21 Razões para Rejeitar a Sola Scriptura - Parte 2


Fonte: Site Militantis - EUA

Autor: Joel Perters

Traduzido gentilmente por Roberto ao site Exsurge Domini


12. A crença de que as Escrituras se "auto-autenticam" não se mantém ao exame


Na falta de uma resposta satisfatória à questão de como foi determinado o cânon da Bíblia, os protestantes muitas vezes recorrem à noção de que as Escrituras se "auto-autenticam," ou seja, os livros da Bíblia testemunham por si mesmos de que são inspirados por Deus. O principal problema com essa afirmação é simplesmente que mesmo um exame sumário da história da Igreja demonstra que ela é absolutamente falsa.


Por exemplo, vários livros do Novo Testamento - Tiago, Judas, 2 Pedro, 2 João, 3 João e o Apocalipse - foram discutidos quanto a seu estatuto canônico durante algum tempo. Em alguns lugares eram aceitos, em outros eram rejeitados. Até mesmo gigantes espirituais como Santo Atanásio (297-373), São Jerônimo (c. 342-420) e Sto. Agostinho (354-430) estabeleceram listas dos livros do Novo Testamento que testemunham sobre o que era geralmente reconhecido como inspirado em seus tempos e lugares, mas nenhuma dessas listas corresponde exatamente ao cânon do Novo Testamento que foi por fim identificado pela Igreja Católica no fim do século IV e é idêntico ao cânon que os católicos têm hoje. (22)


Se as Escrituras realmente se "auto-autenticassem," por que teria havido tanta discordância e incerteza acerca desses diferentes livros? Por que teria havido alguma divergência? Por que o cânon da Bíblia não foi identificado muito antes se os livros eram tão facilmente discerníveis como se alega? A resposta que somos forçados a aceitar a este respeito é simplesmente a de que a Bíblia não se auto-autentica de forma alguma.


É ainda mais interessante o fato de que alguns livros da Bíblia não identificam seus autores. A idéia de auto-autenticação - se fosse verdadeira - talvez fosse mais plausível se cada um dos autores bíblicos se identificasse, pois poderíamos examinar com maior facilidade as credenciais desse autor, por assim dizer, ou pelo menos determinar quem era que reivindicava estar falando em nome de Deus. Mas a este respeito a Bíblia nos deixa na ignorância em alguns casos.


Tomemos como exemplo o Evangelho segundo São Mateus; em parte alguma o texto indica que Mateus, um dos doze Apóstolos, foi seu autor. Restam-nos, pois, apenas duas possibilidades para determinar sua autoria: 1) o que a Tradição tem a dizer, 2) os estudos bíblicos. Em ambos os casos, a fonte de determinação é extra-bíblica e portanto deve ser condenada pela doutrina da Sola Scriptura.


Os protestantes talvez digam então que é desnecessário saber se foi ou não Mateus que realmente escreveu aquele Evangelho, pois a salvação das pessoas não depende de se saber se foi Mateus ou outra pessoa. Mas tal perspectiva apresenta uma séria dificuldade. O que os protestantes estão realmente dizendo é que embora um Evangelho autêntico seja a Palavra de Deus e o meio pelo qual uma pessoa chega a um conhecimento salvífico de Cristo, essa pessoa não tem meios de saber com certeza, no caso do Evangelho segundo Mateus, se ele é apostólico em sua origem e por conseguinte não pode saber se ele é autêntico (ou seja, a Palavra de Deus) ou não. E se é questionável a autenticidade do Evangelho, por que incluí-lo na Bíblia? Se sua autenticidade é certa, como se pode ter certeza disso na ausência da auto-identificação por parte de Mateus? A única conclusão possível é a de que a Bíblia não se auto-autentica.


Os protestantes talvez queiram voltar à afirmação presente na própria Bíblia que ela é inspirada, citando um trecho como 2 Timóteo 3:16 - "Toda escritura, inspirada por Deus, é proveitosa..." Todavia, uma reivindicação de inspiração não é em e por si mesma uma garantia de inspiração. Consideremos o fato de que os textos de Mary Baker Eddy, a fundadora da seita Christian Science, se pretendem inspirados. Os textos de Joseph Smith, o fundador da seita mórmon, pretendem-se inspirados. Estes são apenas dois dos muitos exemplos possíveis que demonstram que qualquer texto pode reivindicar qualquer coisa. Obviamente, para sabermos com certeza se um texto é realmente inspirado, precisamos de algo mais do que a mera pretensão por parte do autor de que o texto seja inspirado. A garantia da inspiração deve vir de fora do texto. No caso da Bíblia, a garantia deve vir de uma fonte não-bíblica. Mas a autenticação exterior é excluída pela doutrina da Sola Scriptura.


13. Nenhum dos manuscritos originais da Bíblia chegou até nós.


É uma constatação sóbria - e fatal à doutrina da Sola Scriptura - a de que não possuímos nem um único manuscrito original de qualquer um dos livros da Bíblia. É bem verdade que chegaram até nós milhares de manuscritos que são cópias dos originais - e é provável também que sejam cópias de cópias - mas este fato não salva a posição da doutrina da Sola Scriptura, pela simples razão de que sem os manuscritos originais, não se pode saber com certeza se possuímos a Bíblia real, completa e inteira. (23) Os autógrafos originais eram inspirados, mas as cópias deles não o são.


Os protestantes talvez afirmem que é irrelevante não terem os manuscritos originais da Bíblia, pois Deus preservou as Escrituras protegendo sua duplicação ao longo dos séculos. (24) Há, porém, dois problemas com essa linha de raciocínio. O primeiro é que mantendo a providência divina com relação às cópias, reivindica-se algo que não está presente nas Escrituras e, portanto, pela própria definição de Sola Scriptura, não pode servir como regra de fé. Ou seja, se não se puderem achar passagens da Bíblia que afirmem claramente que Deus protegerá a transmissão de manuscritos, essa opinião não deverá ser aceita. O fato é que a Bíblia nada fala nesse sentido.


O segundo problema é que se pudermos dizer que Deus protegeu a transmissão escrita de Sua Palavra, também poderemos dizer corretamente que Ele também protegeu sua transmissão oral (lembremo-nos de 2 Tessalonicences 2:14 [15] e as duas formas da revelação de Deus). Afinal, a pregação do Evangelho começou como uma tradição oral (cf. Lucas 1:1-4 e Rom. 10:17). Só mais tarde uma parte da tradição oral foi posta por escrito - tornando-se a Sagrada Escritura - e só ainda mais tarde esses escritos foram declarados inspirados e definitivos. Uma vez que se possa afirmar que Deus preservou a transmissão oral de Seu ensinamento, ter-se-á demonstrado o fundamento da Tradição Sagrada e já se terá começado a defender a posição católica.


