As indulgências e Martinho Lutero





Fonte: O que são as Indulgências
Autor: Prof. Felipe Aquino



Às vezes a Igreja é acusada de ter vendido indulgências na Época de Lutero, no século XVI. Jamais isto aconteceu.


Na Idade Média, a Igreja entendeu bem a realidade do corpo místico de Cristo e do "tesouro da Igreja", como depositária dos méritos de Cristo e dos Santos; e, entendendo que era lícito aplicar estes méritos em favor dos penitentes que não podiam realizar duras penitências (Jejuns, peregrinações, etc.). Ciente disso no Século IX, começou a "indulgenciar" certas obras como orações, visitas a um santuário, esmolas, etc.; merecendo o mesmo mérito das penitências mais duras. Assim foram contadas as indulgências em dias, semanas, anos, conforme o tempo que era exigido para as penitências antigas substituídas pelas novas "obras indulgênciadas". Por exemplo , a Igreja aprovou que quem desse esmolas para uma instituição de caridade ou para fins apóstolicos, poderia ganhar indulgências, por causa do amor de Deus demonstrado no ato de dar esmola. O que importava era o amor com que realizasse a obra de caridade e a disposição interior de renúncia a todo pecado.


Houve infelizmente alguns mal entendido por parte de muitos fiéis do fim da Idade Média, que fizeram das indulgências algo de mecânico, relegando a importância máxima da atitude interior de conversão e amor a Deus ao dar esmola; daí,a aparência de que a Igreja vendia indulgências, o que nunca foi verdade.


O que aconteceu na época de Lutero, foi que o Papa Julio II, em 1507, tinha começado a construção da nova Basílica de São Pedro, em Roma, e tinha concedido uma indulgência ao Jubileu a quem oferecesse esmola para essa obra; iniciativa que foi repetida em 1514 pelo Papa Leão X. Em 1517, na província de Magdegurgo, na Alemanha, a pregação das indulgências jubilares foi feita com grande solenidade por Johannes Tetzel, dominicano, que nem sempre foi fiel ao espírito das indulgências e da sã doutrina.


Foi contra isso que Lutero reagiu, enviando em 31/10/1517 uma carta a Alberto de Brandeburgo e a seu ordinário; uma carta dura pedindo providências contra a pregação de Tetzel e junto enviou as 95 teses sobre as indulgências.


Para Lutero, a indulgência era apenas uma remissão da pena canônica imposta pela Igreja. e não para ser paga na vida futura, e não podia ser aplicada aos defuntos.Para ele não existe o "tesouro da Igreja"; também negavao primado e a infalibilidade do Papa e dos concílios, e defendia as três teses que deram margem a reforma protestante:


1- "Sola Scriptura": apenas a Escritura como fonte de fé, interpretada individualmente, o chamado "livre exame".


2- "Justificatio Sola Fide" : a justificação somente pela fé e não pelas obras.


3- "Sola Gratia" não aceita a mediação da Igreja Hierarquica entre Deus e os homens.


Lutero chegou a escrever em sua tese 82, o seguinte:


" Porque, afinal, o Papa não esvazia o purgatório por motivo da santíssima caridade e da suma necessidade das almas que, entre todas, é a razão mais justa, do momento que liberta um número sem fim de almas por motivos do funestíssimo dinheiro para a construção da basílica, que é uma razão muito leviana?"


Em 1518, face a crescente propagação das teses de Lutero na Alemanha, o Papa Leão X, as submeteu a exame e intimou Lutero a apresentar-se a Roma, o que não aconteceu graças a influência de Frederico da Saxônia. Acabou sendo entrevistado em Augsburgo, pelo Cardeal Tomás de Vio, chamado Caetano em 1518. Por outras razões, e para evitar discórdias maiores, Leão X tentou amenizar a questão, já que Lutero tinha o apoio de gente influente no Estado.


Após as defesas apresentadas por Lutero, começou a ficar claro, e hoje não se tem dúvidas, que a luta de Lutero se dava não contra os abusos morais do clero de Roma, ou sobre outras questões teológicas discutidas na época, como as indulgências, "MAS SOBRE A PRÓPRIA CONSTITUIÇÃO FUNDAMENTAL DA IGREJA", como afirma Giacomo Martina (História da Igreja, Vol I, Ed. Loyola, 1995, SP. Pag. 133).


Face a gravidade da questão, em 1520, após o encerramento do processo contra Lutero, em Roma, foi promulgada a Bula "Exsurge Domine", de Leão X, obrigando que Lutero se retratasse dentro de sessenta dias a respeito das várias teses: livre arbitrio, pecado original, confissão, boas obras, sacramentos em geral, a graça, contrição dos pecados, indulgências, purgatório e primado do Papa.


A Santa Sé aceitou 54 das 95 teses de Lutero, mas rejeitou 41, por não estarem de acordo com a "Sã Doutrina".


Neste periodo Lutero escreveu três obras que tiveram grande divulgação:


1- À nobreza cristã da nação alemã, incitando à derrubada de três muralhas que defendiam a Igreja romana: o direito exclusivo do Papa de convocar concílios, a distinção entre clero e laicato e o direito exclusivo da hierarquia [Magistério da Igreja] de interpretar as Escrituras.


2- O De Captivitate babylonica ecclesiae praeludium, onde critica a doutrina dos sacramentos, aceitando apenas o batismo, a penitência e a Eucaristia, mas não a transubstânciação e o valor sacrifical da missa.


3- O De Libertate Christiana, onde exaltava a liberdade do homem interior, justicado só pela fé e não pelas obras.


Finalmente em 1520, Lutero queimou publicamente o Corpus Iuris Canonici, simbolo da autoridade do Papa, juntamente com a bula Exsurge Domine. Então o Papa Leão X excomungou Lutero e seus seguidores, em 03 de janeiro de 1521, através da Bula Decet Romanum Pontificem.


Como se vê, a questão de Lutero teve muito mais a ver com a "natureza da Igreja", constituida por Jesus, do que com apenas as indulgências. Aí residiu a gravidade de seu erro, que acabou provocando o grande cisma. Por causa da Reforma a Igreja perdeu quase um terço de seus filhos.


Lutero nãp soube distinguir a Igreja, instituida divinamente por Jesus, santa e infalivel e as pessoas da Igreja, fracas e pecadoras. As parabolas do joio e do trigo, e da rede lançada ao mar, indicam que até o final dos tempo a Igreja trará pescadores no seu seio. Infelizmente, ao inves de jogar fora o peixas ruins, Lutero lançou fora a propria rede, isto é, a Igreja.

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