Quem é este tal do autor Paulo Coelho?

 



Fonte: El Teologo Responde
Autor: Pe. Miguel Ángel Fuentes
Tradução: Rogério Hirota

Estimado em Cristo Pe. Miguel Ángel:


Em minha oficina existe uma pessoa que está se aficcionando muito na leitura de um autor: Paulo Coelho, do qual entendo que é muito sincrético e talvez perigoso, pode-me conceder argumentos para que esta pessoa entenda o perigo para sua fé católica na leitura deste autor?


Obrigado por sua atenção.

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Resposta:

Estimado:

Envio-lhe este artigo tomado da Revista PALABRA, nº 431, maio-2000:

«Paulo Coelho e seu coquitel de espiritualidade»

Por Adolfo Torrecilla


Ele é católico a sua maneira, partidário de uma religiosidade que tem mais parece um coquitel (um quarto da metade de catolicismo, meio kilo de pensamento oriental, um quarto da metade de ocultismo e o resto de experiências gnósticas e esotéricas). O resultado é uma religiosidade vazia de compromisso, na órbita do melifluo new age (nova era), que tranquiliza as conciências, que rebaixa a experiência com a divindade e que supõe uma perigosa estafa religiosa que alguns admiram acríticamente como o paradigma da religiosidade no novo milênio.

O prestigio deste autor brasileiro é tal que inclusive foi condecorado com a Legião de Honra na França e com o Prêmio Crystal Award, outorgado pelo Foro Econêmico de Davos. Na Espanha recebeu no ano passado a Medalha de Ouro da Galícia, condecoração que esteve rodeada de polêmica. (o que tem a ver a literatura de Coelho com Galícia?).


Seu inexplicável êxito literário não foi fulminante. Seus livros, por sua indefinição, começaram a ser editados em pequenas editoras pouco literárias e assim pouco a pouco foi chegando ao grande público. Na Espanha, seus livros foram publicados primeiro na editoria esotérica O Obelisco, logo após no selo Martínez Roca e por último, com a chegada da popularidade e as vendas, pegou num salto a Planeta, onde já existe a "Biblioteca Paulo Coelho", em que se encontram recolhido todos seus livros.


Na Espanha já faz tempo que suas obras sobrepassaram o milhão de exemplares, ainda que todavia estamos distante dos cerca de quatro milhões da França e os mais de sete que foram vendido no Brasil, seu país de origem.


Apesar do avassalador número de vendas, suas relações com a crítica literaria são conflictivas. E é devido a seus livros (e nisso recordamos de outro fenômeno sociológico, Antonio Gala) não suportam uma séria análise crítica. Suas novelas são planas, esquemáticas, com umas tramas que abusam de um didatismo simplório, recheado com mensagens sugerentes (em sintonia com os mediocres livros de auto-ajuda) e repletos de uma epidérmica sensibilidade espiritual.

LITERATURA POBRE

Talvez o segredo de sua massiva aceitação popular esteja, precisamente, na aplastante simplicidade argumental e narrativa, que facilita a leitura de um tipo de leitores pouco exigentes com os produtos literarios. Em seus romances literários, salvo algumas exceções, existem apenas violência e sexo. Também temos que levar em consideração seu estilo, bastante lírico e meloso, repleto de mensagens filosóficas e otimistas sobre a vida e a necessidade da religião.

A mensagem que se repete em suas narrações, especialmente no O Alquimista, seu livro mais emblemático, é que todos podemos ser melhores, que a imortalidade é uma meta que está ao alcance de nossas possibilidades, que temos o direito de que sonhos se realizem e que em qualquer momento de nossa vida temos a possibilidade de nos fundir com a Totalidade, ganhando a ansiada fusão íntima de nossa Alma com o Mundo.

Estas mensagens estão em todos os seus livros. Publicou o primeiro aos 40 anos, O peregrino de Compostela (1987), livro em codigo simbólico sobre as visões esotéricas que teve durante seu percurso pelo Caminho de Santiago enquanto realizava um conjunto de provas esotéricas para ser nomeado cavaleiro da ordem de RAM (Rigor, Armonía (harmonia), Misericordia). Este livro está ambientado em pleno século XX, "e os conceitos de inferno, pecado e de demonio já não tinham o menor sentido para nenhuma pessoa com um mínimo de inteligência", comenta em seu livro.

