A Palestina no Seculo I dc



(Com a colaboração de textos enviados por John Nascimento e outros acréscimos)


O objetivo deste texto é procurar reconstruir, em linhas gerais, como estava organizada política, econômica, social e religiosamente a Palestina no século I d.C., momento em que Jesus nasceu e o Novo Testamento foi escrito. Compreendemos que quanto mais conhecermos o cotidiano palestinense neste período, será mais fácil avaliar o impacto da mensagem cristã.

A Palestina é uma estreita área situada entre a África e a Ásia, funcionando como uma espécie de ponte entre estas regiões. Com um território menor que o nosso estado do Espírito Santo, possuía uma superfície de 34.000 Km2 e cerca de 650 mil habitantes. Encontrava-se dividida em áreas menores: Judéia, Samaria e Galiléia, à oeste; Ituréia, ao norte; Gualanítade, Batanéia, Traconítide, Auranítide, Decápole e Peréia, à leste e Iduméia ao sul. Vamos centrar nas regiões situadas à oeste, já que a maior parte dos fatos referentes a vida de Jesus ocorreram neste cenário.

Quadro político e administrativo

A Palestina, durante as vidas de Jesus e de Paulo, foi governada, principalmente, pela Dinastia Herodiana. Contudo, este quadro não é tão simples, já que esta região estava subdividida em outras que, neste período, possuíram formas de governo e administração distintas.

Como sabemos, em 63 a.C. Roma conquistou a Palestina, aproveitando a fragilidade da dinastia asmonéia em crises internas. Hircano, um dos descendentes de Simão Macabeu, foi recolocado ao trono por Júlio César, que institui a Antípatro, ou Antípater, natural da Induméia, como seu procurador. Foi um dos filhos de Antípatro, Herodes, que acabou por fundar a nova dinastia judaica, a dos herodianos, e manter a região independente por mais algum tempo.

Herodes governou entre 37 a 4 a.C. os territórios da Judéia, Samaria, Induméia, Galiléia e Peréia. Estas áreas foram divididas entre seus filhos após a sua morte: Herodes Arquelau herdou a Judéia, Samaria e a Induméia, que governou até 4 d.C. e Herodes Antipas, as regiões da Galiléia e Peréia, de 4 a.C. - 39 d.C.. Este último é, dentre os soberano herodianos, o mais citado no Novo Testamento (Cf. Lc. 3:1; 9:7-9; 13: 31-32; 23: 7-12; Mt. 14: 1-12).

De 6 até 41 d.C, a Judéia, Samaria e a Induméia passaram a ser administradas diretamente por procuradores romanos. Agripa I, neto de Herodes, governou esta região entre 41 a 44 d.C. Após este período, a administração voltou para as mãos dos procuradores romanos.

Os procuradores eram funcionários diretamente ligados ao imperador. Sob este título eram denominados diversos funcionários que possuíam atribuições diferentes. Eles provinham da ordem eqüestre, ou dos cavaleiros, e eram remunerados. Os procuradores palestinos estavam subordinados ao governador da Síria. Entretanto, como representantes diretos do Imperador, detinham poderes civis, militares e jurídicos. Eles residiam em Cesaréia, mas em épocas de festa religiosas se transferiram para Jerusalém, já que, nestas ocasiões, esta ficava apunhada de fiéis.

Faz-se importante ressaltar que as questões internas da comunidade judaica, contudo, mesmo sob a administração romana, eram resolvidas pelo Sinédrio, tribunal presidido pelo sumo-sacerdote e formado por 71 membros (anciões, sumo-sacerdotes depostos, sacerdotes do partido dos saduceus e escribas fariseus), com sede em Jerusalém. Provavelmente instituído ainda no século III aC, no século I dC possuíam atribuições jurídicas: julgavam os crimes contra a Lei Mosaica, fixavam a doutrina e controlavam todos os aspectos da vida religiosa. Em todas as cidades e vilas da Palestina também existiam pequenos sinédrios formados por três membros que cuidavam de questões locais (Mt. 5:25).

Ainda que Roma tenha procurado manter as estruturas locais anteriores à conquista e tenha respeitado a idiossincrasia judaica no tocante à diversos aspectos (cf. Estudo 1), a dominação romana implicou na progressiva romanização e helenização e na cobrança de inúmeros impostos diretos e indiretos.

Neste sentido, face a irreversível ocupação romana na região, surgiram movimentos de resistência armados, como os zelotas. Historiadores, como Flávio Josefo, e o próprio Novo Testamento apresentam indícios de que ocorreram, no período, alguns levantes pontuais contra Roma (Lc. 13;1; At. 5: 36-37, 21:37).

Pouco a pouco grandes parcelas da população foram mobilizadas contra o controle romano, o que resultou no embate militar que durou de 66 a 70 dC e é conhecido como Guerra Judaica. Foi no decurso desta guerra que o Templo de Jerusalém foi novamente destruído e levaram que a política tolerante de Roma em relação aos judeus fosse revista.

Estes acontecimentos marcaram profundamente a judeus e cristãos. Seus reflexos encontram nos textos neotestamentários e foram um fator decisivo no rompimento definitivo entre judeus e cristãos. Com a destruição do Templo, cessaram os sacrifícios. O culto nas sinagogas ganharam importância, sendo dirigidos pelos Rabis fariseus. A Judéia tornou-se província romana, na qual se encontravam duas legiões estacionadas. Contudo, as revoltas não cessaram.

Em 132 a Palestina torna-se palco de nova revolta, agora liderada pelo judeu Simão Bar-Kosba. Esta insurreição resultou numa acentuada baixa demográfica na Palestina. Jerusalém foi destruída e reconstruída como colônia romana, ou seja, ali foram fixados soldados aposentados de diversas origens. Os judeus foram proibidos de entrar na cidade. No local do Templo foi construído um templo pagão.


Organização econômica

Devido a sua posição estratégica, a palestina era uma região de passagem. Por ela circulavam soldados, comerciantes, mensageiros, diplomatas, etc. Esta região possuía importantes centros urbanos, como Cesaréia e Jerusalém, que concentravam pessoas e atividades econômicas. Como em outras áreas do Império, nesta região existiam vias e portos, que facilitavam as comunicações e transporte de mercadorias e pessoas.

Existia, na região, uma incipiente manufatura, especializada na defumação ou salgação de peixes, construção, fiação e tecelagem, produção de artigos em couro, cerâmica, além de um artesanato de produtos de luxo, como perfumes e a extração e tratamento do betume, substância utilizada para a calafetagem dos navios. Além disso, outros ofícios se faziam presentes, principalmente nas grandes cidades, tais como os padeiros, carregadores de água, barbeiros etc.

O comércio, tanto interno quanto externo, também era praticado. O comércio interno, pouco conhecido, consistia-se nas trocas locais e, sobretudo, visava o abastecimento das grandes cidades. Quanto ao externo, importava-se produtos de luxo, consumidos pelas elites e pelo Templo. Por outro lado, exportavam-se alimentos - frutas, óleo, vinho, peixes - e manufaturas, como perfumes, além do betume.

A principal atividade econômica da região, contudo, era a agricultura. Plantava-se trigo, cevada, figo, azeitonas, uvas, tâmaras, romãs, maçãs, nozes, lentilhas, ervilhas, alface, chicória, agrião etc. Além da plantação de alimentos, eram encontrados cultivos especiais, voltados para a produção de manufaturas, como rosas, para a produção de essências para os perfumes.

