O Significado da Eucaristia


 

O Significado da Eucaristia


Fonte : Doutrina Catolica
Autor: Augusto Cesar Ribeiro


“Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6,54).


Desde a mais alta antigüidade cristã a eucaristia foi ententida como alimento de eternidade e penhor da ressurreição. O Cristo presente sob as espécies de pão e de vinho é o ressuscitado. Quem come deste pão tem, de fato, a vida já ressuscitada e por isso eterna. Na medida em que vamos vivendo e comungando dignamente, vamos permitindo que o Ressuscitado vá criando dentro de nós o corpo de ressurreição. A morte apenas libera e torna visível o que está invisível e aprisionado. Já não esperamos o final dos tempos. Na morte de cada um, acontece pessoalmente o último dia e com ele tudo o que Deus ligou a este evento: a ressurreição, o juízo, a entronização na suprema glória da Trindade. No termo da história se dá a plenificação total daquilo que começou de forma pessoal com a transfiguração de toda a criação.


Não devemos perder de vista esta dimensão de ressurreição presente na Eucaristia. Já no tempo estamos participando da plenitude dos tempos que se dão pela ressurreição. Ela é mais que a reanimação de um cadáver. É a realização plena do desígnio de Deus sobre toda a criação, restaurada, resgatada e transfigurada para ser o corpo da Trindade. O Cristo ressuscitado, presente no sacramento do pão e do vinho consagrados, já antecipa este fim bom e o oferece em forma de alimento para todos.


Qual será o verdadeiro significado da Eucaristia? Seria Sacramento e Sacrifício, ao mesmo tempo? Vejamos:


“A preparação da Páscoa. 7 Chegou, pois, o dia da Festa dos Pães sem Fermento, em que se devia matar o cordeiro pascal. 8 Jesus enviou Pedro e João, dizendo-lhes: “Ide preparar-nos a Ceia da Páscoa”. 9 Eles perguntaram-lhe: “Onde queres que a preparemos?” 10 Respondeu-lhes: “Entrando na cidade, virá ao vosso encontro um homem carregando um cântaro de água. Segui-o até a casa em que entrar e 11 dizei ao dono da casa: ‘O Mestre te manda perguntar: onde está a sala em que vou comer a Ceia da Páscoa com os meus discípulos?’12 Ele vos mostrará uma grande sala mobiliada, no andar de cima. Fazei ali os preparativos”. 13 Eles foram e acharam tudo como lhes dissera, e prepararam a Ceia da Páscoa.


Instituição da Ceia do Senhor.


14 Ao chegar a hora, Jesus se pôs à mesa com os apóstolos 15 e lhes falou : “Desejei ardentemente comer esta Ceia da Páscoa convosco antes de sofrer. 16 Pois eu vos digo: Nunca mais a comerei, até que ela se realize no reino de Deus”. 17 Tomando um cálice, deu graças e disse: “Tomai este cálice e distribuí entre vós. 18 Pois eu vos digo: Não mais beberei deste vinho até que chegue o reino de Deus”.


19 E tomando um pão, deu graças, partiu-o e deu-lhes dizendo : “Isto é o meu corpo, que é dado por vós. Fazei isto em memória de mim”. 20 Do mesmo modo, depois de haver ceado, tomou o cálice, dizendo: “Este cálice é a nova aliança em meu sangue, derramado por vós” (Lc 22,7-20).


Poderíamos começar por partes.


“Chegou, pois, o dia da Festa dos Pães sem Fermento, em que se devia matar o cordeiro pascal” (v.7).


O Cordeiro pascal, a Páscoa, é imolada na Ceia. Não existe nenhuma referência no AT de cordeiro sendo imolado numa cruz. Pelo contrário:


“13 Cristo pagou para nos libertar da maldição da lei, tornando-se ele mesmo maldição por nós, pois está escrito: Maldito todo aquele que é suspenso no madeiro. 14 Isto para que a bênção de Abraão alcance os pagãos em Jesus Cristo e, assim, nós recebêssemos pela fé o Espírito, objeto da promessa” (Gl 3,13-14).


No v. 10, Paulo lembrou a maldição dos pecadores pela lei (Dt 27,26). Se evoca aqui o patíbulo onde o maldito é exposto aos olhos de todos (Dt 21,23), é que o Cristo aceitou esta morte de maldito para nos livrar do pecado que a causa. Ele pagou com a vida a nossa libertação (2,20-21). Este preço não é pago a ninguém: só manifesta o amor de Deus pelos pecadores. Cf. Rm 5,8; Ef 2,4-5.


