Religião e Lavagem Cerebral - Técnicas de persuasão utilizadas por seitas religiosas

 


Autor: Elbson do Carmo


Muitas vezes, somos surpreendidos por notícias de que adeptos de determinada seita religiosa cometeram suicídio coletivo ou que são conduzidos a desfazer-se de seus bens, renegarem suas famílias, odiar minorias e perseguir membros de outras denominações religiosas. Ou ainda, eleger um credo religioso como inimigo de suas crenças - em geral, o catolicismo. Em todos esses doentios desvios de comportamento está um componente perigoso quando usado para subjugar a consciência individual: a doutrinação religiosa, que é o primeiro degrau do fanatismo.



Todo o processo de doutrinação dessas seitas é, em grande parte, dirigido por técnicas de persuasão que já estão diretamente ligadas à forma de conquistar as pessoas alcançadas por sua mensagem e, principalmente, manter sob controle os seus adeptos, de tal forma que, mesmo inconscientemente, tais técnicas já fazem parte da identidade dessas organizações.



Em se tratando do Brasil, que se tornou um verdadeiro paraíso para a disseminação de novas seitas a cada dia, os fundadores dessas seitas levam para suas denominações toda a ideologia persuasiva dos credos dos quais se desligaram, formando um ciclo vicioso de persuasão e fanatismo. São fanáticos que geram mais fanáticos, que por sua vez produzem mais e mais fanáticos.



Entre as técnicas existentes, as mais comuns são:



1. Uso de Estereótipos (generalizações)



2. Substituição de Nomes



3. Seleção e Indução



4. Distorções e Falsidade



5. Repetição



6. Escolha de Um Inimigo



7. A Doutrina do Medo



Cada um destes tópicos está explicado abaixo:


1. Uso de Estereótipos



O doutrinador utiliza estereótipos para criar impressões fixas sobre determinado grupo de pessoas ou povos. Os indivíduos que compõem estes povos não recebem julgamento em base individual, suas ações são interpretadas de acordo com as expectativas da imagem estereotipada aplicada sobre eles (1) (2). A propaganda incentiva o estereótipo, seja com conotações positivas ou negativas, para angariar simpatia à mensagem propagada e criar ou aprofundar a hostilidade a outras idéias. Como exemplos de povos quase sempre estereotipados podemos citar os judeus (sovinas), os japoneses (só pensam em trabalho), os árabes - em geral os muçulmanos - (terroristas), os católicos em geral (papistas, mariólatras, idólatras) entre outros.



A mais poderosa arma psicológica usada pelas seitas para incrementar o preconceito é criar estereótipos tanto para si mesma, e seus adeptos, quanto para seus rivais. Os líderes das seitas costumam apresentar as outras organizações religiosas cristãs sob a pior luz possível, de acordo com sua própria interpretação particular da Bíblia, além de uma seletiva interpretação de fatos históricos. Esmera-se em criar estereótipos desfavoráveis com o objetivo de degradar o cristianismo praticado por outras religiões, selecionando aspectos negativos de determinados grupos cristãos durante a história, tal como o conflito entre católicos e protestantes na Irlanda e as Cruzadas. E generaliza suas conclusões aplicando ao todo das religiões cristãs – no presente e no passado – as características negativas específicas de grupos locais ou de determinada época. Devido ao estereótipo das demais religiões cristãs, cultivado com imagens negativas selecionadas.



Não há surpresa em verificar que os líderes dessas seitas minimizam e desprezam qualquer boa ação da parte de cristãos individuais de outros grupos religiosos. Para essas seitas, as demais denominações cristãs são todas igualmente más e fazem parte de “Babilônia, a grande”, o império mundial da religião falsa, nome extraído do livro bíblico de Revelação 18:2. Somente elas possuem a verdade “verdadeira” e devem divulgá-la aos falsos cristãos das outras denominações religiosas, para encontrar entre eles as ovelhas perdidas, os que “amam a Deus”, livrá-los da idolatria, da infidelidade literal à Bíblia, da veneração aos santos e a Maria.