As atividades de pesca, pecuária e extrativismo também não podem ser esquecidas, devido a sua grande importância econômica. Banhada pelo Mediterrâneo, cortada por rios e possuindo lagos, não é difícil constatar a variedade de peixes e seu papel para o abastecimento interno e até exportação. Quanto a pecuária, a região possuía rebanhos de ovelhas, cordeiros e bois. No campo da extração, além do já mencionado betume, há que ressaltar a variedade de árvores, como o salgueiro, loureiro, pinheiros, das quais se extraía madeira, temperos e essências; certos animais, como pombas; e alimentos, como o mel.

Organização Social

A sociedade palestinense pode ser dividida em quatro grandes grupos socioeconômicos: os ricos, grandes proprietários, comerciantes ou elementos provenientes do alto clero; os grupos médios, sacerdotes, pequenos e médios proprietários rurais ou comerciantes; os pobres, trabalhadores em geral, seja no campo ou nas cidades; e os miseráveis, mendigos, escravos ou excluídos sociais, como ladrões.

Contudo, as diferenças sociais na palestina não se pautavam somente na riqueza ou pobreza do indivíduo, mas em diversos outros critérios, como sexo, função religiosa, conhecimento, pureza étnica, etc. Ou seja, uma mulher, ainda que proveniente de uma família rica, estava numa situação social inferior a de um levita; um samaritano, apesar de ser descendente dos israelitas, devido à miscigenação, era considerado impuro e, socialmente, inferior a uma mulher judia, para citar só dois exemplos.


Instituições religiosas

O Templo foi, até 70 dC, o mais importante centro religioso judaico. Destruído duas vezes, estava sendo reconstruído neste período. As mulheres e os não circuncidados não podiam entrar no interior do Templo. Neste edifício eram realizados os sacrifícios; o sinédrio se reunia; eram armazenadas as riquezas e impostos dirigidos ao Templo, bem como os objetos de culto. Ou seja, o Templo era muito mais do que um local de culto. Sobretudo, era o centro de toda a vida religiosa, econômica e política judaica. Suas atividades e organização revelam os valores e as divisões desta sociedade, onde os sacerdotes e conhecedores da Lei possuem privilégios, só os homens circuncidados são levados em conta e mulheres e gentios são colocados à margem.

Organizando a vida religiosa e os cultos no templo existiam um amplo clero chefiado pelo sumo-sacerdote, que provinham das famílias mais ricas judaicas da palestina. Os sacerdotes, tanto sob o governo dos herodianos quanto dos procuradores, eram escolhidos e destituídos pelos governadores civis. Logo, este posto possuía um marcado caráter político.

O sumo-sacerdote era auxiliado por diversos funcionários, todos provenientes das famílias mais importantes: o comandante do Templo; os chefes das 24 equipes semanais, os sete vigilantes, três tesoureiros.

Além do sacerdote supremo, existiam cerca de 7 mil outros sacerdotes divididos em 24 equipes que se revezavam nos serviços do Templo. Em média, cada sacerdote atuava cinco vezes por ano. Recebiam salário, que provinha dos sacrifícios e do dízimo. A função sacerdotal era hereditária. Ao lado dos sacerdotes, haviam 10 mil levitas, também organizados e 24 equipes. Atuavam como músicos ou porteiros, também cinco vezes ao ano. Não recebiam salários.

As sinagogas também eram centros religiosos, já que nelas se cultuava a Deus e era estudada a Lei, tal como ocorre ainda hoje. Nelas, qualquer judeu poderia ler e fazer comentários à Lei, o que não ocorria na prática, função que acabava controlada pelos especialistas nas escrituras, os escribas e rabis farisaicos.

As festas religiosas também possuíam um papel destacado na vida judaica. Nestas ocasiões o povo se reunia em Jerusalém e celebrava a intervenção divina em sua História. Mais do que um momento de comemoração, tais datas serviam para perpetuar a memória e as tradições do povo. Três festas eram consideradas mais importantes: a Páscoa, que recordava a libertação da escravidão no Egito; Pentecostes que ocorria na época da colheita e recordava a Aliança do Sinai; Tendas, que festeja o próprio Templo.

Outras práticas religiosas judaicas comuns no século I dC eram a circuncisão, a guarda do Sábado, a oração cotidiana, realizada pela manhã e à tarde. Contudo, apesar de uma aparente unidade, o Judaísmo estava subdividido em uma série de facções político-religiosas, que apresentaremos no próximo item.


O Judaísmo no século I

Muitas pessoas pensam no judaísmo do século I dC como um bloco monolítico, uma religião solidamente unificada que o cristianismo dividiu, formando uma religião nova. Entretanto, haviam muitos subgrupos diferentes dentro de judaísmo antigo e o movimento de Jesus era, à princípio, só um deles. Assim, a separação do cristianismo do judaísmo não foi súbita, mas aconteceu gradualmente.

O Judaísmo no tempo de Jesus parecia muito com as divisões internas do cristianismo de hoje. Todos os judeus tinham certas crenças comuns e praticaram alguns aspectos da religião: eram monoteístas, praticavam a lei de Moisés, circuncidavam-se, etc. Porém, os diferentes grupos judeus debatiam e discordavam entre si sobre muitos detalhes, tais como as expectativas sobre o Messias, os rituais e as leis de pureza, sobre como viver sob a dominação estrangeira.

Para entendermos o Novo Testamento mais completamente, especialmente como a vida de Jesus é apresentada nos Evangelhos, nós precisamos conhecer a variedade dos grupos judeus que existiram no primeiro século.

Josefo, historiador judeu do primeiro-século, descreve três grupos principais com suas filosofias ou modos de vida: os fariseus , Saduceus, e Essênios. Ele também menciona vários outros grupos políticos e revolucionários judeus ativos no primeiro século d.C., especialmente durante a primeira Guerra contra Roma (66-70 d. C.). O Novo Testamento menciona os Fariseus e Saduceus, além de vários outros grupos identificáveis a partir da pequenas menções. São estas informações que nos permitem reconstruir tais partidos político-religiosos. A seguir, vamos apresentar os principais grupos e suas características:



SADUCEUS !


Pedro anunciava a Ressurreição de Cristo ...

Um dos três principais partidos religiosos ativos do período pré-cristão e no tempo de Cristo, chamava-se Os Saduceus. (Os outros dois eram os Fariseus e os Essênios). Formavam mais um partido religioso do que político. A origem deste nome é um tanto duvidosa. Uns pensam que tem a sua origem num termo hebreu de raiz aramaica, que significa "o justo", "o reto". Outros pensam que tem a sua origem no nome de Sadoc que foi Sacerdote no tempo de David e de Salomão e os seus descendentes continuaram a exercer funções no serviço do templo de Jerusalém :

- Sadoc, filho de Aquitob, e Aquimelec, filho de Abiatar, eram sacerdotes... (2 Sam. 8/17). (cf. 15/24; 1 Reis 1/32).

Este partido apareceu no século II a.C. e os seus membros tornaram-se "cooperadores" durante a ocupação romana da Palestina, pelo que se tornaram um partido com uma posição de relevo no Sinédrio.

No conflito com o judaísmo eles aparecem sempre em lugar de proeminência, como antagonistas de Cristo e perseguidores dos Apóstolos e dos cristãos de Jerusalém :

- Estando Eles (Pedro e João) a falar ao povo, surgiram os sacerdotes, o comandante do Templo e os saduceus, irritados por os ver a ensinar o povo e a anunciar, na Pessoa de Jesus, a ressurreição dos mortos. (Act.4/1-2).

