O Arianismo – Cristo não é Deus

 


© Paulo Avelino

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As idéias do padre-poeta


As origens do Arianismo estão ligadas ao mesmo contexto da origem etimológica da palavra portuguesa Traição. No dia 23 de fevereiro do ano 303 começou oficialmente a última e mais violenta onda de perseguição contra os cristãos. O Imperador Diocleciano e o seu César Galério lançaram edito banindo o culto. As igrejas deveriam ser demolidas e as bíblias e demais livros deveriam ser queimados. Um segundo edito ordenou aos sacerdotes serem presos e ordenados a fazer sacrifícios aos deuses.


Para quem se recusasse a punição não era fixa: podiam ser enforcados, degolados, crucificados, queimados vivos, estrangulados ou ter a pele arrancada. Punições mais leves eram o trabalho forçado nas minas da Palestina, ter um olho arrancado ou ter secionados os músculos de uma perna.


Muitos se comportaram bravamente. Antimo era bispo de Nicomédia (atual Izmit, na Turquia). Recusou-se a cooperar e foi degolado. É celebrado na Igreja Bizantina a três de setembro como o Santo Hieromártir Antimo. Outros não foram tão firmes. Sacerdotes e bispos entregaram bíblias e cálices para serem queimados. Entrega se diz traditione, no latim. Traditore era simplesmente alguém que entrega alguma coisa. Daí o termo jurídico tradição, que significa a entrega de um bem que seu proprietário faz a outrem. Ou a palavra tradição, que pode ser vista como a entrega de usos e costumes de uma geração a outra. Porém com a entrega dos objetos sagrados os traditores passaram a ser... traidores.


O Egito era na época um país bem mais poderoso do que é hoje. Era a maior fonte de impostos do Império, e boa parte da população passaria fome se o Egito deixasse de enviar sua produção de trigo. Alexandria, o porto, era sua principal cidade, uma das três maiores do Império. Seu bispo portanto era dos mais importantes do cristianismo. Pedro, o bispo, não foi um traditore ao que se saiba, mas abandonou seus fiéis fugindo da cidade. O bispo Melitius, da cidade de Lycopolis, ficou escandalizado quando viajou a Alexandria e encontrou a igreja acéfala. Então assumiu as funções de bispo, organizando o clero, recebendo conversões. Um dos sacerdotes ordenados por ele seria um homem chamado Ario.


Pedro retornou e reuniu seus apoiadores, convocou concílio e excomungou seus opositores. Mas, ao que se saiba, Ario reconciliou-se com ele. Melitius entrementes tinha sido preso e mandado para as minas da Palestina. Depois o próprio Pedro foi capturado e morto pelas autoridades romanas, na última onda de perseguição.


O sucessor de Pedro, Aquiles, passou pouco tempo. Com sua morte Ario seria uma escolha para sucedê-lo, mas foi preterido ou abriu mão em favor de outro candidato, Alexandre. Logo depois de eleito o novo bispo o nomeou responsável pela igreja de Baucalis, perto do porto, no ano 314.


O problema começou quando anos depois chegou ao Imperador Constantino que estava havendo problemas entre o bispo de Alexandria e o pároco de Baucalis. (O culto já era livre então). Ario era compositor e poeta. Escrevia suas idéias teológicas em forma de poemas, na mesma métrica das canções populares, especialmente queridas pelos marinheiros. O fato de sua igreja ser perto do porto foi crucial. Suas canções eram repetidas por todos os portos do mediterrâneo oriental. Sua teologia navegou rápido a bordo dos navios. Em pouco era idolatrado pelos marinheiros e trabalhadores nas docas, por outros sacerdotes e, como Gibbon aponta ser quase incrível, por setecentas virgens que protestaram na vizinhança para defendê-lo.


Teologicamente a controvérsia começou a respeito da interpretação do livro dos Provérbios, capítulo 8, versículos 22 a 31. Constam nesse

trecho: "O Senhor criou-me como primícia de sua ação, antes de suas obras mais remotas... Nasci quando não existiam os mananciais, quando não havia fontes de abundantes águas... Ele ainda não fizera a terra e os campos, nem os primeiros torrões do orbe. Quando colocava os céus, ali estava eu... ...eu estava ao seu lado como mestre-de-obras... entusiasmando-me pelos filhos dos homens." Alexandre convocou Ario e outros sacerdotes para explicarem sua opinião sobre um trecho da escritura que era provavelmente esse, segundo fontes da época.


A idéia base do arianismo era que Deus é "um e único", monós, que significa só, único, isolado, privado de. Daí monarcos, que reina sozinho, soberano, que originou, em português, monarca. "Sem começo e completamente um", como os arianos diziam. Deus é uma Monás, a unidade. Que se tornou Díade com a geração do filho, e uma Tríade com a produção do Espírito. Logo, a Trindade não é eterna. No começo Deus estava só.