E quem é nossa Páscoa?


“7 Purificai-vos do fermento velho para serdes uma massa nova, visto que sois sem fermento. Pois o Cristo, nossa páscoa, foi imolado. 8 Celebremos pois a festa, não com fermento velho, nem com fermento de maldade e perversidade, mas com pães sem fermento: na pureza e na verdade” (1Cor 5,7-8);


“29 No dia seguinte, vendo Jesus vir a ele, disse: ‘Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo’” (Jo 1,29).


O texto evoca a morte expiatória de Jesus, amalgamando duas imagens tradicionais: por um lado, a do Servo sofredor (Is 52,13-53,12) que assume os pecados da multidão e que, inocente, se oferece como cordeiro; por outro a do cordeiro pascal, símbolo da redenção de Israel (Ex 12,1-28); cf. 19,14.36; 1Cor 5,7; Ap 5,6.12.


O verbo “tirar”, em grego, significa levantar e, a partir daí, carregar, tomar sobre si, ou levar, tirar, fazer desaparecer. É neste último sentido que Jo o emprega habitualmente (cf. 2,16; 5,8-12; 10,18; 1Jo 3,5). Esta fórmula no singular visa ao conjunto dos pecados do mundo em toda a sua extensão e com todas as suas implicações.


O “Servo sofredor (Is 52,13-53,12) que assume os pecados da multidão e que, inocente, se oferece como cordeiro” é imolado na Ceia. É na Ceia, como veremos, que Ele se oferece por inteiro, oferece Sua vida inteira a nós.


“E quando chegou a hora, ele se pôs à mesa, e os apóstolos com ele” (v.14)


(Lit. ele “se estendeu” - cf. 7,36 - Se recostou: sobre o leito onde se estende o convidado nas refeições solenes - cf. 11,37; 12,37; 13,29; 14,7-10; 17,7; 20,46; 22,14; 24,30).


E que “hora” seria essa?


“27 "Agora a minha alma está perturbada. Que direi? Pai, salva-me desta hora? Mas é precisamente para esta hora que eu vim. 28 Pai, glorifica o teu nome." Então uma voz veio do céu : "Eu o glorifiquei e o glorificarei ainda” (Jo 12,27-28).


(João observa aqui a perturbação que Jesus experimenta diante de sua morte iminente (cf. 11,33-38; 13,21). Em compensação, não narra a agonia de Getsêmani (Mc 14,32-42; Mt 26,36-46; Lc 22,39-46), aludindo contudo a ela (18,11). João tende sobretudo a acentuar a perfeita obediência de Jesus, que, glorificando o Pai, entra na Paixão com soberana liberdade);


“1 Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que a sua hora tinha chegado, a hora de passar deste mundo para o Pai, ele, que amara os seus que estavam no mundo, amou-os até o extremo” (Jo 13,1).


Jesus está plenamente consciente da chegada da sua hora (2,4; 7,6; 12,23.27) e do alcance dos acontecimentos que começam; ele vai assumi-los com soberana liberdade (10,18; 18,4; 19,28).


Na Ceia, chegou a hora de Jesus passar deste mundo para o Pai.


“15 E ele disse: "Eu desejei tanto comer esta Páscoa convosco antes de padecer! 16 Pois eu vos digo, nunca mais a comerei até que ela se tenha realizado no Reino de Deus". 17 Ele recebeu então uma taça e, depois de ter dado graças, disse: "Tomai-o e reparti-o entre vós. 18 Pois eu vos digo: Doravante eu não beberei mais do fruto da vinha até que venha o Reinado de Deus"” (vv.15-18).


Jesus nunca emprega este termo (“padecer”) senão para designar a sua própria paixão. É possível que seja uma referência às profecias de Is 53,4.8-12. Em certos casos, a palavra tem o sentido geral de sofrimentos (Mt 16,21 e par.; Mt 17,12 e Mc 9,12; Lc 17,25). Mas nos escritos de Lc, ele tem também o sentido preciso de morte (Lc 24,26.46; At 1,3; 3,18; 17,3); deve ser o sentido aqui. Este segundo sentido é constante em Hb (cf. 2,18) e em 1Pd (cf. 2,21).


A refeição ritual da Páscoa, memorial da libertação de Israel na saída do Egito (Ex 12), é apresentada aqui como a prefiguração profética (o tipo) da refeição messiânica do povo de Deus na salvação definitiva.


O Reino é a expressão clássica do judaísmo e dos evangelhos para descrever a salvação como um lugar de felicidade e de paz na presença de Deus.