14. Os manuscritos bíblicos contêm milhares de variantes


Acabamos de observar que existem milhares de manuscritos bíblicos; esses manuscritos contêm milhares de variantes de texto; um autor estima que há mais de 200.000 variantes. (25) Embora a maioria delas sejam de menor importância - problemas de grafia, ordem das palavras, etc. - também há variantes de natureza mais considerável: a) a evidência relativa aos manuscritos mostra que os escribas por vezes modificavam os textos bíblicos para harmonizar passagens, para acomodá-los a um fato histórico e para estabelecer uma exatidão doutrinal; (26) e b) há partes de versículos (ou seja, mais do que uma única palavra em questão) para as quais há diversas leituras diferentes dos manuscritos, como João 7:39, Atos 6:8, Colossenses 2:2 e 1 Tessalonicences 3:2. (27) Estes fatos deixam os protestantes sem poder saber se possuem o que os autores bíblicos escreveram originalmente. E se for este o caso, como podem os protestantes professar que baseiam suas crenças apenas na Bíblia, se não podem determinar com certeza a autenticidade textual da Bíblia? (28)


E o que é mais importante, há muitas mais variantes textuais consideráveis entre os manuscritos do Novo Testamento. Os dois exemplos a seguir ilustrarão este ponto:


Em primeiro lugar, de acordo com os manuscritos de que dispomos, há quatro finais possíveis para o Evangelho de Marcos: o final curto, que inclui os versículos 1-8 do capítulo 16; o final mais longo, que inclui os versículos 1-8 mais os versículos 9-20; o final intermediário, que compreende 2 a 3 linhas do texto entre o versículo 8 e o final mais longo; e o final mais longo sob forma ampliada, que inclui vários versículos após o versículo 14 do final mais longo. (29) O máximo que se pode dizer desses diferentes finais é que simplesmente não sabemos com certeza, a partir da própria Bíblia, onde terminava o Evangelho de São Marcos, e, dependendo de qual final ou finais está/estão incluído(s) na Bíblia do protestante, o editor corre o risco de ou adicionar ou omitir versículos do texto original - violando assim a doutrina da Sola Scriptura, que exige "a Bíblia sozinha e em seu todo" como a base da fé. Mesmo se uma Bíblia protestante incluir os quatro finais com comentários explicativos e/ou notas de rodapé, não poderá ter certeza de qual dos quatro é autêntico.


Segundo, há evidências nos manuscritos de leituras alternativas em alguns dos versículos mais importantes da Bíblia, como João 1:18, onde há duas possíveis leituras. (30) Alguns (como a versão inglesa protestante King James) lêem através da linhas da Douay-Rheims: "Nunca ninguém viu a Deus em qualquer tempo, o filho único que está no seio do Pai o revelou". Outras acompanham a New International Version: "Ninguém jamais viu Deus. O Filho único, que está à direita do Pai, foi quem o revelou." Ambas as leituras têm apoio em diferentes manuscritos, e encontaremos, portanto, especialistas em estudos bíblicos que se basearão em seu juízo esclarecido para dizer qual é a leitura "correta." Uma situação semelhante ocorre com Atos 20:28, onde há evidência em manuscritos mostrando que São Paulo poderia estar referindo-se ou à "igreja do Senhor" (grego kyriou) ou à "igreja de Deus" (grego theou). (31)


Ora, este ponto talvez pareça trivial à primeira vista, mas suponhamos que estejamos tentando evangelizar uma pessoa culta que negue a divindade de Jesus Cristo. Embora João 1:18 e Atos 20:28 não sejam as únicas passagens a serem usadas em defesa da divindade de Nosso Senhor, não poderemos utilizar esses versículos com essa pessoa, dependendo da tradução manuscrita seguida pela nossa Bíblia. Isso nos deixaria marginalmente menos capazes de defender uma doutrina bíblical de capital importância, e a própria natureza deste fato se torna muito problemática do ponto de vista da doutrina da Sola Scriptura.


15. Há centenas de versões da Bíblia.


Como mencionado no Ponto 14 acima, há milhares e milhares de variantes nos manuscritos bíblicos. Este problema é multiplicado pelo fato de a história ter conhecido centenas de versões da Bíblia, que variam quanto à tradução e às fontes textuais. A pregunta que é preciso fazer é: "Qual versão é a correta?" ou "Que versão está mais perto dos manuscritos originais?" Uma resposta possível dependerá de que lado da questão Católica/Protestante nos situamos. Outra resposta possível dependerá de que especialistas bíblicos consideramos mais confiáveis e respeitáveis.


O fato é que algumas versões são claramente inferiores a outras. O progresso na área da pesquisa bíblica, possibilitado pelas descobertas arqueológicas (por exemplo, os Manuscritos do Mar Morto), melhorou em muito o nosso conhecimento dos costumes e dos idiomas bíblicos antigos. Hoje sabemos mais acerca das variáveis que tiveram impacto sobre os estudos bíblicos do que nossos colegas de 100, 200 ou 1000 anos atrás. Deste ponto de vista, as versões modernas da Bíblia talvez tenham certa superioridade sobre as versões mais antigas. Por outro lado, as Bíblias baseadas na Vulgata latina de São Jerônimo (século IV) - em inglês, a Douay-Rheims - baseiam-se em textos originais que posteriormente se perderam, e portanto essas versões tradicionais contornam 16 séculos de possível corrupção textual.


Este fato traz um problema considerável para os protestantes, pois quer dizer que os protestantes de hoje talvez tenham sob alguns aspectos uma Bíblia "melhor" ou mais exata do que seus antecessores, ao passo que sob outros aspectos têm uma Bíblia "pior" e menos exata - o que por sua vez significa que os protestantes de hoje ou têm uma autoridade final "com mais autoridade" ou "com menos autoridade" do que seus predecessores. Mas a existência de graus de autoridade começa a infirmar a doutrina da Sola Scirptura, pois significaria que uma Bíblia é uma autoridade final menos autêntica do que a outra. E se não é tão autêntica, aumenta a possibilidade de transmitir doutrinas errôneas, e cada versão particular da Bíblia não funciona como aautoridade final, pois não é realmente final.