O que se sabe a respeito deles é o que consta dos escritos do seu tempo, especialmente Flávio Josefo, do Novo Testamento e de alguns escritos rabínicos. Os Saduceus só admitiam como sagrados os Livros do Pentateuco. Ora a doutrina da ressurreição dos corpos foi revelada nos Livros posteriores do Novo Testamento. Jesus, por isso, no seu único encontro com os Saduceus narrado nos Evangelhos, quando foi interrogado sobre a lei do levirato, sobre qual dos sete maridos da mesma mulher, que casaram e morreram, seria na vida eterna o marido verdadeiro, (cf. Mt. 22/23), respondeu, citando o Livro do Êxodo, porque eles admitiam este Livro da Escritura :

- "Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob". (Êx.3/6 e Mt.22/32).

Esta intervenção dos Saduceus era uma armadilha, para fazer crer que a doutrina da ressurreição era ridícula. Portanto os Saduceus, pertenciam à aristocracia sacerdotal mas negavam a ressurreição. Os do partido oposto ao seu, os Fariseus, eram mais populares e progressistas na doutrina, e admitiam-na, como o declara S. Lucas nos Atos dos Apóstolos :

- Porque os Saduceus negam a ressurreição, assim como a existência dos anjos e dos espíritos, enquanto os Fariseus ensinam publicamente o contrário. (Act.23/8).

Tanto os Saduceus como os Fariseus, foram denunciados por João Baptista que, na sua pregação, lhes disse : - "Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da cólera que está para vir..."(Mt. 3/7).

E Jesus avisou os discípulos para que se acautelassem deles : - "Abri os olhos e acautelai-vos do fermento dos Fariseus e dos Saduceus!" (Mt. 16/6).

Como grupo, os Saduceus desapareceram com a destruição do Templo de Jerusalém e do sacerdócio no ano 70. O judaísmo, que sobreviveu ao desastre, era rabínico e farisaico. Os Saduceus negavam a Ressurreição... Mas os Fariseus tinham opinião contrária. Além dos Fariseus e dos Saduceus havia ainda mais outros grupos, como Samaritanos, Zelotas, Escribas e Essênios.


FARISEUS

Com este nome indica-se a seita mais importante que houve no judaísmo do Segundo Templo. Sua origem é incerta; parece que derivaram dos "hassidim", dos "pios" do templo dos macabeus e que formaram sua congregação paulatinamente, apoiando sua fé, sua crença e seu culto sobre a Lei Escrita e a Lei Oral, que os saduceus não aceitavam. Não parece exato que sua formação remonte ao ano 175 (A.C.), quando houve uma cisão no Sanedrin. Suas doutrinas têm uma origem muito remota. Seus adeptos pertenceram ao povo, ao contrário dos saduceus que pertenciam à aristocracia. Por haverem saído dos fariseus todos os grandes doutores dos últimos séculos antes de Cristo e primeiro depois de Cristo, doutores que criaram a Mishná e, mais tarde, o Talmude, a seita dos fariseus foi a mais importante no judaísmo. Politicamente foram favoráveis a qualquer forma de governo que não opusesse obstáculos ao seu culto. Suas doutrinas são praticamente as que chegaram até nós através da Mishná e do Talmude.

Os fariseus foram os continuadores da seita dos "hassidim" ou piedosos, formada pelos mais renomados doutores do Talmude: Johanan ben Zacai, Rabi Aquiba, Simão ben Yohay, Gamaliel, Hilel, Ben Azay, inclusive Saulo de Tarso que mais tarde trocou de nome para Paulo. Eram homens que cumpriam zelosamente não só as leis escritas, mas também os costumes conservados oralmente. Distinguiram-se por sua conduta moral e sua moderação na vida. Deixaram dispersos aqui e ali, no Talmude, numerosas máximas e sentenças dignas da meditação de todo homem culto, sincero e imparcial. Citaremos algumas delas:

"A verdade é o selo de Deus" - "Mais que toda ação religiosa, Deus quer um coração puro" - "Toda oração deve ser precedida por um ato de caridade" - "Aquele que comete uma falta em segredo, nega a onipotência de Deus" - "Se Deus reserva a recompensa das boas ações para o mundo futuro é com o fim de que os homens ajam neste mundo por convicção e não por interesse" - "Sêde dos discípulos de Arão, amai a paz e sacrificai tudo para mantê-la" - "Não julgues teu próximo até que te encontres no lugar dele" - "Julgai todo mundo com indulgência" - "Não envergonhai o próximo em público, porque isso poderia custar-lhe a vida e seríeis um criminoso" - "Mais vale estar entre os perseguidos que entre os perseguidores" - "Não te metas em nenhum assunto do qual possa resultar condenado à morte ainda que culpado" - "Ditoso o homem que sai deste mundo, limpo e sem pecado, como entrou"

Esta e outras centenas de máximas que o farisaísmo nos legou falam eloqüentemente da pureza de sua moral e de sua conduta e estabelecem irrefutavelmente que o sentido depreciativo que se lhe atribui não é outra coisa senão obra de quem estava interessado em caluniá-lo.

Os principais pontos da Doutrina dos Fariseus:

1- A imortalidade da alma;

2- A ressurreição corporal no fim dos tempos;

3- A existência de anjos e espíritos;

4- A intervenção de Deus no destino do homem, porém, sem privar a liberdade humana de sua própria atividade.

As preocupações principais dos Fariseus:

1- Pagar o dízimo (dez por cento) dos frutos da terra e em não consumir nada sem ter a certeza de que o dízimo havia sido pago;

2- Manterem-se "puros" - evitando contato com coisas mortas ou com pessoas afetadas por certas enfermidades (Ex.: Lepra) e não mantendo relações com pessoas de má conduta.

Os Fariseus (os separados) constituíam a facção formada em sua grande maioria por leigos devotos que, sob a direção dos letrados, se propunham levar as práticas religiosas até às últimas minúcias da vida. No tempo de Jesus eram uns 6 mil. Buscavam constantemente e com todas as suas forças a maneira de realizar o ideal proposto pelos letrados: levar vida em tudo conforme a Lei, com toda a complexidade que a interpretação dos letrados havia conferido a esta durante séculos de trabalho. Cumpri-la minuciosamente era o princípio e o fim de todos os seus esforços. Consideravam a Lei ou Tora como instrução divina que ensina ao homem como ele tem que viver; nesta suposição, só restava ao fiel estudar a Lei e pô-la em prática em todos os setores de sua existência. O ideal que os Fariseus se propunham realizar era conseguir que cada pormenor da vida, pública ou privada, estivesse regulamento por disposição ou estatuto divino, encontrado na Lei.

Para o Fariseu, entregue à observância de uma Lei em que vê plasmada a vontade de Deus, todo o mandamento é igualmente importante, pois cada um expressa a mesma vontade de Deus, todo mandamento é igualmente importante, pois cada em expressa a mesma vontade suprema. A obsessão farisaica por alcançar a perfeição pressupunha a responsabilidade individual, não só coletiva. Segundo eles, o homem é bom ou mau simplesmente porque quer; a perfeição lhe é possível, pois a observância total da Lei está a seu alcance. A conseqüência desta doutrina foi assinalar a separação entre "justos" e "pecadores": "justo" é o observante da Lei, porque se propôs a sê-lo e cumpre; "pecador" é o que não a observa, segundo eles por decisão própria. O mero estudo ou ignorância da Lei estabelecia uma linha divisória, pois não se podia aspirar à perfeição sem o conhecimento minucioso das normas, o que explica o desprezo que os Fariseus sentiam pelo povo comum, que não tinha possibilidade de dedicar-se ao estudo da Lei nem tempo para estar preso à observância de tantos preceitos (Jo 7,49).

Pensavam que tocar tais coisas ou relacionar-se com tais pessoas os punha mal com Deus. Pecado era, para eles, não cumprir certas regras ou normas que consideravam obrigatórias. Não confiavam nos comerciantes ordinários, que possivelmente não teriam pagado o dízimo dos produtos, e organizavam cooperativas somente para eles. Os comerciantes simples sentiam-se desprezados e, além disso, não faziam negócios: isto criava a hostilidade conseqüente.

