Alegra-te cheia de graça , analisando a saudação angelical

 



Os fiéis católicos têm por hábito saudar a Virgem Maria com as palavras do anjo "Chaîre Kecharitoméne" (Lc 1,28), que são geralmente traduzidas por "Ave Maria, cheia de graça". Todavia, o texto grego diz literalmente: "Alegra-te..." e não "Ave" ou "Salve".


A diferença de traduções é importante, pois o convite à alegria dirigido a Maria faz eco ao mesmo convite dirigido freqüentemente, no Antigo Testamento, à Filha de Sião ou ao povo de Israel (cf. Is 12,6; 44,23; 49,13; 54,1...). O motivo da alegria proposta é a vinda do Messias e da salvação a ser realizada por Ele. A Filha de Sião assim interpelada é tida como a Mãe que dará à luz o Messias (Jr 4,31; Mq 4,10). De modo especial vem ao caso o texto de Sofonias 3,14-18 como pano de fundo do anúncio do anjo a Maria:


Sf 3,14-18: «Alegra-te, Filha de Sião. O Senhor está no meio de ti. Não temas, Sião. O Senhor teu Deus está em teu seio como Salvador, o Senhor Deus de Israel».


Lc 1,28-33: «Alegra-te, cheia de graça. O Senhor está contigo... Não temas, Maria. Conceberás em teu seio... E o chamarás Jesus (Salvador), e reinará».


Recolocando, pois, a saudação do anjo sobre o seu fundo de Antigo Testamento, verifica-se algo de muito profundo: Maria, interpelada por Gabriel, vem a ser a representante, por excelência, da Filha de Sião; é a autêntica Mãe do Messias. Daí a exortação à alegria, que São Lucas tanto recomenda em seu Evangelho (cf. Lc 1,14.28.41.44.58; 2,10; 10,17-23; 15,6.9.10.23.32; 24,21.54...). Desponta a aurora da salvação; não há porque temer (observação também feita aos pastores em Lc 2,10). Maria, grávida, vai ter com Isabel, cujo filho «exulta de alegria no seio materno» (Lc 1,41.44).

Assim toda a história do Antigo Testamento conflui para Maria Santíssima. Ela é o ponto final que compendia em si a expectativa dos Patriarcas, as angústias dos justos à espera do Messias, a paciência do povo de Deus... E ela responde ao Senhor que lhe fala, com as palavras "Génoitó moi" (Faça-se em mim), verbo no modo optativo, que significa: «Oxalá realize o Senhor em mim a sua obra conforme a palavra do anjo» (Lc 1,38). Esta resposta exprime ardente desejo ou prece e plena disponibilidade para o serviço do Senhor, ainda que apresentado misteriosamente. Diante do inédito, Maria se curva, porque «para Deus nada é impossível» (Lc 1,37). Aliás, já no Antigo Testamento, o Senhor Deus revelou que a salvação do homem é possível, mesmo quando parece inexeqüível (cf. Gn 18,14; Jr 32,21).

É, pois, com razão que a Igreja se volta para Maria neste mês de maio, venerando-a em sua grandeza humilde, e pedindo-lhe que continue a exercer o seu papel de Mãe do Messias, pois Este tem um Corpo prolongado, que é a comunidade dos fiéis, ou seja, cada cristão congregado na Comunhão dos Santos.


«Alegra-te, Filha de Sião, cheia de graça...!»


E.B.


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