Maria: Modelo original dos homens

 


Embora o milagre em Caná (Jo 2, 1-11) focalize a pessoa de Jesus, a de Maria tem também sua relevância. À primeira vista, sua presença, nas bodas, tem apenas a função de explicar porque Jesus e seus discípulos estavam ali presentes, como se o convite tivesse sido feito à família de Maria. Uma leitura mais atenta, porém, revela a importância de sua atuação, no desenrolar do milagre. Maria é quem percebe a situação constrangedora dos noivos, diante da iminência de faltar vinho.


Maria: modelo original dos homens


Maria é figura eminente do Evangelho. É apresentada como aquela que ouviu de maneira exemplar a palavra de Deus, como a serva do Senhor que diz “sim” à sua palavra, como a cheia de graça que de si mesma nada é, mas que é tudo por bondade de Deus. Assim, ela é o modelo original dos homens que se abrem a Deus e se deixam enriquecer por ele, o modelo original da comunidade que crê. A piedade cristã genuína sempre mostra algum traço mariano. Maria constitui um modelo essencial para a realização da existência cristã.


O significado e a importância da devoção Mariana residem em sua capacidade de estabelecer a relação com Deus. A piedade Mariana só é existencial e pastoralmente válida se estiver orientada para Cristo. A verdadeira espiritualidade Mariana não consiste tanto em rezar a Maria, mas em rezar como Maria. A história da piedade e da teologia confirma isso. A reflexão sobre a Virgem Mãe do Senhor começa já com o Novo Testamento e se desenvolve rapidamente na patrística. Pode-se ver isso desde o começo: não é possível delinear a imagem de Cristo sem inserir ali também sua Mãe. Por isso, os primeiros dogmas marianos estão completamente situados num contexto cristológico. Neste período percebeu-se também com muita rapidez a função eclesiológica de Maria: qual seja o significado da Igreja e qual seja sua relação com Cristo, pode-se ler em Maria. A eclesialidade e a atitude Mariana são uma única e mesma coisa. Realmente, a Igreja se realiza de maneira exemplar em Maria. Tal afirmação faz parte do patrimônio doutrinal da Igreja desde os tempos de Santo Ambrósio, bispo de Milão, isto é, desde o século IV.


Portanto, o primeiro motivo para falar de Maria é a sua relação com Cristo, que é normativa e vinculante para todos os cristãos. Não somente por razões históricas, mas também por razões objetivas e teológicas. A salvação do homem consiste na comunhão com o Deus trino, comunhão que lhe é concedida através do encontro existencial com Jesus Cristo: quem o vê, vê também o Pai (Jo 14,9). Por isso, a salvação é sempre a salvação em Cristo; ela tem lugar quando alguém se insere nele, cabeça do corpo, videira para os sarmentos. A salvação consiste neste “estar em”. A Mãe do Senhor constitui importante ponto de referência neste empreendimento. Esteve unida a ele de maneira única não só no plano biológico, mas também – e sobretudo – no plano espiritual, religioso e existencial. Aquele que em seu espírito, em sua espiritualidade e conduta prática se aproxima o mais possível de Maria, também se encontra numa estreita relação com Cristo e se coloca realmente na sua seqüela, que conduz ao Deus uno e trino, nossa vida. Maria não é a meta da existência cristã, mas seu modelo e, neste sentido é insubstituível.

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