Outro ponto a considerar é que os tradutores da Bíblia, como seres humanos, não são completamente objetivos e imparciais. Alguns talvez tendam a traduzir determinada passagem de uma maneira que corresponda mais a um sistema de crenças do que a outro. Um exemplo desta tendência pode ser visto nas Bíblias protestantes, onde aparece a palavra grega paradoseis. Uma vez que os protestantes negam a existência da Tradição Sagrada, algumas traduções protestantes da Bíblia traduzem essa palavra por "ensinamentos" ou "costumes"em vez de por "tradição," pois esta última tenderia a dar maior peso à posição católica.


Devemos considerar também o fato de que algumas versões da Bíblia são perversões escancaradas dos textos bíblicos, como no caso da tradução New World das Testemunhas de Jeová. Aqui, os "tradutores" vertem passagens importantes de tal maneira que se adaptem a suas doutrinas errôneas. (32) Ora, a menos que haja uma autoridade externa à Bíblia que declare essas traduções não confiáveis e perigosas, com que autoridade poderia alguém chamá-las de impróprias ao uso no ensino da doutrina? Se os protestantes responderem dizendo que esta questão pode ser determinada com base no estudo acadêmico da Bíblia, eles ignoram o fato de que as Testemunhas de Jeová também citam fontes acadêmicas de estudo bíblico em apoio à sua tradução dessas passagens! A questão, pois, transforma-se num jogo de contrapor uma fonte acadêmica de estudos bíblicos à outra - uma autoridade humana contra outra.


Em última instância, o problema só pode ser resolvido por meio da intervenção de uma autoridade docente infalível que fale em nome de Cristo. O católico sabe que essa autoridade é a Igreja Católica Romana e seu Magistério ou autoridade docente. No exercício dessa autoridade, os Bispos Católicos concedem um imprimatur ("Seja impresso") a ser incluído nas primeiras páginas de certas versões da Bíblia e outros livros de espiritualidade, para avisar ao leitor que o livro nada contém de contrário aos ensinamentos de Cristo e dos Apóstolos. (33)


16. Os fiéis não tinham acesso individual à Bíblia até o século XV.


Essencial à doutrina da Sola Scriptura é a idéia de que o Espírito Santo iluminará cada fiel quanto à correta interpretação de qualquer passagem da Bíblia. Essa idéia pressupõe que cada fiel possui uma Bíblia ou no mínimo acesso à Bíblia. A dificuldade dessa suposição é que a Bíblia não podia ser produzida em massa e facilmente disponível a cada um dos fiéis até o surgimento da imprensa, no século XV. (34) Mesmo então, levaria ainda bastante tempo para que um grande número de Bíblias fossem impressas e distribúidas pela população em geral.


O problema causado por esse estado de coisas é que os milhões e milhões de cristãos que viveram antes do século XV teriam sido deixados sem uma autoridade final, entregues à busca de uma espiritualidade, a menos que por sorte tivessem acesso a uma Bíblia copiada à mão. Mesmo uma compreensão meramente humana dessas circunstâncias veria nisso um Deus muito cruel, pois teria revelado a plenitude de Sua Palavra à humanidade em Cristo, sabendo que os meios pelos quais essa informação poderia tornar-se facilmente disponível não existiriam por mais 15 séculos.


Por outro lado, sabemos que Deus não é absolutamente cruel, mas na verdade tem um infinito amor por nós. É por essa razão que Ele não nos deixa no escuro. Enviou-nos Seu Filho para nos ensinar a maneira como devemos crer e agir, e esse Filho fundou uma Igreja para promover esses ensinamentos através da pregação aos letrados e aos iletrados. "A fé vem então pela audição; e a audição, pela Palavra de Cristo." (Rom. 10:17). Cristo também deu à Sua Igreja a garantia de que sempre estaria com ela, não lhe permitindo jamais cair em erro. Deus, portanto, não abandonou Seu povo nem o fez depender da invenção da imprensa para ter o conhecimento salvífico de Seu Filho. Ao contrário, deu-nos uma mestra divinamente estabelecida e infalível, a Igreja Católica, para nos permitir ser informados das Boas Novas do Evangelho - e informados corretamente.


17. A doutrina da Sola Scriptura não existia antes do século XIV.


Por mais difícil que seja para alguns encarar esta realidade, a doutrina fundamental do protestantismo só surgiu no século XIV e só se tornou popular no século XVI - muito, muito tempo depois dos ensinamentos de Jesus Cristo e de Seus Apóstolos. Este simples fato é convenientemente deixado de lado ou ignorado pelos protestantes, mas por si só já é uma razão suficiente para descartarmos a doutrina da Sola Scriptura. A verdade é que a doutrina da Sola Scriptura não existia antes de John Wycliffe (precursor do protestantismo) no século XIV, e só se difundiu quando surgiu Martinho Lutero, no século XVI, e começou a estabelecer suas próprias "tradições dos homens" no lugar do autêntico ensinamento cristão. Essa doutrina, portanto, não só carece da continuidade histórica que distingue o legítimo ensinamento apostólico, mas na verdade representa uma mudança abrupta, um corte radical com o passado cristão.


Os protestantes dirão que a própria Bíblia ensina a Sola Scriptura e portanto a doutrina tem raízes que remontam a Jesus Cristo. Como vimos acima, porém, a Bíblia não ensina tais coisas. A tese de que a Bíblia ensina essa doutrina nada mais é do que uma tentativa repetida de retrojetar essa crença nas páginas das Escrituras. O examine da continuidade histórica (ou da falta dela) oferece uma indicação de se uma determinada crença teve ou não origem em Jesus Cristo e nos Apóstolos ou apareceu muito mais tarde ao longo do tempo. O fato é que o registro histórico silencia totalmente acerca da doutrina da Sola Scriptura antes do século XIV.


18. A doutrina da Sola Scriptura produz maus frutos, a saber, divisão e desunião.


Se a doutrina da Sola Scriptura fosse verdadeira, seria de se esperar que os protestantes estivessem todos de acordo em termos de doutrina, pois a Bíblia não poderia ensinar simultaneamente crenças contraditórias. No entanto, a realidade é que existem literalmente milhares (35) de seitas e denominações protestantes, cada uma reivindicando ter a Bíblia como único guia, cada uma afirmando pregar a verdade, mas cada uma ensina algo diferente das outras. Os protestantes dizem só discordar em matérias não-essenciais ou marginais, mas o fato é que não conseguem nem estar de acordo sobre questões doutrinárias básicas, como a Eucaristia, a salvação e a justificação - para citarmos apenas algumas.