Apresenta-se a taça a Jesus porque ele é o presidente da refeição pascal. Lc é o único a mencionar este primeiro cálice, visto que Mt e Mc não descrevem a refeição pascal.


Mt e Mc relatam esta palavra de esperança após a apresentação da taça eucarística (Mt 26,29; Mc 14,25; cf. 1Cor 11,26).


O sentido das palavras de Jesus, de que não mais comeria e nem beberia, é compreendido com a seqüência do discurso:


“19 A seguir, ele tomou o pão e, depois de ter dado graças, partiu-o e lhes deu, dizendo: "Isto é o meu corpo dado por vós. Fazei isto em memória de mim". 20 E para a taça ele fez o mesmo após a refeição dizendo: "Esta taça é a nova Aliança em meu sangue derramado por vós"” (vv.19-20).


Jesus não empregou verbos como “representar”, “assemelhar-se” ou “simbolizar”: ele empregou o verbo “ser”.


A Eucaristia é o sacramento da unidade. A Igreja é uma grande família reunida em torno da mesa da refeição. “Embora sendo muitos, nós formamos um só corpo, pois todos participamos deste único pão” (1Cor 10,17). Tornou-se clássica a representação da última Ceia, imortalizada por Leonardo da Vinci: Jesus, no centro da mesa, partindo o pão e o distribuindo entre os apóstolos. Menos popularizada, embora não menos significativa, é a figura do pelicano rasgando as próprias veias com o bico e alimentando os filhotes, com o seu sangue. Imortalizou-a Santo Tomás de Aquino com seu poema: “Pie pelicane, Jesu Domine”.


Por isso, não pode haver maior contra-senso do que a Eucaristia gerando divisões. E, por incrível que pareça, ela está posta exatamente como divisor de águas: ou você junta com Jesus, ou então espalha! Se o corpo e o sangue de Cristo – oferecidos e sacrificados por nós – não destruírem em nós o egoísmo, o orgulho, o individualismo... a Eucaristia perde o seu efeito; deixa de ser geradora de unidade. Estamos atirando nossas pérolas aos porcos e dando o que é santo aos cães (Mt 7,6). É o perigo que Paulo detecta na Igreja de Corinto: a ceia do Senhor tornou-se a ceia particular de cada um. As dissensões internas da comunidade esvaziam a sacramentalidade do rito, produzindo efeito contrário: “Vossas reuniões não servem ao crescimento espiritual, mas vos fazem mal, pois, ao vos reunirdes, há entre vós divisões” (1Cor 11,17-18). Nunca deveríamos perder de vista que o corpo de Cristo foi entregue para que nós também entreguemos o nosso; o sangue de Cristo foi doado para que doemos também o nosso.


Celebrar a Ceia do Senhor é muito lindo, mas pode tornar-se uma grande mentira, como de fato, para muitos seguidores de Cristo, é uma grande mentira. Mais do que mentira é uma hipocrisia. Fazem da Ceia um fato isolado da vida de todo dia.


A vida de Deus está em todo ser vivo. A Ceia do Senhor se realiza em mim quando me alimento em minhas refeições. A vida que está no vegetal e no animal é a vida de Deus. Na refeição de cada dia se realiza a doação de Deus para conosco. É o banquete da vida. É o corpo e o sangue do Senhor em cada vida que alimenta minha vida. Não há vida sem presença de Deus. Na água que bebo e no feijão que como está presente o corpo e o sangue do Senhor.


A vida de Deus está em cada irmão que alimenta minha vida. Há o banquete da solidariedade e da ajuda. Há o banquete do repartir e do serviço que une a comunidade humana. Meu escrever, neste momento, está ligado ao ler de muitas pessoas e ao trabalho de tantos outros.


A vida que vem da Ceia do Senhor, quando em comunidade ele reparte seu corpo e seu sangue, é a vida que já está em toda a realidade humana. A Ceia se torna comunhão quando eu já comungo toda a realidade em minha vida de cada dia. Comungo o universo com todos os seus fenômenos. Comungo todos os seres em minha vida fraterna e de respeito com cada um deles. Comungo cada pessoa pela acolhida, perdão e doação.


Nisto tudo se manifesta a vida de Deus. Vivendo a Ceia da realidade humana, a Ceia do Senhor se tornará a plenitude da vida e a grande Ação de Graças a Deus Pai.