Os Fariseus gozavam de enorme ascendência sobre o povo. Embora por sua soberba (Lc 16,15) fossem olhados com grande antipatia, o povo se deixava impressionar pela aparência de virtude que eles procuravam aparentar para manter vivo seu prestígio e sua influência. Haviam levado o povo a acreditar que, para estar bem com Deus, todos deviam fazer como eles. Dada a impossibilidade prática para a maioria de cumprimento tão minucioso, criavam por isso nos outros o sentimento de culpa e de inferioridade que lhes permitia dominá-los. Sua fidelidade às regras os levava ao desprezo dos outros (Lc 18,9), que chamavam "pecadores", ou seja, "descrentes" ou "sem religião" (Mt 9,10-11) e (Lc 15,1-2) ou "malditos"(Jo 7,49). A obsessão pela observância da Lei os concentrava em si mesmos e em seu esforço por observá-la. A consciência deste esforço criava o orgulho e a auto-satisfação, que se traduziam na idéia de mérito. Não tratavam dos assuntos políticos de ponto de vista secular, mas religioso. Estritamente falando, não constituíam partidos religiosos: a observância rigorosa da Lei. Contando que esta não fosse impedida, aceitavam qualquer tipo de governo. Unicamente quando o poder político interferia em seu modo de observar a Lei, é que se uniam para formar frente comum contra ele.

Em contraposição aos materialistas Saduceus (outro povo que falarei como outro assunto), os Fariseus eram espiritualistas não comprometidos com o homem nem com sua situação histórica. O empreendimento farisaico de perfeição termina em falência, cuja raiz é a impossibilidade física da observância total. Não é estranho que a hipocrisia espreitasse o Fariseu; bastava relaxar a tensão, afrouxar a vigilância, para trair o ideal. Não faltavam entre os Fariseus pessoas sinceras que advertissem contra o perigo da hipocrisia, mas não tiveram grande repercussão. A influência dos Fariseus era tão grande, que o partido saduceu (sumos sacerdotes e senadores), embora nominalmente possuísse o poder político e religioso, não tomava medida alguma sem garantir para si o apoio dos letrados Fariseus.


ZELOTES !

Nos tempos do Novo Testamento, os Zelotas era uma seita judia que representava o extremo do fanatismo nacional. O nome vem do tempo em que os Macabeus desde o lº e 2º século a.C. até à queda da fortaleza de Masada na primavera de 73 foram impelidos por um fanatismo nacional.

Considerando-se a si mesmos os enviados de Deus para libertarem a sua nação da opressão exterior, sob o lema de "Não o governador mas a Lei", "Não o rei mas Deus", tornaram-se cada vez mais violentos na resistência contra as forças ocupantes de Roma e do seu povo que simpatizava com o Helenismo.

A sua crença no messianismo do Antigo Testamento estava inteiramente limitada à recuperação da independência judaica ; eles acreditavam no culto só a Javé e estavam convencidos de que a aceitação de um domínio governamental exterior e o pagamento dos impostos a um governador de fora do país, era uma blasfêmia contra Javé.

Seguindo o exemplo da resistência dos Macabeus contra os esforços do rei Selêucida, Antíoco IV Epífanes, para obrigar que os Gregos e os Judeus fossem um só povo, Judas, o Galileu de Gamala, chefiou uma revolta considerável de protesto contra a introdução do censo Romano na incorporação da Judéia no ano 6. Teudas chefiou uma outra rebelião em 42. Portanto, o movimento desta seita ou partido teve origem numa revolta contra o recenseamento levado a efeito no tempo de Quirino para fins de pagamento de impostos. Esta seita era uma minoria e era olhada pelos outros judeus pelo menos com forte antipatia.

As suas tácticas eram como o moderno terrorismo político; prendiam e matavam com certa freqüência, atacando simultaneamente estrangeiros e judeus de que eles suspeitavam e a quem chamavam "os colaboradores". Levaram a sua arte de assassinar até a um ponto de destreza que os Romanos lhes chamavam os sicarii ("assassinos"), pela sua prática de esconder um punhal debaixo das suas roupas para um uso disfarçado no meio das multidões. O seu maior trabalho organizado antes de rebentar a guerra dos judeus foi uma assalto de represália na Samaria contra os peregrinos, no reinado de Ventidius Cumanus (48-52). O seu fanatismo e as suas tácticas estão ilustradas na vida de S. Paulo, ameaçada de assassínio por um grupo de homens :

- "Juramos, sob pena de anátema, não comer nada enquanto não matarmos Paulo. Agora, de acordo com o Sinédrio, ide solicitar ao tribuno que o mande comparecer diante de vós, sob o pretexto de examinardes o seu caso mais profundamente. E nós estamos prontos a suprimi-lo durante o trajeto ". (Act.23/14-15).

Um dos discípulos de Jesus, Simão, era chamado Zelote - "Zeloso", porque, provavelmente teria antes pertencido à seita :

- Tiago, filho de Alfeu, e Simão, o Zeloso. (Lc.6/15).

Mas houve outros incidentes que mostram as afetividades da seita ou partido dos Zelotas.

Assim :

* S. Lucas faz referência a alguns galileus cujo sangue Pilatos havia misturado com o dos sacrifícios que eles ofereciam. (cf.Lc.13/1 -2).

* Talvez Barrabás que foi solto em vez de Jesus, fosse um chefe dos Zelotas, porque segundo o messianismo, um devia sofrer por todos, em ordem à libertação nacional.

* Igualmente um dos condenados na cruz, dizia : Não és tu o Cristo? Salva-Te a Ti mesmo e a nós.

Idéia de libertação.

* Talvez Judas Iscariotes fosse um chefe Zelote, impaciente pela liberdade e a independência nacional, pelo que entregou o Mestre, e que, frustrado, se suicidou.

* Eles foram responsáveis pela rebelião contra Roma no ano 66 e obrigaram os moderados a aceitar a rebelião mesmo contra a sua vontade: e nos anos seguintes controlaram obstinadamente Jerusalém pela supressão ou assassínio dos que se opusessem às suas tácticas.

* Mantiveram grupos de resistência no país até à queda de Jerusalém, e o seu movimento sobreviveu suficientemente até ao ponto de levantar nova rebelião em 132-135, no governo de Adrião.

A conexão entre os Zelotas e a seita de Qumran foi procurada por alguns estudiosos, mas nada ficou assente..

Recentemente F. W. Farmer examinou de novo o assunto dos Zelotas.

A fonte de informação principal para o assunto dos Zelotas é Flávio Josefo, que foi extremamente contra eles, alcunhando-os de assassinos e salteadores.

F. W. Farmer sugere que Josefo ofuscou a sua reputação indevidamente e propõe que os Zelotas eram os sucessores espirituais dos Macabeus, preservando as mesmas idéias de independência e de religião, e empregando tácticas que, na hipótese de Josefo, dão uma impressão prejudicial, mas não diferem substancialmente das tácticas dos Macabeus, a não ser no seu falhanço.


ESCRIBAS !

Na Mesopotâmia e no Egito, logo que apareceu a escrita, e depois em Israel, um Escriba profissional, era a pessoa que sabia ler e escrever bem e ocupava, por isso, um lugar destacável na sociedade.

Como só ele tinha acesso a qualquer documento escrito, ele era uma pessoa muito útil no governo e, de modo geral, para toda a comunidade.

Durante o tempo do Antigo Testamento, no período da monarquia o termo Escriba (da palavra hebraica sofer) designava os oficiais mais importantes da corte real.

