Templários

 


Fonte: Revista Pergunte e Responderemos
Autor: D. Estevão Bettencourt OSB


Os Templários (Milites ou Equites Templi) constituiam uma Ordem de Cavaleiros militantes, sendo a mais antiga de todas. Foi fundada em 1119 por Hugo de Payens e oito cavaleiros franceses, que se uniram numa família religiosa, ligada pelos votos habituais de pobreza, castidade e obediência, além do voto especial de defender com as armas e proteger os peregrinos que se dirigissem a Jerusalém.


O seu nome se deve ao fato de que o rei Balduíno II de Jerusalém colocou à disposição dos cavaleiros uma habitação no palácio real, que se achava na esplanada do Templo de Salomão. A Ordem dos Templários foi inicialmente muito pobre, mas em breve atingiu seu apogeu, especialmente depois que S. Bernardo demonstrou grande interesse por ela, tomando parte notável na redação da sua Regra. Os Cavaleiros foram favorecidos pelo Papa Inocêncio II, e altamente beneficiados por doações, que tornaram a Ordem muito rica. o seu hábito era um manto branco sobre o qual estava traçada uma cruz vermelha. Juntamente com os Joanitas ou Cavaleiros Hospitaleiros (porque tinham um hospital em Jerusalém dedicado a S. João Batista), os Templários se dedicaram com suma abnegação coragem a defesa da Terra Santa; mais tarde, porém, foram vítimas de discórdias entre si.


Filipe IV o Belo, da França, movido pela cobiça do poder e dos bens dos templários, queria provocar a extinção dos mesmos. Em vista disto, desde 1305 começou a propagar terríveis acusações contra os irmãos: dizia-se que, por ocasião da recepção na Ordem, os cavaleiros deviam cuspir e calcar a cruz, negar a Cristo, adorar um ídolo chamado Bafomet, obrigar-se à sodomia e a outras práticas vergonhosas.


Em 1307, Clemente V, instado por Filipe, prometeu a este fazer um inquérito a respeito dos pretensos crimes dos Templários. O rei, porém, não esperou o procedimento papal, e mandou prender aos 13/10/1307 todos os Templários da França, inclusive o seu grão-mestre Jaime ou Tiago de Molay (cerca de 2000 homens), confiscando todos os seus bens (fora da França ficavam uns 1000 ou 2000 Templários ainda). Filipe exortou outros reis a seguir o seu exemplo, e mandou aplicar a tortura aos irmãos para extorquir deles todas as confissões de interesse do rei. O próprio grão-mestre, alquebrado, e talvez sob a pressão da tortura, exortava por carta os seus súditos a confessar logo. Filipe dava a crer que essas medidas eram tomadas de acordo com o Papa, quando na verdade eram todas de iniciativa e responsabilidade do rei.


A princípio, Clemente V protestou e exigiu a libertação dos encarcerados. Deixou-se, porém, convencer pelas confissões extorquidas e, em fins de 1307, mandou aos outros soberanos que prendessem os Templários e confiscassem os seus bens em favor da Igreja. O próprio Papa em Poitiers (1308) ouviu o depoimento de 72 Templários, que Filipe Ihe mandara. Cada vez mais convencido da culpabilidade da Ordem, ordenou nova perseguição; em 1310 foram de uma só vez queimados como hereges 54 Templários em Paris; outros morriam no cárcere ou sob a tortura.


A decisão última foi confiada a um Concílio Ecumênico, que se reuniu em Viena (França) de outubro 1311 a maio 1312 (15º Concílio Ecumênico). Além da causa dos Templários, o Sínodo devia examinar as acusações contra Bonifácio VIII tratar das necessidades da Terra Santa e de uma reforma da disciplina da Igreja.


A figura de Bonifácio VIII defunto, apesar de todas as concessões feitas por Clemente V, ainda era objeto de rancor do rei. Em 1310 este começou a ouvir o depoimento de testemunhas. Todavia o Concílio de Viena rejeitou as acusações de heresia contra o falecido Papa; o rei, então, por conveniência própria, desistiu da perseguição difamatória. Em troca disto, Clemente, agradecido, o declarou inocente no atentado de Anagni, reconheceu que somente “zelo bom” o movera; o próprio Guilherme de Nogaret foi absolvido a pedido de Filipe. Assim terminava a triste história de Bonifácio VIII, com a vitória absoluta do rei.


Quanto aos Templários, os conciliares queriam que se continuasse o processo pois até então nada se havia encontrado que motivasse a supressão da Ordem. Todavia o Papa Clemente, premido pelo rei presente ao Concílio, houve por bem abolir a Ordem mediante a Bula Vox in excelso de 22/03/1312, “não em sentença judiciária, mas como medida de prudência administrativa baseada nas faculdades da Sé Apostólica”. Com outras palavras: o Papa não quis julgar os Templários do ponto de vista ético ou disciplinar; julgou, porém, que a existência dos Templários era um foco de distúrbios no mundo cristão da época. Esta distinção obteve o consentimento da maioria dos conciliares. Os bens dos Templários foram, em parte, atribuídos a outras Ordens Religiosas, em parte caíram nas mãos dos príncipes. Filipe ainda conseguiu do Papa um processo especial contra alguns dignitários da Ordem: uma comissão de eclesiásticos, que eram do seu beneplácito, os condenou á prisão perpétua; o Grão Mestre da Ordem e o Grão-Preceptor da Normandia foram queimados vivos aos 11/03/1314 por terem retratado confissões anteriores e terem declarado a Ordem inocente.


A tragédia dos Templários é mais um testemunho do predomínio do poder régio sobre a Igreja; de modo especial evidencia que a Inquisição (a qual funcionou no caso) se foi tornando mais e mais um instrumento nas mãos do poder político para eliminar todos os adversários dos reis e príncipes (ver capítulos 32 e 33 sobre a Inquisição). Os Templários podiam apresentar suas falhas - o que é humano; mas certamente estas não eram tão graves nem universais quanto diziam os adversários; as confissões extorquidas nada significam. Nos países que não dependiam do rei da França as acusações colhidas contra os Templários foram insignificantes; na Espanha (Aragão, Barcelona) e em Chipre o processo demonstrou claramente a sua inocência. Embora tenha havido historiadores desfavoráveis à dignidade dos Templários, hoje em dia não resta dúvida de que foram vitimas de graves calúnias. Certas sociedades em nossos tempos dizem-se herdeiras dos Templários medievais, com os quais teriam uma vinculação secreta; teriam uma gnose ou conhecimentos esotéricos reservados aos iniciados. Ora estas afirmações são fantasiosas e alheias à verdade.


Texto de D. Estevão Bettencourt – Historia da Igreja – Ed. Lúmen Christi - RJ


Data Publicação: 11/01/2008

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