A Santa Ceia inspirou Paulo a fazer da expressão “Corpo de Cristo”o centro e a característica da caridade (1Cor 11,17-34; 10,16-17). Era um lugar comum tomar o corpo humano como tipo de solidariedade (1Cor 12,14.18.25.27; Rm 12,4-8; Cl 3,15). É o fundamento da castidade cristã (1Cor 6,13-17).


O Corpo místico é identificado com a Igreja, a reunião dos crentes; Cristo é a cabeça desta reunião. O Espírito Santo, a alma (Ef 1,22-23; Cl 1,18.19.24; 2,18-19; Ef 4,15-16).


Se recebemos o Corpo de Cristo na Eucaristia, e se somos o Corpo Místico de Cristo, é porque todos nós somos um só em Cristo Jesus:


“Se Satanás se levantou contra si mesmo e está dividido, não pode continuar, mas está próximo do fim. Ninguém consegue entrar na casa de um homem forte e roubar-lhe os bens, se antes não o houver amarrado” (Mc 3,26-27).


Os romanos – mestres na arte de guerrear e de administrar – regiam-se por este axioma: “divide et impera”. Se souber dividir e distribuir as tarefas, você administrará bem sua casa, seus negócios, seu país... E se conseguir dividir entre si seus adversários, você os derrotará com facilidade.


Jesus também conhece esta norma: “Se um reino estiver dividido dentro de si mesmo, não poderá subsistir. E se uma família estiver dividida dentro de si mesma, não poderá manter-se de pé” (Mc 3,24-25). Daí a sua preocupação constante pela unidade: “é preciso haver um só rebanho e um só pastor” (Jo 10,16). A unidade pretendida por ele vai muito além de uma justaposição de pessoas; visa a uma verdadeira identificação entre a Trindade e nós: “que todos sejam um como nós, ó Pai, somos um; eu neles e tu em mim, para que sejam consumados na unidade” (Jo 17,22-23).


Entretanto, não se confunda unidade com uniformidade. “O corpo, sendo um só, tem muitos membros e todos os membros do corpo, sendo muitos, são um só corpo” (1Cor 12,12). “Em virtude da vida em Cristo, o corpo, todo coordenado e unido por cada vínculo de ministério que corresponda à força própria de cada membro, cresce e se edifica na caridade” (Ef 4,16).


“E se Cristo não ressuscitou, vã é vossa fé, e ainda estais em pecado” (1Cor 15,17).


Talvez a maior dificuldade que Paulo tenha enfrentado na sua atividade missionária haja sido introduzir a boa-nova da ressurreição na cultura grega. Aos ouvidos gregos a idéia soava como louca e ridícula: “Quando ouviram falar da ressurreição, zombaram dele...” (At 17,32).


Mas, para que serve uma religião sem a ressurreição? “Se os mortos não ressuscitam, comamos e bebamos porque amanhã morreremos”(1Cor 15,32). E qual é a garantia de que os mortos haverão de ressuscitar? Qual é a causa de tal ressurreição? Única e exclusivamente a ressurreição de Jesus Cristo. Esta é a “conditio sine qua non...” Se Cristo ressuscitou, os mortos também ressuscitarão com Ele. Se Cristo não ressuscitou, tampouco ressuscitarão os mortos.


Para Paulo a explicação é óbvia: se a cabeça ressuscita, com ela ressuscita, também, forçosamente, o corpo. Cabeça e corpo constituem uma unidade indivisa. “Embora sendo muitos, formamos um só corpo, cuja cabeça é Cristo”. Porém, se a cabeça não ressuscita, como poderíamos imaginar um corpo sem cabeça retornar à vida?


Contudo, a maior preocupação do Apóstolo é com as conseqüências práticas. Se Cristo não ressuscitou, os efeitos funestos se sucederão em cascata: a nossa fé é vã, como vã é igualmente a nossa pregação; os apóstolos e todos os santos de ontem e de hoje não passariam de falsas testemunhas; nós permaneceríamos no nosso pecado, pois continuaria morto “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo...” De resto, “se só temos esperança em Cristo para esta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens”(1Cor 15,19).


Porém, se Cristo ressuscitou –como de fato ressuscitou! –, então busquemos as coisas do alto, pensemos nas realidades eternas!


Jesus, muitos acharam duras demais as vossas palavras: “minha carne é comida, meu sangue é bebida”. No entanto, não pode haver notícia mais alvissareira para os que têm fome e sede de vós. “Senhor, dai-nos sempre deste pão!” Amém.


AUGUSTO CÉSAR RIBEIRO VIEIRA

Piabetá - RJ

A PAZ DE JESUS E O AMOR DE MARIA!

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