1) O Antigo Testamento
JESUS, *nunca* declarou quais livros eram inspirados e quais não eram. Em seus debates contra os saduceus e os fariseus *limitou-se* a citar e comentar somente alguns livros do rol (cânon) que *cada um* destes grupos aceitava. Sua técnica foi seguida pelos primeiros apologistas cristãos (v., p.ex., Justino Mártir): citar apenas aquilo que o adversário admite como autoritário sem, contudo, querer significar que não possa haver outras fontes de autoridade.
O Evangelista Lucas dá pistas de alguns dos livros que sem sombra de dúvida eram considerados inspirados por Jesus e os apóstolos, usando a seguinte divisão: "A Lei de Moisés, os profetas e os Salmos" (cf. Lc 16,29; 24,27.44; At 13,15).
Jesus e os seus Apóstolos adotam em suas pregações a tradução alexandrina; esta parece constituir o Antigo Testamento de Jesus e seus discípulos.
Se verificarmos as 350 citações bíblicas no NT, 300 são tiradas da tradução dos LXX. São citações implícitas de Deuterocanônicos no Novo Testamento:
1)Tobias 12, 15, em Ap 8,2; 13, 21-22, em Ap 21, 18-20.
2)Judite 13, 10, em Lc 1, 42.
3)Sabedoria 2, 18-20, em Mt 27, 43; 7, 25-27, em Hb 1,3; 11, 15; 12, 24; 13, 10-11, em Rm 1, 24; 13, 1 - 9, em Rm 1,20.
4)Eclesiástico 1,10, em 1Cor 2, 9; 5, 11, em Tg 1, 19; 17, 8, em Rm 1, 20; 24, 19; 51, 23-30, em Mt 11, 28.
5)1Macabeus 12, 9, em Rm 15, 4.
6)2 Macabeus 6, 18; 7, 42, em Hb 11, 35.
Das 350 referências que o NT faz do AT, pelo menos 300 referem-se aos livros deuterocanônicos.
Em Hebreus 11,35 lemos que "Algumas mulheres reencontraram os seus mortos pela ressurreição. Outros foram esquartejados, recusaram o resgate para chegar a uma ressurreição melhor".
A quem o autor se refere ao falar de algumas mulheres? Certamente ao filho da viúva ressuscitado por Elias (1Rs 17,22-23) e ao filho da sunanita ressuscitado por Eliseu (2Rs 4,35-36). Porém percorrendo todo o Velho Testamento do Gênese ao profeta Malaquias, somente em 2Mac 7 achamos a referência de alguém que aceitou ser esquartejado crendo na esperança da ressurreição (martírio dos sete irmãos).
Tudo isto nos mostra que Jesus e seus apóstolos, *incontestavelmente* adotaram o cânon extenso dos *judeus de Alexandria* (Septuaginta), o que significa que também aceitaram os 7 livros deuterocanônicos.
Exemplo clássico da aceitação da Septuaginta pelo Senhor e Seus Apóstolos é que o Evangelista diz textualmente que o Salvador nasceria de uma Virgem (como se encontra no texto dos judeus alexandrinos) e não de uma jovenzinha (como afirma o texto dos judeus palestinenses).
É mister notar que há um enorme abismo separando as palavras "virgem" (=nunca manteve relação sexual) e "jovenzinha" (=que nem sempre guarda a virgindade); não são, portanto, palavras sinônimas. As 300 das 350 citações explícitas do NT ao AT seguem o texto alexandrino, inclusive quando este difere completamente do texto hebraico.
2) O Novo Testamento
A redação do Novo Testamento deu-se após a morte do Senhor.
As Epístolas Apostólicas foram os primeiros livros a serem escritos, sendo a primeira delas a Epístola Universal de Tiago Menor (Apóstolo e Bispo de Jerusalém), que foi escrita antes do Concílio Ecumênico de Jerusalém (At 15), por volta do ano 40 a 45 a.C. No entanto, não se pode afirmar que as Epístolas Apostólicas eram de conhecimento de todos os apóstolos.
Porém, em 2Pe 3,16 vemos que os Escritos de Paulo eram considerados canônicos, pelo menos por São Pedro. Mas, podemos verificar que nem todas as cartas Paulinhas entraram para o catálogo do NT, como uma carta que Paulo escreveu aos Coríntios antes da "primeira carta" (cf. 1Cor 5,9), assim aos Filipenses (cf. Fil 3,1).
Também não entraram para o NT a carta de Paulo aos Laodicenses (cf. 1Tess 4,16) e uma carta aos Coríntios que segundo a Tradição foi escrita logo após a "primeira carta" e que o apóstolo faz referência na "segunda carta" em 2Cor 2,3 e que foi perdida.
Na era apostólica circulavam pelas igrejas pelo menos 7 Evangelhos escritos pelos apóstolos (Pedro, Mateus, João, Paulo, Tomé, Filipe ,Tiago (proto-Evangelho) ), o Evangelho de Lucas e o Evangelho dos Hebreus.
O Evangelho de João, com excessão do próprio Autor, não foi conhecido pelos Apóstolos, pois foi escrito por volta de 90 d.C, quando somente São João estava vivo.
O Evangelho de Marcos foi escrito após o martírio dos apóstolos Pedro e Paulo em Roma, quando o discípulo ocupava a Cátedra da Igreja em Alexandria no Egito.
O Evangelho de São João posteriormente ganhou um apêndice escrito por um dos discípulos do Apóstolo (provavelmente São Policarpo de Esmirna) quando este ainda estava vivo. O referido apêndice corresponde a todo Cap 21 deste Evangelho.
O livro de Atos dos Apóstolos escrito por São Lucas teve sua redação iniciada durante o ministério de Lucas junto a São Paulo e terminada antes do Martírio do Apóstolo.
Os últimos livros escritos da era Apostólica foram o Apocalipse (assim como o Evangelho do Apóstolo São João, não foi conhecido pelos demais apóstolos. Porém segunda a Tradição foi Escrita por João o Presbítero e não o Apóstolo) e a Carta aos Hebreus, que quanto ao conhecimento dos Apóstolos segue a mesma regra do Apolocalipse e do Evangelho de São João. Acredita-se que a Carta aos Hebreus foi escrita por Clemente de Roma (3º Sucessor de São Pedro e discípulo deste e de São Paulo) devido à semelhança que esta carta tem com as cartas que Clemente escreveu aos Coríntios. No entanto os estudiosos são unânimes ao afirmarem que esta carta realmente não foi escrita por São Paulo, devido á diferença no estilo, e devido á data que é de 90 a.C, muito após o Martírio do Apóstolo em Roma.
Outros livros também possuíam muita estima na Igreja da era Apostólica (30 d.C a 95 d.C) como Atos de Tomé, Atos de Paulo e Tecla, Carta dos Apóstolos, Apocalipse de Paulo, por exemplo.
Podemos ver que nem mesmo os Apóstolos não definiram e nem puderam definir quais eram os livros que comporiam o que hoje chamados de NT.
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