E somente Deus tem essência divina, ou seja, só Deus é Deus. Essência em grego é ousía, uma palavra que se tornaria crucial na história do cristianismo. Deus não podia ser composto, divisível ou mutável. Acreditar que ele gerara um Filho com essência divina era dizer o contrário, o que seria inaceitável. A essência de Deus transcendia tanto as coisas mutáveis do mundo que não podia haver um ponto de contato direto entre Deus e as criaturas, pois as criaturas eram tão frágeis que não suportariam ter um contato direto com a mão do Criador.


Ou seja, Deus nem sempre fora Deus-Pai. Ou por outra, o Filho teve um começo. "Havia um então em que ele não existia", diziam os arianos, evitando dizer "havia um tempo em que ele não existia", pois o Filho fora criado antes de todos os tempos. (Mais tarde essa distinção foi atacada pelos seus oponentes como mero sofisma). Mas embora não Criador mas criatura, o Filho, ou Verbo, ou Logos, era diferente das outras criaturas. Ele fora o único criado a partir do nada, e portanto era o Unigênito. Todas as outras criaturas tinham sido criadas por Deus através do Filho. Ele era o Mediador, necessário pelas razões já ditas. (Os oponentes diziam que esse raciocínio requereria uma cadeia infinita de mediadores, cada um amaciando o choque da criação para o

outro.)


Uma tradição judaica e gnóstica mas que influenciara alguns teólogos cristãos não-gnósticos dava aos anjos um papel de intermediários na criação entre Deus e o homem. Deus disse: façamos o homem à nossa imagem e segundo nossa semelhança (Gênesis, 1, 26) era a passagem bíblica que a embasava. Mais tarde Agostinho viu nesse plural um sinal da Trindade. Para outros Deus naquele momento falava com anjos. O papel mediador dos anjos podia ser facilmente ampliado para incluir o Filho, como seu principal. Assim o arianismo pode ser visto como uma última reação de velhíssimas traduções judaicas e do apocalipticismo cristão primitivo contra uma idéia de Jesus Cristo calcada na filosofia grega, que afinal venceu e é a que professamos hoje.


O Filho é mutável e portanto não tem a mesma essência de Deus, que é imutável. O Filho é bom não porque seja Deus, mas porque decide ser bom e permanecer assim por sua própria vontade. Por seu cuidado e auto-disciplina, seu progresso moral, ele triunfou sobre sua natureza mutável e se tornou Filho de Deus. Tornou-se o pioneiro da salvação, possibilitando a todos os que o seguirem a se salvarem também. Mas os arianos adoravam Cristo e oravam para ele. Alguns usavam essa forma modificada do Glória: "Glória ao Pai pelo Filho no Espírito Santo."


Eram essas as idéias que Ario colocou em canção, em versos ritmados, fáceis de decorar. No seu principal poema havia versos como "Entenda que a mônada era, mas a Díade não era, antes de vir a existir/.../Então era a Tríade, mas não em glórias iguais. Não se entremisturam suas substâncias/".


O Bispo e Patriarca de Alexandria, Alexandre, no ano 318 fez sermões afirmando a divindade de Cristo e chamando outras idéias de heresias. Ario escreveu a ele reafirmando suas idéias. Alexandre o chamou a palácio. Ario foi e não chegaram a um acordo. Alexandre convocou um sínodo dos bispos do Egito. Mais de cem compareceram. Alguns apoiaram Ario, mas a maioria era contra e estabeleceu um credo e incitou Ario e seus aliados a o assinarem. Esses se recusaram. O concílio os excomungou e baniu da cidade. Houve resistência. As setecentas virgens invadiram as ruas defendendo seu padre-poeta. Ario escreveu pedindo apoio a seu velho camarada de escola Eusébio. Tinham sido colegas na escola de Teologia, em Antioquia. Eusébio subira. Agora era bispo da cidade de Nicomédia, ocupando o lugar que fora do degolado Antimo. Nicomédia era importante pois era a residência do Imperador.


Eusébio apoiou Ario. Este viajou para Nicomédia. Eusébio convocou um sínodo dos bispos da sua região que declarou ortodoxas as teorias de Ario e instou Alexandre a fazer o mesmo. Ario viajou para o Líbano, onde recebeu o apoio do bispo Paulino da cidade de Tiro, e para a Palestina. O líder da Igreja na Terra Santa era outro Eusébio, bispo da cidade de Cesaréia. Era um intelectual consumado e o primeiro a escrever uma História da Igreja, consultada até hoje. A cidade da qual era bispo, Cesaréia, era a cidade mais populosa da Palestina desde o saque de Jerusalém no ano 70. (Hoje nada resta dela. O lugar fica ao norte da moderna Tel-Aviv). Eusébio de Cesaréia convocou os bispos da sua região e chegaram às mesmas conclusões do sínodo da Nicomédia.


Um moço baixo de cabelo vermelho


Fortalecido, Ario retornou a Alexandria. Quis se encontrar com Alexandre. Este recusou. Em vez disso, circulou cartas de repúdio a Ario. Bandos rivais faziam desordens nas ruas. Ao voltar, Ario teve contato com um novo personagem do drama, que haveria de se tornar seu personagem principal.


