A Biblia no Inicio da Igreja


Pelos testemunhos deixados pelos Pais da Igreja, notamos que os cristãos dos primeiros quatro séculos, assim como os apóstolos, também utilizaram a Tradução Grega dos Livros Hebraicos (A Versão dos Setenta, ou Septuaginta), que incluíam os deuterocanônicos recusados pelos Judeus de Jâmnia. Há vários trechos dos Escritos Patrísticos em que os Santos Padres citavam em sua pregação um ou outro livro dos deuterocanônicos. Um exemplo disto é o trecho abaixo em que Cirilo Bispo de Alexandria, ao pregrar sobre a confissão de Fé de Pedro, cita o livro do Ecleriástico ou Sabedoria de Sirácida (Sir). São Cirilo considerada o livro como parte das Escrituras como vemos no trecho abaixo:


"Depois que o discípulo fez a profissão de fé, Jesus proibiu severamente que o dissessem a alguém, acrescentando: O Filho do homem deverá sofrer muito, ser rejeitado, e afinal ser morto, e ressuscitar no terceiro dia (Lc 9,21.22). Mas porque não convinha dizer isso a outros? Não era essa justamente a tarefa dos que foram consagrados por ele ao apostolado? Sim, mas diz a Escritura: Tudo a seu tempo será comprovado (Sir 39,34)."


(DAS HOMILIAS DE SÃO CIRILO DE ALEXANDRIA (+ou- 190), BISPO, SOBRE O EVANGELHO DE SÃO LUCAS - A Profissão de Fé de Pedro).


Embora os deuterocanônicos fossem muito usados pela Igreja primitiva, alguns Padres da Igreja os consideravam apenas úteis na instrução dos Fiéis e não inspirados. Tal era a opinião de São Jerônimo, Orígines, Tertuliano e Atanásio. A Controvérsia não era diferente quanto aos livros do Novo Testamento.


O Cânon de Muratori (150 d.C)


A primeira proposta de um catálogo na Igreja Primitiva que se tem notícia é o Cânon de Muratori (Tal documento trata-se de um manuscrito do séc. VIII, cópia do original, descoberto pelo sacerdote italiano Ludovico Antonio Muratori no séc. XVIII.) . O próprio documento nos dá pistas de sua data:


"Recentemente, em nossos dias, Hermas escreveu em Roma "O Pastor", sendo que o seu irmão, Pio, ocupa a cátedra de bispo da Igreja de Roma.". Pio ocupou a Cátedra de Roma de 142 a 155, portanto, o Cânon de Muratori é datado por volta do ano 150.


Este catálogo cita somente os livros Neo-Testamentários. Dos livros que hoje compôe o nosso NT reconhoce somente os 4 Evagelhos, todas as cartas Paulinas, a primeira Espístola de Judas e as duas primeiras Epístolas de João e o Apólipse. O Cânon de Muratori reconhece como canônico o livro "O Pastor" escrito por Hermas, discípulo de São Paulo e irmão do pôntifice Pio.


O Cânon de Melito de Sardes (170 d.C.)


Melito, bispo de Sardes, para o AT reconhece como canônicos quase todos os livros do cânon Hebraico, exceto Ester. Dos deuterocanônicos reconhece apenas o Eclesiático. Para o Novo Testamento reconhece o que temos hoje e o "Pastor" de Hermas.


O Cânon de São Jerônimo (330 d.C)


São Jerônimo no Prologus Galeatus recusa todos os livros deuterocanônicos além de "O Pastor " de Hermas.


A Lista de Atanásio de Alexandria (367 dC)


Atanásio Bispo de Alexandria, muito querido e respeitado por toda Igreja, por ocasião da Festa da Páscoa, escreve uma epístola onde relaciona os livros comumente aceitos aceitos como canônicos pelos cristãos de sua época.


Quanto ao Antigo Testamento Atanásio inclui todos os livros do Cânon Hebraico (que corresponde ao AT dos protestantes) e inclui 5 dos chamados deuterocanôncios, excluindo apenas os dois livros dos Macabeus.


Quanto ao Novo Testamento reconhece exatamente o que temos hoje.


No cristianismo primitivo também houveram outras propostas de um cânon como a lista de Orígines, Eusébio, Tertuliano e outros.


Vemos aí que até os primeiros quatro séculos a Igreja ainda não possuía um catálogo bíblico definido.

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