Conceitos inverosímeis e Inconciliáveis

 


Autor: John Nascimento


Isto não é doutrina, mas apenas um conjunto de divagações donde possamos finalmente tirar alguma doutrina.


Conceitos Inverosímeis, são aqueles conceitos que não têm nenhum jeito de serem verdadeiros dentro da linguagem humana e que, portanto, se não podem conciliar, pela própria natureza e definição das coisas, e por não estarem de harmonia com a realidade.


Assim, não se pode dizer «um quadrado redondo» ou uma «circunferência quadrada», porque, filosoficamente falando, é uma «contradição nos termos».


Também se não pode dizer que alguém adormeceu tranquilo e «acordou defunto», pela mesma razão.


Ora bem.


Eu uma vez li uma história inverosímil que essencialmente rezava assim :


«Um frade franciscano saiu de manhã do seu convento, para ir pregar nas redondezas.


Caminhou e pregou durante todo o dia e, ao cair da noite, quando pensava voltar ao seu convento, sentiu-se cansado, recostou-se no bosque e adormeceu profundamente...


Quando acordou no dia seguinte – (pensava ele) – estranhou muito o lugar onde se encontrava, porque viu tudo diferente à sua volta, e começando a andar, mais ou menos vagamente, sem reconhecer nada do ambiente em que se encontrava, começou a ficar inquieto.


Quando ia a chegar ao lugar mais próximo, que poderia ser o do seu convento, não sabendo já onde ele ficava, perguntou a alguém.


Afinal, ali bem perto havia um convento franciscano, mas não era nada do que ele deixara na véspera, era um convento franciscano, sim, mas era um edifício muito diferente e muito grande.


Resolveu entrar e perguntou ao irmão porteiro, que ele, muito admirado, não conhecia :


- É aqui o convento dos franciscanos ?


- É sim, respondeu o irmão porteiro.


E o frade continuou :


- Posso falar com o Padre Superior, D. Roberto ?


E o irmão porteiro, ficou a suspeitar das boas intenções do frade e observou :


- Mas o Padre Superior não se chama D. Roberto...


Como as coisas se estavam a complicar o frade resolveu dar a sua identificação, dizendo :


- Sabe ? Eu saí daqui, isto é, do meu convento, que não era bem este, ontem de manhã para pregar, e hoje ao voltar e procurar o meu convento, já o não reconheço, porque à minha volta tudo está mudado. O meu nome é Junípero, o meu Superior era D. Roberto e o irmão porteiro era o Gilberto...


Perante esta identificação, que gerou uma trapalhada, ficou tudo em alvoroço e logo se fizeram diligências para encontrar, nos Anais da História daquele convento, um Padre Superior que se chamasse D. Roberto...


Não vale a pena entrar em pormenores, mas vamos apenas tentar encontrar a conclusão.


Pois a conclusão foi esta :


O D. Roberto, do convento cujo porteiro era Gilberto e onde havia um irmão chamado Junípero, tinha sido há 300 anos.


Em nota dizia-se :


O irmão Junípero saiu a pregar numa bela manhã, e não voltou mais, nem nunca foi encontrado.


Um história inverosímil e inconciliável, para os nossos conceitos de tempo, de lugar e de movimento.


Onde é que esteve o irmão Junípero durante 300 anos, alheio ao passar do tempo e completamente desenquadrado do ambiente do seu convento e dos seus irmãos, 300 anos mais novos ?


Mas esta história inverosímil serve para reflexões, porventura inverosímeis para todos nós, mas sobre as quais podemos debruçar-nos e tentar construir uma profunda reflexão...


No conceito de «Eternidade», não conseguimos colocar o conceito de «Tempo»; e se aplicarmos conceitos de tempo ao conceito de eternidade, podemos dizer heresias ou disparates.


Se perguntarmos porque é que Deus não criou o tempo antes ou depois, dizemos um disparate porque antes da criação não havia antes nem depois.


Quando uma pessoa morre, deixa de estar no tempo para entrar no conceito de um Deus eterno; e assim, como é que se conta, por exemplo, o tempo ou duração da purificação no Purgatório, como é que se conta a dimensão da vida eterna ?


Depois da morte, para os que morrem já não há dia e noite, horas e minutos, não há tempo nem movimento...


Se para Deus não há passado nem futuro, mas tudo é presente desde a criação do primeiro homem até à morte do último, logo que nós estivermos na Visão Beatífica, e participamos também da eternidade de Deus, tudo será um presente absoluto. (eu ia a dizer um presente contínuo, mas era um disparate porque contínuo supõe movimento e tempo)...


Assim, voltando à nossa história inverosímil do irmão Junípero, imaginemos que, logo depois da nossa morte, nos vamos encontrar com toda a humanidade dos homens do passado e do futuro, que, em termos de tempo por cá estiveram talvez biliões de anos, mas que, em termos de eternidade estaremos todos presentes ao mesmo tempo, isto é, simultaneamente presentes.


Isto dá que pensar e, por nos parecer inverosímil e inconciliável, ficamos sem uma resposta que satisfaça as nossas mais ardentes aspirações humanas, quanto aos conceitos de «Tempo» e de «Eternidade»...


Que coisas maravilhosas nos esperam depois desta vida, no conceito de eternidade em que ficaremos mergulhados na Visão Beatífica.


Vale a pena fazer tudo por tudo para podermos um dia partilhar com todos os nossos irmãos da Eternidade de Deus !


Mas iremos continuar com estes conceitos.

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