Os afamados "escândalos" da Igreja

 


O caso de Galileu seria a prova de que a Igreja é contra a ciência?


Galileu Galilei (1564-1642) estudou filosofia com os monges de Valumbrosa, depois matemática em Florença, Pisa e Pádua. Desde 1610 passou a ensinar a teoria heliocêntrica de Copérnico. Quando recebeu a crítica de que o sistema copernicano contradiz a Bíblia (Js 10,12-13: "O sol parou"; veja ainda: Ecl 1,4-5), Galileu defendeu-se dizendo que a Bíblia fala das coisas como parecem e não devemos interpretá-la em sentido literal. Em 1616, a Congregação Romana (e não o papa!) condenou a tese de Copérnico (isto é a estabilidade do sol e o movimento anual da terra). Galilei comprometeu-se a não mais ensinar a tese de Copérnico. Mas quando em 1632 publicou novamente a tese de heliocentrismo, ele foi condenado pelo tribunal do Santo Ofício (em 1633). Sua tortura e prisão é invenção e fantasia dos adversários. Ele passou o resto da vida retirado, mas cercado por seus familiares e amigos eclesiásticos.


A Igreja seria então contra as ciências? Mas o primeiro a defender o heliocentrismo foi o cardeal Nicolau de Cusa (séc. XV) e quem o apresentou ao mundo, como hipótese científica, foi o cônego Copérnico. Na verdade, o heliocentrismo só foi provado cientificamente no século passado pela famosa experiência de Foucault (1851-52) com o pêndulo suspenso na cúpula do Panteão de Paris.


No seu julgamento, a Congregação Romana foi influenciada pela corrente científica daquele tempo.


Naquela condenação científica bíblica também justificou a posição de Galileu, pois nem tudo, em primeiro lugar as coisas da natureza, deve ser interpretado literalmente, pois, acomodando-se à compreensão do comum dos homens, a Bíblia fala em muitos casos conforme a aparência dos fenômenos.


A condenação da Congregação não comprometeu a inefabilidade do papa, pois não se tratava de questão de fé, nem de doutrina ex cathedra, mas tão-somente da decisão dos órgãos do governo da Igreja (de uma Congregação Romana). Mesmo após a condenação, o papa Urbano VIII não deixou de incentivar Galilei para continuar suas pesquisas.


Galileu não foi acusado, nem condenado por heresia: ele foi apenas acusado de desobedecer a uma ordem da Igreja. Ele não foi torturado, nem lhe foram mostrados os instrumentos da tortura para amedrontá-lo. Certos historiadores dos dois últimos séculos contaram o episódio de Galileu não raro inspirados por preconceitos anticlericais e antieclesiásticos desrespeitando a verdade dos fatos em si lamentáveis.


A história da inquisição acusa a Igreja



Para julgar a inquisição, temos que conhecer tanto os fatos históricos, como também a mentalidade daqueles tempos.


A inquisição era um tribunal encarregado de descobrir e julgar as doutrinas falsas e perigosas, sobretudo a heresia, causa de graves prejuízos à fé e à ordem social.


Os tribunais inquisitoriais começaram a agir na Idade Média, contra as heresias anti-sociais e anárquicas que ameaçavam não só a fé, mas, em primeiro lugar, a paz e a ordem social.


Os cátaros (ou albigenses): seita no sul da França nos séculos XII e XIII. Seguiram a doutrina maniqueísta ensinando que o corpo é mau, por isso o matrimônio é instituição satânica e a família deve ser eliminada.


Os valdenses (séc. XII): a seita dos pobres de Lyon, fanáticos que recusavam a submissão às autoridades.


Os hussitas (João Huss, 1369-1415) rejeitavam a hierarquia; a Igreja seria só dos santos predestinados, sem autoridades visíveis.


A Igreja recorreu aos meios pacíficos para convencer os hereges de seu erro e a partir do séc. XIII encarregou os franciscanos e os dominicanos da pregação contra as heresias. Porém a sociedade civil e os soberanos julgaram ineficientes os meios espirituais da Igreja e organizaram verdadeiras guerras contra eles. Coagido pela pressão civil, Gregório IX, em 1233, instituiu a Inquisição papal: um tribunal misto em que a sanção era aplicada pelo "braço secular" (= Estado).