Por exemplo, a maioria da denominações protestantes ensinam que Jesus Cristo está apenas simbolicamente presente na Eucaristia, ao passo que outras (como os luteranos e os episcopais) crêem que Ele esteja literalmente presente, pelo menos até certo ponto. Algumas denominações ensinam que uma vez "salvo", você jamais pode perder sua salvação, enquanto outras crêem ser possível que um verdadeiro cristão peque gravemente e deixe de estar "salvo." E algumas denominações ensinam que a justificação implica que o cristão seja apenas declarado justo, enquanto outras ensinam que o cristão também deva crescer em santidade e se tornar realmente justo.


Nosso Senhor categoricamente jamais pretendeu que Seus seguidores estivessem tão fragmentados, desunidos e caóticos como a história do protestantismo tem sido desde o começo. (36) Muito pelo contrário, Ele rezou por Seus seguidores: "Que todos sejam um, como Tu, Pai, em mim, e eu em Ti; que eles também possam ser um em nós." (João 17:21). E São Paulo exorta os cristãos à unidade doutrinal, com estas palavras: "Um só corpo e um só Espírito... Um Senhor, uma verdade, um batismo." (Ef. 4:4-5). Como é então que milhares de denominações e seitas protestantes reivindicam ser a "verdadeira Igreja", quando a própria existência delas refuta essa pretensão? Como pode uma tal heterodoxia e contradição entre as doutrinas ser a unidade pela qual rezou Nosso Senhor?


A este respeito, o leitor deve recordar as palavras do próprio Cristo: "Pelo fruto se conhece a árvore." (Mt. 12:33). Desta perspectiva, o testemunho histórico dado pelo protestantismo demonstra que a árvore da Sola Scriptura tem produzido mau fruto.


19. A doutrina da Sola Scriptura não permite uma interpretação final e definitiva de nenhuma passagem das Escrituras.


Como vimos acima, a doutrina da Sola Scriptura afirma que o crente individualmente necessita apenas da Bíblia como regra de fé e que ele pode chegar a uma interpretação verdadeira de qualquer passagem das Escrituras simplesmente comparando-a com o resto do que a Bíblia ensina. Na prática, porém, essa posição cria mais problemas do que resolve, e por fim impede que o fiel conheça definitivamente e com certeza como deve ser interpretada essa passagem da Bíblia.


O protestante, na realidade, interpreta a Bíblia de um ponto de vista subjetivo e não de verdade objetiva. Por exemplo, digamos que o protestante A estuda uma passagem das Escrituras e conclui pela interpretação X. O protestante B estuda a mesma passagem e conclui pela interpretação Y. O protestante C, por fim, estuda o mesmo trecho e conclui pela interpretação Z. (37) As interpretações X, Y e Z são mutuamente contraditórias. Mesmo assim, cada uma dessas pessoas, do ponto de vista protestante, pode considerar "correta" a sua interpretação, pois todos eles "compararam Escritura com Escritura."


Ora, há apenas duas determinações possíveis para esses três protestantes: a) todos eles estão errados em suas interpretações, ou b) apenas um deles está correto - uma vez que três interpretações contraditórias não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo. (38) O problema aqui é que, sem a existência de uma autoridade infalível que diga aos três protestantes qual de suas respectivas interpretações está correta (ou seja, é objetivamente verdadeira), não há como cada um deles saber com certeza e definitivamente se sua interpretação particular é a correta. Cada protestante é, em última instância, entregue a uma interpretação individual baseada em sua mera opinião pessoal - apesar do estudo e da pesquisa feita acerca da questão. Cada protestante, portanto, se torna sua própria autoridade final - ou, se quiserem, seu próprio "papa."


O protestantismo na prática corrobora esse fato. Uma vez que a Bíblia por si só não é suficiente como regra de fé (se o fosse, nossos três protestantes estariam em completo acordo em suas interpretações), cada fiel e cada denominação dentro do protestantismo deve necessariamente chegar a sua própria interpretação da Bíblia. Conseqüentemente, se há muitas interpretações possíveis das Escrituras, por definição não há uma interpretação última. E se não há interpretação última, ninguém pode saber se sua própria interpretação é objetivamente verdadeira.


Uma boa comparação seria a lei moral. Se cada um se baseasse em sua própria opinião para determinar o que é certo ou errado, nada mais teríamos que um relativismo moral, e cada qual poderia afirmar corretamente sua própria tábua de valores. Todavia, uma vez que Deus definiu claramente os absolutos morais para nós (além daqueles que podemos conhecer pela razão a partir da lei natural), podemos avaliar cada ação e determinar quão boa ou má ela é moralmente. Isso seria impossível sem os absolutos morais.


Qualquer denominação protestante, é claro, provavelmente sustentaria que suas próprias interpretações são as corretas - pelo menos na prática, senão formalmente. Se não fosse assim, seus adeptos mudariam de denominação! Contudo, se alguma denominação afirmar que suas interpretações estão mais corretas do que as das outras denominações, terá efetivamente se arvorado em autoridade final. O problema é que isso viola a doutrina da Sola Scriptura, estabelecendo uma autoridade externa às Escrituras.


Por outro lado, se uma dada denominação admitir que suas interpretações não são mais corretas do que as das outras denominações, voltaremos ao dilema original de jamais sabermos qual é a interpretação correta e assim de jamais termos a verdade definitiva. Mas disse Nosso Senhor: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida." (João 14:6). O problema é que cada uma das denominações protestantes reivindica a mesma coisa - efetiva ou formalmente - acerca da "correção" de suas interpretações. O resultado disso são milhares de denominações diferentes, cada uma das quais afirmando ter a "verdade" acerca das Escrituras, embora nenhuma seja capaz de apresentar uma determinação objetiva acerca dessa "verdade." Daí uma incapacidade de chegar a uma interpretação definitiva, oficial e final de qualquer passagem das Escrituras. Ou seja, os protestantes jamais podem dizer que "é assim e pronto" com relação a qualquer interpretação de qualquer trecho da Bíblia.


20. Faltam à Bíblia protestante 7 livros inteiros


Para sua própria tristeza, os protestantes são culpados de violar de fato sua própria doutrina. A doutrina da Sola Scriptura proíbe a qualquer pessoa adicionar ou suprimir algo da Bíblia, mas os protestantes, na verdade, suprimiram sete livros inteiros do Antigo Testamento, asssim como partes de dois outros. Os livros em questão, chamados erradamente de "Apócrifos" ("não autênticos") por eles, são chamados pelos católicos de livros "deuterocanônicos" ("segundo cânon"): são eles Tobias (Tobit), Judite, 1 e 2 Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico (ou Sirach) e Baruc. Também sumiram partes de Daniel e Ester.


