Missa e a Última Ceia: Reflexões sobre a Eucaristia nos relatos evangélicos


 

Missa e a Última Ceia: Reflexões sobre a Eucaristia nos relatos evangélicos


Fonte: Apologetics.org
Colaboração: Milagros Sotelo de Gómez / Venezuela
Tradução: Rogério Hirota


A instituição da Eucaristia se encontra relatada quatro vezes no Novo Testamento, nos três sinóticos e na primeira carta do apóstolo São Paulo aos Coríntios.


São João por sua vez, não se refere ao momento da instituição da Eucaristia, atento a seu propósito de não repetir o que outros narraram. Mas sim de descrevê-lo mais especificadamente e é por isso que através do capitulo 6 temos a promessa da Eucaristia, que é uma parte da doutrina que se refere a ela e que nos leva a análise desta frase: O Pão da Vida e na qual se destacam duas partes:


a) Que é dom do Pai aos homens e deve ser recebido com fé.


b Que é dom de Jesus, sua salvação que se toma como comida e bebida.


Os blocos particulares estão entrelaçados pela ideia da Eucaristia e neles se usa a terminologia da última ceia. A doutrina da promessa, se resume em três proposições:


1. << Eu sou o pão vivo que desceu do céu. >>


2.<< Se alguém comer deste pão viverá eternamente.>>


3.<< O pão que vos darei é minha carne para que o mundo viva >>


A palavra grega que Jesus usa para dizer carne é "SARX" que é tradução a palavra hebraica "BASAR"; e que significa o "composto humano formado pelo corpo e a alma como unidade indivisível"; isto se opõe ao conceito grego dualista de alma e corpo como realidades separadas.


Afirmamos então que na mentalidade dos judeus ao dizer : basar = sarx = carne inclui o homem inteiro, quer dizer. um corpo com alma.


Consequentemente quando Jesus fala em comer sua "carne", quer nos dizer alimentar-se da sua humanidade completa e que neste alimento está unida inseparavelmente sua divindade.


O realismo da promessa de um alimento fica ainda mais reforçado pelo o que Jesus acrescenta:


<< Se não bebeis do meu sangue não tereis a vida em vós. >>


Ao mencionar seu sangue, acentua-se o realismo do dom de sua pessoa, já que "carne e sangue" é uma expressão hebraica que significa "homem", um ser humano completo e vivo. Não é como o maná, nem taopouco como o pão com que alimentou a multidão mas verdadeiramente comida e bebida, alimento que produz a vida eterna e a ressurreição final.


A instituição da Eucaristia aparece durante a última ceia que Jesus celebrou com seus discípulos e os quatro relatos coincidem no essencial em todos eles:  A consagração do pão precede a do cálice; ainda que devemos ter em mente que historicamente a celebração da Eucaristia ( Fração do Pão ) começou com a Igreja primitiva antes da redação dos Evangelhos.


Para entender melhor a Eucaristia situemo-nos nos marco dos acontecimentos:


a) Dentro de uma comida festiva de despedida.


b) A instituição da Eucaristia foi o ápice da ceia pascal.


Neste contexto existe uma clara mensagem, Cristo em pessoa é a nova páscoa. A Antiga Aliança foi superada pela Nova e definitiva Aliança, que é selado com o sangue do Cordeiro pascal, o Cristo Jesus. O povo da Antiga Aliança comemora a Páscoa de Yahveh; em contrapartida o povo da Nova Aliança, celebra a presença do Senhor entre nós.


A celebração eucarística vai além como podemos deduzir pela analise anterior de reunirem-se para recordar o que Jesus fez por nós, tal como fazem nossos irmãos separados. O Senhor não pode ser uma recordação, o pão de vida e como "memorial".


A celebração eucarística tem a conotação de atualidade pela ação do Espírito Santo, o acontecimento da salvação, o qual nós nos associamos aqui e agora. Não é uma repetição mas que se faz presente.


Durante a consagração se realiza o milagre da transubstanciação, quer dizer, ainda que diante dos nossos olhos pareçam espécies de pão e vinho; estas já não são mais e estamos então diante da presença real e substancial de Cristo com seu corpo, sangue, alma e divindade; isto é, a Eucaristia, que podemos contemplar nas duas vertentes; como sacramento na qual Cristo se dá a nós como alimento para nos santificar e como sacrifício enquanto Cristo se oferece a Deus como vítima para o perdão dos pecados. Cristo efetivamente não foi imolado nesse momento da ceia mas sim se ofereceu para ser imolado na Cruz:" Este é meu corpo que será entregue por vós. Este é meu sangue que será derramado por vós." . Vemos assim que seu corpo e seu sangue já tiveram o caráter de vítima imolada; e por isso se a Missa é a renovação do sacrifício da Cruz, a última Ceia foi a sua antecipação.


Há também uma íntima relação entre a Missa e a última Ceia, porque esta foi a primeira Missa celebrada por Cristo, as que seguem depois são o cumprimento das palavras que então Ele pronunciou " Fazei isto em memoria de mim "


Sob luz da Revelação na Escritura e no desenvolvimento da Tradição entendemos que o Senhor tem uma clara intenção na última Ceia e onde também se institui o sacramento da Ordem (em virtude do requerimento do mandato). Deixa um mandamento "fazei isto em memoria de mim", para que sua presença e sua salvação cheguem a todos os homens e em todas as épocas, para que possamos ter a vida eterna ao comer sua carne e beber seu sangue.