Ainda conforme os estereótipos criados por essas seitas na mente de seus adeptos, o ensinamento e as publicações da seita são os verdadeiros alimentos espirituais providos por Deus. Todas as demais fontes de informação resumem-se a filosofias e pensamentos de homens, devendo ser tratadas como tal. Estes estereótipos inseridos nas mentes dos seus seguidores são baseados exclusivamente em informações tendenciosas, preparadas de maneira a justificar a ascendência da seita sobre eles e assim conduzi-los a compartilhar das mesmas conclusões propostas pelos seus líderes. Dando a impressão de que existem “provas” apontando que sua seita e, por conseguinte, que seus membros são os únicos “portadores da verdade”.



2. Substituição de Nomes



A substituição de nomes é uma prática comum do doutrinador. Ao criar a mensagem, o doutrinador substituirá algumas palavras por outras, que produzirão uma impressão diversa do sentido original, com objetivo de realçar ou diminuir emoções e assim conquistar a aceitação da mensagem pelo público-alvo. Exemplificando, para os defensores da legalização do aborto, o bebê que a mulher grávida carrega na barriga torna-se um “feto”, pois é evidente que a morte de alguma coisa chamada feto choca muito menos que a de um bebê. Da mesma forma, para seus defensores, o capitalismo feroz transforma-se num singelo “livre empreendimento” (2).



Essas seitas fazem exatamente o mesmo em suas abordagens de forma a conseguir a aceitação de seus ensinamentos por parte daqueles que são alcançados por sua mensagem. Desta maneira, as demais religiões são reunidas em designações depreciativas que as designe: Os católicos são tratados por “papistas ou idólatras”; os adeptos do candomblé ou espíritas, por “feiticeiros”. A depender da linha protestante, os estereótipos podem ser ainda mais abrangentes: “os pentecostais”, os “neo-pentecostais”, os “renovados”, os “conservadores” e etc. Mais interessante é o fato dessas seitas estarem inclusas, em sua maioria, entre os últimos quatro grupos citados, e ainda assim criarem substituições entre si.



A forma pejorativa visa, naturalmente, diminuir ou eliminar qualquer base de respeitabilidade de tais denominações religiosas. Qualquer que não seja membro da seita é chamado simplesmente de “mundano” e aqueles que abandonam a denominação recebem o rótulo negativo de “apóstata”. Similarmente, porém com sentido positivo, os integrantes da seita são chamados constantemente de “cristãos”, “ungidos”, “povo de Deus”, “escolhidos”, “rebanho”, “crentes”, “escravo fiel e discreto”, identificando-os com passagens bíblicas. Estes termos, que são definidos como linguagem descritiva, provocam reações emocionais instantâneas, com julgamentos positivos ou negativos, cada vez que as palavras ou frases são verbalizadas ou lidas.



3. Seleção e Indução



Na técnica de “Seleção”, o doutrinador seleciona cuidadosamente a informação para que os pontos destacados estimulem os leitores ou ouvintes para as conclusões que, espera-se, eles atinjam (2). Informações são cuidadosamente omitidas quando são inúteis para influenciar a conclusão final, pois do “fiel” é esperado um julgamento baseado única e exclusivamente nas indicações e dados fornecidos. Freqüentemente, o “fiel” não tem conhecimento da existência de outras informações que possam contradizer a conclusão que dele se espera. A seleção cuidadosa das evidências limita a possibilidade do leitor questionar as afirmações e conclusões do doutrinador, isto é deliberadamente planejado para evitar ou desestimular raciocínios pessoais e avaliações independentes (2).



Similar a esta é a técnica de “indução”. Indução é uma forma de argumentação onde toda a evidência (verdadeira ou falsa) é simbolicamente empilhada, em ordem, de modo que sejam lidas ou ditas uma a uma, em seqüência, fazendo com que no final a única conclusão, possível, seja aquela que o doutrinador quer ver aceita. É freqüente nesta técnica a comparação das idéias do doutrinador com as idéias dos opositores, porém é feita de tal maneira que o ponto de vista do primeiro parece ser sempre a idéia correta.



Não raro ao sermos abordados por um membro de uma seita, o mesmo utiliza desse recurso (mesmo que inconscientemente, já que sua formação nele se baseou), habitualmente faz perguntas fechadas, por sinal, perguntam muito e respondem muito pouco, e tentam conduzir as conclusões do interlocutor aos seus objetivos. Por exemplo:



- Você crê na Bíblia, crê que ela seja a palavra de Deus? – pergunta o adepto da seita.



- Sim, claro que creio – responde o católico desinformado.



- Bem, se você crê na Bíblia, crê que ela seja a palavra de Deus, logo, você crê que tudo o que esteja fora dela não vem de Deus.