Em defesa de seu deficiente cânon do Antigo Testamento, os protestantes invariavelmente apresentam um ou mais dos seguintes argumentos: 1) o cânon mais curto, farisaico (ou palestino) (39) do Antigo Testamento foi aceito por Cristo e Seus Apóstolos, pois jamais citaram nenhum dos livros deuterocanônicos; 2) o Antigo Testamento foi encerrado na época de Cristo, e era o cânon mais curto; 3) os próprios judeus aceitaram o cânon mais curto, farisaico, no Concílio de Jamnia (ou Javneh) no ano de 90 A.D.; e 4) os livros deuterocanônicos contêm material não-escritural.


Todos esses argumentos são totalmente inválidos.


1) Com respeito à afirmação de que Cristo e Seus Apóstolos aceitaram o cânon mais curto, farisaico, um exame das citações do Antigo Testamento presentes no Novo Testamento demonstra sua falácia. O Novo Testamento cita o Antigo Testamento cerca de 350 times, e em aproximadamente 300 desses casos (86%), a citação é tomada da Septuaginta, uma tradução grega do Antigo Testamento em uso geral na época de Cristo. A Septuaginta continha os livros deuterocanônicos. É pois irracional e presunçoso dizer que Cristo e Seus Apóstolos aceitaram o cânon mais curto do Antigo Testamento, pois como a grande maioria das pessoas da época eles usavam uma versão do Antigo Testamento que continha, sim, os sete livros em questão.


Ora, tomemos o caso de São Paulo, cujas viagens e epístolas missionárias eram dirigidas às regiões helenísticas fora da Palestina. Observou-se, por exemplo, que seu sermão em Antioquia na Pisídia "pressupunha um conhecimento completo da Septuaginta por parte de seus ouvintes" e que uma vez fundada uma comunidade cristã, o conteúdo de suas epístolas aos seus membros "respirava a Septuaginta." (40) Obviamente, São Paulo estava apoiando o cânon mais amplo do Antigo Testamento com sua rotineira citação da Septuaginta.


Além disso, é errado dizer que os livros deuterocanônicos jamais foram citados por Cristo (41) e Seus apóstolos ou que tal citação seja um pré-requisito para a inclusão desse livro do cânon bíblico. Segundo uma lista, os livros deuterocanônicos são citados ou aludidos no Novo Testamento nada menos de 150 vezes! (42) Além disso, há livros do Antigo Testamento, como o Eclesiastes, Ester e Abdias, que não são citados por Cristo ou pelos Apóstolos, mas no entanto constam do cânon do Antigo Testamento (tanto do católico quanto do protestante). Obviamente, portanto, a citação por Cristo ou pelos Apóstolos não é o único critério para determinar a canonicidade.


2) Com relação à tese de que Cristo e os Apóstolos usavam um cânon fechado do Antigo Testamento - o qual, segundo os protestantes, seria o mais curto - ela é infirmada pela evidência histórica. Em primeiro lugar, não existe uma entidade conhecida como cânon palestino, pois na verdade havia três cânones em uso na Palestina na época, (43) além do cânon da Septuaginta. Em segundo lugar, a evidência demonstra que "o judaísmo nos dois últimos séculos a.C. e no primeiro século a.D. não era de forma alguma uniforme quanto ao entendimento de quais de seus textos fossem considerados sagrados. Havia muitas opiniões, fora e dentro de Israel nos primeiros séculos a.C e a.D. acerca de quais textos fossem tidos como sagrados." (44)


3) Usando o Concílio de Jamnia como esteio para um cânon mais reduzido é manifestamente problemático pelas seguintes razões: a) As decisões de um concílio judaico reunido mais de 50 anos após a Resurreição de Cristo de modo algum têm autoridade sobre a comunidade cristã, da mesma maneira que as leis do judaísmo (por exemplo, a proibição de se comer porco) não o têm sobre os cristãos. b) É questionável se o concílio tomou ou não decisões finais acerca do cânon do Antigo Testamento das Escrituras, pois "a lista de livros reconhecidos por 'sujar as mãos' continuou a variar dentro do próprio judaísmo até o século IV A.D." (45) c) O concílio foi, em certa medida, uma polêmica voltada especificamente contra a "seita" cristã e seu tom, portanto, se opunha intrinsecamente ao cristianismo. Esses judeus muito provavelmente aceitaram um cânon farisaico mais reduzido justamente porque os primeiros cristãos aceitavam o cânon mais abrangente da Septuaginta. d) As decisões desse concílio representaram o juízo de apenas um ramo do judaísmo farisaico da Palestina, e não o judaísmo como um todo.


4) Por fim, o fato de os protestantes afirmarem que os livros deuterocanônicos contêm material não-escritural é de fato um caso de dogmatismo temerário. Chegaram a essa conclusão simplesmente porque os chamados Reformadores, notoriamente hostis à Igreja Católica, abordaram a Bíblia com um pressuposto a priori de que ela ensinaria a doutrina "reformada" (protestante). Descartaram os livros deuterocanônicos porque em certos casos esses livros contêm de forma manifesta a doutrina católica, como no caso de 2 Macabeus 12:42-46, que apóia claramente a doutrina das orações pelos mortos e portanto do Purgatório: "É portanto santo e sensatíssimo rezar pelos mortos, para que possam ser absolvidos dos pecados." (2 Mac 12:46). Lutero, de fato, quis também descartar do Novo Testamento os livros do Apocalipse e Tiago, chamando este último de "epístola insignificante" pois achava não conter "nada de evangélico" (46) - sem dúvida porque afirma sem rodeios que somos salvos pela fé e pelas obras (cf. Tiago 2:14-26), em contraste com a doutrina errônea da "só fé", de autoria do próprio Lutero. Por fim, ele foi persuadido pelos amigos a manter esses livros.


Além do acima exposto, há o fato do testemunho histórico e da continuidade acerca do cânon da Bíblia. Embora houvesse, como vimos, disputas acerca do cânon bíblico, duas considerações são porém verdadeiras: 1) os livros deuterocanônicos eram com certeza usados pelos cristãos do século I em diante, a começar por Nosso Senhor e Seus discípulos, e 2) uma vez resolvida a questão do cânon no século IV, não vemos mudanças na prática cristã com relação ao cânon daí por diante. Na prática, a única contestação e desrespeito a essas duas realidades ocorreu quando os chamados Reformadores entraram em cena no século XVI e decidiram que podiam simplesmente jogar fora uma continuidade de 11 séculos relativa à existência formal do cânon e outra de cerca de 15 séculos relativa à sua existência na prática.