Alguns escolares pensam que David e Salomão usaram os Escribas não só para fazerem os documentos anuais, como também para arquivarem as crenças e tradições religiosas de Israel, quer viessem através de escritos ou de fontes orais. Foi talvez assim que se começaram a fazer os primeiros escritos do Antigo Testamento. Também se aplicou a designação de Escriba a certa profissão de copiar as Escrituras.

Na última parte do período do Antigo Testamento, o termo Escriba designava um doutor da lei, versado nas Escrituras.

Quando os Magos chegaram a Jerusalém e foram falar com Herodes a respeito do rei que tinha nascido, ele foi consultar os doutores da lei para saber o que é que estava escrito :

- E reunindo todos os príncipes dos sacerdotes e Escribas do povo, perguntou-lhes onde devia nascer o Messias. (Mt.2/4).

No Novo Testamento, os Escribas eram os doutores da lei, porque eram só os que sabiam ler e interpretar as leis e as Escrituras, e foi-lhes dado o título de "Rabbi".

Embora os Escribas como tais, não fossem automaticamente membros de qualquer partido, isto é, Fariseus ou Saduceus, todavia a maior parte deles pertencia ao grupo dos Fariseus. Os Escribas, como grupo, opunham-se a Jesus, todavia apareceram alguns de entre eles, abertos ao ensino de Jesus :

- Saiu-Lhe ao encontro um Escriba que lhe disse: "Mestre, seguir-Te-ei para onde quer que fores»... (Mt.8/20).

- Aproximou-se d'Ele um Escriba que os tinha ouvido discutir.(...) Qual é o primeiro dos Mandamentos?»(Mc.12/28)

- Tomando, então a palavra, alguns Escribas disseram : "Mestre bem".. (Lc.20/39).

- Estabeleceu-se enorme gritaria e alguns Escribas do partido dos Fariseus ergueram-se... (Act.23/9).

Algumas vezes se disse que os Escribas gostavam de Jesus por rejeitarem os Saduceus.

Mas eles, como homens, não aceitavam bem os ensinamentos de Jesus.

No tempo de Jesus, os Escribas faziam cópias do Torah para as sinagogas em pergaminhos, escritos com tinta por meio de caniços rachados é não penas, o que só se verificou muito mais tarde a partir do século IV. Os pergaminhos eram feitos com peles de bodes e cabras ou de qualquer animal não manchado. Cada pergaminho era para um Livro do Tora. (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronómio. O Novo Testamento faz muitas referências aos Escribas.

- "Tomai cuidado com os Escribas, que gostam de exibir longas vestes. (Mc.12/38).

- os Príncipes dos Sacerdotes e os Escribas procuravam maneira de se apoderarem de Jesus. (Mc.14/1).

- Os Escribas e os Fariseus começaram a murmurar, dizendo : «Quem é este que profere blasfêmias?»(Lc.5/21).

ESSÊNIOS !

Uma das seitas importantes no período do segundo Templo era a dos essênios. A origem do nome não é muito segura. Há quem o ligue a raízes gregas, aramaicas ou hebraicas, mas na realidade seu significado é obscuro. Pelo que se sabe de suas características, o significado mais apropriado seria o de "puros" ou "pios".

O essenismo constituiu, nos séculos que vão desde o ano 150 (A.C) ao 70 (D.C.), uma comunidade religiosa judaica que tinha algumas características essenciais que afastavam-na do Templo de Jerusalém. As fontes que temos encontram-se em Filon e Flávio Josefo. Parece que os essênios viviam, de preferência, nas planícies e que uma de suas principais sedes estava instalada no oásis de En-guedi sobre o Mar Morto. Constituíam sobretudo uma ordem monástica; não se casavam e sua comunidade perpetuava-se somente com a associação de novos membros. Não procuravam lucros pessoais, todos trabalhavam pelos congregados, com os quais viviam em comum. Para ingressar na confraria deviam passar por diversas fases de noviciado; por sua sinceridade consideravam reprovável o juramento; seguiam rigorosas regras de pureza tomando banhos freqüentíssimos e usavam trajes brancos.


De sua teologia e de suas doutrinas se conhece muito pouco. Não se sabe se tiveram outros livros sagrados além do Pentateuco. Parece que a idéia que eles tinham sobre a imortalidade limitava-se a considerar que a alma veio do céu e a ele volta depois da morte do corpo, se o mereceu. Presume-se que atribuíam muita importância à magia e à arte de prever o futuro. Consideravam um dever mostrar-se fiéis à autoridade nacional constituída, mas não à estrangeira. Com efeito, no ano de 66 uniram-se aos zelotas na revolta contra Roma. Tinham algumas particularidades que os afastavam do Templo de Jerusalém; a abstenção do matrimônio, a abstenção dos sacrifícios ensangüentados e o rito da prece olhando o sol. Estes elementos são, na realidade, estranhos ao judaísmo e parecem haver chegado ao essenismo por via sincrética, aproveitados de tantas religiões que corriam pelo Oriente. Não se pode determinar com exatidão se neste sincretismo intervieram a órfica, o helenismo em geral, o budismo ou o paganismo sírio-palestinense.

Parece muito provável que o essenismo contribuiu não só para o advento do cristianismo mas também para a sua difusão. Na realidade, as distintas seitas judeu-cristãs apresentam muitas afinidades com o essenismo. O sábio e escritor romano Plínio o Ancião (23-79) descreveu os Essênios como uma "Raça solitária" que foi "singular entre todas as outras do mundo inteiro".

Eles eram na verdade muito especiais porque viviam em regime monástico - fenômeno até então desconhecido dos Judeus (e raramente visto em qualquer parte fora da Índia). Era uma raça semelhante à dos Fariseus, mas muito mais radical; eles eram os mais místicos, os mais rigorosos e os mais reservados de todas as seitas judaicas antigas. Embora este grupo ou raça nunca seja nomeado no Novo Testamento, os escolares têm-nos identificado, pelas suas práticas e pelas suas crenças, com um certo paralelismo com a primitiva Cristandade. Este nome Essênios, pode significar piedosos (ou possivelmente os curandeiros ou médicos). Depois da guerra da independência judaica de 167-165 a.C., os Essênios formaram a sua própria seita, porque não estavam de acordo com certas práticas e políticas dos Fariseus. Chefiados por um "Professor de retidão" - que os historiadores nunca conseguiram identificar - eles fundaram um certo número de comunidades monásticas, do gênero da do mosteiro de Qumran, no deserto do lado poente do Mar Morto.

Ao tempo de Cristo, os Essênios deviam ser cerca de 4.000, espalhados por toda a Palestina em enclaves comunitários e em piedade ascética. Embora alguns Essênios se casassem para terem descendência, a seita era especialmente uma irmandade de homens celibatários. A sua irmandade concentrava-se no desejo e na prática de se purificarem porque eles acreditavam que a vinda do Reino de Deus estava iminente. Eles eram implacáveis nos seus mosteiros. O seu dia começava com o nascer do sol e não diziam uma palavra senão depois das suas orações matinais. Depois ocupavam o seu tempo com os seus trabalhos do campo, nos fornos de cerâmicas, nos teares, ou a copiar os textos secretos nas suas salas de estudo. Cuidadosos estudos dos livros, especialmente das Escrituras, era a sua principal atividades, pelo que a sua vida se concentrava na interpretação da Lei de Moisés.

Tal como muitos cristãos primitivos, eles procuravam a interpretação dos livros proféticos, sobretudo os que tratavam de um futuro imediato. A perspectiva dos Essênios sobre a história como predestinada por Deus, vem através de um dos rolos do Mar Morto : «Seguramente, todos os tempos estabelecidos por Deus, virão na devida altura, tal como Ele os planeou na Sua inescrutável sabedoria».