- Sim, parece lógico. – responde o católico desinformado.



- Então a veneração aos santos, a existência de um purgatório, os pronunciamentos de seus padres e bispos são anti-bíblicos e, por conseguinte, contrários a Deus. – vaticina o adepto da seita.



- É né... Parece que é isso mesmo. – responde o católico que jamais leu o catecismo, desconhece os pilares da sua própria doutrina, nada sabe da Bíblia e foi fisgado por uma argumentação “indutiva” das mais fajutas.



As literaturas e pregações dessas seitas são altamente seletivas no material apresentado aos seus adeptos. Muitas informações a respeito da Igreja Católica, mesmo de caráter histórico como o período da inquisição e as cruzadas, ou a respeito de erros e crimes cometidos por prelados católicos, ou mesmo por fiéis católicos, são descritas de forma a conduzir os adeptos dessas seitas a concluir que a Igreja é má, e, por conseguinte, “do mal” provém o seu ensinamento, que pelo comportamento de seus sacerdotes e leigos se pode inferir a dignidade do catolicismo. Não especificações, mas generalizações, não há contexto, mas pretexto em tudo o que se transmita.



Uma pessoa desinformada, bombardeada por esta saraivada de informações e evidências apresentadas por essas seitas, provavelmente concordará com o ponto de vista das mesmas. Contudo, assim como em toda informação prestada por essas seitas, existe sempre um outro lado que está ausente, que não foi apresentado ou foi apresentado fora do contexto, deslocado do objetivo original, mutilado e editado. O destinatário da mensagem dessa seita é induzido a concluir que a opinião dela (da seita) é a única solução viável. De uma coisa é preciso estar bem ciente: a seita e seus doutrinadores usarão somente informações - mesmo sendo questionada no contexto original - que apontem na direção de suas conclusões e ignorará ou desconsiderará qualquer outra informação que possa levar alguém a uma outra conclusão diferente.



4. Distorções e Falsidade



A falsidade é um método comumente usado pelos doutrinadores (2). Fabricando, torcendo, esticando ou omitindo evidências utilizadas na doutrinação obtendo resultados eficazes. Histórias falsas de atrocidades têm sido usadas nas Cruzadas, na inquisição e em todos os períodos negros da história da Igreja, isso sem considerar que os fatos reais ocorridos nesses períodos falam por si. Mas, é necessário para essas seitas dramatizar situações, ressaltar ou inventar fatos tendo em vista a despertar a ira e o desprezo de seus adeptos pela Igreja Católica e seus fiéis, e isso tem sido feito com grande eficácia. Exemplo:



“Durante o Concílio de Constança, 3 papas, e algumas vezes 4, estiveram lá toda a manhã amaldiçoando uns aos outros e chamando seus oponentes de anticristos, demônios, adúlteros, sodomitas, inimigos de Deus e dos homens. Um deste papas, João XXIII (1410-1415) ‘foi acusado por 37 testemunhas (na maioria bispos e padres) de fornicação, adultério, incesto, sodomia, roubo e assassinato! Foi provado, por uma legião de testemunhas, que ele havia seduzido e violado mais de 300 freiras. Seu próprio secretário, Niem, disse que ele havia em Boulogne montado um harém, onde não menos de 200 meninas tinham sido vítimas de sua lubricidade.’ (Chiniquy. The Priest, the Woman, and the Confessional. p. 139). ‘Ao todo, o Concílio condenou-o por 54 crimes da pior espécie.’ (Durant. The Story of Civilization: The Reformation. pág. 10). Um registro no Vaticano oferece esta informação a respeito do seu reinado imoral: ‘Sua santidade, o papa João XXIII, cometeu perversidade com a esposa do seu irmão, incesto com santas freiras, relações sexuais com virgens, adultério com as casadas, e todos os tipos de crimes sexuais [...] totalmente devotado ao sono e outros desejos carnais, totalmente adverso à vida e ensino de Cristo [...] ele era chamado publicamente de o Diabo encarnado’ (Sacrorum Conciliorium. Vol. 27, p. 663). Para aumentar sua fortuna, João XXIII cobrou impostos sobre quase tudo – incluindo prostituição, o jogo e a usura. Ele tem sido chamado de o mais depravado criminoso que já sentou no trono papal.”



Fonte: WOODROW, Ralph. Babilônia: a Religião dos Mistérios. Cap. 12, página 100.


