Que tal o padre casado?


 


Que tal o padre casado?

Autor: D. Amaury Castanho


Jundiaí (SP), 1/6/2004 - 08:01



Em mais este artigo dedicado ao sempre atual problema do celibato dos sacerdotes, que os leva ao sagrado compromisso de renunciarem ao casamento, ao amor de u'a mulher e ao dom dos filhos, penso ter uma certa importância refletir com os meus leitores sobre algumas situações que se criariam para o padre casado.


De partida, fique bem claro que o voto de castidade e a opção pelo celibato não é um imperativo divino, uma ordem dada por Cristo. Ele mesmo livremente renunciou ao casamento, privilegiando João, o jovem Apóstolo virgem, antecipando que "alguns não se casariam por amor ao Reino dos céus" (Mt 19,12). Antecipou, também, que essa escolha livre não seria compreendida por todos, mas somente por aqueles a quem Deus desse tal dom e vocação, sempre por nobres razões.


Assim, em tese, é possível que um dia a Igreja venha a tornar o celibato uma opção livre dos vocacionados para o serviço do Evangelho, do Altar e do Povo. Certo número de padres nessa nova situação seriam celibatários e outros teriam uma vida normal como maridos e pais, com os direitos e os deveres do casamento e da família. Aliás, vem a propósito lembrar que os Religiosos e Religiosas continuarão fazendo a profissão dos votos de castidade, pobreza e obediência, num seguimento mais radical de Cristo e também que, no Oriente cristão, no Líbano e na Síria, por exemplo, antes da ordenação diaconal, os presbíteros da Igreja católica podem constituir a própria família, tendo os filhos que desejarem e Deus lhes mandar.


Porém, não nos iludamos, não se enganem os partidários do casamento dos padres. Eles teriam todos os problemas que fiéis leigos da Igreja têm quando se casam.. Alguns deles? O primeiro é encontrar, antes do diaconato, uma jovem cristã exemplar que aceite as naturais limitações que qualquer sacerdote tem em seu ministério, casado ou não casado. O segundo é deveriam profissionalizar-se, como fazem os pastores protestantes, pois dificilmente as nossas Comunidades paroquiais teriam como manter, dignamente, o padre, sua mulher e seus filhos. O terceiro seria conciliar o próprio ministério, extremamente exigente, de dia e de noite, com os deveres pelo menos mais importantes da vida familiar.

E não pense o leitor que o padre casado teria apenas esses problemas já desafiadores. Tendo como todo casal, o dever de gerar e criar filhos, é fácil perceber que estes praticamente teriam somente a mãe, cercando-os de ternura, zelando por suas vidas, saúde, alimentação e segurança. Quantos filhos teria? Certamente não todos que talvez desejasse. Ele e a esposa entrariam pelo caminho da paternidade e maternidade responsáveis, o que exclui, éticamente, todo e qualquer método contraceptivo artificial. Os métodos aceitáveis - o Ogino-Knaus, o Sinto-Térmico e o Billings - exigem uma necessária e não fácil renúncia à intimidade da vida conjugal nos dias férteis da esposa. Estariam ambos dispostos à abstinência sexual exigida de quem não tem o sexo como fim mas como meio, com certeza um valor, porém não absoluto?


Os defensores do casamento dos padres não se esqueçam de que o amor e a fidelidade total por 10, 25, 50 e mais anos, exigem do casal cristão um sem-número de renúncias no círculo dos familiares e, particularmente, nos locais de trabalho e na vida social. Imaginem o contra-testemunho de um padre alcóolatra, agressivo e, pior ainda, infiel àquela que escolheu como companheira, esposa e mãe dos seus próprios filhos para toda a vida! Que diriam os casais da Comunidade paroquial, os católicos e não-católicos, sobre tal situação?


Vamos adiante nesta breve reflexão do problema do padre casado. Na comunidade de vida que tem de ser toda família, na qual em geral não há segredos entre marido e mulher, teriam os fiéis a necessária confiança no absoluto sigilo das confissões e aconselhamentos que, diariamente, os padres têm? A mulher-esposa teria a força para não bisbilhotar e não intrometer-se no espaço sagrado do silêncio e da total discrição exigidos pelo ministério sacerdotal?


Para terminar, imaginem os leitores católicos ou anti-clericais, os comentários que correriam de boca em boca na Paróquia e na cidade, se um dos filhos do padre entrasse pelos descaminhos da violência, da bebedeira, das drogas e do sexo prematuro, com o possível engravidamento extemporâneo de uma ou outra de suas filhas. E como o padre sustentaria os que dele dependesse, se viesse a perder o emprego? Teria condições de continuar exercendo o próprio ministério, recebendo da Paróquia ou Serviço a cuja frente se encontrasse, somente com o pro labore limitado e insuficiente que receberia da Igreja, até porque está profissionalizado?


Convenhamos, portanto, que as opções virginais de Cristo, do jovem Apóstolo João, de Paulo de Tarso, convertido da estrada de Damasco, foram sábias e acertadas, exemplos mais que convincentes provando a sabedoria da lei eclesiástica do celibato, à luz da palavra divina: "Alguns não se casarão por amor ao Reino dos céus" (Mt 19,12). Apesar das razões expostas acima, lamentavelmente, certo número de fiéis católicos e de presbíteros continuarão irredutíveis em suas ilusões e golpes contra a vida celibatária e casta dos nossos padres...


Fonte: Font, Dom Amaury Castanho - Bispo Emérito de Jundiaí

Postar um comentário

Deixe seu Comentário: (0)

Postagem Anterior Próxima Postagem