A mais célebre era a Inquisição espanhola, instituída em 1478 pelo rei Fernando e a rainha Isabel, com a aprovação da Santa Sé e dirigida contra os novos cristãos (judeus e mouros não sinceramente convertidos) e mais tarde contra os protestantes. A Inquisição espanhola era instrumento político na defesa da unidade nacional. O Inquisitor-mor era aprovado pelo papa, os demais membros dependiam da coroa. Freqüentemente, a Igreja levantou a voz contra as atrocidades cometidas. Na Espanha, a Inquisição persistiu até 1834. A Inquisição estava a serviço não da Religião propriamente, mas dos soberanos espanhóis, os quais procuravam atingir criminosos mesmo de categoria meramente política.


A Inquisição portuguesa foi instalada por insistência do rei João III contra os judeus convertidos. Depois de longa resistência, em 1530, Clemente VII autorizou. Houve vários atritos com a Santa Sé por causa dos abusos. O ministro Pombal tirou a Inquisição da Santa Sé e transformou-a em política do Estado contra a própria Igreja, para combater "delitos de opinião" ou seja, os elementos do catolicismo que resistiram às idéias do iluminismo e racionalismo do séc. XVIII.


Só podemos ter noção correta sobre a Inquisição se nos colocarmos na mentalidade do homem medieval que julgava em dever sagrado eliminar a qualquer custo, se fosse preciso até à força, todos os erros que ameaçassem a vida social e a fé. Eles pensaram assim: de condenamos aqueles que envenenam o corpo, com muito maior razão devemos condenar aqueles que envenenam nosso espírito.


Com os muitos sofrimentos causados pela intolerância perseculatória de tantas ideologias, aprendemos que idéias não podem ser reprimidas à força. Idéias devem ser confrontadas em diálogo e com argumentos. O problema da liberdade do pensamento naquele tempo era ignorado nos termos que ensina o Concílio Vaticano II: "O homem ouve e reconhece os ditames da lei divina por meio da consciência que ele deve seguir fielmente em toda sua atividade, para chegar a seu fim, que é Deus. Não deve, portanto, ser forçado a agir contra a própria consciência. Nem deve também ser impedido de atuar segundo ela, sobretudo em matéria religiosa". "... O homem deve responder voluntariamente a Deus com fé, e que, por isso, ninguém deve ser forçado a abraçar a fé contra a vontade..."


O escândalo de "vender" as graças da indulgência


"Em 1190 foi instituída a venda das indulgências"... acusa um panfleto à Igreja Católica. Um autor que estuda objetivamente a questão nunca poderá dizer isto.


É verdade que no fim da Idade Média havia deturpação na prática das indulgências, tornando-as algo de mecânico, esquecendo-se da atitude interior da conversão na prática de lucrar indulgência. Era particularmente doloroso o abuso feito por um pregador na ocasião da construção da Basílica de São Pedro em Roma no início do séc. XVI. A realização do grandioso projeto exigiu a colaboração financeira do mundo cristão. O papa concedeu indulgências aos que fizessem orações, boas obras ou contribuíssem para a construção da Basílica. A pregação brutal de um religioso foi a ocasião de Lutero de propagar suas idéias contra a doutrina da Igreja.


É necessário conhecermos o sentido teológico das indulgências que é o seguinte:


Indulgências é a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida aos pecados já perdoados quando à culpa, que nós podemos alcançar por meio da Igreja. A Igreja, dispensadora da Redenção, distribui e aplica com autoridade o "tesouro" das satisfações de Cristo e dos santos. A Igreja recebeu de Cristo o poder das chaves para ligar e desligar (cf. Mt 16,18-19; 18,18). Por isso conceder a remissão das penas temporais do pecado.


Todos nós somos unidos em Cristo na unidade do Corpo Místico. Todos os valores, os tesouros espirituais da Igreja - os méritos infinitos de Jesus Cristo, as preces e as boas obras da Virgem Maria e dos Santos - comunicam-se entre os membros do Corpo Místico de Cristo.


Havendo um intercâmbio de todos os bens espirituais entre os membros de Cristo (dos que já se encontram na pátria celeste, dos que estão expiando suas faltas no purgatório e nós que peregrinamos nesta terra), podemos obter a graça para que as almas arrependidas do purgatório sejam mais depressa conduzidas ao Céu para plenamente gozarem dos bens da glória e da felicidade eterna.

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