Atanásio tinha vinte e poucos anos. Era diácono. Baixinho, cabelo vermelho. Alexandre o teria encontrado ainda menino, na praia, pobre, sem perspectivas de educação nem de nada, brincando de ser orador, discursando para as ondas. O menino falou com firmeza e charme para o bispo, que ficou encantado. Levou-o para sua casa e o criou. Agora era o principal membro de seu corpo de auxiliares e acredita-se que parte dos sermões e cartas assinados por Alexandre foi escrita por ele. Mostrava-se à vontade no corpo-a-corpo da administração de uma grande cidade e na política eclesial. Freqüentava os palácios e os cortiços com a mesma naturalidade. Era um membro típico da nova geração: nunca conhecera uma igreja acuada em cavernas, não perdera olhos ou pernas em torturas, não se educara lendo Cícero ou César e sim lendo direto os autores cristãos. E se convencera de que Ario estava errado, e que Cristo era Deus.


Nesse ponto o Imperador soube de algo de errado. Mandou a Alexandria um velho conselheiro em assuntos de religião, Ósio, da cidade de Córdoba na atual Espanha, para verificar a situação. Ósio era respeitado por seus conhecimentos e por ter feridas da perseguição de Diocleciano.


Ósio investigou e escreveu ao Imperador que a doutrina de Ario era errada e precisava ser condenada e suprimida. Para isso recomendava um grande concílio dos bispos, o maior até então reunido. Como lugar ele sugeria a cidade de Ancira, atual Ancara na Turquia, bem perto do Quartel-general do Imperador em Nicomédia. O bispo Marcelo, de Ancira, era apaixonadamente anti-ariano.


Antes porém era preciso decidir a questão da eleição de um novo bispo de Antioquia. Os bispos da região se reuniram. A igreja já estava dividida, cada lado apresentou candidato. Ósio viajou para Antioquia e presidiu a reunião. Ósio fez o rascunho de uma Declaração de Fé, que foi aprovada, e afirmava que os bispos criam no Senhor Jesus Cristo, Filho Unigênito, gerado não da não-existência, mas do Pai; e que o Filho sempre existira e ele era imutável e inalterável. E nesse concílio pela primeira vez em matéria doutrinária a Igreja decretou anátemas.


Anathema é uma palavra grega que significa oferenda votiva ou inscrição comemorativa, mas também pode significar maldição. É cognata do verbo anathematizo, amaldiçoar. Na prática da Igreja ficou sendo condenações de certas idéias, sob ameaça de excomunhão. A idéia é descrita e quem a advoga se arrisca a ser excomungado, ou seja, excluído da comunhão cristã. O Concílio em Antioquia estabeleceu como anátemas as idéias que Jesus é criatura e não Criador; que ele não é eterno; que não é imutável por natureza, como Deus é. Todos concordaram, exceto três, entre eles Eusébio de Cesaréia. Foram excomungados. Um choque pois ele tinha muito prestígio. Mas as punições poderiam ser revistas no grande Concílio de Ancira.


O Concílio de Ancira nunca aconteceu. Os convites já tinham sido despachados quando o Imperador decidiu mudar de lugar, para mais perto de si. Acredita-se que teria sido porque Marcelo de Ancira era tão anti-ariano que causava constrangimentos até em seus aliados. Ou porque um concílio em sua cidade poderia dar a entender um resultado pré-fabricado. A capital Nicomédia não seria possível. Ali estava Eusébio, o ariano. A nova capital Constantinopla ainda estava em construção. Mas o Imperador tinha um palácio de verão perto de um lago lindíssimo. Era uma paisagem rural. O lago e a cidadezinha próxima tinham o mesmo nome, Nicéia.


Uma só palavra


Correios foram despachados com a mudança de lugar e confirmando a data, final de maio do ano 325. Era um período delicado para o Imperador. Seu cunhado e antigo rival Licínio aparecera profissionalmente estrangulado em sua residência na Tessalônica. O crime permanece sem solução até hoje. Falaram em conspiração, mas isso era praxe quando se tratava de mortes de possíveis ou imaginários rivais. Pesava a suspeita de que Constantino se viu tentado a se livrar do outro da maneira usual no Império. Não se admira que Constantino fosse ao menos tecnicamente um pagão. Postergara seu batismo até perto de sua morte. O batismo perdoa todos os pecados, e um Imperador seria obrigado a cometer muitos.


Não se sabe ao certo quantos bispos atenderam ao chamado. Não há uma lista completa. Mesmo escritores da época discordavam, 250, 270, 300. Um autor atual (Chadwick) fala em 220. O número tradicionalmente estabelecido é 318. Quase todos eram do Oriente. Só sete ou oito vieram do Ocidente, entre eles Ósio de Córdoba e dois sacerdotes representando o Bispo de Roma.


