Evangélicos - Por que se expandem ?

 


Autor: Dom Estevão Bettencourt


Em Síntese : Uma reportagem de SUPERINTERESSANTE apresenta o histórico da chegada dos protestantes ao Brasil em três ondas: o protestantismo histórico do século XIX (luteranos, anglicanos, metodistas ... ), os pentecostais no começo do século XX (Assembléia de Deus, Congregação Cristã, Evangelho Quadrangular ... ) e neopentecostais na segunda metade do século XX (IURD, Deus é Amor, I. da Graça...).


As principais causas da rápida expansão do protestantismo seriam:


1) as promessas de graças portentosas feitas ao povo sofrido:


2) o empenho dos pregadores protestantes, alguns dos quais fazem da religião um negócio lucrativo.


No final de sua explanação o repórter cita a opinião de certos autores que julgam ser o pulular religioso de nossos dias um sinal de rejeição da Religião como tal.


A revista SUPERINTERESSANTE, edição de fevereiro de 2004, pp, 52-61, publicou minuciosa reportagem de Sérgio Gwercman sobre a expansão do protestantismo no Brasil; a capa de rosto da revista promete indicar “o que essa expansão significa para o futuro do Brasil e do mundo”, mas o repórter não chega a cumprir esse propósito. Nas páginas subseqüentes voltaremos nossa atenção para alguns traços da reportagem.


1 – A expansão do Protestantismo no Brasil


As investidas calvinistas de holandeses no Nordeste e de franceses no Rio de Janeiro (século XVI) não tiveram repercussão; apenas é de notar que o primeiro culto protestante celebrado no Brasil teve seu lugar em 1557.


A migração protestante para o Brasil começou propriamente no século XIX com a vinda das denominações ditas “históricas”(luteranos, anglicanos, metodistas ...). Esta primeira onda foi reforçada por uma segunda onda constituída por pentecostais no começo do século XX (Assembléia de Deus, Congregação Cristã do Brasil, Evangelho Quadrangular...). A terceira onda é a neopentecostal (IURD, Igreja da Graça, Deus é Amor ..), na segunda metade do século XX.


A terceira onda é bem mas liberal do que a segunda; aprecia mais os valores desse mundo, inclusive o bem-estar material. Há pastores que ensinam aos fieis como ficar ricos; sim, pagando o dízimo e fazendo suas ofertas, o fiel pode obrigar a Deus a resolver os problemas que afligem o crente; tal é a teologia da prosperidade. Eis o que observa o repórter Gwercman:


“O neopentecostalismo ganhou o apelido de ‘fé de resultados’. A teologia da prosperidade faz o fiel encarar Deus como um Office-boy, diz o cientista da religião e pastor Paulo Romeiro, autor de – Supercrentes-O Evangelho Segundo os Profetas da Prosperidade -”. ‘O crente dá ordens e determina o que pretende. Não há qualquer reconhecimento das fragilidades humanas e de suas necessidades em relação a um Deus superior’, afirma Romeiro. No Brasil, além da Universal, a Renascer em Cristo, a Sara Nossa Terra e a Internacional da Graça de Deus adotam a teoria da prosperidade.


A força da enxurrada com que o neopentecostalismo cresceu desorganizou todo o protestantismo. ‘Há uma verdadeira perda de identidade do movimento evangélico mundial. O pentecostalismo flexibilizou suas exigências comportamentais e até os protestantes históricos passaram a aceitar a participação mais ativa do fiel no culto e algumas manifestações sobrenaturais “, afirma o pastor batista Joaquim de Andrade, pesquisador da Agencia de Informações da Religião. Mais e mais, boa parte do mundo protestante aceita a teologia da prosperidade”(págs 55-58)


Pergunta-se agora: Por que as novas denominações protestantes crescem tanto no Brasil?


2 – As causas da expansão


Houve quem quisesse explicar o avanço como promovido pela CIA norte americana desejosa de refrear a “Igreja Católica Progressista” do Brasil. Os novos movimentos religiosos seriam alheios á política. – Esta posição está hoje em dia superada.


Duas são as principais causas que o repórter aponta:


2.1 – Oferta de soluções


A cosmovisão de muitas novas denominações vê o mundo como um campo de batalha em que pelejam Deus e o diabo. Não somente o pecado, mas todas as desgraças são atribuídas á intervenção do maligno: ora, dizem, é na igreja, mediante o exorcismo e as preces dos pastores que se resolvem os problemas da população mais humilde, que não pode enfrentar os custos da medicina convencional; é atraída por essa proposta religiosa.


2.2 – O empenho proselitista dos pastores


Os missionários protestantes são animados pelo zelo da pregação. Este zelo nem sempre é puramente religioso: pode ser movido por interesses financeiros, pois a religião hoje em dia se tornou um negócio lucrativo, como observa Sergio Gwercman:


“Templo é dinheiro’- diz a maldosa adaptação do ditado popular. Deus é o caminho, Edir Macedo é o pedágio’- diz outra. Na cabeça de muita gente, as igrejas evangélicas são ótimas opções de carreira para quem pretende enriquecer facilmente. Não dá para negar que muitos realmente ganharam dinheiro com a fé alheia – em especial os líderes das grandes igrejas. Como e qualquer empresa moderna, pastores hábeis trazem muito dinheiro para a igreja ganham bem – ninguém confirma a informação, mas comenta-se que alguns salários se parecem com os de astros de futebol, na casa de várias dezenas de milhares de reais (pág. 58)”.