A FAMA DE O ALQUIMISTA

Depois publicou o romance literário que lhe deu mais fama, O Alquimista, que condensa todo seu pensamento espiritual. Um jovem pastor se encontra com um misterioso personagem que lhe faz viver todos os tipos de experiências sobrenaturais com o intuito de que seus sonhos, com a conspiração de todo o Universo, cheguem bem perto dele. Logo seguiram os livros Brida (1990), A borda do Rio Pedra me sentei e chorei (1994), Maktub (1994), A Quinta Montanha (1996), Manual do Guerreiro da Luz (1997) e o que foi publicado este ano na Espanha, Veronika decide morrer (2000).

SOB A ESTRELA DA NEW AGE (NOVA ERA)

Em seu último romance literário incorpora alguns elementos de sua biografía. É que a vida de Coelho foi muito complicada. Nasce no Rio de Janeiro em 1947. Na juventude teve sérios problemas com seus pais, que se viram obrigados a interná-lo em várias ocasiões num centro psiquiátrico (este é o tema que aborda o livro). Foi compositor de letras de rock e diretor artístico da companhia CBS no Brasil. Em varias ocasiões foi detido pela ditadura militar e expulso de seu país.

Muito jovem perdeu a fé católica e perambulou nos perigosos paraísos artificiais que foram colocados na moda pela cultura hippy. Recuperou a fé em uma viagem a Roma, decisão que confirmou depois de percorrer o Caminho de Santiago. Mas quando Coelho fala da fe católica convem enfatizar: ele é católico a sua maneira, partidário de uma religiosidade que tem mais parece um coquitel (um quarto da metade de catolicismo, meio kilo de pensamento oriental, um quarto da metade de ocultismo e o resto de experiencias gnósticas e esotéricas). O resultado é uma religiosidade vazia de compromisso, na órbita do melifluo new age (nova era), que tranquiliza as conciências, que rebaixa a experiência com a divindade e que supõe uma perigosa estafa religiosa que alguns admiram acríticamente como o paradigma da religiosidade no novo milênio.

Em sua última obra abandona o tom esotérico de sua produção literaria para se centrar em um assunto mais humano e existencial.

POBRE VERONIKA

Veronika é uma jovem da Eslovênia que tenta suicidar-se. Os motivos que obrigam a tomar esta decisão não estão muito claro. A tentativa não dá certo e Veronika é internada em um centro psiquiátrico. Mas nada do que ocorre neste mundo acontece por casualidade, nos diz Coelho. No hospital, graças a la ajuda dos médicos e de uns enfermos que compartem de suas dúvidas e angústias, Veronika descobre que a vida tem outro sentido, outra finalidade, que o amor transforma tudo, que nossos sonhos tem um sentido.


Como no restante de suas obras, o mais determinante é a mensagem, que converte em palavras a aspiração de grande parte da humanidade. A maneira de abordar um tema tão universal é pela via da superficialidade literaria e existencial, com uns personagens de telenovela que se comportam como marionetes nas mãos de um autor onisciente que, antes de tudo, quer sublinhar sua mensagem idealista sobre a existência. Mas ainda que o religioso não ocupe um lugar prioritário, esta como um plano de fundo, difundindo uma nebulosa espiritualidade, onde Deus se converte em uma bonita e ambigua desculpa para que todos os sucessos tennham sentido, o que facilita a busca da auto-realizacão e a segurança pessoal.

FENÔMENO SOCIOLÓGICO

Literaralmente, pouco temos que dizer de Coelho (o pouco já foi dito). Não parece um autor que irá deixar muito vestígio na historia da literatura, ainda que suas vendas sejam milionarias. Mas parece-nos bem que sua literatura e sua mensagem pseudoreligioso são um elaborado produto de nosso tempo, quando o suposto renascer religioso se transforma em alguns casos em uma caótica e sincrética salada de religiões. Místico, gurú, visionário, escritor, farsante...? A melhor resposta está no seu marketing.

Para una nueva consulta: teologoresponde@ive.org

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