No primeiro dia os bispos se sentaram em fileiras na Sala de Julgamentos de Constantino. Este sentou-se a certa distância deles, mas perto o suficiente para ouvir as discussões. Usava o manto púrpura e o diadema de ouro e diamantes, símbolos de um Imperador.


Nos primórdios da reunião Eusébio de Cesaréia discursou, defendendo sua ortodoxia. Foi ele que, mesmo punido, fizera o discurso de saudação ao Imperador. Ele apresentou um credo, baseado no credo batismal utilizado em sua cidade, Cesaréia. Com base naquele credo ele pedia sua readmissão na comunhão com os outros bispos. Seu credo

começava: Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra... Quando terminou, antes que qualquer um pudesse respondeu os bispos ouviram a voz de Constantino. Ele concordava com aquele credo, disse que ele refletia suas próprias crenças. Tinha uma só sugestão a fazer. Que Eusébio acrescentasse que o Filho era consubstancial

(homoousios) ao Pai.


O objeto era traçar uma linha que os arianos não pudessem passar. Uma carta de Eusébio de Nicomédia foi lida, em que ele zombava da expressão consubstancial. A carta teria causado forte reação e teria sido rasgada pelos seus adversários na frente de todos.


Dizem que no calor dos debates o bispo da cidade de Myra (na atual

Turquia) ficou tão indignado com os erros que Ario estava defendendo que lhe deu tapas na cara na frente de todos. Esse bispo se chamava Nicolau, e dizem que certa vez soubera de três moças filhas de um homem pobre que não tinham dinheiro para dotes, e portanto não podiam se casar, e portanto estavam ameaçadas de cair na prostituição. Ele teria deixado secretamente quantias de dinheiro para as moças, para que pudessem se casar. Sua fama de generosidade só aumentou pelos séculos. Seu corpo foi no século XI tirado da cidade de Myra e levado para Bari, na Itália, onde se encontra até hoje. É particularmente venerado na Rússia. O último Czar se chamava Nicolau. Ele inspirou o costume de dar presentes para crianças. Seu nome deformou-se até chegar a Santa Claus nos países anglófonos, ou, no Brasil, Papai Noel.


O Credo com a adição proposta por Constantino foi aceito por todos os bispos com exceção de dois. Foi aceito até por arianos conhecidos como Eusébio de Nicomédia e Paulino de Tiro. Só foi rejeitado por dois bispos da Líbia. Os arianos incluindo o próprio Ario foram excluídos e exilados na hora e o Concilio prosseguiu sem eles. Além do Credo o concílio aprovou cânones em boa parte administrativos. Ao final concluíram a Profissão de fé:


Cremos em um só Deus, Pai todo-poderoso, Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis. E em um só Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, o unigênito gerado do Pai, que é da substância do Pai, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado não criado, consubstancial ao Pai. Por ele todas as coisas foram feitas, tanto as do céu quanto as da terra; por nós homens e para nossa salvação desceu dos céus e se incarnou, e se fez homem, sofreu e ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos Céus, há de vir para julgar os vivos e os mortos. E no Espírito Santo.


O primeiro concílio de Nicéia foi o primeiro a ser considerado ecumênico, e um dos sete únicos aceitos pelas igrejas católica e ortodoxa até hoje. Seu caráter ecumênico não se deveu a seu tamanho. Logo depois houve outro concílio muito mais representativo, o de Rimini-Seleucia, com mais de 500 bispos e uma distribuição muito melhor entre os lados oriental e ocidental. Mas o concílio de Rimini-Seleucia veio a ser rejeitado depois, e o de Nicéia foi aceito.


Segundo Rubenstein, o concílio de Nicéia foi um divisor de águas não porque pôs fim à controvérsia mas porque foi o último momento em que os dois lados agiram civilizadamente. A partir daí eles se chamariam de corruptos, filhos do diabo, traidores e coisas semelhantes. E surras, quebra-quebras, calúnias, bajulação explícita a imperadores vieram se juntar aos argumentos teológicos como forma de luta.



Morte na véspera


No ano 328 um concílio em Nicomédia aceitou Ario de volta à Igreja. Eusébio de Nicomédia pediu à Igreja de Alexandria que aceitasse o padre de volta. Só que o velho bispo Alexandre tinha morrido e em seu lugar estava o jovem e implacável Atanásio, numa eleição de regularidade duvidosa pois diz-se que ele teria reunido os bispos a favor dele a portas fechadas, sido eleito e se declarado vitorioso. Além disso levantou-se a suspeita que ele teria menos que os trinta anos necessários para ser bispo. Ele recusou Ario de volta, mesmo com o Imperador tendo-o pedido.