O texto acima poderia até ser verdade, já houve antipapas no trono de Pedro, mas se trata de uma mentira sem precedentes já que João XXIII foi papa entre 1958 e 1963, e convocou o concílio Vaticano II, e sua conduta moral e memória nem de longe remete a algo parecido. Ou seja, quem vier a ler esse texto tomará uma mentira por uma verdade, pior, o autor cita fontes, entre elas, um documento da própria Igreja Católica que não cita em nenhuma de suas linhas qualquer referência à mentira descrita.


Em suma, não há limite ético ou moral nesse recurso, deseja-se apenas que o membro da seita acredite na mentira que lhe é passada, afinal, não dispondo de informações que contradigam os argumentos da seita, fatalmente o adepto não discutirá as fontes e nem a procedência da informação, principalmente quando vê citadas tantas fontes aparentemente fidedignas como enciclopédias e documentos da própria Igreja Católica. Ademais, qualquer mínima contestação coloca o adepto e não a seita sob suspeição, o adepto passara a ser visto como uma "ovelha negra" no meio do rebanho, e passará a ser coagido e vigiado de todas as formas. O objetivo final não é passar uma informação, mas desenvolver no adepto uma atitude hostil frente à Igreja Católica e seus fiéis, se o caminho para isso é lícito ou não, pelo exemplo acima é bastante fácil chegar a uma conclusão.


É interessante lembrar que todos os documentos da Igreja Católica estão disponíveis ao grande público, é possível consulta-los na Internet ou adquiri-los em qualquer livraria católica ou leiga. E que a Igreja não proíbe seus fiéis de ler textos históricos a respeito da própria Igreja, pouca gente sabe que, o que foi conservado acerca das cruzadas ou da inquisição, ou mesmo dos antipapas, o foi pela própria Igreja, muitos de nossos mosteiros ainda conservam esses documentos e os coloca á disposição de quem se interesse em lê-los. Ou seja, nem mesmo a própria Igreja teme seu passado, pelo contrário, o coloca à vista de todos, para que os erros do pasado não voltem a ser cometidos. E para que ninguém afirme o que jamais aconteceu, mas mesmo isso não é suficiente aos seus opositores.



5. Repetição



O doutrinador usa a repetição para gravar a mensagem nas mentes da audiência. Joseph Goebbles, ministro da propaganda de Adolf Hitler, sustentava: “Se uma mentira for repetida mil vezes, sempre com convicção, tornar-se-á uma verdade”. Portanto, se uma palavra ou frase for usada repetidas vezes, depois de algum tempo será aceita, tendo significado verdadeiro ou não (2).



As seitas usam muito esta técnica e repetem exaustivamente muitas palavras, e tais palavras ganham a conotação mental de um estigma. Ao referir-se a católicos dizem exaustivamente palavras como “idólatras”, “papistas” ou ainda “romanistas”. A mais recentemente utilizada com amplitude é “mariólatras” ou “adoradores de Maria”. A utilização repetitiva desses termos automaticamente remontam às substituições de nomes que tratamos neste artigo, provocam a imediata associação de tais termos a negatividades, a coisas que devem ser combatidas, coisas que devem ser evitadas ou subjugadas.



Por outro lado, utilizam da mesma técnica quando desejam atribuir a si próprios uma conotação diferente quando se referem ao universo de religiões. Habitualmente chamam a si próprios de “cristãos” numa referência exclusivista, ou ainda atribuem à palavra “irmão” apenas àqueles que compartilham de seu credo, colocando inclusive laços consangüíneos apartados dessa definição. Atribuem a todos os demais seres humanos da terra a definição “do mundo”, como se estivessem à parte do necessário bom convívio humano. Enfim, repetem, repetem e repetem, até que essas palavras repetidas ganhem uma conotação automática. Os adeptos não são apenas doutrinados com a repetição de palavras, mas com o uso repetido das mesmas associadas ao estigma aplicado a elas, ora positivo, ora negativo.



6. Escolha de um Inimigo



O doutrinador terá sempre um inimigo. A mensagem “não é somente PARA algo mas também CONTRA algo, um inimigo real ou imaginário que tenta frustrar a suposta vontade de sua audiência” (2). Dois efeitos são observados: 1. A agressividade é direcionada para outros e não para as causas defendidas pelo doutrinador; 2. Ajuda consolidar a lealdade dos que estão dentro do grupo. O doutrinador descreve com imagens estereotipadas e diabólicas o inimigo identificado. Quanto mais forte o inimigo, mais forte será a unificação do grupo à causa, uma unificação que é baseada no medo e no ódio.



