A Igreja e o satanismo


 

Autor: D. Estevão Bettencour


A Sra. Mary Schultze tornou-se notória por sua agressividade à Igreja Católica. Via internet alega que a Igreja Católica foi fundada por Constantino em 314 e que o Papa Silvestre 1 (314-335) foi o sucessor de São Pedro. Tais afirmações só podem provir de um ânimo obcecado, pois esquecem que Jesus mesmo fundou a sua Igreja, que Ele entregou ao pastoreio de São Pedro (cf. Mt 16, 16-19) no século 1 e não no século IV (em que viveu São Silvestre).


Além do mais, Mary afirma que altos prelados da Igreja fazem pactos com Satanás assinados com o próprio sangue, à semelhança do que fazem as freiras. Ora as freiras não fazem isso nem, por conseguinte, os prelados.


A sra. Mary Schultze colaborou com o jornal FOLHA UNIVERSAL difamando a Igreja Católica. Continua a fazê-lo através da internet. Sua argumentação é tão inconsistente que nem mereceria atenção. Todavia amigos de PR têm-nos solicitado resposta às suas alegações, pois, como dizia o racionalista Voltaire (t 1778) "Mintam, mintam! Sempre fica alguma coisa". Eis por que passamos a considerar um dos mais significativos pronunciamentos de Mary Schultze, pondo em evidência o total despreparo da senhora para falar da Igreja Católica.


Satanismo No Vaticano, O Refém Do Diabo


Uma ostensiva adoração a Satanás tem-se tornado comum dentro da ICR (Igreja Católica Romana).

Em Apocalipse 13:4, lemos o seguinte: "E adoraram o dragão que deu à besta o seu poder; e adoraram a besta, dizendo: Quem é semelhante à besta? Quem poderá batalhar contra ela?"


A Bíblia diz, no Livro de Salmos (32, 7), que "Um abismo chama outro abismo". A ICR foi fundada oficialmente em 314 d. C., com o rótulo de cristã, pelo imperador pagão Constantino e o bispo cristão apóstata, Silvestre (que na linha dos "sucessores de Pedro" ocupa a segunda cadeira, de 314 a 335). Essa "igreja "foi constituída numa ecumênica mistura religiosa de cristianismo, judaísmo e paganismo.


Como a história se repete, o Ecumenismo trouxe de volta todas as características dos primeiros tempos do cristianismo apóstata, com o Concílio Vaticano II.


A partir do mesmo, alguns membros da alta hierarquia católica têm avançado muito além da perversão dos falsos dogmas da ICR, dedicando-se, de corpo e alma, à adoração do `príncipe das trevas".


Segundo informações de algumas confiáveis testemunhas, Satanás tem penetrado em todos os corredores do Vaticano, até mesmo na Catedral de São Pedro. Muitos padres e bispos têm feito pactos de lealdade ao Diabo, assinando esses pactos com o próprio sangue. E essas acusações não têm partido de escritores ou jornalistas protestantes, desejosos de detonar a ICR, mas de altos prelados do próprio Vaticano. Dizem eles que o satanismo já atingiu um grau tão elevado dentro da ICR, que até mesmo o papado já foi contaminado pelo mesmo e que muitos padres e freiras nos USA - e em todo o mundo - têm feito os seus pactos "hemoplásticos", como no caso das freiras enclausuradas, que assinam pactos de sangue em obediência aos padres e madres superiores.


2. Que dizer?


O texto acima compreende duas partes: uma relativa à Igreja e outra concernente ao satanismo.


2.1. A Igreja


Só existe uma Igreja de Cristo: aquela que ele mesmo fundou e confiou ao pastoreio de Pedro; ver Mt 16, 16-19. Essa Igreja foi perseguida até 313, quando o Imperador Constantino deu aos cristãos a Paz de Milão. Daí por diante a Igreja pôde desenvolver suas virtualidades com plena liberdade sem, porém, trair seu fundador ou sem ceder ao paganismo. Existem vários testemunhos de cristãos que, após Constantino, souberam eximir-se de influências do paganismo sofrendo por causa disto penosas situações. Ver Apêndice p. 499-501 deste fascículo.


O Papa São Silvestre não foi o sucessor imediato de Pedro, pois viveu no século IV; a São Pedro sucederam ainda no século I, Lino, Cleto, Clemente.


Como se vê, a história real é bem diferente da que Mary Schultze refere, esquecendo o texto de Mt 16 e cometendo grave anacronismo.


De resto, a citação bíblica no trecho atrás transcrito é do salmo 42,8 e não do salmo 32,7.


2.2. Satanismo


Gratuitamente a autora afirma que altos prelados e até mesmo o papado estão envolvidos em pactos com o demônio assinados com o sangue do devoto de Satanás... Donde é que Mary tira tal alegação tão vaga e genérica? Seus dizeres perdem toda credibilidade quando Mary escreve: (Prelados se comportam) como no caso das freiras enclausuradas, que assinam pactos de sangue em obediência aos padres e madres superiores". Na verdade, as Religiosa não fazem isto; as suas cartas de profissão são assinadas com tinta. Mary Schultze ignora totalmente a matéria de que trata; alega coisas falsas, que podem impressionar os incautos, mas que não têm consistência, e que depõem não contra a Igreja, mas contra a escritora.


3. Conclusão


Mediante esta breve análise do texto de M. Schultze tencionamos demonstrar que tal escritora não tem autoridade para falar da Igreja Católica. Ela inventa ou repete o que encontra escrito por outros, sem interesse pela verdade como tal, mas movida pelo ódio. Fica a pergunta: é isto que se chama "servir a Cristo"? Não é muito mais "servir a Satanás", que é o pai da mentira (ver Jo 8,44)? Onde estaria realmente o Satanismo?


