O Nascimento de Maria

 


Autor: Padre Lucas

- O NASCIMENTO DE MARIA -


DIA : 08

MÊS : Setembro

ANO : Provavelmente entre os anos 22-23, a.C. que corresponde ao ano de 735 da fundação de Roma.


PUXANDO A CONVERSA: MARIA, PROJETO E REALIZAÇÃO DE DEUS.


Antes de o arquiteto esboçar a planta da construção, já vê realizada em sua mente, contempla-a e se sente feliz. A execução é a etapa final do processo. O pintor só lança mão do pincel e traça os primeiros riscos depois de inspirado, quando é capaz de visualizar a sua obra mentalmente. Toda a criação, em primeiro lugar, esteve presente na mente de Deus. Ele a amou e por isso tudo existe. Cada criatura, desde o ínfimo átomo até a mole imensa das cordilheiras, foi pensada por Deus e existe como ele a desejou. Há uma identidade entre o projeto e a realização. Uma única criatura é exceção, nega a identidade: o homem. Por ser livre, tem de ser o sujeito da identificação entre o projeto e a realidade. A má posição da antena distorce a imagem no televisor, e o defeito é mais percebido quanto mais nítida é nossa idéia sobre como ela deveria ser. O homem vive a situação de pecado original de modo bem existencial. É no seu ser dialógico, na comunicação com o mundo fora da sua pele. Sabe o que é doação, porém tem dificuldade de entregar-se ao próximo. O seu relacionamento com as coisas nem sempre se faz numa ordem de levá-la à sua finalidade: estraga-as, desvirtua-as.

O seu coração tem sede de Deus, mas facilmente troca a fonte cristalina pelos charcos imundos. Dentro de si a desordem se manifesta quando a vontade se insubordina à inteligência, os sentimentos o dominam, a perspicácia da mente cria a sofisticação da maldade. O eu grita mais alto e se proclama o senhor, o seu deus.

Maria é a única das criaturas humanas em que o projeto coincidiu com a realização. Por ser cheia de graça, ela é toda de Deus. Ele estabeleceu o seu senhorio na globalidade da pessoa de Maria: tudo nela é propriedade de Deus.

Nada reservou apenas para si, o egoísmo não furtou algo sequer de Deus. No seu interior não existe divisão, por conseguinte a desordem ali não impera Há uma unidade e convergência para o alto. Exercita a sua capacidade de doação aos irmãos mediante a prestação de serviço.

Como uma flecha procurando o seu alvo, assim Maria se dirige para Deus. É cheia de graça, toda impregnada de Deus, por ser a mãe do Senhor, em previsão da sua maternidade, não por mérito próprio. A partir de sua concepção foi terra de Deus, por isso é Imaculada Conceição. A graça de Deus não a angeliza, transfigura sua natureza humana, sem isentá-la do peso do dia-a-dia, da sua rotina, dos seus momentos agradáveis ou não. Maria é de Deus, mas também toda do seu povo.


A PALAVRA DE DEUS


"A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe comprometida em casamento com José e antes que coabitassem achou-se grávida pelo Espírito Santo.

José resolveu repudiá-la em segredo" (Mt.1,18-19 ).


EXPLICAÇÃO


a) OS PATRIARCAS E OS PROFETAS ALEGRAM-SE COM A NATIVIDADE DE NOSSA SENHORA


No dia 8 de setembro a liturgia celebra a Natividade de três personagens: de Cristo, da Virgem Maria e de São João Batista.

O nascimento de Cristo e de São João Batista encontram referências no Evangelho, ao passo que o Livro Sagrado não dá notícia alguma da natividade de Maria Santíssima.

Mas a liturgia não podia silenciar tão grande acontecimento, muito superior na importância ao nascimento do precursor de Cristo.

"Sua Natividade, ó Maria, canta a liturgia, anunciou ao mundo inteiro uma grande alegria".

Este nascimento é saudado como a aurora da Salvação.

"Alegram-se portanto os patriarcas do Antigo Testamento que, em Maria, reconheceram a figura da mãe do Messias.

Os patriarcas e os justos do Antigo Testamento aguardavam, há século, serem admitidos na Glória celeste pela aplicação na fé dos méritos de Cristo, o bendito fruto da Virgem Maria.

Alegram-se todos os homens porque o nascimento de Maria veio anunciar-lhes a aurora do grande dia da libertação, pela qual aspiram todos os povos do universo.

