O Pecado original

 



Autor: Pe. Luiz Uchoa



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O pecado original

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1. O conceito bíblico de pecado


O primeiro pecado aconteceu quando o homem, pela primeira vez usou mal da liberdade. Isto acontece com cada pessoa no mundo. O entendimento do pecado original na concepção antiga não pode mais ser aceito hoje em dia no sentido histórico de um homem e uma mulher que pecaram e os filhos estão sofrendo as conseqüências. É necessária uma nova compreensão desta verdade bíblica.


É importante, para melhor compreensão desta parte da Bíblia considerar Adão não como um só homem singular, mas como representante de toda a humanidade. O hagiógrafo, ao dizer que "tudo era bom", tinha em vista responsabilizar o homem pela entrada do mal no mundo. Nos primeiros capítulos do gênesis, apresenta o mundo perfeito. Do terceiro em diante, faz quase uma oposição do que disse: isto significa que o homem é inclinado para o mal pela sua própria natureza e nisto está a essência do que se chama 'pecado original'.


Até pouco tempo, se acreditava que o pecado original era uma herança do pecado de um só homem (Adão), o que sempre repugnou que uma criança inocente já nascesse em pecado. Atualmente, se crê e se aplica este conceito ao fato de que a pessoa, ao nascer num mundo onde já há o pecado, embora sem culpa dele, terá esta tendência para fazer o mal, que pode ser superada com a graça de Deus. Visto que o homem é um ser imperfeito, ele poderá vacilar e praticar o mal, e assim o 'pecado' de cada indivíduo vai "contribuindo" para a continuação do mal no mundo.


O Batismo, como se entendia antigamente, servia apenas para 'apagar' o pecado original. Mas não é este o sentido mais adequado deste sacramento. Antes de tudo, o Batismo é uma consagração para dar ao indivíduo condições de vencer a luta contra o mal. Cristo veio diminuir a força do mal com os meios que trouxe, isto é, com a graça que trouxe do Pai. Mas esta força que inclina o homem para o mal sempre existe, embora contra a sua vontade. E é tão evidente que foi personificada como o 'demônio'...


Se todos continuam pecando, o pecado vai aumentando no mundo, ao invés de se acabar, e a situação vai piorando a cada dia, em vez de melhorar. E a tal vitória final do bem, que se espera, como fica? Isto vai depender do esforço de cada pessoa. JC já fez a sua parte e deixou os meios para que cada um fizesse a sua. A promessa divina de que o bem vencerá finalmente é válida e se caminha para isso. Mas a liberdade humana também continua viva e só quando o homem souber utilizá-la devidamente é que o mal perderá terreno. E o uso pleno da liberdade pelo homem só se dará na plenitude.


2. O ponto de vista da ciência


Na perspectiva evolucionista científica, como se explica tudo isto? Há duas explicações:


a) a monogenista, que defende a teoria de ter havido um único casal de homínidas que ultrapassou a barreira da hominização (racionalidade);


b) a poligenista, que acredita terem sido vários os casais que, numa mesma faixa temporal, conseguiram ultrapassar a barreira da irracionalidade para a racionalidade.


O monogenismo tem em seu favor o próprio texto da Bíblia, sobretudo a posição de Paulo em Romanos, 5, 12-15. O poligenismo tem como principal dificuldade para sua aceitação pela Igreja exatamente este texto paulino, pelo conflito que inviabiliza qualquer tentativa de conciliação. Mas é preciso se considerar que São Paulo tem aí neste texto o interesse em opor o pecado existente no mundo com a graça divina: ou seja, se o pecado é grande, a graça é bem maior. Na verdade, ele não quer ensinar um conceito, por exemplo que o pecado original é de um só ou de muitos, mas enfatizar a superabundância da graça sobre o pecado. Entendido assim, para a validade do argumento de S.Paulo não é de necessidade absoluta a premissa de um só autor do pecado. Isto tem sido uma complementação histórico-cultural. Do mesmo modo que a história de Jonas, pelo fato de que JC a repetiu no Evangelho, nem por isso deixa de ser simbólica. Porém, explicar como se deu o pecado original, isto não se pode dizer com absoluta certeza nem no monogenismo nem no poligenismo.

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