Maria Teotokos

 


Pe. Zezinho, SCJ - MARIA TEOTOKOS


Dezesseis séculos atrás, no ano de 431, Pelo quer equivaleria ao nosso “D” ao invés do nosso “T”, o bispo Nestório de Alexandria no Egito, foi condenado, deposto e pelo Concílio de Éfeso e, mais tarde, exilado. Naquele tempo, teologia podia tornar-se assunto político e questão de Estado, sobretudo se gerasse violência nas ruas ou briga por posse de templos. O jeito era exilar o culpado pela divisão.


Pode não significar nada para nós que, hoje, sustentamos a separação entre o Estado e as Igrejas, e que falamos português. Para eles que falavam grego e viam tudo como uma só coisa, equivalia aceitar se Maria era mãe do Filho de Deus ou apenas educadora dele. Membros das igrejas de Antioquia e Alexandria entraram em dura disputa teológica que envolvia crer se o Cristo era Deus ou não era, e caso o fosse, se Maria era mãe (tokos) ou apenas educadora (dokos) dele.


Como Nestório sustentava que em Cristo há duas pessoas e duas naturezas, enquanto a Igreja, na sua maioria, afirmava que há uma só pessoa em Cristo, mas duas naturezas: a divina e a humana, a doutrina de Nestório foi rejeitada. Com isso ficava claro e definitivo para a Igreja, que Maria era mãe da pessoa do Cristo. Sendo Jesus o Cristo Filho de Deus, mas, também, filho dela neste mundo, já que as duas naturezas são inseparáveis, então Maria podia e deveria ser chamada de “Mãe de Deus”. Não era nem nunca seria deusa, mas, tornando-se mãe do Verbo Encarnado, não ficou mãe do Pai, nem do Espírito Santo, que são pessoas distintas na Trindade Una, mas, sim, tornou-se a mãe do Filho.


Quando a Igreja Católica, no dia 1* de Janeiro, enquanto o mundo festeja o Dia Mundial da Paz, declara que, para os católicos também é dia de lembrar que Maria foi Mãe de Deus, está afirmando que continua a discordar do Bispo Nestório e de quem ainda o segue. Continuamos a dizer que em Jesus Cristo havia um só pessoa, mas duas naturezas. O Filho Eterno de Deus encarnou-se no ventre da Virgem Maria por obra de Deus, e o bebê que ali se formou era plenamente humano. Em outras palavras: Maria deu á luz um bebê que era um ser humano e ao mesmo tempo era um ser divino, mas tratava-se da mesma pessoa. O Pai não se fez humano, nem o Espírito Santo, mas o Filho, sim.


Para quem não estuda catecismo, ou não aceita Jesus como Filho de Deus esse tipo de discussão parece estranho. Faz sentido para quem afirma que, sim, o Deus único, que é Santíssima Trindade de pessoas, esteve aqui na pessoa do Filho, e Maria, a Virgem de Nazaré escolhida para ser sua mãe, foi mãe não apenas do lado humano dele. Há cristãos e outros crentes em Deus que não conseguem chamar Maria de Mãe de Deus. Há outros que assim entendem e assim a chamam.


Nós católicos até dedicamos o 1* dia do ano a esta doutrina. Maria não é deusa, mas é mãe do Cristo e, portanto, é mãe de Deus. Se Deus podia tornar isso possível? Nós sustentamos que podia e fez! Maria, um frágil ser humano feminino, levou-o no ventre e por mais de 30 anos viveu e agiu como Mãe de Deus. Ela também precisou entender essas coisas. Por isso vivia tentando entendê-las e as guardava no coração.


É uma verdade gigantesca. Deus morou no ventre e uma virgem! Nem todos os dogmas são fáceis de aceitar. Este não é fácil para muitas pessoas, mas também não foi fácil para aquela virgem. Ela precisou entendê-lo aos poucos. Por isso guardava tudo no coração. Quem disse que crer em Deus é uma brincadeira? Pois, não é


Desde então há cristãos que mudam de religião em busca de dogmas menos exigentes do que este. Vão embora do catolicismo e, às vezes, encontram na outra igreja dogmas ainda mais difíceis de aceitar. Por exemplo: que um pregador vivo tenha mais poder de cura do que um santo do céu ou que ninguém ainda entrou no céu.


Nós dizemos que no céu há bilhões de santos salvos e santificamos pelo sangue de Jesus que tem poder. Dizemos e que Maria, a Mãe de Deus está lá, porque se o Filho de Deus ainda não levou sua mãe para o céu, então o céu está vazio de seres humanos salvos e santificados. Se Ele não conseguiu romper esta barreira do tempo, então seu sangue não é tão poderoso quanto alguns fiéis cantam nas suas igrejas. Ou Jesus pode salvar e salva, ou bilhões de cristãos que já morreram há séculos estão esperando a sua volta para poderem entrar no céu.


Hoje é dia de católico dizer que Maria é Mãe do Cristo e, por isso, Mãe de Deus, está no céu e, lá, ora por nós e, de lá, continua apontando na direção do seu Filho e a dizer-nos: – “Meu Filho era e é Deus e meu ventre foi sua morada!” Que bom para as mulheres católicas e cristãs! Que bom poder acreditar que o Filho de Deus morou no ventre de Maria. Se ela, depois, continuou virgem e que os chamados irmãos de Jesus eram filhos de outra Maria? Alguns dizem que não. Nós dizemos que sim! E se alguém quiser discutir isso talvez tenhamos mais uns dezesseis séculos pela frente! Um dia chegaremos a um acordo! Quem disse que é fácil praticar o ecumenismo?

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