O Evangelho de Maria Madalena

 



Muitos se assustam ao ouvir dizer que existe um evangelho de Maria Madalena.


Como? Uma prostituta escreveu um evangelho? O estudo acurado dos escritos apócrifos, isto é, textos sagrados que não entraram na Bíblia, nos proporciona descobertas inusitadas: Maria Madalena não era prostituta; Jesus

a amava muito; A nossa devoção Mariana tem sua origem nos apócrifos. Os apócrifos do Segundo Testamento (Novo Testamento) são em torno de 60 e os do Primeiro Testamento, 52.


O Evangelho de Maria Madalena tem muito a contribuir com os estudos recentes sobre as origens do cristianismo. Com grande probabilidade estamos diante de um texto fundador do cristianismo. Ele chegou até através de um manuscrito grego datado, provavelmente no ano 150 da Era Comum (E.C.), e na sua tradução para o copta saídico (língua usada no Egito), no século V da E.C. O texto está organizado em forma de páginas, das quais nos faltam as de número 1 a 6 e 11 a 14.


Contrário aos evangelhos sinóticos (Mc., Mt. E Lc), os quais, a partir do relato da paixão, morte e ressurreição de Jesus, relatam a infância e a missão de Jesus, o gênero literário do Evangelho de Maria Madalena corresponde ao que chamamos de ditos e sentenças. E Maria Madalena dizendo o que Jesus disse.


Postulamos em nossa interpretação que o objetivo desse evangelho seria o de reagir contra a institucionalização do cristianismo na linha hierárquica e masculina. E foi por isso que Maria Madalena e sua comunidade procuraram

interpretar a mensagem do mestre Jesus de modo integrador. Jesus, contrariamente à linha judaica, essênica e farisaica, esteve sempre próximo às mulheres, pecadores e enfermos. Os evangelhos canônicos, os que estão na

Bíblia, não negaram essa postura de Jesus, mas, por outro lado, minimizaram a liderança de mulheres apóstolos e discípulas de Jesus, como Maria Madalena. O Evangelho da comunidade de Maria Madalena conservou discussões teológicas entre Maria Madalena, Pedro, Lavi e André sobre a pessoa e missão Jesus transmitidas por ele a Maria Madalena, nas quais encontramos novidades que a tradição achou por bem deixar de lado. Vamos ler e interpretar o Evangelho de Maria Madalena tendo em vista o diálogo com esses textos primitivos que muito nos iluminam a reflexão hodierna sobre a espiritualidade e gênero. Convido a você, caro leitor (a) a acompanhar as

reflexões que faremos sobre a personagem de Maria Madalena e seu evangelho. A nossa intenção será de destruir os preconceitos criados historicamente em torno a Maria Madalena para, assim, reconstruí-la como paradigma de fé e apóstola de Jesus.


As vozes da tradição sobre Maria Madalena


Nos evangelhos Maria Madalena é a figura feminina mais importante. Maria, mãe de Jesus, tem um papel importante na infância de Jesus, mas não no corpo dos evangelhos. Sem contar as repetições, Maria Madalena aparece 12 vezes nos evangelhos. Atos dos Apóstolos simplesmente ignoram a pessoa de Maria Madalena. Já os apócrifos, textos que ficaram fora da Bíblia, consideram Maria Madalena como espírito da Sabedoria; personificação da gnose (conhecimento); amada de Jesus; adversária de Pedro; ministra da evangelização; discípula e apóstola de Jesus. A tradição judaica, hostil a Jesus, também ensinou que Maria Madalena era adúltera. O Talmude chega a confundir Maria Madalena com Maria, mãe de Jesus. Na história da Igreja,

destacam-se os testemunhos de Ambrósio, o qual diz que Madalena poderia ter sido pecadora. Pedro Crisólogo diz que Madalena é o símbolo da Igreja "Santa e Pecadora". Quanto ao anuncio da ressurreição às mulheres, Crisólogo afirma: "Neste serviço, as mulheres precedem aos homens, elas que pelo sexo vêm depois dos homens, por ordem (hierárquica) depois dos discípulos: mas não por isso estão a significar que os apóstolos sejam mais lentos, pois elas levam ao sepulcro do Senhor não a imagem de mulheres, mas a figura da Igreja." Honório de Autun atribui a Maria Madalena uma vida inclinada à libido e, por isso diabólica, quando escreve: "(O Senhor...) nos colocou diante da bem-aventurada Maria Madalena como exemplo de sua clemência.


Narra-se que esta era a irmã de Lázaro, que o Senhor fez ressuscitar do sepulcro depois de quatro dias, e foi também irmã de Marta que com freqüência ofereceu hospitalidade ao Senhor. Esta Maria foi enviada para junto ao marido na cidade de Mágdala, mas fugindo dele foi para Jerusalém, esquecendo-se de sua família, esquecida da lei de Deus, tornou-se uma vulgar meretriz; e após se tornar prostíbulo da torpeza, se tornou também, por conseguinte, sacrário dos demônios; de fato, entraram nela sete demônios todos juntos, e constantemente a atormentavam com desejos imundos".


Maria Madalena foi proclamada, em 1050, padroeira de uma abadia de monjas beneditinas. A idéia seria mostrar que Maria Madalena se arrependeu e tornou-se eremita. Na França, ela é tida como padroeira dos perfumistas e

cabeleireiros. Maria Madalena é celebrada pela Igreja Católica no dia 22 de julho. Ela é também a padroeira das prostitutas.


Na liturgia devocional da Idade Média encontram-se laudes completas dedicadas a Maria Madalena. Maria Madalena inspirou muitos pintores, os quais a retratam como mulher pecadora; penitente; bela e formosa; velha e

solitária; que unge Jesus; que ampara Maria, a mãe de Jesus; que anuncia o ressuscitado; discípula que acompanha Jesus em sua agonia.


A personagem Maria Madalena foi tratada no decorrer da história cristã como mito de pecadora redimida. De prostituta virou santa para morar no imaginário coletivo como mulher forte e exemplo de vida cristã. Infelizmente, esse foi um bem, que para se firmar, teve que fazer uso de inverdades como a história de Maria Madalena, a prostituta.

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