Fruto Proibido

 


Autor: John Nascimento


Por esta expressão Fruto Proibido nos reportamos ao princípio da Humanidade.


O Génesis diz-nos que a atracção entre o homem e a mulher foi o resultado da união original entre o macho e a fêmea.


Assim, o Génesis estabelece :


- Por este motivo, o homem deixará o pai e a mãe para se unir à sua mulher; e os dois serão uma só carne.(Gen.2,24).


Todavia, na prática de todas as culturas desde as mais antigas, incluindo a Israelita, era à mulher que se dizia que devia deixar o seu pai e a sua mãe, para se unir ao clã do seu marido.


O homem e a mulher estavam completamente nus e de nada se envergonhavam um do outro, simbolizando a inocência do Éden e das suas puras relações com Deus.


A breve trecho, porém, o homem e a mulher encontraram-se com a serpente.


Embora, através dos séculos a serpente tenha sido identificada como demoníaca e tivesse sido identificada com Satã, a narrativa do Génesis diz simplesmente que era um animal dos campos. (selvagem) :


- A serpente, o mais astuto de todos os animais dos campos que o Senhor Deus fizera...(Gen.3,1).


Era, todavia, distinta de todos os outros animais, por ser o mais astuto de todos...


A narrativa não explica como é que a serpente tinha o dom de falar, nem nós sabemos que espécie de linguagem era a do primeiro casal.


A narrativa é assim :


- É verdade ter-vos Deus proibido de comer o fruto de alguma árvore do jardim? A mulher respondeu-lhe - Podemos comer o fruto das árvores do jardim, mas, quanto ao fruto da arvore que está no meio do jardim, Deus disse: Nunca o deveis comer, nem sequer tocar nele, pois, se o fizerdes, morrereis. (Gen.3,1 -3).


Não discutiram os limites da liberdade que Deus tinha dado, mas apenas a serpente tentou um desafio à autoridade de Deus, dizendo :


- Não, não morrereis; mas Deus sabe que, no dia em que o comerdes, abrir-se-ão os vossos olhos e sereis como deuses, ficareis a conhecer o bem e o mal. (Gen.3,4-5).


A mulher reflectiu e decidiu comer o Fruto Proibido e dá-lo a comer também ao homem.


O homem que não tinha regateado a sua obediência a Deus, também agora não reflectiu e desobedeceu.


O homem e a mulher não morreram, porém, segundo as narrativas do Génesis, não consta que Deus tivesse prometido ao primeiro homem a imortalidade.


Todavia sempre se tem sugerido que foi através da desobediência que o homem se tornou mortal.


Talvez nunca ninguém tivesse equacionado estas perguntas :


- Porque é que a serpente tentou a mulher e não o homem ?


- Se tivesse tentado o homem, ele teria sido mais fiel ?


Seja qual for a resposta, uma coisa é certa : O homem não resistiu à tentação da mulher.


Será que o homem é mais vulnerável perante a mulher do que perante qualquer outra tentação ?


Através de todos os tempos, por maiores que sejam os elogios e os piropos que o homem dirija à dignidade da mulher, ela tem sempre para ele um enorme poder de sedução, e talvez esteja na base desta enorme e perigosa sedução que, através de todos os tempos, a mulher tenha sido mais escondida e discriminada dentro da sociedade.


A mulher que foi para o homem mais sedutora no Paraíso do que qualquer outra coisa e que por isso deitou a perder toda a Humanidade, poderá uma vez mais, com o seu despudor e os seus desejos de liberdade a todos os níveis, nos nossos tempos, levar mais uma vez a Humanidade à perdição.


Todavia, ninguém como ela, será tão eficiente e tão indispensável para a reconstrução e sublimação da Humanidade de hoje e de sempre.


A partir daqui podemos fazer muitas reflexões.


MAÇÃ


Tradicionalmente diz-se que o fruto da tentação de Eva pela serpente era uma Maçã, todavia, a narração bíblica não diz qual foi esse fruto porque diz apenas :


- "Podemos comer o fruto das árvores do jardim, mas, quanto ao fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: 'Nunca o deveis comer, nem sequer tocar nele. Pois, se o fizerdes, morrereis"'. (Gen.3,2-3).


Alguns escolares são da opinião de que essa árvore podia bem ser um figueira porque foi com as folhas de figueira que Adão e Eva cobriram a sua nudez :


- Reconhecendo que estavam nus, prenderam folhas de figueira umas às outras e colocaram-nas como se fossem cinturões, à volta dos rins. (Gen.3,7).


A Maçã entrou nesta história, provavelmente, através da mitologia grega e céltica, pois que em ambas, esse fruto pertence à deusa do amor e simboliza o desejo.


Quando Áquila do Ponto traduziu o Cântico de Salomão do Hebreu para o Grego, no século II, ele escreveu :


- Eu te despertei debaixo da macieira; aí foste corrompido.


Mas S. Jerónimo ao traduzir para o latim da Vulgata, escreveu :


- Eu te despertei debaixo da macieira; foi ali que a tua mãe te deu à luz, ali deu à luz a tua progenitora. (Cant.8,5).


E assim permaneceu a ideia de que o fruto proibido, o fruto da tentação de Eva e de Adão, foi a Maçã.


ÁRVORE DO BEM E DO MAL


O Livro do Génesis, ao falar do Paraíso, fala em árvores da ciência do bem e do mal. (Gn. 2,9).


Estas árvores não vêm em nenhum catálogo florestal.


Trata-se de símbolos tirados das lendas de então.


Ser imortal e fazer tudo o que nos apetece sem estarmos sujeitos às leis do Bem e do Mal, é uma grande aspiração dos mortais.


Se estas árvores não existiram, são um símbolo; também se o seu fruto não existiu, é um símbolo.


O mesmo se deve dizer da acção de comer este fruto.


Estamos perante uma linguagem mítica e poética.


Falar, portanto, duma maçã e coisas parecidas é materializar muito as ideias que se firmam em símbolos.


A ideia de Bem e Mal deve ter sido assimilada pelo facto de haver uma proibição que envolvia o castigo da morte e é essa a mensagem da Bíblia.


John Nascimento


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