O fato de que um indivíduo qualquer chegue e resolva alterar uma tal continuidade relativa a uma questão tão central como a dos livros que compõem a Bíblia deveria fazer com que o seguidor sincero de Cristo refletisse seriamente. Esse seguidor é forçado a perguntar: "Com que autoridade esse indivíduo fez uma mudança tão considerável?" A história e os próprios textos de Lutero mostram que seus atos se baseavam apenas no seu chutômetro pessoal. Uma tal "autoridade", é claro, está muito aquém do que é necessário para a mudança canônica que defendia, sobretudo se considerarmos que o processo de identificação do cânon da Bíblia foi guiado pelo Espírito Santo, durou séculos e envolveu algumas das maiores cabeças da Cristandade, bem como vários Concílios da Igreja. Ainda mais inquietante é o fato de que outros chamados Reformadores - e protestantes desde então - deram seqüência a isso aceitando o cânon modificado por Lutero, embora digam honrar a Bíblia e insistam que nada possa ser a ela adicionado ou dela retirado.


21. A doutrina da Sola Scriptura teve origem nos problemas emocionais de Lutero.


Se algo pode ser dito com certeza acerca de Martinho Lutero é que era uma pessoa profunda e cronicamente perturbada por uma combinação de dúvidas e desespero acerca de sua própria salvação e por um sentimento de total impotência diante da tentação e do pecado. Diz o próprio Lutero: "Meu espírito estava completamente dilacerado e estava sempre em estado de melancolia, pois, fizesse o que fizesse, minha 'correção' e minhas 'boas obras' não me traziam ajuda ou consolo." (47)


À luz destes fatos, devemos avaliar e estrutura mental psicológica e emocional de Lutero em termos de sua influência nas origens de sua doutrina da Sola Scriptura. Mesmo um exame sumário demonstra que essa doutrina teve origem na necessidade que Lutero sentia de se livrar da sensação de culpa, do desespero e da tentação que o "torturavam".


Considerando que o próprio Lutero admitia ter uma preocupação obsessiva com sua própria condição pecadora, bem como uma incapacidade de resistir à tentação, parece razoável concluir que sofria de escrúpulos, e até mesmo os estudiosos luteranos admitem isto. (48) Sofrer de escrúpulos significa que a pessoa está preocupada em demasia por ter cometido pecados, quando não há um fundamento real para essa preocupação, e uma pessoa escrupulosa é alguém que muitas vezes exagera a severidade de seu sentimento de estar em pecado, com uma correspondente falta de confiança em Deus. Também vale notar que a escrupulosidade "muitas vezes parece basear-se em alguma disfunção psicológica da pessoa." (49)


Em outras palavras, Lutero provavelmente nunca teve um momento de paz emocional ou psicológica, pois a voz da "consciência" sempre o aguilhava a respeito de algum problema, real ou imaginário. Seria muito natural que uma pessoa com esse problema procurasse proteção contra essa voz, e para Lutero essa proteção foi encontrada na doutrina da Sola Fide, ou salvação "só pela fé."


Mas uma vez que evitar o pecado e realizar boas obras são componentes necessários de nossa salvação, e esses fatos eram firmemente ensinados e defendidos pela Igreja Católica, Lutero se viu em oposição frontal à autoridade docente da Igreja. Uma vez que a Igreja afirmava a necessidade de se fazer exatamente o que se sentia incapaz de fazer, Lutero tomou uma decisão drástica - uma decisão que "resolveu" seu problema de escrúpulos: rejeitou a autoridade docente da Igreja, encarnada no Magistério com o Papa como chefe, e proclamou que isso era contrário à Bíblia. Em outras palavras, ao afirmar que a Sola Scriptura era a verdadeira doutrina cristã, Lutero pôs de lado essa autoridade que o obrigava a reconhecer que sua própria espiritualidade era doentia.


Sumário


Por todas essas razões, pois, é evidente que a doutrina protestante da Sola Scriptura é uma crença totalmente não-bíblica, de fabricação humana e erronêa que deve ser completamente rejeitada. Os autênticos cristãos que tenham um compromisso com as verdades que Jesus Cristo ensinou - mesmo se elas contradigam o seu atual sistema religioso - devem ser forçados pela evidência a verem as falhas inerentes a essa doutrina, falhas estas claramente óbvias a partir das Escrituras, da lógica e da história.


A verdade religiosa completa, sem mistura de erros, encontra-se apenas na Igreja Católica, a verdadeira Igreja que o próprio Jesus Cristo fundou. De acordo com os ensinamentos dessa Igreja, fundada por Cristo, a Sola Scriptura é uma visão distorcida e truncada da autoridade cristã. A verdadeira regra de fé para os seguidores de Cristo é esta:


A regra de fé imediata ou direta é o ensinamento da Igreja; a Igreja, por sua vez, recebe seu ensinamento da Revelação Divina - tanto a Palavra escrita, as Sagradas Escrituras, quanto a Palavra oral ou não-escrita, conhecida como a "Tradição," que juntas formam a regra de fé remota ou indireta.


As Escrituras e a Tradição são as fontes inspiradas da doutrina cristã, ao passo que a Igreja - a entidade histórica e visível que remonta a São Pedro e os Apóstolos numa sucessão ininterrupta - é a mestra e a intérprete infalível da doutrina cristã. Só aceitando essa regra de fé cristã completa os seguidores de Cristo sabem aderir a tudo o que Ele ordenou que Seus Apóstolos ensinassem (cf. Mt. 28:20). Só aceitando esta completa regra de fé cristã os seguidores de Cristo têm a garantia de possuir toda a verdade que Cristo ensinou, e nada mais que a verdade.


Notas de rodapé



Nota: Dentre as referências, há alguns autores protestantes; suas obras não são citadas como "leitura recomendada ," mas mostram que o que é afirmado neste trabalho é válido também segundo os padrões protestantes.


1. A Reforma Protestante não foi uma reforma no verdadeiro sentido da palavra, mas antes uma revolução - um levante contra a legítima e estabelecida ordem religiosa e civil da época.


2. W. E. Vine [autor protestante], Vine's Expository Dictionary of New Testament Words (McLean, VA: MacDonald Publishing House, n.d.), p. 387. Cf. St. Alphonsus Liguori, An Exposition and Defense of all the Points of Faith Discussed and Defined by the Sacred Council of Trent; along with a Refutation of the Errors of the Pretended Reformers, etc. (Dublin: James Duffy, 1846), p. 50.