Nos próximos anos um concílio depôs Atanásio acusando-o de mandar quebrar igrejas de inimigos, e de assassinato. Após muito mudar de lado o Imperador o manda ao exílio na parte ocidental do Império, que era a mais atrasada. E ordena Ario ser aceito na igreja, em Constantinopla, que já era a capital do Império. Quem testemunhou foi o padre Macário, o braço direito de Atanásio, e segundo os oponentes, um homem que usava mais os punhos que a teologia. O velho bispo de Constantinopla, Alexandre (não confundir com o outro Alexandre, de Alexandria), teria recebido chorando a ordem de aceitar de volta o padre Ario na comunhão da igreja no dia seguinte, uma segunda-feira. Estava de noite, rezando e em lágrimas, sozinho, pedindo a Deus para não ter de receber um herético. Enquanto isso Ario, Eusébio de Nicomédia e outros arianos estavam em reunião planejando o dia seguinte. Ario falava. E sentiu uma dor insuportável no ventre. Correu para o banheiro. Teve espasmos dolorosos. Caiu ao chão Os outros correram mas ele já estava morto. Atanásio depois chamaria isso uma "maravilhosa e extraordinária circunstância". Ele e muitos foram de opinião que isso fora obra de Deus. Já Gibbon fala em veneno.


Oito anos depois, no ano 343, Atanásio estava exilado pela segunda vez, no Ocidente, nos domínios do Imperador Constante. O Império estava então dividido entre dois irmãos filhos de Constantino: Constante no Ocidente e Constâncio no Oriente. O primeiro era simpático aos anti-arianos. O segundo aos arianos. O primeiro propôs um concílio para resolver a questão. O segundo aceitou. Noventa e quatro bispos do Ocidente, sessenta e sete do oriente se reuniram na cidade de Sardica, atual Sofia na Bulgária, que pertencia a Constante. O lado ocidental, já catequizado por Atanásio, era anti-ariano, e o oriental era ariano. Os bispos discutiram, no sentido mais duro da palavra, os bispos orientais se retiraram para o território de seu Imperador, e cada lado concluiu que o outro lado era inimigo do verdadeiro Deus.


O concílio de Sardica foi o primeiro sinal de uma divisão na cristandade entre sua metade que falava latim e sua metade que falava grego. A primeira metade nos séculos seguintes passou a ter um líder só, o Bispo de Roma, que mais tarde receberia também o título de Papa, enquanto o outro lado tinha uma liderança mais difusa, dividida entre vários patriarcas e colegiados. De certa forma esse concílio, que sequer é reconhecido, continua até hoje, e continuará, enquanto os cristãos estiverem divididos em uma Igreja Católica e uma Igreja Ortodoxa.


O ponto mais baixo para os anti-arianos provavelmente foi quando a partir dos concílios de Arles (353) e Milão (355), que condenaram Atanásio, o Imperador Constâncio pressionou os bispos para assinarem declarações pró-arianas. A história do relacionamento entre esse Imperador e o arianismo é mencionada na seção referente à festa de sete de maio. Quase todos os bispos cederam, muitos por ameaça ou suborno. Os que não cederam foram exilados. Os bispos mais importantes eram Ósio de Córdova, quase centenário, e Libério, Bispo de Roma. No início os dois se comportaram com firmeza. Ósio disse que sofrera perseguições sessenta anos antes, sofreria então. E Libério, exilado na Trácia, devolveu uma quantia que lhe fora enviada pelo Imperador para seu conforto no exílio, afirmando que esse ouro podia ser necessário para o Imperador pagar soldados e bispos. Mas no final a dureza do exílio quebrou a resistência dos dois prelados. Ósio assinou uma declaração ariana e Libério assinou uma declaração dúbia. Os arianos diziam que a essência do Filho era diferente da essência do Pai; o credo de Nicéia dizia que era idêntica à do pai (homoousios). Libério assinou declaração de que a essência do Filho era como a essência do Pai. Tendo cedido, seu exílio foi revogado.


O Arianismo então tinha vencido, ou quase. Dos prelados importantes, só restava Atanásio, exilado no interior do Egito, perseguido pelas tropas do Imperador. Os soldados arrancavam a língua das pessoas que eles achavam que lhe tinham dado abrigo e pareciam não querer dar informações. Certa vez estava escondido numa cisterna de água e teve de fugir correndo ao ser traído por uma escrava. Noutra vez ficou escondido por dias nos aposentos de uma bela jovem, que cuidou dele e o escondeu. Sempre se pode especular no que teria acontecido com o anti-arianismo se a jovem o tivesse entregue aos soldados e estes o tivessem degolado na hora.


Quatro rapazes em Atenas


Ao se tornar Imperador, Constâncio mandou matar dois tios, sete primos, e um tio por afinidade. Sobraram dois parentes. Mais tarde mandou matar o mais velho deles, chamado Gallus. Sobrou um.


