A questão das investiduras

 


Fonte: Paginas Oriente


Um dos grandes problemas da Igreja no século XI era o seu aspecto feudal. Os bispos e arcebispos, ao administrarem as terras eclesiásticas, agiam como verdadeiros senhores feudais e muitas vezes desfrutavam grandes riquezas. Muitas pessoas , sem a menor vocação religiosa, eram atraídas por aqueles cargos eclesiásticos que proporcionavam riqueza e poder. Ao mesmo tempo os imperadores, os reis e os senhores feudais, intervinham decisivamente na eleição dos dignatários da Igreja, para favorecer aqueles que lhes fossem leais. Contra esses abusos, contra a simonia, contra o laicismo clerical, insurgiu-se vigorosamente o grande Papa Gregório VII, antigo clérico da abadia Cluny (França), comunidade religiosa onde os monges exerceram, pelo exemplo de sua cultura e de sua piedade, grande influência moralizadora sobre a época.


Nessa época o papado sofria forte influência dos imperadores, uma vez que os Estados Pontifícios faziam parte do Sacro Império Romano Germânico, fundado por Oton I, em 962.


O Papa Gregório VII (período de pontificado: 1073 a 1085) , anteriormente secretário de seus antecessores, tinha iniciado um movimento pela emancipação da Igreja dos poderes laicos. Dotado de grande devoção, possuía uma perfeita noção de seus direitos como Papa. Entendia que seu poder era absoluto, e como chefe da cristandade, competia-lhe sua total direção. Seus primeiros atos foram a renovação da condenação contra os sacerdotes simoníacos e a expulsão, da Igreja, dos bispos indignos. Em seguida proibiu que qualquer autoridade religiosa recebesse seu cargo das mãos de um leigo.


Esta última resolução atingia especialmente ao imperador do Sacro Império Romano Germânico, em cujos domínios havia grande número de feudos religiosos. Henrique IV, em defesa da autoridade imperial, declarou que a investidura deveria ser dada pelo imperador. Surgia, assim, a questão das investiduras e iniciava-se a luta entre o império e o papado.


Apoiado por uma assembléia de bispos alemães sob seu controle, Henrique IV resolveu desafiar as ordens pontifícias. Gregório VII respondeu com a excomunhão do imperador, ao mesmo tempo que considerou os seus súditos desligados do juramento de fidelidade e o trono vago.


Os senhores feudais alemães, que temiam o crescente poderio do imperador, apoiaram Gregório VII e deram a Henrique o prazo de um ano para uma reconciliação, sob pena de elegerem um novo soberano. Henrique cedeu e, atravessando os Alpes, foi penitenciar-se em Canossa, onde, vestido como um simples peregrino, durante três dias ficou esperando o perdão pontifical.


Henrique IV foi perdoado e levantada sua excomunhão, comprometendo-se , então, a não interferir mais nas eleições dos bispos. No entanto, seu arrependimento não era sincero e refletia apenas um interesse político. Quando conseguiu consolidar novamente seu poder na Alemanha, invadiu a Itália, estabeleceu um antipapa e obrigou Gregório VII a refugiar-se em Salermo, no sul, onde morreu pouco depois, amargurado, mas pleno de energia espiritual.


O conflito continuou e quando não mais existiam os protagonistas da questão das investiduras, foi feito um acordo entre os príncipes alemães e o Papa, que passou à História com o nome de Concordata de Worms (1122). O Concílio de Latrão, portanto, um ano após, encerra a questão das investiduras e determina a proibição da simonia, isto é, venda ilícita de coisas sagradas ou espirituais, tais como sacramentos, dignidades e benefícios eclesiásticos. Nesse meio tempo, em 1231 - 1233, por um decreto do Papa Gregório IX, a Santa Inquisição adquiriu funcionamento próprio para coibir heresias, tais como, feitiçaria, usura, blasfêmia, etc. e seria restabelecida em 1542 com a finalidade principal de deter com violência o avanço protestante em Portugal, Espanha e Itália. (saiba mais sobre a inquisição)


Em 1179, o terceiro Concílio de Latrão determina leis acerca da eleição papal e nomeação dos bispos.


Na fase final da luta entre os Papas e imperadores, destaca-se a França. Felipe, o Belo (1285 - 1314), neto de São Luís, havia dado ao trono francês a autoridade que lhe faltava devido ao poderio das classes nobres. Seus conselheiros tinham sido juristas impregnados de direito romano e, consequentemente, contribuíram para que a monarquia feudal se transformasse em uma monarquia absoluta, nos antigos moldes romanos.


O absolutismo do soberano francês chocou-se com as idéias do Papa Bonifácio VIII que, como continuador de Gregório VII e Inocêncio III, tinha conceitos bem definidos a respeito da soberania papal. Depois de choques causados pela imposição de tributos ao clero, e pela nomeação de um prelado papal que não contava com a confiança de Felipe, o Belo, o Papa foi aprisionado por aventureiros italianos e soldados franceses em Anagni, vindo a falecer logo depois. Foi escolhido para sucedê-lo o arcebispo francês de Bordéus e a capital da Igreja transferiu-se para Avinhão, na França.

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