Recebemos o artigo Brasil - Exotismo religioso, do Pastor Oneide Bobsin, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e professor de Ciências das Religiões da Escola Superior de Teologia de São Leopoldo, RS, Brasil, e repassamos para o nosso banco de e-mails.
BRASIL - Exotismo religioso
"Estás cansado da tua igreja? Organize a tua!"
Esta máxima de um líder evangélico norte-americano é uma das chaves explicativas para a proliferação de igrejas evangélicas e grupos religiosos no Brasil e, certamente, em nosso continente latino-americano.
Segundo a legislação vigente no Brasil, é menos arriscado abrir uma nova igreja do que uma pequena empresa. Bastam 8 pessoas para formar uma diretoria, elaborar uma ata de fundação e, em seguida, registrá-la num cartório. Desta forma, a nova igreja adquire o Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas.
Abre-se, assim, o campo religioso à lógica liberal de mercado, aprofundando a privatização da fé e o empreendedorismo religioso.
A confirmação desta tese estampa-se na mídia evangélica e secular. A revista Eclésia, por exemplo, recentemente fez uma relação de nomes de novas igrejas evangélicas. Como poderemos ver, os nomes demonstram a religião sob a influência de interesses bem específicos e imediatos de líderes e grupos de pessoas.
Mais do que oportunizar risos, os nomes exóticos revelam o espírito individualista da época. Seguem alguns nomes: Congregação Anti-Blasfêmias, Igreja Evangélica Abominação à Vida Torta e Comunidade do Coração Reciclado.
O contexto e as lides dos primeiros discípulos/pescadores de Jesus são fontes de inspiração para criar novas igrejas: Igreja Barco da Salvação, Igreja Evangélica a Última Embarcação para Cristo e Associação Evangélica Fiel Até Debaixo D'Água.
Também há lugar para o auto-louvor: Cruzada Evangélica do Pastor Waldevino Coelho, a Sumidade, e Igreja Evangélica Pentecostal do Pastor Sassá.
O fogo do Espírito também motiva a criação de igrejas, como as que seguem: Igreja Automotiva do Fogo Sagrado, Igreja Batista Incêndio de Bênçãos, Igreja Explosão da Fé e Igreja Pentecostal Fogo Azul.
Se os nomes exóticos nos fazem rir, algumas práticas nos levam ao choro. Pouco interessada em informar, a mídia secular se esbalda em anunciar as práticas dos novos evangélicos.
Citemos um exemplo. Em um grande centro urbano, foi criada a Clínica de Exorcismo. Na primeira sessão, o paciente endemoneado é submetido a um interrogatório. Depois, a pessoa passa por choques elétricos e palmatórias. Se os demônios não abandonarem a pessoa, ela vai para o Pau Santo de Arara. Resistindo o demônio, passa-se o Tratamento Intensivo de Terceiro Grau, que consiste em eliminar a pessoa possessa.
Notícias sobre espancamento de crianças em centros religiosos que praticam o exorcismo atraem o leitor sedento de tragédias e de emoções. Nesse caso, o líder religioso não soube o limite entre religião e loucura, batendo a cabeça da criança contra a parede até ela desmaiar, sob os olhares da mãe. Uma semana depois, a criança morreu.
Vemos, portanto, que sob o preceito da liberdade religiosa, garantida pela Constituição no Brasil, líderes religiosos submetem pessoas e grupos aos seus interesses particulares.
Sem a pretensão de separar joio e trigo, urge que o movimento ecumênico ajude aos Estados Nacionais a elaborarem critérios éticos e legais para proteger as pessoas da sanha de certos líderes e grupos religiosos. O novo Código Civil brasileiro já deu alguns passos neste sentido, ao responsabilizar administrativamente líderes das organizações religiosas. Mas é preciso dar mais passos.
Mesmo que pareça hilariante, atrevo-me a sugerir a criação de um Serviço de Proteção ao Consumidor de Bens Religiosos. Afinal, entre a liberdade religiosa e a disputa mercadológica das almas deve haver limites ecumênicos e estatais/públicos.
FONTE: Arquidiocese de Campinas
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