Juliano era o primo que ficou vivo. Talvez tenha sido poupado do massacre de sua família porque tinha apenas seis anos (em 337). Cresceu um rapaz desinteressado em política, ao menos aparentemente. Enquanto seu primo e algoz de sua família combatia Magnêncio em Mursa, ele estudava em Atenas. Lá travou conhecimento com três rapazes que também tinham ido lá para estudar, um chamado Basílio e dois com o mesmo nome, Gregório. Os três eram muito amigos e vinham da mesma região, a Capadócia. Os quatro jovens não tinham então como saber que eles estariam ligados não ao fim, mas ao ponto de inflexão que levaria ao fim dessa quase interminável controvérsia.


Basílio era o mais velho dos três amigos. Um dos Gregórios era seu irmão mais novo, enquanto o outro era só amigo. Esse último tinha nascido na cidade de Nazianzo, e assim passou a ser conhecido como o Gregório dessa cidade. O outro, o mais novo dos três, ficou conhecido pela cidade na qual veio a trabalhar, Nissa. Dos três este foi o único que se casou.


Juliano era um enigma, um rapaz que não dizia o que pensava. E tornou-se mais ainda quando sua mulher e filho morreram. Mas anos depois quando se tornou imperador quando da morte de Constâncio o enigma foi quebrado. O jovem (30 anos) Imperador era um crente do velho paganismo, com uma paixão especial pelo deus-sol, além de uma grande admiração por Alexandre o Grande. Queria liberar o Império do "culto do Galileu". Perseguiu os cristãos, proibindo-os de ensinar gramática e retórica. Nomeou apenas pagãos para os cargos importantes. Quis restaurar os velhos templos aos deuses greco-romanos. Exilou, já pela quarta vez, o velho bispo Atanásio de Alexandria. Obrigou os cristãos a reconstruírem templos pagãos que haviam destruído.


Como admirador de Alexandre, que conquistara a Pérsia, Juliano quis tentar sua conquista também. No ano 363, com cerca de dois anos de reinado, o Imperador chega a Antioquia com um vasto exército, e alguns sacerdotes pagãos e adivinhos. Sacrifica ao deus Apolo e avança resolutamente no vale do rio Tigre no atual Iraque, capturando uma cidade após outra. Mandou queimar seus navios e partiu para uma situação de tudo ou nada. Atravessava uma região de colinas, que, sem que o soubesse, estavam cheias de inimigos. O calor era grande, e tirou sua couraça. Quando soube do ataque dos persas na retaguarda, depois outros lugares. Quando cavalgava para animar seus homens uma chuva de dardos e flechas caiu sobre ele e um dardo lhe penetrou entre as costelas e perfurou seu fígado. Tentou tirá-lo e a lâmina lhe cortou os dedos. A partir daí as narrativas se dividem. Segundo uma fonte, morreu em sua tenda, depois de fazer longo discurso pelas virtudes do paganismo, de ter reprimido o choro dos que o cercavam, feito seu testamento, e discutido a natureza da alma com filósofos pagãos. Segundo outra, pegou sangue de seu ferimento e jogou-o na direção do sol, o deus-sol, gritando "Satisfaça-se!" Segundo uma terceira, ao jogar seu sangue no ar disse: "Galileu, você conquistou!"


Passou para a história como Juliano, o Apóstata. A partir daí o velho paganismo entrou em agonia.


Seu antigo colega Basílio tornara-se bispo. E junto com os outros dois desenvolvia uma nova forma de pensar que ajudaria a desenrolar o nó apertado da controvérsia. O ponto de oarrtida seria um novo debate, surgido na época, sobre o Espírito Santo. O Concílio de Nicéia se referira a esse da maneira mais sintética, afirmando a crença no Espírito Santo no final do Credo, e só. O bispo de Constantinopla, Macedônio, negava a divindade do Espírito Santo. Os adversários chamaram a seus adeptos de pneumatomaquis, ou lutadores contra o Espírito. Também eram conhecidos como macedônios. Basílio teria percebido que o que faltava era uma doutrina que explicasse como um só Deus podia consistir em três entidades separadas. E o que faltaria seria um refinamento de linguagem. Muitos arianos eram movidos pelo desejo de não ver o Filho desaparecer no Pai. E os anti-arianos queriam preservar a divindade de Cristo. Segundo os Três da Capadócia a solução começaria em separar essência (ousía) e ser (hypóstasis). O Pai, o Filho e o Espírito Santo seriam três entidades separadas, cada uma com suas características, mas da mesma essência. Havia também o modo de origem. O filho fora gerado, não criado, pelo Pai. Já o Espírito Santo procedia do Pai. Mais tarde essa última afirmação geraria sérios problemas no cristianismo.


Para Rubenstein o pensamento dos Três da Capadócia representou um corte muito mais drástico do que pareceu na época. Até então o Deus dos cristãos era o mesmo Deus dos judeus, e até o dos pagãos mais esclarecidos, que acreditavam num ser supremo. A questão ariana era em torno de Cristo, se ele teria as características desse Deus. A teologia dos Três disse que, se Cristo era completamente divino, Deus era Pai, mas também era Filho e Espírito Santo. Deus era "distribuído" igualmente entre três pessoas. Era um Deus diferente do Deus monolítico adorado pelos judeus e depois por muçulmanos. Com o pensamento de Basílio, Gregório de Nazianzo e Gregório de Nissa o cristianismo rompeu radicalmente com os outros monoteísmos.