Os Essênios eram peritos em ervas medicinais e nos poderes ocultos das pedras preciosas, uma ciência que eles diziam que tinham aprendido em livros antigos. A sua túnica branca significava que eles acreditavam que eram os verdadeiros sacerdotes de Israel, os verdadeiros "fiéis restantes" mencionados nas primitivas profecias, que haviam de sobreviver como as testemunhas do amanhecer de uma nova era. No seu contexto cósmico eles consideravam-se como os "Filhos da Luz" numa guerra contra os "Filhos das trevas" chefiados por Satã. A sua vida no mosteiro era limitada ao mínimo, numa propriedade comum, com banhos rituais, uma alimentação frugal ao meio dia e ao fim do dia. Havia um conselho de 3 sacerdotes que presidiam a 3 famílias sacerdotais, e 12 leigos que representavam as 12 tribos de Israel, governadas pela comunidade sob regras rigorosas, particularmente no Sábado.

Quando os Essênios descansavam ao sábado, depois de uma semana de trabalho, comiam alimentos frios, preparados de antemão ou abstinham-se simplesmente, para não profanarem o dia santo de Deus. A partilha do pão era considerada com um ato santo, tal como para os primeiros cristãos, uma espécie de Eucaristia. E havia outras instituições similares. O trabalho do responsável era como o dos primitivos bispos da Igreja cristã.

Tal como os primeiros cristãos, eles rejeitavam o sacrifício de animais e, como eles, falavam da sua doutrina como um "Caminho". Os novos membros da comunidade eram sujeitos a determinadas provas em três etapas e depois eram iniciados num juramento de piedade para com Deus, honestidade para com os irmãos da comunidade e sigilo a respeito dos ensinamentos da comunidade, como por exemplo a doutrina esotérica sobre o nome dos anjos. Os iniciados eram banhados em água corrente com um ritual semelhante ao de João Baptista quando bateava no Jordão. Alguns escolares têm feito especulações, dizendo que João Baptista viveu numa comunidade de Essênios durante um certo período da sua vida. Acrescentam que ele também viveu uma vida ascética, nunca casou e pregava o arrependimento e a preparação para o Reino de Deus que já estava próximo.

A comunidade dos Essênios desapareceu cerca do ano 70, quando os exércitos romanos venceram os judeus insurrectos de que eles faziam parte. Muitas centenas dos documentos da piedosa seita dos Essênios permaneceram escondidos num grupo de grutas perto de Qumran, onde estiveram ocultos por mais de 2.000 anos. Um dia, em 1947, um pastor árabe, quando procurava um carneiro que se tinha perdido, ao atirar uma pedra para uma cova, sentiu que ela batia em peças de cerâmica ou olaria. Foi assim que se descobriram os primeiros Rolos do Mar Morto.


SADUCEUS

Também para esta seita ou partido é difícil determinar a origem. Sabemos que existiu nos últimos dois séculos do Segundo Templo, em completa discórdia com os fariseus. O nome parece proceder de Sadoc, hierarca da família sacerdotal dos filhos de Sadoc, que segundo o programa ideal da constituição de Ezequiel devia ser a única família a exercer o sacerdócio na nova Judéia. De modo que, dizer saduceus era como dizer "pertencentes ao partido da estirpe sacerdotal dominante". Diferiam dos fariseus por não aceitarem a tradição oral. Na realidade, parece que a controvérsia entre eles foi uma continuação dessa hostilidade que havia começado no templo dos macabeus, entre os helenizantes e os ortodoxos. Com efeito, os saduceus, pertencendo à classe dominadora, tendo a miúdo contato com ambientes helenizados, estavam inclinados a algumas modificações ou helenizações. O conflito entre estes dois partidos foi o desastre dos últimos anos da Jerusalém judia.

Suas doutrinas são quase desconhecidas, não havendo ficado nada de seus escritos. Com muita probabilidade, ainda que rechaçando a tradição farisaica, possuíram uma doutrina relativa à interpretação e à aplicação da lei bíblica. O único que nos oferece alguns dados sobre suas doutrinas é Flávio Josefo que, por ser fariseu e por haver escrito para o público greco-romano, não é digno de muita confiança. Parece provável que as divergências entre saduceus e fariseus foram mais que dogmáticas, foram jurídicas e rituais. Com a queda de Jerusalém, a seita dos saduceus extinguiu-se. Ficaram porém suas marcas em todas as tendências anti-rabínicas dos primeiros séculos (D.C.) e da época medieval


EBIONITAS

Dissemos que reservaríamos algum espaço para a seita dos ebionim ou ebionitas, cujo desenvolvimento abrange as épocas desde o profeta Samuel, ou seja, o século IX (A.C.) até o século II (D.C.).

Foi o profeta Samuel, que viveu há 2800 anos, que procurando na união a força de seu povo, e a pedido deste, instituiu a monarquia e fez proclamar Saul, rei de Israel. Este reino era então administrado por juizes com um sistema autônomo de descentralização democrática. Foi também Samuel que formou a seita dos ebionitas ou "humildes", integrada pela "elite" intelectual da juventude de então e cujo principal objetivo era ensinar mediante a prédica, a propaganda e o exemplo. Quase todos os profetas que dali surgiram, entre os quais estavam Isaías, Oséas, Miquéias, Habacuque, Amós, etc... são astros luminosos que aclararam e honraram a seita. Os eleitos que chegavam ao último grau de instrução e de iniciação estavam encarregados de promover reuniões de propaganda para difundir seus princípios, para instruir e moralizar o povo. Saíam sempre em grupos "Lahakat Haneviím", reuniam-se em lugares altos onde executavam cantos e danças sagradas ao som de harpas, flautas e violinos. O povo aglomerava-se ao redor deles, e quando a multidão era compacta e sentia-se emocionada pela música, os mais eloqüentes dentre eles pronunciavam discursos inflamados convidando-o a afastar-se do mal, do vício, da mentira, da injustiça e da iniqüidade. Eram exortados a praticar a caridade e a justiça, a amar a verdade e a virtude, e depositar sempre confiança e esperança na Providência e a ter fé no porvir da humanidade. A palavra eloqüente desses oradores e a sua música exerciam tal poder, que os ouvintes, nos refere o historiador Gräetz, cheios de entusiasmo caíam em êxtase e sentiam-se transformados.

Estes fervorosos apologistas da profecia, acrescenta Gräetz, dirigidos por Samuel e elevados pelo espírito divino, desempenharam uma parte considerável na revolução moral que se operou naquela época. O filósofo grego Teofrasto, sucessor de Aristóteles, em seu livro "Os caracteres" nos conta as palestras que manteve com os chefes ebionitas em sua visita à Palestina e participa de suas opiniões em detalhes interessantes.

Depois da morte de Samuel, o profeta Natan e depois dele Gad e o profeta Elias, foram sucessivamente chefes supremos da Ordem. Com a morte deste último, houve dificuldade de eleição entre Isaías, Osías, Miquéias e Amós, dizendo-nos a este respeito o Talmude: "Vegadol shebeculam-Hoshea", o que quer dizer que Oséas prevaleceu sobre os outros (Talmude Pessachím, 87). Sob sua direção a seita foi reorganizada numa base completamente nova, mais espiritual e mais moral.