Alegram-se os próprios anjos, porque, neste dia, pela primeira vez, lhes foi dada a ocasião de saudar a sua futura rainha.

Os patriarcas e os profetas do Antigo Testamento soltaram brados de invocação à vinda do futuro Messias, o salvador da humanidade:

"Abre-te ó terra, assim exclamam, e dá-nos um Salvador!

Fazei, ó céus, descer sobre nós aquele orvalho salutar!

Nuvens do céu, fazei chover sobre nós o justo, que quebre as cadeias de nossa escravidão, restabelecendo-nos na liberdade dos filhos de Deus".(3)

Com esses gemidos e ardentes votos passaram-se séculos em que o céu se apiedasse da humanidade.

Que júbilo não se apoderou dessas benditas almas ao receberem a notícia do nascimento daquela virgem que lhes havia de dar o Salvador do mundo!

Que contentamento não tiveram, ao verem surgir a bela aurora preconizadora do sol, da justiça, daquele sol que traria à luz àqueles que estão nas trevas da morte!

Se todo o nascimento de criança é motivo de regozijo pela esperança que ela desperta, quanto mais o nascimento da futura mãe do Filho de Deus, toda bela, toda Imaculada, destinada a ser a mãe do Salvador da humanidade.

A primeira notícia que o Evangelho dá de Nossa Senhora é do tempo em que era noiva de São José, o anjo Gabriel apareceu anunciando a sua divina maternidade.

Contudo, existe um livro antiquíssimo chamado Proto-Evangelho de São Tiago, venerado e largamente lido desde os primeiros séculos do cristianismo que nos oferece notícias prováveis sobre a infância de Maria.(3)


b) COMO SE DEU O NASCIMENTO DE MARIA .


No Proto-Evangelho de São Tiago lemos o seguinte:

"Existia um casal justo e temente a Deus que vivia triste, porque Deus não lhe tinha dado filho.

Tinha certa abundância de bens e dava generosas ofertas ao culto divino e aos pobres: seus nomes eram Joaquim e Ana.

Certo dia, Joaquim viu-se repelido na oferta do templo porque, não tendo filhos, era considerado como amaldiçoado por Deus.

Então, fez a promessa:

"Não comerei nem tomarei água, até que Deus tenha atendido minha súplica".

Retirou-se para o deserto a fim de fazer penitência.

Ao mesmo tempo também Ana fazia sua prece ardente:

"Estou triste pela minha esterilidade.

Deus de meus pais, abençoa-me, escuta minha oração, assim como escutaste e abençoaste Sara, dando-lhe um filho: Isaac".

Passaram-se algumas semanas e eis que o anjo do Senhor apareceu aos dois santos velhos anunciando uma descendência:

"Ana, Ana, disse o anjo, o Senhor ouviu tua oração. Tu conceberás e darás à luz, e em toda a terra falar-se-á de tua descendência".

Passaram-se nove meses e se realizou a promessa de Deus.

Ana deu à luz uma menina, e prometeu consagrá-la a Deus no templo logo que tivesse chegado à idade de desmamar.

Deram-lhe o nome de Maria.

Toda a vizinhança felicitou o santo casal pelo maravilhoso nascimento de uma menina estando os pais em idade tão avançada, e glorificavam a Deus".

Esta descrição singela é muito parecida com a do nascimento de São João Batista, pois trata-se da mesma intervenção divina, em favor de seus eleitos. (3)


c) A AGRACIADA NO NASCIMENTO


Maria era uma moça pobre e humilde e a única mulher que nasceu sem a mancha do pecado original.

Fora privilegiada e agraciada por Deus em dois momentos importantíssimos:

O primeiro aconteceu, como nos ensina a Igreja, no momento da sua concepção.

Ela, como Jesus, nasceu sem a mancha do pecado original, como todos nós mortais.

Deus sendo puro e sem pecado, não poderia nascer de uma menina moça que viveu a quase dois mil anos que nascesse e vivesse em pecado.

Maria foi concebida sem a mancha do pecado, como rezamos naquela jaculatória:

Ó MARIA CONCEBIDA SEM PECADO ORIGINAL. ROGAI POR NÓS QUE RECORREMOS A VÓS.

É por isso que até hoje o povo gosta de ser chamado pelo nome dela.

