Celibato dos padres e vitalidade da Igreja no Ocidente
Autor: Pe. Dom Amaury Castanho
Não há como negar que o celibato dos padres, além de exigir algumas renúncias, acaba criando para u’a minoria deles alguns problemas afetivos e mesmo comportamentais. De quando em quando, vem a público algum escândalo deste ou daquele, sempre amplamente destacado pela imprensa leiga e anticlerical. São casos de pedofilia, de envolvimento afetivo ou sexual com alguma mulher, de abandono definitivo do ministério por desânimo ou desilusão.
Poder-se-ia dizer o mesmo de bom número de maridos infiéis à própria esposa, nem sempre respeitosos e amorosos para com esta e os filhos. Impressiona, nos dias de hoje, o número de casais descasados e recasados, com todos os problemas que o fracasso de uma família envolve. Mais que o homem, a mulher e os filhos são os que mais sofrem nessas e outras dolorosas situações de alcoolismo, agressões, jogo e adultérios.
As pesquisas feitas um pouco por toda parte sobre a credibilidade das pessoas e instituições, continuam situando a Igreja católica em primeiro lugar, como a instituição que goza de maior credibilidade. Ela e seus Pastores – o Papa, os Bispos e Sacerdotes – são lembrados, antes mesmo do exército, da imprensa e das escolas. O povo em geral, católicos e não católicos, normalmente supera o escândalo deste ou daquele padre. Não o justifica, mas compreende as fraquezas decorrentes do ambiente erotizado, dos assédios freqüentes e, também, das naturais fraquezas de quem, ordenado para o presbiterato e tendo feito consciente e livremente o voto de castidade, assumindo o compromisso de uma vida celibatária, não se transforma em anjo. É um homem chamado por Deus, vivendo no meio do povo com as suas limitações e pecados, como se lê na Carta aos Hebreus, reveladora do estilo e idéias fortes do Apóstolo Paulo. Nós, Pastores da Igreja, humildemente reconhecemos que pequena margem dos nossos presbíteros nem sempre é fiel aos compromissos assumidos.
Como já tive a oportunidade de lembrar, o celibato é lei canônica, eclesiástica, não uma ordem divina. É por tal motivo que no Oriente – Líbano, Síria, Egito e outras nações – os vocacionados para o sacerdócio podem constituir família antes do diaconato. Enviuvando, por razões bíblicas e canônicas não poderão formar uma segunda família. Tanto na Igreja católica quanto nas Igrejas ortodoxas do Oriente, somente ascendem ao episcopado monges celibatários. O padre casado, tendo vida conjugal, ou sendo viúvo, jamais será convocado para o exercício do episcopado. É diferente a situação na Igreja anglicana ou episcopaliana, em que até o Arcebispo Primaz de Cantuária tem esposa e filhos.
O problema que levantarei neste artigo é outro: a vitalidade da Igreja católica do Ocidente, em que os sacerdotes são celibatários e a situação vivida pela Igreja católica no Oriente, onde os padres diocesanos freqüentemente são casados, tendo mulher e filhos.
A total disponibilidade dos padres no Ocidente – Europa, Américas, África e mesmo na Ásia – possibilita a todos uma doação total de si mesmos, dos seus dons e tempo ao exercício do próprio ministério. Estão integralmente disponíveis para a evangelização e a catequese nas paróquias, para a missão “ad gentes”, o anúncio do Evangelho nos países ainda de maioria pagã. Conheço sacerdotes incansáveis nos planos da ação pastoral e no atendimento dos fiéis, na organização e acompanhamento dos Serviços, Associações e novos Movimentos eclesiais. Inegavelmente, a Igreja católica cresce e se organiza melhor, acompanhando com maior empenho os seus filhos e filhas. No longo e marcante pontificado do Papa João Paulo II, incansável no Vaticano e em suas mais de cem viagens apostólicas pelo mundo, a Igreja católica saltou dos 700 milhões para cerca de um bilhão e cem milhões de fiéis. Nossos bispos e sacerdotes, feitas algumas exceções entregam-se, incansavelmente, ao próprio ministério, tornando a Igreja uma instituição invejável em sua organização e dinamismo. Até maçons, ancticlericais e ateus o reconhecem.
Sem desmerecer o que a Igreja continua realizando no Oriente, é inegável e conhecido por todos que não cresce o número de seus fiéis enquanto avança, a olhos vistos, mesmo no Líbano, até algumas décadas atrás com maioria maronita-católica. Dá-se o mesmo fato na Síria, no Egito e outros países de maioria muçulmana ou budista. É forçoso reconhecer que, entre outros fatores, não é dos menores o casamento dos padres. Os seus compromissos com a própria família não lhes permite uma dedicação integral ao anúncio do Evangelho, à proclamação dos valores e à instauração do Reino de Deus.
É pois oportuno, justo e necessário, lembrar tal situação aos que continuam insistindo teimosamente nas vantagens do casamento dos padres, ilusória solução para todos os problemas que nossos sacerdotes celibatários enfrentam em suas vidas e ministérios. O argumento valeria também contra o casamento e a família.
Dom Amaury Castanho, Bispo Emérito da Diocese de Jundiaí
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