Domingo!


Autor: John Nascimento


Nas línguas de origem latina, o domingo vem da palavra latina Dominica que significa o Dia do Senhor e é o primeiro dia da semana.


- Eu fui arrebatado em espírito no Dia do Senhor, e ouvi atrás de mim uma grande voz... (Apc. 1/10).


Noutras línguas, como por exemplo o inglês, Sanday, vem do latim, em referência ao culto pagão dies solis isto é, o dia do Sol, para significar um dia da semana a que chamavam o dia depois do sol.


Também foi aplicado a Jesus, conforme se lê em Malaquias :


- Mas para vós, que temeis o Meu nome, levantar-se-á o Sol da Justiça..,. (Mal. 4/2).


A observância do Domingo substituiu a observância do Sábado Judaico a partir do Novo Testamento, mais propriamente depois da Ressurreição de Jesus no primeiro dia da semana :


- No primeiro dia da semana, ao romper da alva, foram ao sepulcro levando os perfumes... (Lc.24/1).


E era esse o chamado o dia do partir do pão :


- No primeiro dia da semana, estando nós reunidos para o partir do pão. ( Act.20/7).


Segundo a teologia desde os primeiros Padres da Igreja, o Domingo foi considerado o dia para comemorar a Ressurreição do Senhor. (S. Inácio de Antioquia).


Subsequentemente outros teólogos acrescentaram a ideia de primeiro dia em relação com o dia da Criação. (S. Justino mártir e Santo Isidoro de Sevilha)


Depois ainda foi acrescentada a comemoração da descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes.


E por ser o dia da Ressurreição do Senhor, nunca neste dia se jejuava nem se praticava a abstinência.


A observância do dia de descanso começou só no século IV, primeiro como sugestão eclesiástica (no Concílio de Elvira -306) e depois por lei civil (no Édito de Constantino), especificando que nesse dia não era dia de trabalho.


Subsequentemente a legislação da Igreja combinou a obrigação de assistir à Santa Missa com a abstinência de trabalho.


Liturgicamente, o Domingo está intimamente relacionado com a celebração da Eucaristia, e em comemoração do Dia da Criação, ou com o oitavo dia depois da Criação, isto é, como o dia depois do sétimo, a significar perfeição.


Cada um entra no Reino de Deus através da Eucaristia do Domingo, um dia fora do tempo, o dia para exprimir o que se há-de realizar plenamente no Reino.


O presente Sacramentário para os ritos de bênçãos e aspersões de água benta a celebrar ao Domingo contém referências à rica teologia do Domingo.


Nas Normas Gerais para a Liturgia do Ano e para o Calendário estabelece-se que a "Igreja celebra o Mistério Pascal no primeiro dia da semana, conhecido como o Dia do Senhor ou Domingo" ; e que o "Domingo deve ser sempre colocado em primeiro lugar dos dias da semana"; e por causa da sua importância é nos domingos que se celebram as festas do Senhor.


O Direito Canónico no Cânone 1247 prescreve que nos Domingos os fiéis estão obrigados a participar na Missa e a abster-se de todos os trabalhos que impedem o culto que se deve prestar a Deus e a alegria que é própria do Dia do Senhor, bem como o alívio da alma e do corpo.


Ainda hoje, em muitas Paróquias, é costume os sinos tocarem para chamar os fiéis para a celebração da Missa dominical.


Esta tradição do toque dos sinos já vem desde o século VI, porque não havia relógios.


E o toque dos sinos não era apenas o indicativo da hora, mas como que um convite:


- Vem! Vem !


Era um melódico convite para as pessoas e para as famílias para que se reunissem em assembleia de Deus, com Cristo, o Senhor, e com todo o Povo de Deus.


Portanto, a celebração do Domingo, vem já dos primeiros tempos da Igreja.


É a mais antiga e a mais fundamental das actividades dos cristãos.


Todavia parece que esta mais básica tradição da religião entrou em decadência, o que é, em certo modo compreensível, porque os motivos para que a assembleia se reuna no Dia do Senhor está em transição.


Até 1960 havia um ensinamento - ou talvez uma ameaça - de que faltar à Missa dominical era um pecado muito sério, isto é, grave.