Gosta de olhar para ela, de invocá-la com uma pequenina oração chamada Ave - Maria.

Maria de Nazaré está no centro da história.

Junto com Jesus, Maria de Nazaré, uma jovem de l5 anos, passa para o centro do Evangelho.

Não se sabe quase nada sobre as origens de sua família.

A piedade popular chamou seus pais de Joaquim e Ana e sob esses nomes, a Liturgia os celebra no dia 26 de julho.

Já se deram mais de 70 significados para o nome "MARIA"; nenhum deles, porém, com segurança.

Parece que Maria é um nome egípcio.(A primeira Maria que ocorre na Escritura é a irmã de Moisés, nascida no Egito ).

O segundo momento do seu privilégio foi o da Maternidade divina.

Essa menina simples foi agraciada por Deus com o privilégio da maternidade divina.

O filho que dela nascerá é a graça de Deus e a salvação para todos.

Desse momento fará eco, dias depois, o " MAGNIFICAT":

"Olhou a humildade de sua serva... grandes coisas fez em mim o Poderoso".

Por causa desse momento, Isabel a chamará de "bendita entre todas as mulheres (Lc 1,42)

Até hoje, nós a bendizemos, porque a Encarnação de Cristo tem a ver com cada um de nós.

Todos os nossos caminhos de fé e de esperança tocam esse momento.

Todas as nossas razões de amor encontram nesse momento sua fonte mais pura, porque a Encarnação de Jesus é a maior expressão do amor.


UMA MENSAGEM PARA A VIDA


Não é possível que tendo todo poder no céu e na terra Jesus fosse escolher por mãe uma mulher que tenha sido, alguma vez, manchada com algum pecado.

A virgem Maria foi concebida sem o pecado original.

Onde já se viu dizer que um construtor, um arquiteto, um engenheiro construísse a mais linda casa para si mesmo, e depois de concluída deixasse o seu inimigo morar lá primeiro?!

Deus, logicamente, não poderia permitir que Maria fosse uma habitação profana antes, pelo demônio.

A Sagrada Bíblia pelas profecias do antigo testamento e pelas palavras do evangelho de São Lucas lançam toda luz sobre esse grande privilégio concedido a Maria, base e preparação para que ela fosse a digna Imaculada Mãe de Deus.

Livro do Gênesis reflete a luta entre a graça e o pecado (Gn 3,18: "Porei ódio entre ti e a mulher, ela te esmagará a cabeça").

O anjo entrando disse a Maria: "Ave cheia de graça, o Senhor está contigo. És bendita entre as mulheres (Lc, 1,28).

A Igreja ensina que Deus tomou conta da vida de Maria, desde o seu primeiro começo até o momento em que foi levada ao céu.

Essa verdade contida na bíblia foi proclamada para o mundo inteiro pelo papa Pio IX na Bula "Ineffábilis Deus" a 8 de dezembro de 1854.

Nesta declaração pontifícia há vários pontos que devemos considerar separadamente.


PARA REFLETIR:


MARIA FOI PRESERVADA IMUNE


Maria foi preservada imune. Quer dizer, Maria não foi liberada do pecado, nem curada da enfermidade; foi, sim, preservada do contágio. Não foi maculada pelo pecado. Maria foi preservada de toda mancha de culpa original. Esta frase é categórica. A Santíssima Virgem Maria ficou livre das conseqüências do pecado original, que se chamam "mancha da culpa".

Depois do pecado de Adão, todos nós nascemos desprovidos dos dons de sermos "filhos de Deus" e "herdeiros do céu" por causa do pecado original.

Nossa Senhora foi concebida em "estado de graça", no mesmo estado em foram criados nossos primeiros pais, Adão e Eva. Maria foi preservada no primeiro instante de sua Conceição.

No primeiro instante em que a alma se uniu ao corpo. Outros santos, como S. João Batista, o profeta Jeremias, S. José, foram purificados, do pecado original, antes de nascerem. Maria foi "Concebida" sem pecado.

Maria foi preservada por singular Graça e privilégio de Deus. Graça porque Deus não Deus não era obrigado a fazer essa concessão. Aquilo que é feito por amor, não por causa da lei, é graça. Privilégio, porque foi exceção de uma lei universal.

Maria foi preservada pelos merecimentos de Jesus Cristo...em previsão da redenção realizada por Cristo. A ninguém mais do que a Nossa Senhora, foi vantajosa a redenção.

