A doutrina das Indulgências

 



Autor: Augusto Cesar Ribeiro


Zaqueu. A salvação de um rico.


1Tendo entrado em Jericó, Jesus atravessava a cidade. 2Apareceu um homem chamado Zaqueu, chefe dos coletores de impostos, muito rico. 3Ele procurava ver quem era Jesus, e não conseguia por causa da multidão, pois era de pequena estatura. 4Ele correu para a frente e subiu num sicômoro a fim de ver Jesus, que ia passar por ali. 5Quando Jesus chegou a esse lugar, levantando os olhos, disse-lhe: "Zaqueu, desce depressa: hoje preciso ficar na tua casa". 6Zaqueu desceu depressa e o acolheu todo alegre. 7Vendo isso, todos murmuravam; diziam: "É na casa de um pecador que ele foi se hospedar". 8Mas Zaqueu, adiantando-se, disse ao Senhor: "Pois bem, Senhor, eu reparto aos pobres a metade dos meus bens e, se prejudiquei alguém, restituo-lhe o quádruplo". 9Então Jesus disse a seu respeito: "Hoje veio a salvação a esta casa, pois também ele é filho de Abraão. 10Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido". (Lc 19,1-9).


Dentre os pontos de difícil compreensão dentro da doutrina da Igreja Católica, destaca-se certamente o que fala sobre Indulgências. A falsa compreensão da doutrina, ou a ausência total dessa mesma compreensão, tem levado inúmeras pessoas a cometer verdadeiras loucuras contra a Igreja.


Segundo o ensino dado pelo Papa Paulo VI, indulgência é a "remição, diante de Deus, da pena temporal devida pelo pecado já perdoado, que o cristão alcança sob o influxo da autoridade da Igreja, mediante o cumprimento de certas condições".


Parece complicada, à primeira vista, a definição. Mas podemos trocá-la em miúdos e assim caminhar no sentido de esclarecer nossas dúvidas.


Em primeiro lugar, "pena temporal". O que seria isto?


Seria a obrigação de reparação do dano provocado pelo pecado. "Pois bem, Senhor, eu reparto aos pobres a metade dos meus bens e, se prejudiquei alguém, restituo-lhe o quádruplo". No caso de Zaqueu, é certo que de nada adiantaria o arrependimento dos pecados se ele não restituísse os bens daqueles a quem defraudara.


Como no caso do roubo – o que adiantaria eu me arrepender de ter roubado um bem, se continuasse usufruindo do bem roubado? A restituição do bem, e não o arrependimento do pecado, é que caracteriza a chamada "pena temporal", que certamente é devida para que haja a reparação do dano causado pelo pecado, ato pertinente ao seu autor, cujo perdão é outra coisa – é ato de Deus.


Diante da impossibilidade da reparação direta do dano, cabe ao pecador substituí-la por outra ação tendente à prática do bem. Assim, a Igreja, usando de seu poder de ligar e de desligar, estabelece certas condições (marcadamente dirigidas à prática da oração, da esmola e da reflexão na Palavra de Deus) e lhes dá a eficácia de remição dessa mesma pena temporal. Remição significa satisfação.


Uma idéia que circula com bastante liberdade nos meios anticatólicos é a da suposta "venda de indulgências", que Martinho Lutero tanto abordou, sem entender direito a que estava se referindo. Isto porque, na época, a Igreja estabeleceu como indulgência a contribuição para a construção da Basílica de São Pedro, em Roma (obra essa que durou cerca de trezentos anos). Essa contribuição serviria para remir a pena temporal pelos pecados que cada um tivesse cometido, deles feito confissão e recebido a absolvição (porque indulgência não perdoa pecado algum, mas dispensa da reparação direta do dano causado pelo mesmo).


No episódio narrado no início, tirado do Evangelho segundo S.Lucas, vemos clara a resposta de Jesus: "Hoje veio a salvação a esta casa, pois também ele é filho de Abraão. Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido". Ou seja – Jesus ligou a salvação à reparação que Zaqueu havia prometido, e que estava certamente a seu alcance realizar.


Esta situação difere e muito do caso do ladrão da direita, na cruz (Dimas). Preso à sua cruz, ele nada poderia fazer para reparar seus erros, e nem como satisfação indireta, e Jesus, obviamente, compreendeu isto. Afinal, como ele iria exigir daquele pobre homem algo de que estava impossibilitado de fazer?


Indubitavelmente, o que Jesus tinha em mente, e que a Igreja entendeu, e que Lutero não entendeu, é evitar a "indústria do pecado" – eu roubo, confesso meu pecado, mas continuo com a coisa roubada. Fácil, não?


Com isto, fica evidenciado que conversão, mudança de vida, é questão de atitudes concretas. Não se pode parar no abstrato porque abstrato não conserta coisa alguma no relacionamento entre os membros do Corpo de Cristo.

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