Isto era acompanhado de uma pregação específica de evangelização para a celebração da Páscoa, como preparação para a confissão anual de desobriga e para a comunhão pascal.


Com a falta de clero e com a pressão dos meios de comunicação social e sobretudo do exercício ao ar livre e nos campos de desportos, exactamente às mesmas horas da Missa dominical, correu-se para um relativo afastamento das camadas mais jovens com as suas consequentes repercussões a todos os níveis.


As actividades dos grupos de jovens que pertenciam à orgânica das Paróquias, apesar de todos os seus atractivos, começaram também o caminho de uma forçada decadência.


Depois de 1960 surgiu de novo o motivo original da caminhada para a assembleia dominical com a renovação da Igreja pelo Concílio Vaticano II com as suas adaptações aos tempos modernos, com as Missas vespertinas nos sábados e nos domingos, com a chamada à responsabilidade dos leigos em serviço ministerial, e tantas outras.


Assim os Domingos evoluíram com as assembleias a celebrarem semanalmente a Ressurreição do Senhor, ou seja, a Páscoa semanal, ou comemoração semanal do Mistério da Páscoa.


Os Domingos conservam viva a sua memória e a sua presença.


São o fundamento e o núcleo do que se tornou o Ano Litúrgico, servindo eventualmente como pontos ou focos de um movimento estacional que nos vão revelando o valor tradicional do Advento, do Natal, da Quaresma e da Páscoa, que giram todos em volta do mesmo Mistério Pascal.


As tradições do Domingo conduzem as assembleias para o culto eucarístico com o ciclo das leituras da Palavra de Deus, com as orações oficiais e próprias de cada tempo litúrgico, e mantêm vivo o respeito pela santidade do dia e pela abstenção do trabalho.


Só é pena que se não faça uma maior campanha no sentido de uma compostura exterior, (Hoje em dia muito precária, imprópria e provocadora) para que se sinta ainda mais que uma Igreja não é um lugar como qualquer outro, mas um lugar de oração e onde as pessoas se devem apresentar com o seu "fato de ver a Deus".


Os primeiros cristãos eram judeus.


Por algum tempo continuaram a observar o sábado (segundo as tradições do Antigo Testamento).


Dedicavam o sétimo dia, ou o último dia da semana, ao culto do Deus único, Javé, de acordo com o Livro do Génesis :


- Concluída, no sétimo dia, toda a obra que havia feito, Deus repousou, no sétimo dia, do trabalho por Ele realizado. (Gen.2/2).


E ainda, de harmonia com o Livro do Êxodo :


- Recorda-te do dia do sábado, para o santificares. (Ex.20/8).


O sábado judaico conferia ao povo judeu um ritmo regular de vida com tradições que davam grande ênfase ao descanso ou ausência de trabalho e de actividades físicas.


E era também o dia em que realizavam as suas festas; era um dia festivo.


Era no sábado que ofereciam sacrifícios no templo de Jerusalém.


Foi essa a prática comum durante os séculos que precederam o Cristianismo, nas sinagogas locais até mesmo durante o tempo do Exílio.


O povo rezava e ouvia as leituras da Escritura e recebia a instrução religiosa.


Porém, desde o princípio, todos os que acreditaram em Jesus e O seguiram, começaram a celebrar o primeiro dia da semana, como aniversário da Sua Ressurreição.


Assim o lembra o Catecismo da Igreja Católica :


1166. - "Por tradição apostólica, que nasceu do próprio dia da Ressurreição de Cristo, a Igreja celebra o mistério pascal todos os oito dias, no dia que bem se denomina dia do Senhor ou Domingo" (SC 106). O dia da Ressurreição de Cristo é, ao mesmo tempo, o "primeiro dia da semana", memorial do primeiro dia da Criação e o "oitavo dia" em que Cristo, após o seu repouso do Grande Sábado, inaugura o "Dia que o Senhor fez", o "dia que não conhece ocaso"(Liturgia bizantina). A "Ceia do Senhor" é o seu centro, porque é nela que toda a comunidade dos fiéis encontra o Senhor Ressuscitado, que os convida para o seu banquete.


