Autor: Claudio Augusto
Acrescento trechos de um ensino sobre Milagres, de autoria de Dom Estevao Bettencourt. O objetivo é
distinguir o autentico milagre de outras manifestacoes nao-sobrenaturais, emesmo, distinguir entre os milagres possiveis de serem reconhecido publicamente pela Igreja e outros autenticos milagres que nao gozam do mesmo
privilegio. Segue o texto que foi retirado da apostila sobre ocultismo da Escola Mater Ecclesiae:
Baseada nos Evangelhos, a Teologia afirma que o milagre é essencialmente um sinal de Deus, dotada de três características. Com efeito, o milagre é:
a) um fato real;
b) totalmente inexplicável pela ciência de nossos dias,
c) realizado em autêntico contexto religioso, como sinal ou resposta de Deus
a esse contexto.
a) um fato real...
Antes do mais, requer-se que o episódio apresentado como possível milagre seja um episódio real histórico. Sabe-se quanto a imaginação é fértil em criar casos maravilhosos ou, ao menos, em aumentar as dimensões estranhas de
determinado episódio. O subconsciente, com as suas aspirações íntimas, a alucinação, a sugestão, são responsáveis por muitos dos casos que o rumor popular apresenta como milagrosos, mas que na verdade nunca ocorreram ou só ocorreram com características perfeitamente explicáveis pela ciência e a razão.
b) ... Inexplicável pela ciência contemporânea ao fato...
A ciência moderna tem elucidado numerosos fenômenos que, na época de sua ocorrência, foram tidos como milagres. Consequentemente, muitas pessoas perguntam se os fenômenos hoje considerados milagrosos ainda o serão dentro de cinquenta anos. Extinguir-se-ia assim o conceito de milagre.
Em resposta, diremos:
-Há fatos, registrados pelo Evangelho (e por outros documentos fidedignos), que a ciência não explica nem jamais explicará: tais são a ressurreição de um morto, a multiplicação de alimentos, a transformação de água em vinho, a
sedação imediata de uma tempestade violenta...
- Independentemente desta observação, o conceito de milagre subsiste desde que a ciência contemporânea ao portento não o saiba explicar nem conheça pista para explicá-lo futuramente.
O milagre vem confirmar, da parte de Deus, uma atitude religiosa dos homens:
ora Deus só pode confirmar valores autênticos e verdadeiros. É por isto que, depois que a ciência contemporânea verifica a inexplicabilidade de determinado fato, a Igreja ainda não apregoa milagre. Ela examina as
circunstâncias em que o portento se deu: terá sido resposta a uma prece humilde, confiante, inspirada pela verdadeira fé?
Em conclusão, deve-se afirmar que o milagre não é simplesmente um fenômeno físico, ao qual sobrevenha a função de sinal. Mas, por sua própria índole, o milagre é um sinal dirigido por Deus a determinada porção da humanidade, a fim de suscitar a fé dos homens ou tornar mais facilmente acreditável aquilo (a mensagem ou a pessoa) que o milagre assinala.
Características do autêntico milagre:
a) Os fenômenos ambivalentes
Há, sim, fenômenos suscetíveis de dupla interpretação: a natural e a transcendental. Com outras palavras: certos acontecimentos se podem verificar tanto em contexto religioso como em contexto puramente natural,
psicológico ou parapsicológico. Tais são os fenômenos que por vezes acompanham a experiência mística: visões, vozes interiores, êxtases, estigmas, sonhos premonitórios, adivinhação do pensamento...
Todos estes fenômenos podem, sem dúvida, ter como causa uma intervenção extraordinária de Deus, mas são igualmente suscetíveis de explicação natural, que apela para reações psicológicas ou parapsicológicas. Já que é
difícil distinguir a verdadeira causa de tais fenômenos, a teologia católica não costuma utilizá-los em seus tratados de apologética. Com isto não se diz que as visões, os estigmas ou outros fenômenos atrás apontados jamais sejam
de origem transcendental. Apenas observamos que as pessoas sem fé diante de tais fenômenos poderão sempre apelar para causas naturais o que torna ineficaz o sinal ou a palavra que o apologista católico poderia deduzir
desses mesmos acontecimentos.
Não raro os adversários da Igreja impugnam tais fenômenos e os ridicularizam, como se, para a Igreja, fossem milagres aptos a favorecer a fé. Ora tal não é o modo de pensar da Igreja. Doutro lado, acontece que
muitas pessoas piedosas valorizem exageradamente tais expressões ambivalentes (vozes, estigmas, aparições, visões...) como se fossem necessariamente sinais de intervenção divina ou de comunicação com os
espíritos do Além. Não se creia isto, dado que tais fatos podem ser reduzidos à atuação de causas puramente psicológicas ou parapsicológicas.
b) Fenômenos de experiência meramente individual
Há fatos que podem ser realmente milagres genuínos, mas que só uma determinada pessoa vive e conhece. Tais fatos serão verdadeiros sinais de Deus para a pessoa assim agraciada, mas não poderão ser utilizados pela
apologética como mensagem destinada por Deus a todos os homens. Tais sinais têm algo de incomunicável, pois implicam um tanto de experiência imediata e de intuição, que não se pode enquadrar em um esquema objetivo e válido para o grande público.
c) As moléstias funcionais
As curas de doenças são os fenômenos mais frequentemente apontados como milagrosos. Por isto é que neste setor se impõem rígidas cautelas a fim de não se confundir milagre com outros fenômenos.
As doenças funcionais ou nervosas ou mesmo as doenças orgânicas de origem nitidamente psíquica ou nervosa não vêm ao caso, quando se trata de milagre na apologética ou na teologia. Ao contrário, interessam as lesões orgânicas nitidamente diagnosticadas e tidas como incuráveis pela medicina contemporânea. Caso sejam curadas em um contexto de fé e prece puras, pode-se admitir aí uma intervenção extraordinária de Deus ou um milagre.
Acrescentemos que, dado o conceito de milagre "sinal de Deus", não podem ser tidos como milagres certos fenômenos realizados em contexto indigno de Deus.
OBS: Fé e Sugestão
A expressão "a tua fé te salvou", frequente nos lábios de Jesus (cf. Mt 8,13; 9,2.22; 15,28; 17,20), não quer dizer que os milagres sejam projeções do psiquismo subjetivo do paciente. Há, sem dúvida, casos de cura por auto-sugestão. Todavia, desde que sejam reconhecidos como tais, a Igreja não os utiliza na apologética. Outros casos de cura, porém, não podem ser atribuídos à sugestão; tenham-se em vista os que supõem, comprovadamente, o
câncer, a cegueira, a esclerose...
A fé, de resto, não é sugestão subjetiva. A fé que Jesus louva nos Evangelhos como penhor de salvação, significa abertura para Deus cheia de entrega e confiança. Está claro que uma tal disposição acalma o sistema nervoso do paciente, mas é incapaz de explicar a cura radical do mesmo, quando afetado de certas lesões orgânicas. A autêntica fé, ademais, é precedida por um juízo da razão. Longe de ser cega ou sentimental, ela supõe o conhecimento dos motivos de credibilidade: por que posso crer? Por que crer precisamente em Jesus de Nazaré? Por que crer na Igreja Católica, e não em outra comunidade religiosa? O estudo de tais perguntas exige o funcionamento da razão e da lógica, contribuindo assim para emancipar da sugestão, do sentimentalismo e do fanatismo a autêntica fé cristã.
Que Deus nos abencoe
Claudio
Barca de Jesus
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