A Igreja não é a Babilônia da Biblia



Algumas seitas protestantes gostam de identificar a prostituta do Apocalipse com a Igreja Católica Apostolica Romana. Essa identificação é uma grosseira blasfêmia, porque, para o autor do Apocalipse, a rameira personifica a força do poder do mal que persegue os santos. A Igreja Católica, apesar de seus defeitos humanos, luta pelo bem e pela justiça no mundo. É antievangélico denegri-la com falsas acusações.


Seguindo-se o pensamento do autor, ter-se-ia de perguntar onde está hoje essa prostituta, que leva os povos à prostituição religiosa, afastando-os de Deus e dos valores do Evangelho e perseguindo os que lutam pela justiça. Talvez essa rameira tenha várias residências luxuosas em nosso mundo; ela por certo não vive entre os pobres. Antigamente, a rameira incitava à idolatria do culto imperial; hoje, incita à idolatria do material e do próprio eu.


A apresentação da cidade de Roma e do Império Romano sob a imagem da prostituta era provavelmente muito significativa para os leitores cristãos do final do século I. Os escritores romanos, Juvenal, em suas "Sátiras" (110-130 d.C.), e Tácito, em seus "Anais" (c.150 d.C), falam da então famosa imperatriz romana Messalina, esposa do imperador Cláudio, que reinou em meados do século I. Messalina foi uma verdadeira prostituta, de vida sexual tão escandalosa e insaciável que o marido teve de matá-la. Para os cristãos, Messalina era símbolo da corrupção romana, uma figura que simbolizava bem sua cidade.


Por que Roma é chamada de a grande rameira? Essa caracterização faz referência à Igreja Católica Romana?

O autor do Apocalipse pensava nos desafios e perseguições que seus leitores cristãos enfrentavam. O principal era a perseguição do Império Romano, empenhado na implantação do culto imperial. Na linguagem bíblica, a prostituição tem sentido religioso; a relação de Deus com seu povo (Israel) e com a humanidade compara-se a um matrimônio; por isso, a idolatria é uma forma de adultério ou de prostituição religiosa. Quando os profetas diziam que todos os israelitas eram adúlteros não pensavam que eles andassem atrás das mulheres dos outros, mas de Baal, um falso deus. O Império Romano, ao impor aos povos conquistados a religião imperial, os impelia a essa prostituição religiosa.


Para o autor do Apocalipse, Roma era a encarnação dos males da história que afligiam o novo povo de Deus, a comunidade cristã; era uma nova Babilônia, Nínive e Sodoma. No capítulo 12, ele apresentou a visão da mulher - a Igreja - perseguida pelo dragão. A grande rameira (Ap 17,1-7) é a antimulher e anti-igreja. A Igreja é a virgem, a esposa do Cordeiro; sua inimiga é a rameira, a esposa de Satanás.


A rameira vai como uma deusa montada na besta, nos ombros de Satanás, que a sustém e apóia. Está vestida de vermelho, símbolo do luxo e da ostentação que encobriam a pobreza e o vazio espiritual do Império Romano. As prostitutas de Roma, tal como essa rameira, Costumavam usar um diadema com seu nome. Alguns apontam que toda a descrição da rameira é feita com elementos atribuídos no livro do Êxodo ao santuário de Deus e aos trajes do sumo sacerdote, razão pela qual ela seria uma paródia blasfema de tudo o que é divino (cf. Ex 25,3-7; 26,1.31.36; 27,16; 28,5.15.23).


O nome da mulher é "Mistério" (17,5) porque não se refere literalmente a Babilônia, mas a Roma. Em alguns manuscritos gregos antigos, o título da mulher aparece escrito com letras maiúsculas: "Babilônia, a grande, mãe das prostitutas e das abominações da terra" (17,5); é provável que vissem nesse título um valor numérico cujo significado desconhecemos.

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