3. Embora se considere que todos os livros do Novo Testamento tenham sido escritos na época em que São João terminou o Apocalipse, eles só foram identificados como "a Bíblia" muito tempo depois.


4. A palavra traduzida por vezes em inglês por "ordinances" é também traduzida como "teachings" (ensinamentos) ou "traditions"(tradições); por exemplo, a NIV traz ensinamento com uma nota de rodapé: "ou tradições".


5. Vine, op. cit., p. 564


6. Um exemplo desta forma interpretativa envolve Ap 12. Os Padres da Igreja entenderam a mulher vestida de sol como referência à Assunção da Virgem Maria. Alguém afirmar que esta doutrina não existia até 1950 (o ano em que o Papa Pio XII definiu-o como dogma de fé) corresponde a uma grande ignorância de história eclesial. Essencialmente, a crença surgiu desde o início, mas não fora formalmente definida até o século 20. Deve-se saber que a Igreja geralmente não costuma definir uma doutrina formalmente a não ser que esta seja questionada por correntes heréticas perigosas. Tais ocasiões requerem uma necessidade oficial de definir parâmetros sobre a doutrina em questão.


7. A Igreja Católica afirma que "o corpo dos bispos", os sucessores dos apóstolos, também goza de infalibilidade, quando, em união com o Papa, "exerce seu magistério supremo, sobretudo em um Concílio Ecumênico" (cf. CCE #891). "Ligar e desligar" é uma terminologia rabínica, e se refere à autoridade de seus ensinamentos e interpretações. Cristo claramente pretendeu, portanto, que seus apóstolos, sob a liderança de Simão Pedro (contudo somente Pedro recebeu o poder das chaves), possuíssem a autoridade para ensinar a correta interpretação.


8. A afirmação protestante de que a Bíblia interpreta a si mesma nada mais é do que uma futilidade. Afirmam que cada pessoa pode chegar a uma correta interpretação bíblica comparando seus versículos com outros da Bíblia. O problema com este argumento pode ser assim demonstrado: peça a dez pessoas para darem sua interpretação sobre um certo versículo bíblico, e é provável que encontre dez interpretações diferentes. Se a Bíblia pudesse interpretar a si mesma, sempre se chegaria à mesma conclusão, independente da época em que se estuda, mesmo pelas mais diferentes pessoas. E se tal diferença de interpretações pode ser verdadeira para apenas dez pessoas, imagine então o resultado quando se multiplica este número por milhares ou milhões? A história já demonstrou tal resultado, e seu nome é Protestantismo.


9. Existem alguns estudiosos que afirmam que 2 Pd foi o último livro escrito do Novo Testamento, datando do início do século dois. Pelo fato de não haver consenso entre os especialistas sobre a data exata, é suficiente para nosso propósito aceitar a visão geral de que ao fim do século I todos os livros do Novo Testamento já haviam sido escritos.


10. Vide, por exemplo, Santo Irineu, Contra as Heresias 3,3; Tertuliano, Prescrição contra os hereges 32, Orígenes, Primeiros princípios, 1, prefácio.


11. Vide, por exemplo, Santo Inácio, Carta aos Esmirnenses 8-9; Carta aos Filadelfos, introdução e cap.1-4; Carta aos Magnésios, 7.


12. Vide, por exemplo, 1 Clemente 1,56,58,59; Santo Inácio, Carta aos Romanos, introdução e cap.3; Santo Irineu, Contra as Heresias 3,3; Tertuliano, Prescrição contra os hereges 22; Eusébio, História Eclesiástica 5,24,9.


13. Msr. Patrick F. O'Hare, LL.D, The Facts about Luther (Cincinnati: Pustet, 1916; Rockford, IL; TAN, 1987), pp. 215-255.


14. Walch, XIII, 2195, citado em The Facts about Luther, p. 15.


15. É relevante que os decretos de um Concílio Ecumênico não têm autoridade a menos que sejam ratificados pelo Papa.


16. Dois versículos favoritos dos arianos para respaldar sua crença são Pv 8,22 e Jo 14,28.


17. John Henry Newman, Os arianos do quarto século.


18. Henry G. Graham, Where we got the Bible: our debt to the Catholic Church (St Louis: B. Herder, 1911; Rockford, IL: TAN, 1977, 17th edição), pp. 34-35.


19. É a mesma lista dada pela declaração final, explícita e infalível da Igreja sobre quais os livros a serem incluídos na Bíblia, feita pelo Concílio de Trento, na sessão IV, em 1546. Listas iniciais dos livros canônicos eram as listas do "Decreto Gelasiano", dado pela autoridade do Papa Dâmaso em 382, e o cânon do Papa Inocêncio I, enviada a um bispo franco em 405. Nenhum dos dois documentos pretendia compor uma afirmação infalível a toda a Igreja, mas ambos incluíam, onze séculos antes, os mesmos 73 livros da lista de Trento. (The Catholic Encyclopedia [New York: The Encyclopedia Press, 1913], vol. 3, p. 272).


20. O leitor deve notar que a Igreja Católica não afirma que a identificação dos livros da Bíblia os tornou canônicos. Deus é quem é o autor da canonicidade. A Igreja Católica afirma, isto sim, que somente ela detém a autoridade e responsabilidade por identificar infalivelmente quais são os livros canonizados por Deus que devem compor a Bíblia cristã.


21. Comentário sobre João, cap. 16, como citado em Paul Stenhouse, Catholic Answers to "Bible" Christians (Kensington: Chevalier Press, 1993), p. 31.


22. Graham, op. cit, p. 31.


23. Nem as primeiras cópias da Bíblia, o Codex Vaticanus e o Codex Sinaiticus, ambos datados do século IV d.C., nem qualquer outra cópia contém a Bíblia inteira, pois partes dos manuscritos foram perdidos ou destruídos. A grande maioria dos manuscritos que existem atualmente são apenas fragmentos da Bíblia.


24. A ironia é que foi pelos esforços incansáveis e laboriosos dos monges católicos em suas clausuras que a Palavra de Deus escrita sobreviveu através dos séculos. A acusação de que os católicos fizeram de tudo para suprimir a Bíblia é uma das mais perniciosas falsidades, e é facilmente refutada pelo atento exame nas pesquisas da história da Igreja. Muito pelo contrário, a Igreja Católica, cuja única função é ser a guardiã do Depósito da Fé, protegeu a Bíblia das traduções falsas e espúrias, e foram estas versões que foram destruídas ou queimadas para evitar que circulassem falsos evangelhos.