As seitas, em geral, sempre foram bem sucedidas em criar imagens temíveis de inimigos maléficos para incutir medo e suspeita nos seus adeptos. Instilou também a imagem de que Deus protege aqueles que mantêm a obediência dentro da organização e os que estão fora dela serão fatalmente destruídos por Deus. Toda e qualquer crítica dirigida à seita, ou mesmo ao que ela acredita, será maximizado como uma perseguição declarada, e como crêem ser os únicos detentores da verdade, essa imaginária perseguição afeta diretamente o estabelecimento do Reino de Deus, e todos os seus adeptos têm por obrigação assumir a defesa desse “reino” personificado nessa seita. Ou seja, a seita será sempre uma vítima e todos os demais são inimigos em potencial quando se contrapõem a ela.



Da mesma forma, eleger um inimigo facilita bastante as coisas. É com base nesse inimigo que a doutrinação encontrará seu ápice. Não são poucas as denominações religiosas que fazem da Igreja Católica o centro de sua existência. “Se há algo a combater, vamos combater aquela a quem todas as outras seitas combatem”, pensa o doutrinador. Esse é o único pensamento no qual há consenso entre as diversas seitas existentes. Se há algo a comparar negativamente, compara-se com a Igreja Católica. Se houve uma reforma nas instalações do templo, o doutrinador dirá: “Vejam como ficou belo o nosso templo... e sem precisar de qualquer imagem”. Se houvesse a mínima possibilidade da Igreja Católica sucumbir, certamente que futuro dessas seitas seria muito curto.



7. A Doutrina do Medo



Por fim, temos o mais terrível estágio da doutrinação: o medo que a própria seita infunde no indivíduo, e que tem graves desdobramentos e, não raro, conduz a graves danos psicológicos e morais.



O adepto é conduzido a ter medo da própria seita, não de forma direta, mas através de vários conceitos que lhe são impostos. A seita, a todo o tempo, se ocupa de manter sob seu controle os membros já conquistados. Para isso, utiliza de todos os recursos de persuasão antes citados, mas aplica-os de forma perspicaz entre seus adeptos.



Não raro, vários membros dessas seitas são conduzidos a ver naqueles que não professam a sua crença um oponente. Famílias são destruídas por conta dessa linha doutrinária, casamentos são desfeitos, filhos são abandonados, relações estáveis de amizade são rompidas. A seita incutiu no adepto a noção de que ele faz parte da “luz”, é um “filho da luz” e a luz não se deve misturar com as trevas. Incute, ainda, outro temor que impede o livre pensar do adepto: o de que ele - o adepto - caso se desligue da seita passará a fazer parte desse reino de trevas. Muitas vezes o adepto sente-se motivado a abandonar a seita, mas permanece fiel por medo de ver-se segregado pelos amigos e parentes.



Um outro aspecto da doutrina do medo se reflete nos graves danos psicológicos provocados naqueles que se desligam da seita. Perdem o convívio dos amigos e da família, perdem suas casas, sua identidade social, muitas vezes perdem seus empregos ou oportunidades de trabalho, além de não mais conseguirem se ajustar socialmente a qualquer outro grupo.



Não raro, sentimentos de culpa passam a permear a vida do ex-adepto, ele passa a sentir-se culpado pela ruptura familiar, tem sobre si a impressão de falência existencial. Tudo isso somado ao pior dos frutos: o ceticismo. A religião e a fé se tornaram fonte de sofrimento, ou seja, a seita que não escraviza; indiferentiza. Cria um ser humano onde a fé, antes fecunda, se verteu em indiferentismo e ceticismo. Isso é facilmente explicável: o deus de uma seita, é ela mesma.



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Este artigo é baseado em "A Study of the Persuation Techniques Used by Jehovah’s Witnesses and the Watchtower" de NATHAN CHARLES BEEL.



(1) Myers, D.G. Exploring Psychology Third Edition (New York, NY: Worth Publishers, 1996)



(2) Brown, J.A.C. Techniques of Persuasion: From Propaganda to Brainwashing (Middlesex, UK: Penguin Books, 1963)

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