O astrônomo Jaime Villas da Rocha, do Observatório Nacional, é mais filosófico: “Sempre que há um fato astronômico de maior relevância, há uma febre de misticismo. A ciência não resolveu – e talvez não seja sua tarefa – questões fundamentais sobre o homem e seu destino. Procura-se então respostas imediatas”. Pode ser também que o aumento das preocupações profundamente paranóicas ou sobrenaturais em nossa cultura resulte na falta de disposição em aceitar as tecnologias e as capacidades que o homem desenvolveu. Essa é a tese do escritor americano Douglas Rushkoff, autor do livro Um jogo chamado futuro. “Criando falsos cultos, as pessoas imunizam-se contra o pânico de ter de se adaptar a um mundo caótico”, sustema Rushkoff.


Exemplo de uma seita com respostas imediatas, criando falsos cultos e pânicos:


MAHIKARI


Quantos são: 800 mil no mundo (5 mil no Brasil e 500 mil no Japão, onde foi fundada em 1974).


Em que acreditam: que antes do final dos anos 90 a humanidade pelo que chamam de Batismo de Fogo, época de privações e catástrofes, como erupções vulcânicas, explosões, incêndios, enchentes e maremotos. Os que estiverem purificadas se salvarão.


Como se preparam: “purificam-se” pelo recebimento do “okiyome”, umas espécies de bênção que os iniciados aplicam nos adeptos e que, segundo a seita, transmite a “energia da sétima dimensão”. A Mahikari também exige contribuições mensais em dinheiro dos seguidores para “agradecer os benefícios recebidos” e “manter o canal com Deus”.[9]


Perante a expansão das heresias em fins do século II e princípios do III, a primeira reação dos cristãos foi de dor. “Meu Deus, exclama tristemente São Policarpo, para que época me reservaste!”. São Policarpo de Esmirna (c.70-155).


Qual será a nossa reação hoje? A resposta se encontra em Pr 24.11; Lc 9.60 e Jd V.23.


“SAIBA QUE AQUELE QUE FIZER CONVERTER DO ERRO DO SEU CAMINHO UM PECADOR SALVARÁ DA MORTE A ALMA DELE”. Tg 5.20.


O católico deve ter uma boa catequese para melhor entender a sua doutrina e saber refutar as heresias das seitas. As seitas interpretam erradamente a Bíblia e atacam a Sagrada Tradição e o Magistério da Santa Igreja. Por isso é dever do católico conhecer à sua Igreja através de vários cursos para viver melhor a sua fé.


O terceiro milênio será dominado pelo fanatismo, fundamentalismo e terrorismo de certas religiões e seitas.


Pe. Inácio José do Vale


Professor de História da Igreja


Faculdade de Teologia de Volta Redonda


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[1] Chamada da Meia-Noite, Setembro, 1999, p. 16.


[2] Folha de São Paulo, 23/07/1999, p. 1. 13.


[3] Mundo e Missão, Setembro, 1999, pp. 6 e 7.


[4] Isto É, 04/08/1999, pp. 110 e 112.


[5] Mundo e Missão, Outubro, 1999, p. 6.


[6] Isto É, 04/08/1999, p. 108.


[7] Folha Universal, 15/08/1999, p. 9B.


[8] Igreja Missionária Hoje, Paulo de COPPI, Valdirene Dalla BRIDA e Luiz Antonio CAON. São Paulo: Mundo e Missão, 1994, p. 112.


[9] Marie Claire, n.º 63, Junho, 1996, p. 64.

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