A prédica e a propaganda tinham outro tema. Predicavam que a religião não consiste somente em cumprir o dogmatismo e o sacrifício, mas sim em amar e obedecer a Deus; praticar a caridade e a justiça; ter piedade do desgraçado; socorrer o pobre; proteger o órfão; defender a viúva; amar o estrangeiro e que estes atos são os que agradam a Deus, tanto ou mais que qualquer outra cerimônia do culto (1,22 S.P.R. Otsar Israel; 1, 37, 2). Ensinavam que a faculdade de discernir e o conhecimento das coisas foram dadas ao homem para que possa separar o que é bom do que é mal e prejudicial, para que saiba o que lhe é necessário, o que deve desejar e odiar a fim de alcançar o que lhe foi destinado, isto é, chegar a ser perfeito e feliz. Declaravam que o homem não foi dotado de pensamento e conhecimento somente para pensar, mas sim para trabalhar, porque todo pensamento e todo conhecimento não são mais que meios, pois a ação é o fim. Proclamavam a viva voz que a vida do homem é uma longa agonia, somente suas aflições ficam, seus prazeres são efêmeros e quase sempre de conseqüências nefastas. Sustentavam que a vida não é mais que um sofrimento perpétuo: sofrimento do nascimento, sofrimento dos dias maus, sofrimento do fracasso e da irrealização dos nossos desejos e ilusões, sofrimento na velhice pela amarga decepção da vida e sofrimento final da morte. Afirmavam que não há mais que um único meio de suavizar a miséria de viver, de tornar a vida mais tolerável: a prática da virtude, e que o único consolo consiste na posse de uma consciência sem mancha e de um coração puro.

Os ebionitas tinham também seus signos de reconhecimento e suas reuniões e trabalhos iniciavam-se como em certas sociedades secretas. À pergunta: "Sois ebionita?" devia se responder: "Três principiaram, cinco me completaram e sete tornaram-me perfeito" (Mishná, Sanedrin, 1, 2). O chefe ensinava-lhes que esses números eram sagrados desde a antigüidade e que Moisés havia feito deles um uso misterioso na bênção que ordenou aos sacerdotes: Ievaréchecha Adonai Veíshmerecha, 3; Iaer Adonai Panav Elecha Vihunéca, 5; Issá Adonai Panav Elecha Veiassém Lechá Shalom 7 ("Deus te bendiga e te conserve, Deus te ilumine e te conceda Sua graça, Deus te olhe com misericórdia e te conceda a paz").

Acredita-se que os ebionitas tinham seus signos, seu santo e sua senha e que usavam um "talit" no qual estava bordado um quadrado entrelaçado com um triângulo, em cujo centro havia quatro letras: Iud, Nun, Reish, Iud, que no alfabeto latino se traduz I.N.R.I. cujo significado representava os nomes dos quatro elementos: ar, fogo, água e terra. Em cada ponta do triângulo estavam escritas estas três palavras hebraicas: Fé, Caridade e Esperança, que atualmente são chamadas Virtudes Teológicas e que era o emblema da seita, tirada do sétimo versículo do capítulo 12 do livro de Oséias: "Afirma tua Fé em Deus, pratica a Caridade, e a justiça e põe Nele tua Esperança". À entrada da reunião cada ebionita devia repetir os números misteriosos: 3, 5 e 7, quando então o Mestre respondia com estas palavras: "Filho bendito do nome sagrado: o sublime número 9 simbolizado em Emet (Verdade) é o último ideal do esforço humano, o símbolo da verdade divina; tu podes entrar e iluminar-te com as luzes celestes que claream esta assembléia de sábios".

Ao encerrar a reunião, o Mestre repetia estas frases: "Recordemos que somos ebionitas, os mais humildes e os mais modestos servidores de Deus, da verdade e da justiça; que Deus está conosco - Imanu-El".


CARAÍTAS

Quando o governo judeu já tinha deixado de existir e o judaísmo havia ficado somente nas esferas ético-religiosas, foram muitas as controvérsias havidas entre os judeus, não só sobre assuntos particulares, mas também sobre o assunto básico que foi a admissão da Lei Oral ao lado da Lei Escrita. Vimos que antes da queda do Segundo Templo já existia esta divergência entre os saduceus e os fariseus. Os caraítas seguem os saduceus e aceitam somente a Bíblia como base da vida religiosa. O caraísmo foi iniciado por Anan ben David no século VIII (D.C.) e desenvolveu-se por obra de Benjamin de Nahawend na Pérsia ocidental. Com ele, seus sectários tomam o nome de "Bené Micrá", "Filhos da Bíblia", que depois passou para "caraim", o mesmo que "biblistas".

Esta seita desenvolveu-se de tal forma que começou a constituir uma ameaça para o hebraísmo rabínico. No século X, chega-se finalmente à vitória do judaísmo rabínico, com o Gaón Saadiá. Mas o caraísmo não havia terminado. Nos séculos XI-XII propagou-se pela Espanha e no império bizantino, onde ficou até depois da conquista turca. Ao mesmo tempo difundia-se na Rússia; no século XIII é encontrado na Criméia e dali se difundiu por Wolhinia e Galizia. Houve entre os caraítas personalidades destacadas nos séculos XVI e XVIII. No século XIX o sábio Kikowtsh conseguiu demonstrar que os caraítas se encontravam na Criméia desde o século VIII. Baseado nisto foi concedida aos caraítas no ano 1863 a plenitude dos direitos cívicos. Em 1910 havia na Rússia 13.000 caraítas e fora da Rússia, no Cairo, Constantinopla, Jerusalém e Galizia, de 2.000 a 3.000.


HASSIDISMO

Desde o princípio houve duas correntes no seio do judaísmo: de um lado o formalismo ritual da Bíblia e o Talmude e do outro, a tendência ao misticismo, ao ocultismo que criou a Cabalá e o Zohar. Daí a oposição entre fariseus e essênios na época do Talmude e entre talmudistas e cabalistas na Idade Média. O formalismo ritual, tão rigorosamente praticado pelas massas do povo na Europa Oriental entre os séculos XVII e XVIII, tendia fatalmente a produzir uma reação e daí nasceu o hassidismo, isto é, o sistema de "hassid", que em hebraico significa "pio".

Foi fundado no ano de 1740 na Polônia pelo místico Israel ben Eliezer, conhecido pelo nome de Baal Shem Tov: "o senhor de boa fama". O "hassidismo", que começou por abandonar o formalismo ritual, despertou maior importância ao sentimento religioso que à prática. Proclamou a onipresença de Deus e por isso ordenou que a oração fosse feita com devoção psicológica e alegria especial, até chegar a um êxtase que permitia ao homem entrar em comunicação direta com a divindade. Tornou sua a opinião da Cabala, segundo a qual toda ação humana tem suas repercussões nas esferas do mundo divino e assim o homem pio e justo, o "Tsadik", o ser que chega a despojar-se de todo pensamento material e que vive nada mais que pelo espírito e para o espírito, pode ser suscetível de modificar o curso dos acontecimentos.

Assim como o "hassidismo" teve eminentes defensores como um Dov Beer, Levi Isaac, Josef Ha-Cohen, etc., teve também grande oposição na pessoa do Gaón de Vilna e os "masquilim", isto é, os simpatizantes da cultura moderna. Seja qual for a crítica que se haja podido fazer ao "hassidismo", este, segundo a opinião de Edmond Fleg, devolveu à alma popular o sentido profundo do divino que a casuística poderia ter lhe feito perder e deu à vida religiosa e social do judaísmo, nos dois últimos séculos, a forma de uma grande originalidade que inspirou a muitos escritores de valor


ASHQUENAZIM E SEFARADIM

Concluindo, diremos algumas palavras sobre estes dois setores que formam o total do conglomerado judeu do mundo: ashquenazim e sefaradim. Não o faremos analisando a estrutura destes dois setores como grupos irreconciliáveis, tal como fizemos com algumas seitas, das quais tratamos anteriormente. Não excluímos a possibilidade de que em futuro próximo haja um franco entendimento entre eles, que afaste todo o germe da divisão. Consideramos como muito provável, e nossa esperança marca esta direção, que ambos os setores se unam e funcionem num mesmo corpo. Nosso propósito é unicamente responder à nossa juventude, que a todo momento nos pergunta: "Que significam os termos ashquenazi e sefaradi? Quando começou a cisão? Por quê razões começou? Como poderia chegar-se a uma junção entre os dois grupos? etc... etc...". É pois, para dissipar as inquietudes de nossa juventude que tratamos deste tema:

1. - Ashquenazi: deriva do termo bíblico "ashquenaz" (Gênesis, 10.3), termo aplicado à Alemanha na Idade Média; é pois um adjetivo gentílico que se traduz por "alemão", seu plural hebraico é ashquenazim ou alemães, título dado ao setor representativo dos judeus da Alemanha, setor que na Idade Média estava representado pelos rabinos deste país.