Os três foram canonizados, e são conhecidos hoje como "Os Três Padres da Capadócia".


O segundo concílio, e o fim


Depois da morte de Juliano o Império cai numa desordem da qual, em última análise só sairia cem anos depois com o final do Império do Ocidente. Joviano é escolhido Imperador, no ano 363, mas morre um ano depois, de causas naturais. Depois dele o Império se parte numa metade ocidental e noutra oriental. Os irmãos Valentiniano e Valente

se tornam imperadores respectivamente das partes ocidental e oriental. Enquanto a parte oriental se mantém com alguma (embora não muita) estabilidade, a parte ocidental se afundava. Valentiniano era polígamo. Sua esposa Severa certa vez lhe falou da beleza de certa moça Justina, filha de um governador, que a Imperatriz já vira nua

várias vezes. (As romanas tomavam banho nuas, juntas, nas termas). Elogiou tanto sua beleza que que o marido quis conhecer a outra. E fez dela sua segunda mulher. Em seguida proclamou edito permitindo a todos os homens do Império a terem duas esposas. Morreu enquanto insultava inimigos, possivelmente de derrame, no ano 375. Tinha um

filho chamado Graciano da primeira mulher, e Valentiniano da segunda. Eles dividiram o Império do Ocidente em duas partes. Graciano é assassinado por ordem de Máximo, um general que queria usurpar o trono (383). Valentiniano II continuou com sua parte de meio-império. Máximo morre degolado (388). Valentiniano II é estrangulado (392) por ordem dos aliados de Eugênio, usurpador, que é degolado dois anos depois (394).


Na parte oriental Valente se revela amigo dos arianos. Começara seu tempo em 364, junto com seu irmão Valentiniano, este no Ocidente. A sua opressão sobre os anti-arianos terminou de forma significativa.


A cavalaria sempre foi o elo fraco das tropas do Império Romano. As legiões eram corpos de homens bem treinados que lutavam a pé. E eram um exército profissional, ou seja, os soldados só faziam isso, lutar. Foi assim que subjugaram tantos povos. Em meados dos anos 370 as fronteiras do Império foram pressionadas pelos Godos, que por sua vez estavam sendo pressionados pelos Hunos, que vinham da Ásia. Valente deu permissão para os Godos entrarem no Império e teoricamente viverem em paz, mas logo eles foram oprimidos por corruptos funcionários romanos, que davam a eles carne de cachorro em troca de seus filhos que viviam como escravos. Os Godos se revoltaram. O Imperador acorreu lá com suas tropas. Informantes lhe disseram que os inimigos tinha poucos homens. Hoje sabemos que esses informantes eram mal-intencionados ou mal-informados. Valente saiu em perseguição e encontrou um exército muito maior do que esperava, perto da cidade de Adrianópolis, atual Edirne na Turquia, no dia 09 de julho do ano 378.


Estavam em negociações de trégua quando parte das tropas do Imperador avançou precipitadamente. O comandante godo estava me negociações exatamente por que sabia que parte de suas forças ainda não estava em posição, precisava ganhara tempo. Exatamente quando os imperiais atacaram dois comandantes godos que eram esperados desceram dos morros com sua tropa montada. As tropas montadas dos romanos fugiram e cavalaria pesada dos godos caiu sobre a infantaria romana. Os godos usavam cavalos maiores, que podiam levar homens mais pesados e ser revestidos de couraças de metal. Talvez mais importante, eles usavam uma invenção importantíssima, que os romanos só vieram a usar posteriormente: o estribo. Esse dava estabilidade ao cavaleiro. Foi o estribo que tornou obsoleta a biga dos romanos.


As legiões que fugiam dos cavaleiros godos eram empurradas em direção à infantaria inimiga. Valente foi ferido por uma flecha e levado para uma casa perto. Os godos tentaram forçar a porta, foram repelidos, e incendiaram a casa. Assim morreu o Imperador. A batalha de Adrianópolis representou um ponto de inflexão na história. Os infantes tinham sido vencidos por homens a cavalo, coisa inimaginável poucos anos antes. Daquele momento em diante quem quisesse vencer uma guerra precisava de homens montando cavalos fortes, treinados, couraçados tanto o homem como o cavalo por placas de metal, com estribos, e muito treinamento. Para tudo isso era preciso dinheiro, cavalos assim eram muito caros. O homem a cavalo precisava ser remunerado, e foi remunerado com terras. Era o domínio do cavaleiro, que só terminaria mil anos depois. Começava a Idade Média.


Em Milão um bispo de trinta e poucos anos interpretou o desastre das legiões de outra forma. Não fora o progresso da técnica militar. Para ele, foi o resultado do julgamento de Deus sobre os heréticos arianos.