Para nós, foi aplicada depois de nascermos para nos perdoar os pecados.

A Maria foi aplicada, antes de ela ser concebida, para não contrair o pecado. São Paulo, em sua carta aos Romanos (3,23; 5,12) nos fala de uma lei universal, pela qual todos nós nascemos em pecado.

Embora São Paulo não faça exceção para ninguém, pensemos nisso :

É lei universal que o sol siga sempre sua órbita marcada por Deus; que o rio Jordão corra caudaloso em direção ao Mar Morto; que enquanto houver combustível, o fogo queime sempre.

Toda regra, porém, toda lei pode Ter exceção. Deus é onipotente; pode deter qualquer lei. O sol se deteve a uma ordem de Josué; O rio Jordão parou e mostrou um caminho completamente enxuto; na fornalha ardente de Nabuconosor, o fogo não queimou os três jovens, ali amarrados; queimou apenas as amarras. Nem por isso, deixou de ser "universal" a lei do sol, a do rio, a do fogo. A lei do pecado continua sendo universal; houve exceção exclusivamente para a Virgem Maria. Deus pode; Deus quis; Deus o fez.

Quando o anjo Gabriel saudou a Maria, disse-lhe : "Ave cheia de Graça"! Cheio quer dizer completo; quer dizer que, para outras coisas, não há lugar. É verdade que quando nascemos, viemos ao mundo manchados pelo pecado original; éramos apenas criaturas de Deus; não, filhos de Deus.

Pelo batismo, porém, retomamos a dignidade de filhos de Deus que perdemos em Adão. É necessário que, agora, voltemos nossos pensamentos para nós mesmos, depois de termos pensado sobre o grande privilégio da Imaculada Conceição de Maria.

Para nós todos e para cada um, em particular, quê significa; quê quer dizer a "graça". Primeiro, em Maria? Depois, em nós? Qual é o valor que damos à graça de Deus e o apreço que temos por ela ?

Graça é vida, é amor. Pecado é morte, é ódio, é egoísmo. Nossa Senhora correspondeu e colaborou Deus durante todos os instantes de sua vida. E nós ?

Deus nos criou à sua imagem e semelhança. Uma imagem deve reproduzir o modelo como num espelho; não, como num retrato que não tem vida; mas como um ser vivo; que viva uma vida semelhante à vida de Deus.

De todas as criaturas, quem mais reproduziu em si a imagem e semelhança de Deus, foi a Virgem Maria, "espelho sem defeito e imagem da bondade de Deus".


O NASCIMENTO DA MARIA DE NAZARÉ


Hoje, 08 de setembro, a Igreja festeja em todo o mundo o nascimento da Maria de Nazaré, a imaculada Mãe do Redentor. Para homenageá-la, repasso trecho do Sermão do Nascimento da Mãe de Deus, do Padre Antônio Vieira, composto no séc. XVII:


"Quereis saber quão feliz, quão alto é e quão digno de ser festejado o Nascimento de Maria?

Vede o para que nasceu. Nasceu para que dEla nascesse Deus.

(...) Perguntai aos enfermos para que nasce esta celestial Menina,

dir-vos-ão que nasce para Senhora da Saúde;

perguntai aos pobres, dirão que nasce para Senhora dos Remédios;

perguntai aos desamparados, dirão que nasce para Senhora do Amparo;

perguntai aos desconsolados, dirão que nasce para Senhora da Consolação;

perguntai aos tristes, dirão que nasce para Senhora dos Prazeres;

perguntai aos desesperados, dirão que nasce para Senhora da Esperança.

Os cegos dirão que nasce para Senhora da Luz;

os discordes, para Senhora da Paz;

os desencaminhados, para Senhora da Guia;

os cativos, para Senhora do Livramento;

os cercados, para Senhora da Vitória.

Dirão os pleiteantes que nasce para Senhora do Bom Despacho;

os navegantes, para Senhora da Boa Viagem;

os temerosos da sua fortuna, para Senhora do Bom Sucesso;

os desconfiados da vida, para Senhora da Boa Morte;

os pecadores todos, para Senhora da Graça;

e todos os seus devotos, para Senhora da Glória.

E se todas estas vozes se unirem em uma só voz, dirão que nasce para ser Maria e Mãe de Jesus"

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