25. Raymond F. Collins, Introduction to the New Testament (Garden City, NY: Doubleday & Company, Inc., 1983), p. 77.


26. Ibid., pp. 100-102.


27. Bruce M. Matzger [protestante], The Text of the New Testament: its transmission, corruption and restoration (Oxford University Press, 1992), pp. 221-225, 234-242.


28. Os protestantes argumentam que mesmo com as variações nos manuscritos bíblicos, nenhuma atinge as doutrinas principais. Mesmo que fosse verdadeira esta afirmação, não altera o fato de que os protestantes estão verdadeiramente admitindo, ao menos indiretamente, que aceitam algumas doutrinas que são diferentes da Bíblia "real". E se isto é verdadeiro, então o próprio protestante começa a desmerecer a Sola Scriptura.


29. Metzger, op. cit., pp. 226-228.


30. Collins, op. cit., p. 102.


31. Metzger, op. cit., p. 234.


32. Entre os vários exemplos que poderiam ser citados, por motivos de espaço, vamos considerar somente algumas ilustrações sobre este assunto. Em Jo 1,1, a NWT traz, "...e a Palavra era um deus" e não "e a Palavra era Deus", isto porque os Testemunhas rejeitam a divindade de Cristo. Em Cl 1,15-20, a NWT acrescenta a palavra outro no texto quatro vezes porque crêem que Jesus era uma criatura. Em Mt 26,26 a NWT traz, "...isto significa meu corpo..." e não "...isto é o meu corpo", porque os Testemunhas negam a presença real de Jesus na Eucaristia.


33. Além do mais, a versão latina Vulgata recebeu uma aprovação particular pelo Concílio de Trento entre todas as demais versões latinas existentes na época. O Concílio declarou: ...este mesmo sacrossanto Concílio determina e declara: que nas preleções públicas, nas discussões, pregações e exposições seja tida por legítima a antiga edição da Vulgata, que pelo longo uso de tantos séculos se comprovou na Igreja; e que ninguém, sob qualquer pretexto, se atreva ou presuma rejeitá-la. (Sessão IV [8-4-1546], A edição da Vulgata da Bíblia e o modo de interpretação, 785). Desde então, como afirmou o Papa Pio XII na Carta Encíclica Divino Afflante Spiritu ("Sobre a promoção dos estudos bíblicos"), a Vulgata, "quando interpretada no sentido que a Igreja sempre entendeu" é " livre de erro em matéria de fé e moral". Em 1907 o Papa São Pio X (1903-1914) iniciou a revisão da Vulgata para uma maior exatidão textual. Após sua morte, este enorme projeto está sendo continuado por outros. Em 1979 João Paulo II promulgou a "Nova Vulgata" como Editio typica ou "edição normativa".


34. Notemos que o inventor da imprensa - Johannes Gutenberg - era católico, e que o primeiro livro impresso foi a Bíblia (circa 1455). Também deve ser notado que esta primeira Bíblia continha os 73 livros que até hoje compõem a Bíblia católica. Portanto, os protestantes retiraram os 7 livros da Bíblia quando esta já existia em formato impresso.


35. Alguns estimam que existam cerca de 25 mil denominações protestantes diferentes. Contando-se a partir de 500 anos de história protestante, desde Lutero (1517), este número significa uma média de uma nova denominação protestante nova por dia! Sabemos, contudo, que estes dados estão desatualizados, e existem muito mais de 25 mil denominações/seitas protestantes diferentes.


36. Mesmo os primeiros reformadores - Martinho Lutero, João Calvino e Ulrich Zwingli - não concordavam em assuntos doutrinários e classificaram as doutrinas uns dos outros como heréticas.


37. Três aqui é usado apenas como ilustração. A quantidade histórica (isto é, o número das variações nas interpretações de várias passagens) é imensamente maior.


38. Não é negado que uma passagem da Escritura possa ter diferentes níveis de interpretação ou que possa ter diferentes níveis de significado em termos de sua aplicação na vida do cristão. O que é negado aqui, contudo, é o fato de uma passagem ter mais de um significado doutrinário ou teológico oposto a outro. Por exemplo, se duas pessoas afirmam, respectivamente, "X" e "não-X" para uma determinada interpretação, ambos não podem estar corretos. Tome a doutrina da presença real na Eucaristia. Se o primeiro afirma que Jesus está presente no pão e no vinho, mas a segunda pessoa afirma que Cristo não está presente no pão e no vinho, é impossível que ambas as doutrinas estejam corretas ao mesmo tempo.


39. O cânon farisaico, usado pelos judeus da Palestina, não continha os livros deuterocanônicos. O cânon alexandrino ou Septuaginta, usado largamente pelos judeus da diáspora (regiões helenísticas fora da Palestina), continha os livros deuterocanônicos.


40. W.H.C. Frend [protestante], The Rise of the Christianity (Philadelphia, PA: Fortress Press, 1984), pp. 99-100.


41. Para alguns exemplos, compare as seguintes passagens: Mt 6,14-15 e Eclo 28,2; Mt 6,7 e Eclo 7,15; Mt 7,12 e Tb 4,15-16; Lc 12,18-20 e Eclo 11,19; At 10,34 e Eclo 35,15; At 10,26 e Sb 7,1; Mt 8,11 e Br 4,37.


42. Lee Martin McDonald [protestante], The Formation of the Biblical Canon, Apêndice A (Nashville, TN: The Parthenon Press, 1988) (Lista entitulada "New Testament citations and allusions to apocryphal and pseudoeptgraphal writtings", adaptado de The Text of the New Testament, de Kurt Aland e Barbara Aland, dois famosos biblistas).


43. Incluem a) o cânon de Qumram, conhecido pelos Manuscritos do Mar Morto; b) o cânon farisaico e c) o cânon saduceu/samaritano, que inclui somente a Torá (os primeiros livros do Antigo Testamento).


44. McDonald, op. cit., p. 53.


45 . Ibid, p. 60.


46. Hartmann Grisar, SJ, Martin Luther: His life and work (B. Herder, 1930: Westminster, MD: The Newman Press, 1961), p. 426.


47. Jansen, Vol III, p. 84, como citado em O'Hare, op. cit., p. 51.


48. Cf. Fr William Most, "Somos salvos somente pela fé?" fita cassete da Catholic Answers, PO Box 174900, San Diego, CA 92177.


49. Fr. Peter Stravinskas, ed., Catholic Encyclopedia (Huntington, Indiana: Our Sunday Visitor, Inc. 1991), p. 873.)

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