Esse bispo se chamava Ambrósio, e hoje é mais conhecido por um aluno seu, um jovem vindo do Norte da África chamado Agostinho. Numa coisa Ambrósio teve razão. A morte de Valente abriu caminho no ano seguinte (379) para a ascensão de um homem completamente identificado com a causa anti-ariana, chamado Flávio Teodósio, o filho de um general executado anos antes sob acusações de traição.


O Imperador Teodósio logo depois de ascender ao trono ficou doente e se batizou, tendo sido o primeiro Imperador a ser batizado na Trindade (os outros o tinham sido por bispos arianos). Em janeiro de 380 foi a Milão e pediu a Ambrósio que o instruísse na fé. No mês seguinte outorgou o seguinte Edito, que transcrevemos na íntegra por

ser tão esclarecedor da história do cristianismo:


É nosso prazer que todas as nações que são governadas por nossa clemência e moderação devam aderir firmementeà religião que foi ensinada por São Pedro aos romanos, que a fiel tradição tem preservado, e que é agora professada pelo Pontífice Dâmaso, e por Pedro, bispo de Alexandria, um homem de santidade apostólica. De acordo com a disciplina dos apóstolos, e com a doutrina do evangelho, vamos acreditar na deidade única do Pai, do Filho, e do Espírito Santo, sob uma igual majestade e uma pia Trindade. Nós autorizamos os seguidores dessa doutrina a assumirem o título de Cristãos Católicos; e como nós julgamos que todos os outros são insanos extravagantes, nós os chamamos com o nome infame de heréticos, e declaramos que seus conventículos não mais devem usurpar a respeitável denominação de igrejas. Além da condenação da justiça divina, eles devem esperar sofrer as severas penalidades que nossa autoridade, guiada pela sabedoria celestial, considerará apropriado infligir sobre eles.


(Fonte: Gibbon, cap. XXVII)


Teodósio convocou um concílio de bispos só do Oriente. Eles se reuniram em Constantinopla em maio do ano 381. Inicialmente tinha mais bispos, fala-se em 186. Depois os dissidentes teriam saído, particularmente os macedônios, restando 150 todos católicos. Agora o nome era oficial. Eles aprovaram entre outros um cânon que se revelaria o fulcro de problemas, estabelecendo que como Constantinopla era a Nova Roma, seu bispo deveria usufruir dos

privilégios de hora após o bispo de Roma. E mais que isso, retomaram e ampliaram o credo feito em Nicéia, e que por essas modificações ganhou o nome de credo niceno-constinopolitano, o qual é rezado nas igrejas católicas e ortodoxas de maneira quase igual, e que transcreveremos logo abaixo. A importância desse concílio só foi reconhecida aos poucos, nas épocas seguintes. Mas hoje é reconhecido como o Primeiro Concílio de Constantinopla, o segundo concílio ecumênico, aceito por católicos, ortodoxos, monofisitas e nestorianos.


Depois do concílio e devido às perseguição de Teodósio o arianismo agilizou rapidamente dentro do Império. Mas fora dele permaneceu por algum tempo. Décadas antes, quase no começo da controvérsia, um homem chamado Ulfila converteu-se ao cristianismo ariano e foi ordenado bispo por Eusébio de Nicomédia, líder ariano. Ulfila era da nação dos godos, mas sua avó era grega, tendo sido capturada pelos godos e levada como escrava. Ele traduziu a bíblia para a língua dos godos, e precisou para isso criar um novo alfabeto, o alfabeto gótico. Fez um

notável trabalho missionário e logo os godos eram cristãos arianos. Influenciados por estes, depois os burgúndios e vândalos se tornaram arianos. Por essas concessões, o arianismo demoraria ainda uns duzentos anos para desaparecer.


O que restou da tempestade do arianismo? Os Testemunhas de Jeová têm características das doutrinas arianas. Ao contrário de outras heresias não restou uma igreja organizada dentro do cristianismo. Talvez o mais importante do arianismo tenha sido a reação a ele. Sedimentou crenças fundamentais dentro do cristianismo. Ocasionou a realização de dois concílios importantíssimos. Trouxe para o panteão da igreja uma dúzia ou mais de santos cuja vida foi dedicada a combatê-lo. De forma que é como conseqüência da doutrinas do Padre Ario que hoje, nas igrejas católicas e ortodoxas, com poucas variações rezamos o credo niceno-constantinopolitano:


Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos: Deus de Deus, Luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado não criado, consubstancial ao Pai. Por Ele todas as coisas foram feitas. E por nós, homens, e para a nossa salvação, desceu dos céus; e encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e se fez homem. Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos; padeceu e foi sepultado. Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as escrituras, e subiu aos céus, onde está sentado à direita do Pai. E de novo há de vir, em sua glória, para julgar os vivos e os mortos; e o seu reino não terá fim. Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, e procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado; Ele que falou pelos profetas. Creio na Igreja Una , Santa, Católica e Apostólica. Professo um só batismo para remissão dos pecados. E espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir.

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