2. - Sefaradi: deriva do termo bíblico "sefarad" (Obadia 1, 20), identificado como Espanha, o que prova que os profetas do exílio já tinham conhecimento de que um grande contingente de judeus expatriados por motivo da queda de Jerusalém havia se estabelecido na Espanha. O plural de sefaradi ou espanhol é sefaradim (espanhóis). Depois da expulsão da Espanha e Portugal, estes sefaradim dispersaram-se pela Turquia, Holanda, Itália, norte da África, etc.

Até a Idade Média, não parece ter-se feito, em parte alguma, menção de ashquenazim e sefaradim. Neste período da história o pensamento judaico viu-se dividido em dois campos: de um lado, o rabinato do sul da França e Alemanha com Rashi, os tossafistas, Rabenu Guershon, Meier de Rotenburg, etc., que se consagraram unicamente à exegese da Bíblia, da Mishná e do Talmude; de outro lado, o rabinato da Espanha que com a exegese dedicou-se a cultivar a filosofia, a poesia, a gramática, etc.

Eram como dois corpos distintos formados sob condições de vida diametralmente opostas: o primeiro vivia perseguido e sob o feudalismo que apenas o tolerava, vivia sob o terror de expulsões intermitentes que paulatinamente transplantaram esse setor do judaísmo para Prússia, Polônia, Rumania, Galizia, etc. Foi sob a influência rígida destes países que se forjou o pensamento escolástico e dogmático de suas produções e suas obras. O segundo grupo vivia na Espanha em ambientes e condições extremamente favoráveis que lhe permitiam desempenhar um papel destacado em todas as atividades culturais.

De modo que, para diferenciar os que pensavam, escreviam e trabalhavam sob a influência do primeiro setor, chamou-se-lhes ashquenazim e aos do segundo setor sefaradim. Mais tarde, tanto um como o outro nome foram aplicados a todos os judeus dos dois setores. Posteriormente estas distâncias no pensamento se ampliaram até chegar a diferenciar também algumas partes do mesmo ritual. Por esta razão formaram-se dois ritos: Minhag Ashquenaz e Minhag Sefarad, que foram definitivamente instituídos, o primeiro pelos rabinos Simhá de Vitri e Moisés Iserles e o segundo por Rabi Amram Gaón e Rabi José Caro, respectivamente


HERODIANOS

Não eram uma seita religiosa, como os saduceus, nem uma ordem social, como os fariseus, mas um partido político, apoiando a dinastia de Herodes, que reedificara o Templo. Favoreciam um império judaico independente, governado por Herodes, sob o governo romano. Eram judeus de nascimento e de crença pagã. Juntaram-se com os fariseus para que apanhassem a Jesus em uma palavra, Mt 22.16; Mc12.13. Outra vez, juntamente com os fariseus, conspiraram contra a vida de Jesus, Mc 3.6; Mc 8.15.


NICODEMOS !

A propósito da Liturgia da Palavra desta semana que nos fala de Nicodemos.

Nicodemos era um Fariseu, uma pessoa importante entre os Judeus, provavelmente um membro do Sinédrio, ou do Grande Conselho, que visitou Jesus de noite, com certo medo dos Judeus, e admitia a divindade de Jesus :

- Havia entre os fariseus, um homem chamado Nicodemos, um dos principais entre os judeus. Foi ter com Jesus de noite e disse-Lhe : "Rabbi, sabemos que vieste, como Mestre, da parte de Deus, pois ninguém pode fazer os milagres que Tu fazes, se Deus não estiver com ele".(Jo.3/l-2). Nicodemos visitou Jesus de noite com medo dos Judeus. Foi a ele que Jesus disse :

- Quem não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus. (Jo. 1/3)

E perante as interrogações de Nicodemos, Jesus esclareceu :

- Quem não nascer da água e do Espírito Santo, não pode entrar no Reino de Deus. (Jo. 1/6).

Jesus teve com ele uma grande conversa que S. João conta no capítulo III do seu Evangelho. Nicodemos voltou a aparecer quando pretendeu visitar como desconhecido, Jerusalém na Festa dos Tabernáculos e a multidão queria prender Jesus, e nessa altura disse :

- Acaso condena a nossa Lei um homem sem primeiro o ouvir e saber o que ele faz? (Jo.7/51).

Por fim aparece também para a sepultura de Jesus trazendo aloés e mirra :

- Veio também Nicodemos, aquele que, anteriormente, se dirigira, de noite, a Jesus, trazendo uma composição de mirra e aloés. (Jo. 19/39).

Depois ajudou José de Arimateia a ungir o corpo de Jesus e a envolvê-lo no sudário de linho.

- Tomaram o Corpo de Jesus e envolveram-no em ligaduras juntamente com os perfumes, segundo a maneira de sepultar usada entre os judeus.(Jo.19/40).

Para além do que nós sabemos pelo Evangelho de S. João, há também uma antiga tradição segundo a qual Nicodemos teria seguido Jesus mais de perto, como bom discípulo, no fim da vida de Jesus, razão pela qual ele aparece para O ungir no túmulo. Segundo um escrito do século IV chamado O Evangelho de Nicodemos, diz-se que, quando Jesus estava a ser acusado na presença de Pilatos, por ter feito milagres no sábado, Nicodemos, de pé perante a assembléia, toma a defesa de Jesus, dizendo :

- "Ele é um homem que fez muitos importantes e gloriosos milagres, que nenhum outro homem da terra fez antes ou poderá fazer depois".

RENASCER (NASCER DE NOVO)

S. João escreveu no seu Evangelho o que Jesus disse a Nicodemos : - "Em verdade, em verdade te digo : Quem não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus". (Jo. 3/3). Então Nicodemos pediu a Jesus que lhe explicasse o sentido das Suas palavras e Jesus respondeu-lhe :

- "Em verdade, em verdade te digo : Quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus ".(Jo. 3/5).

Cristo equacionou "nascer de novo" com "nascer da água e do Espírito". Este "renascimento" já tinha sido previamente mencionado no Primeiro capitulo de S. João :

- Mas a todos os que O receberam, aos que crêem n'Ele deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus; eles que não nasceram do sangue, nem da vontade carnal, nem da vontade do homem, mas sim de Deus. (Jo. 1/12-13). Ser nascido de Deus, torna o cristão filho de Deus. O "renascimento" cristão operado pela graça do Espírito Santo é uma dramática e absoluta mudança do caminho da morte para o caminho da vida, do caminho da condenação para o caminho da felicidade. E isso habilita o cristão, como disse Jesus, a Entrar no Reino de Deus. Diz o Catecismo da Igreja Católica :

1262. - Os diferentes efeitos do Batismo são significados pelos elementos sensíveis do rito sacramental. O mergulho na água evoca os simbolismos da morte e da purificação, mas também do segundo nascimento e da renovação. Os dois efeitos principais são, pois, a purificação dos pecados e o novo nascimento no Espírito Santo

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