1167. - O Domingo é o dia por excelência da assembleia litúrgica, em que os fiéis se reúnem "para participarem na Eucaristia e ouvirem a Palavra de Deus, e assim recordarem a Paixão, Ressurreição e glória do Senhor, e darem graças a Deus, que "regenerou para uma esperança viva pela Ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos".(SC 106).


Este tema fundamental do Domingo primeiro dia da semana está em desacordo com certa cultura popular de que ele faz parte, dentro do fim de semana, mais do que um importante principiar.


Os primeiros cristãos já se reuniam aos sábados à tarde para uma ceia e em que benziam o pão e o vinho, para Cristo estar já presente no meio deles.


Mas aconteceu que em Corinto apareceram abusos, pelo que Paulo teve que os avisar :


- E, ao recomendar-vos isto, não vos posso louvar a respeito das vossas reuniões, que causam mais danos do que proveitos. (1 Cor. 11/17).


No princípio do século II o ritual da Eucaristia passou para a manhã do Domingo, o primeiro dia da semana, provavelmente por causa das perseguições.


Um decreto do Imperador Trajano proibia reuniões suspeitas à tarde.


Isto ajudou também o aumento dos gentios.


Livres das tradições do sábado, podiam acorrer ao domingo, mas tinha que ser cedo porque o dia depois do sábado era dia de trabalho.


Na manhã do Domingo a assembleia, provavelmente, dividia-se em duas actividades :


* A primeira era composta por hinos, salmos, orações e leituras da Escritura com instrução.


* A segunda era o ritual eucarístico.


Portanto a liturgia da Palavra servia de introdução para o ritual eucarístico.


E isto aconteceu por causa dos abusos na ceia regular da tarde de sábado, com a transferência para a manhã do Domingo.


Pelo ano 165, o ritual do Domingo já era reconhecido pelos católicos como a Missa Dominical, depois da qual o povo ia para o seu trabalho.


Durante os primeiros séculos a ideia de descanso ao Domingo ainda não existia, como vimos atrás.


Falando a respeito do Domingo diz-nos, pois, o Catecismo da Igreja Católica, sobre a celebração eucarística :


1343. - Era sobretudo no "primeiro dia da semana", isto é, no dia de Domingo, dia da Ressurreição de Jesus, que os cristãos se reuniam "para partir o pão"(Act.20/7). Desde esses tempos até aos nossos dias, a celebração da Eucaristia perpetrou-se, de maneira que hoje a encontramos em toda a parte na Igreja com a mesma estrutura fundamental. Ela continua a ser o centro da vida da Igreja.


E a partir da tradição, a Igreja legislou, conforme diz de novo o Catecismo da Igreja Católica:


1389. - A Igreja impõe aos fiéis a obrigação de "participar na divina liturgia nos domingos e dias de festa" (OE 15) e de receber a Eucaristia ao menos uma vez em cada ano, se possível no tempo pascal, preparados pelo sacramento da Reconciliação. Mas recomenda-lhes vivamente que a recebam aos domingos, e dias festivos, ou ainda mais vezes, mesmo todos os dias..


Dentro da doutrina do Terceiro Mandamento da Lei de Deus, diz ainda o Catecismo da Igreja Católica :


2174. - Jesus ressuscitou de entre os mortos "no primeiro dia da semana"(Mt.28/l; Mc.16/2; Lc.24/l;Jo.20/l). Enquanto "primeiro dia", o dia da Ressurreição de Cristo lembra a primeira Criação. Enquanto "oitavo dia", a seguir ao sabbat, significa a nova Criação, inaugurada com a Ressurreição de Cristo. Este dia tornou-se para os cristãos o primeiro de todos os dias, a primeira de todas as festas, o dia do Senhor ("He kuriaké hémera" "dies dominica"), o "Domingo".


2175. - O Domingo distingue-se expressamente do sabbat, ao qual sucede cronologicamente, em cada semana, e cuja prescrição de carácter cerimonial substitui para os cristãos. O Domingo completa, na Páscoa de Cristo, a verdade espiritual do sabbat judaico e anuncia o descanso eterno do homem em Deus. Porque o culto da lei preparava para o mistério de Cristo e o que nela se praticava era figura de algum pormenor relativo a Cristo.

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