APÊNDICE


Eis três relatos que evidenciam a resistência dos Bispos cristãos à influência do Imperador e da cultura pagã:


1. S. AMBRÓSIO DE MILÃO (t 397)


Desde o início da sua missão pastoral, Ambrósio mostrou-se arauto da ortodoxia em oposição ao arianismo. Frente à autoridade imperial manteve-se intrépido. Isto transparece em alguns episódios mais salientes da sua atividade.

Assim a estátua da deusa Vitória fora retirada da sala das sessões do Senado em 384 por ordem do Imperador Graciano. Eis, porém, que a maioria dos senadores, sendo pagã, chefiada pelo retor Simaco, pleiteava a recondução da imagem ao seu lugar de honra; Ambrósio se opôs veementemente a tal gesto, obtendo a vitória do bom senso cristão.


Em 390 deu-se uma revolta do povo contra o Imperador Teodósio 1 em Tessalônica (Grécia) por motivos desconhecidos; o monarca então mandou massacrar 7.000 homens. Em conseqüência o Bispo escreveu uma carta ao Imperador mostrando-lhe a hediondez do seu crime e a necessidade de fazer penitência pública para poder entrar de novo na igreja e participar do culto sagrado. Teodósio rendeu-se à intimação do Bispo, cumpriu a penitência, foi absolvido por ocasião do Natal de 390.


Ambrósio, amigo e conselheiro de três Imperadores, foi o primeiro Bispo solicitado por soberanos para sustentar o seu trono vacilante.


2. S. BASÍLIO DE CESARÉIA (t 379)


Em breve Basílio, feito Bispo de Cesaréia, conquistou a amizade do seu povo, pois construiu hospitais e albergues, que constituíam como que uma nova cidade. Mostrou-se também avesso ao arianismo, que gozava do apoio do Imperador Valente. Este então mandou-lhe o prefeito Modesto para intimidá-lo com ameaças de confiscação dos bens e exílio, caso não emitisse uma declaração de adesão à causa ariana. Ao que Basílio respondeu:


"A confiscação dos bens não afeta um homem que nada possui, a menos que queiras esses míseros trapos que vês e alguns poucos livros, pois estas são todas as minhas riquezas. Quanto ao exílio, não sofrerei, porque não estou preso a nenhum lugar, não é minha a terra onde estou atualmente e será minha qualquer terra aonde possa ser levado, ou, melhor ainda: toda a terra é de Deus, da qual somos hóspedes de passagem. As torturas? Que efeito podem ter quando não há corpo? A menos que tu queiras falar do primeiro golpe, o único do qual és senhor. Em suma, a morte será, para mim, uma benfeitora, pois me enviará mais rapidamente àquele Deus para o qual vivo e por quem sou governado, para o qual já morri em grande parte e ao qual já há muito tempo desejo ter acesso".


Respondeu o prefeito Modesto:


"Ninguém até hoje me apresentou semelhante linguagem e me falou com tanta liberdade".


Replicou Basílio:


"Estás surpreso porque nunca enfrentaste um Bispo... Quando estão em jogo Deus e os interesses dele, o resto não tem valor, só consideramos a Ele. O fogo, o ferro, os animais ferozes, as unhas que dilaceram a carne vêm a ser as nossas delícias e não o nosso pavor. Dito isto, podes injuriar, ameaçar, fazer tudo o que quiseres: usa do teu poder e dá a saber ao Imperador que nem com a violência nem com tentativas de persuasão nos farás aderir à impiedade, mesmo se tuas ameaças se tornarem mais violentas ainda" (Migue grego 36, 56013; trata-se de um relato feito porS. Gregório de Nazianzo em suas Orações 43, 49).


Estas declarações calaram fundo no ânimo do Imperador, que revogou o decreto de sanções contra Basílio.


3. S. JOÃO CRISÓSTOMO (t 407)


João Crisóstomo censurava a luxúria e o fausto da corte de Constantinopla, onde reinava a Imperatriz Eudóxia. Em 404, na festa de S. João Batista, começou sua pregação com os seguintes dizeres: "Mais uma vez Herodíades se deixa levar, mais uma vez dança, mais uma vez ela requer a cabeça de João sobre a bandeja". Os inimigos do pregador tomaram tais palavras como alusivas a Eudóxia e o acusaram de haver ilegitimamente voltado do exílio e deram-lhe ordem de se abster de qualquer função pastoral; já que o Patriarca não obedecia, mandaram prendêlo durante a vigília de Páscoa de 404, quando Crisóstomo se preparava para celebrar o Batismo dos catecúmenos. Aos 9 de junho um magistrado intimou João a deixar imediatamente a cidade - coisa que realmente ele fez.


O Patriarca foi levado para Cucuso na Armênia, onde permaneceu três anos. Em breve, porém, os fiéis de Antioquia foram visitar seu antigo pregador e estimado pastor. Isto mais irritou os adversários de Crisóstomo, que resolveram abreviar seus dias. Do Imperador Arcádio obtiveram a ordem de mandar o santo Bispo para a extremidade oriental do Mar Negro. Vencido pelo cansaço e pelo incômodo dos caminhos que era obrigado a percorrer nas intempéries do clima, Crisóstomo faleceu durante a viagem, antes de chegar ao seu destino, aos 14 de setembro de 407.


[D. Estêvão Bettencourt - Pergunte e Responderemos - novembro de 2003]

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