Todos os elementos e palavras presentes nos relatos da instituição da Eucaristia acompanha todas as grandes ideias do Antigo Testamento. (Aliança e Reino de Deus, expiação e martírio, culto e pregação escatológica). Cristo é o centro de tudo, por Ele se realiza a obra salvadora de Deus em plenitude e na consumação. Na Eucaristia se concentra tudo o que Deus tem feito e há de fazer pelos homens na historia da salvação. O Reino de Deus não é somente proclamado por Ele como próximo mas foi inaugurado já pela sua presença e obra; neste sentido, a Eucaristia é um adiantamento da plenitude que gozaremos no Céu.


Para ilustrar o que significa a Eucaristia como mistério de fé, limitemo-nos a João 6,25-40 dentro do discurso do Pão da Vida. Jesus declara que esse pão destinado a dar vida para o mundo é Ele em pessoa mas coloca uma condição indispensável de fé: Tem que crer em Jesus e isto nos deixa uma pergunta: O que é crer em Jesus ? E o mesmo que " ir a Ele " , é se entregar a Ele. Não é um simples acontecimento, mas uma aproximação afetiva e uma decisão da vontade de seguir Jesus que afirma que tudo isto é uma Graça que o Pai concede: << que todos os que vem ao Filho e crê nele, tenha a vida eterna>>, Jesus ao longo do Evangelho repete que Deus chama  todos os homens pela fé, logo o dom é oferecido a todos os homens, mas é aceito por uns e recusado por outros, por outro lado o dom de Deus é gratuitoe o homem não tem nenhum mérito próprio para recebê-lo. O mérito que podemos ter, consiste no exercício que fazemos desse dom, quer dizer, se o aceitamos e o vivemos.


Na teoria todo cristão sabe (ou deveria saber) que na Eucaristia esta presente Jesus em corpo, sangue, alma e divindade. Mas parece que na prática não temos isso em nossa consciência, nem no coração, porque  fosse assim sentiríamos em nosso ser fome e sede de recebe-lo diariamente como verdadeira comida e verdadeira bebida. Toda nossa vida estaria centrada ao redor da presença real do Mestre e a Santa Missa seria como consequência lógica: A primeira , diária e mais importante necessidade de nossa vida.


Por outro lado ao estar imersos na celebração eucarística, não caberia nenhuma distração e ficaríamos plenos na profundidade do mistério. Desta forma vivendo e deixando-nos penetrar pela Graça, os que nos rodeiam veriam por a luz brilharia da nossa fé vivida e não somente na teoria.


O caráter de "memorial" que tem a Santa Missa, por definição exige de nós a atitude de introduzir-nos ao mistério pascal tal  como é; não como recordação de algo que aconteceu, mas associando-nos a uma ação que segue se atualizando até hoje, por ele quando celebramos a Santa Missa, nos transladamos, nos fazemos presentes na Ceia do Senhor e estamos com Maria ao pé da Cruz. Estamos alimentando-nos do Corpo e Sangue do Senhor, estamos sendo salvos em virtude de seu sacrifício. Estaremos participando da unidade em comunhão com o Senhor e por ele podemos unir nossos sacrifícios e sofrimentos aos de Cristo. Somente "por Ele ,com Ele e n´Ele" tem um sentido profundo e ascende a dimensão redentora.


Necessariamente o encontro com Cristo Eucarístico é uma experiência pessoal e íntima, é o encontro cheio de amor de dois apaixonados. É portanto impossível descrever o sentimento sobre eles. Porque somente Deus conhece os corações dos homens. Devemos transluzir em nossa vida, a transcendência do encontro íntimo com o Amor. E é certo entender que quem recebe esta Graça, está com uma maior capacidade de amar e de servir o irmão e que além disso alimentado com o Pão da Vida fica mais fortalecido para enfrentar as provas, para encarar o sofrimento, para contagiar sua fé e sua esperança. Enfim, para levar a missão num final feliz, a vocação, que o Senhor lhe outorgue.


Se apreciássemos devidamente a Presença Real de Cristo no sacrário, nunca o encontraríamos sozinho acompanhado unicamente da lâmpada Eucarística acendida, o Senhor hoje diz a todos e a cada um, o mesmo que disse aos Apóstolos "Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa, antes de sofrer." Lc.22,15. O Senhor espera ansiosamente se dar a nós como alimento.


Somos conscientes disso? De que o Senhor nos espera no Sacrário com a mesa celestial servida.? E por que nós o deixamos esperando? Ou por acaso quando alguém vem visitar a nossa casa, deixamos a visita sozinha na sala e vamos nos ocupar de outras cosas.?


É exatamente isto o que fazemos em nosso apostolado, quando nos enchemos de atividades e descuidamos na oração diante do Senhor, que nos espera no Sacrário, preso porque nos "amou ao extremo" Aquele que fez o mundo e tudo o que nele contem (incluindo nós) se encontra ali, oculto aos olhos, mas incrivelmente luminoso e poderoso para saciar todas nossas necessidades.

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