A Igreja e a escravidão

 


Autor: Con. Vidigal


Mariana (MG), 3/6/2004 - 11:04


Diante de ataques fortuitos são feitos à Igreja no que tange a escravidão, alguns internautas pediram se escrevesse algo a respeito. Esquecidos os foros de Ciência que a História possui, mandada para o espaço a metodologia científica, através de generalizações arbitrárias, os maiores absurdos estão sendo veiculados sobretudo em certos Cursos Universitários de História. Assertivas inustentáveis se multiplicam numa generalização anticientífica e destituída de fundamento. São aqueles que Clóvis Moura denunciou: "Ao invés de procurarem os arquivos, repetem estereótipos muito cômodos, frutos algumas vezes de nossa inércia mental e outras vezes produtos deliberados daqueles deformadores profissionais de nossa história".


Os hodiernos agressores da instituição fundada por Cristo se acham embalados complacentemente por preconceitos que geram ajuizamentos falsos, sinuosamente esquivos a um confronto com os documentos e fatos que os contradigam. Não se lustram com as águas da verdade. Túrgida fusão de textos fora do contexto e a inevitável distorção que engana e se fixa por meio de chavões cavilosos. O par de opostos fundamental é este: opressor/oprimido. Não sendo assépticos, o produto está prenhe de gérmines deletérios que tentam contaminar a estrutura eclesial. Quem lê tais artigos de revistas e jornais ou perlustra capítulos de certos livros sente logo o ar de precoce necrológico do objetivo estudado. A ânsia de agredir permeia toda a engrenagem de um discurso preconceituoso. Criticas infundadas. Comportamento, fruto da atual conjuntura mental, que se insurge gratuitamente contra os valores, numa tentativa vã de destruí-los.


Viragem que preocupa a quantos amam a verdade histórica, auspiciando o reconhecimento de tudo que foi feito a bem dos pobres por uma entidade teândrica que sempre esteve ao lado dos perseguidos e marginalizados, vicinal dos menos favorecidos. Cumpre, realmente, uma luta contra a regressão que está sendo imposta à História.. Há, porém, bulas papais, documentos e atitudes de bispos denodados, ações corajosas de inúmeros padres que tanto fizeram pela abolição, secundados por cristãos ilustres, lídimos discípulos de Cristo que se empenharam bravamente pelos direitos dos cativos, alforriando-os e insistindo junto aos possuidores de servos que os emancipassem. É impossível ofuscar o que realizaram as Irmandades do século XVIII. No parlamento brasileiro ergueram-se vozes de clérigos cultos e sábios, como o Pe. Venâncio Henriques de Resende, que contribuíram decisivamente para que o sistema escravocrata chegasse ao fim. Tudo isto deve ser divulgado, pois a condição dos escravos mereceu, felizmente, a devida atenção evangelizadora e libertadora da Igreja, que sempre emprestou sua voz a quem não tem vez.


Cônego José Geraldo Vidigal de Carvalho é Professor do Seminário de Mariana e autor do livro A Igreja e a Escravidão - Uma análise documental - Presença Edições -Rio de Janeiro- 215 p.


Fonte: Font, Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

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