Sergio Gwercman conclui sua reportagem propondo uma sentença que pouco verossímil parece:


“Embora esses episódios posam dar a impressão de que o fanatismo religioso esteja em alga no Brasil, muitos especialistas defendem a tese de que o crescimento evangélico seja um indicio do contrario: de que cada vez mais gente rejeita a religião. É o que sugerem pesquisas mostrando concentrações de evangélicos nas mesmas regiões onde há altos índices de pessoas ‘sem religião’- caso do estado do Rio de Janeiro e da zona leste paulista” (pág. 60)


A explanação de Sergio Gwercman leva a pensar.


3 – Refletindo ...


Três considerações podem ocorrer ao leitor:


1) Sergio Gwercman, como outros autores, cai no erro de dizer que no século XVI se vendiam indulgências; usa de linguagem zombeteira ao tocar no assunto. Ora, nunca houve venda de indulgências nem de perdão dos pecados. A propósito veja-se PR 437/1998 pág 457ss.


2) Entre as causas do avanço protestante não se pode deixar de mencionar a ignorância religiosa de muitos fieis católicos incapazes de perceber as falácias da pregação protestante. Faz-se urgente a criação de novos meios de formação doutrinaria do laicaro católico.


3) “o que essa expansão significa para o futuro do Brasil e do mundo”. Este complexo aspecto da temática não foi abordado pelo repórter, vamos faze-lo limitando nossas considerações ao futuro do Brasil. A expansão do protestantismo moderno é a vitória de forte senso religioso desvinculado da razão e posto a serviço das emoções e do subjetivismo; o principio que atribui a cada crente o direito ao livre exame da Bíblia, é responsável pela multiplicação das denominações protestantes independentes entre si (algumas resultam do desentendimento entre pastores, um deles então funda uma nova igreja). Assim vai-se diluindo cada vez mais o cristianismo protestante[1] chegando a perder sua identidade cristã, como no caso dos mórmons, das testemunhas de Jeová, da Ciência Cristã.


Mais: além de subjetivista e emotivo, o neoprotestantismo é fortemente marcado pelo antropocentrismo que prometendo o que só Deus pode dar, contribui para maior emprobecimento das classes pobres e o enriquecimento dos espertos. Ora, quanto mais crescer o bloco populacional movido por tal religiosidade, tanto mais o Brasil correrá o risco de ser habitado por gente teleguiada, pouco dada a sadio senso critico e disposta a obedecer “religiosamente” ás diretrizes do pastor ou do guru; os mestres religiosos (honestos ou não) serão os mentores de parte da população. Sem dúvida, haverá sempre a Igreja Católica com seu modo de pensar autenticamente cristão, baseado não só no Evangelho, mas também na lei natural, que todo ser humano ausculta em seu intimo. Alias, a Igreja contraditada como é, tem estado em primeiro lugar nas pesquisas de credibilidade recentes. Aos 3/3/04 escrevia o jornalista Luiz Orlando Carreiro:


Brasília – O legislativo, o Executivo e o Judiciário são as instituições que têm, nesta ordem, menor credibilidade junto á opinião publica. O resultado foi divulgado pelo IBOPE, que ouviu 2 mil pessoas no mês passado em 145 municípios das quatro regiões mais populosas do país. A região Norte ficou de fora.


A pesquisa encomendada pela Associação Nacional dos Membros do Ministério Publico (conamp), revela que as instituições com imagem mais positivas são a Igreja Católica (74 %), as Forças Armadas (73 %), a Imprensa (72 %) e o Ministério Público (58 %).


Até a policia obteve um percentual de credibilidade superior aos Três Poderes (53 % contra 30 %) . O Judiciário mereceu a confiança de 48 % dos entrevistados e o descrédito de 31 %; a imagem do Executivo é positiva para 40 %, mas negativa para 39 % ; apenas 35 % dos consultados confiam no Legislativo, que teve um percentual negativo de 43 %.


Das 2 mil pessoas entrevistadas, a maioria é da Região Sudeste (891). Foram ouvidas 533 pessoas do Nordeste, 306 do Sul e 270 no centro-oeste”.


Sabe-se a que ponto pode chegar o fanatismo religioso, já levou ao suicídio.


Oxalá, sejam estes prognósticos exagerados! Mas não carecem de fundamento.


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[1] O empobrecimento espiritual do protestantismo se retrata no seguinte texto tirado do editorial do jornal “igreja água viva”, janeiro 2004:


“Jesus, com sua morte na cruz, nos deu o direito de estarmos salvos, ou seja, se morrermos hoje nós vamos para o céu. Quem crer e for batizado será salvo; quem porém não crer será condenado(MC 16:16). Mas a forma como nós vivemos aqui na terra é que vai determinar o local no céu onde nós vamos morar, pois a própria palavra de Deus nos afirma que: “Na casa de meu Pai há várias moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos um lugar “(João 14,v2). Então, dessa forma é a nossa vida aqui na terra que define se no céu vamos morar numa cobertura ou num conjunto em Quintino. Essa escolha cabe a nós”. Note-se que a Igreja Água Viva fica em Botafogo (Rio de Janeiro)

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