As igrejas protestantes e a Igreja Católica

 


Autor: Dom Amaury Castanho


Jundiaí (SP), 2/12/2003 - 08:33


Tendo chegado por primeiro, ao Brasil, os luteranos, episcopalianos, presbiterianos e metodistas, tidos como "históricos", acabaram perdendo espaço para as Igrejas "pentecostais", entre elas a Assembléia de Deus, a Congregação Cristã do Brasil, a do Evangelho Quadrangular, a do Reino de Deus e milhares de outras. Os primeiros totalizam, como já dissemos, 8.477.068 e os segundos, informa o Censo do ano 2000, chegam a 17.975.106.



O fato faz grande diferença. As Igrejas "históricas" não só estão mais próximas da fé católica mas, também, abertas ao ecumenismo, à oração, reflexão e ação comum. As "pentecostais", tanto em sua estrutura organizacional, quanto na fé que professam e no plano prático, continuam negando-se ao diálogo e à colaboração ecumênica com a Igreja católica e as "históricas".



As Igrejas "históricas" surgiram nos séculos XVI e XVII e as "pentecostais" são do século XIX. De comum entre si, têm como fonte da fé somente as Escrituras Sagradas, o "livre exame" da mesma pelos seus fiéis, a convicção de que a justificação vem pela fé e não pelas obras. Partilham todos a negação da autoridade da Igreja católica na hermenêutica bíblica, como guardiã da Palavra de Deus escrita, da Tradição divino-apostólica como caminho de algumas poucas verdades da fé e moral cristã. Isso apesar de todos terem como nós, no Evangelho de São João, a clara afirmação segundo a qual ele escreveu para que crêssemos que Jesus é o Filho de Deus, porém omitiu muitas outras coisas ditas e feitas por Ele, não contidas nos Evangelhos (Jo 21, 24-25).



Os luteranos, presbiterianos e anglicanos, conhecidos como episcopalianos entre nós, surgidos no século XVI, e os metodistas do século XVII, contam, como nós, com presbíteros e bispos. Os presbiterianos, calvinistas na Europa, rejeitam o episcopado, contando apenas com diáconos e presbíteros. Os "pentecostais" rejeitam esses ministérios hierárquicos valorizando o culto ao Espírito Santo, os seus carismas e dons conferidos a todos da comunidade. Esta elege um dos seus membros para a presidência temporária das celebrações da fé e outros encontros. São conhecidos como congregacionais. Minimizam a imposição das mãos pelos hierarcas, ignorando a sucessão apostólica, mesmo que conste do Credo comum a todos, desde os primeiros séculos do cristianismo.



As diferenças são enormes, portanto, com conseqüências práticas de grande importância. Entre elas é relevante o fato de serem as Igrejas "históricas", como dissemos acima, ecumênicas e, as "pentecostais", contra o ecumenismo. Afinal, estas, fundamentalistas na exegese bíblica, deixam de levar em conta a Oração Sacerdotal de Cristo, em que Ele suplica: "Pai, que todos sejam um como Tu e Eu somos um, para que o mundo creia que me enviaste" (Jo 17, 21). É nessa solene e bela prece das últimas horas de Cristo entre os Apóstolos que se enraíza o Movimento Ecumênico.



Em recente e interessante artigo sobre o ecumenismo, o Pastor da Igreja da Irmandade, José Roberto Inhauser, que escreve regularmente no "Correio Popular", de Campinas, recordava entre outros o ecumenismo por ele chamado de base e conciliação, de diálogo e cooperação, de celebração e unificação. Este último continua sendo, sem dúvida, o mais avançado, pois objetiva a união das Igrejas cristãs depois que se separaram no Oriente e no Ocidente. No Brasil, como na Europa e EUA, a prática ecumênica tem levado freqüentemente à oração comum, à reflexão teológica e a uma ação conjunta na defesa da dignidade e dos direitos humanos, no empenho pela solidariedade e superação das injustiças sociais.



Em nível nacional, temos há anos o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, CONIC. No Estado de São Paulo, em nossa Diocese e outras, vem funcionando o Movimento Fraterno de Igrejas Cristãs, MOFIC. As Igrejas evangélicas que os integram caminham lado a lado com a Igreja católica, tendo já uma bela história de colaboração em cultos de louvor e ação de graças, na reflexão entre teólogos e biblistas. A Campanha da Fraternidade do ano 2000 pode ser tida como um passo histórico na linha da colaboração e lenta reconstrução da unidade perdida. Caminhou-se muito na linha do reencontro no essencial, respeitadas as legítimas diferenças de culto e disciplina.



É lamentável e, certamente, antecipam um futuro de difícil convivência no Brasil, na América Latina e, também, na África, a agressividade que as Igrejas "pentecostais", mais numerosas e de visível expansão, teimam em manter. Pessoalmente, penso ser incompreensível que cristãos se neguem a orar em comum o Pai-Nosso! Que não queiram dar-se as mãos e dialogar! Não consigo entender como possam ficar tranqüilas em seu radicalismo, Igrejas que crêem em Cristo, homens e mulheres que ouviram do Mestre o "amai-vos uns aos outros como Eu vos amei, nisto todos conhecerão que sois meus discípulos" (Jo 15, 12).



Continuam caindo no vazio as providências que, em diversas oportunidades, tomei visando a um diálogo institucional e respeitoso com o Conselho de Pastores de Jundiaí. Os passos de boa-vontade e as mãos estendidas, ainda não sensibilizaram a Pastores e fiéis das Igrejas "pentecostais". Quem perde com isso é o cristianismo. São os "pentecostais". É o Brasil...



Fonte: Font, Dom Amaury Castanho - Bispo Diocesano de Jundiaí

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