Inspiração, Tradição, Sagradas Escrituras

 


A Biblia é inspirada, a Tradição não: porque escutá-la então?

Fonte: Apologetica.org
Autor: James Akin
Tradução: Rogério Hirota


Tecnicamente, a palavra "inspiração" não aparece na Sagrada Escritura. O termo na qual é traduzido a palavra "inspiração" é "theopneustos", mas "inspiração" não é a melhor tradução para mesma. "Insuflada por Deus" é a tradução literal, mas aparece assim somente em 2 Tim. 3,16.


"Inspiração" é um termo técnico na teologia católica. Um livro inspirado é aquele na qual Deus é seu autor principal. As Sagradas Escrituras Apostólicas caem nesta categoria porque apesar de Deus as escrever mediante a ação humana, Ele mesmo elegeu o que disse.


A Tradição Apostólica é inspirada?


O é num sentido mas em outro não é. Quando Deus revelou inicialmente suas doutrinas aos apóstolos determinou a forma na qual estes ensinamentos viessem a eles, de maneira que a entrega original foi inspirada. Mas Deus não assinalou diretamente a maneira em que os apóstolos expressariam estes ensinamentos a outros. Os apóstolos podiam expressar uma doutrina individual de Deus numa variedade de formas diferentes. Assim enquanto a entrega original da Tradição Apostólica foi inspirada, as palavras com as quais tem chegado a nós não são.


"AS MESMAS PALAVRAS" DE DEUS E A "PROPRIA VOZ" DE DEUS


Uma distinção que ajuda a entender é aquela que os eruditos da Biblia fazem entre as "ipsisima verba" e a "ipsisima vox" de uma pessoa.


As "ipsisima verba" de alguém são as palavras que ele usou realmente.


A "ipsisima vox" de uma pessoa é sua verdadeira voz, o que disse, ainda assim é expressado com palavras diferentes.


Por exemplo, se o padre O'Reilly vem e me diz:


"Por favor informe ao público que a conferência terminará as 9:30"


Então estaria entregando sua "ipsisima verba" se digo:


"O Padre O'Reilly disse - abre aspas - A conferência terminará as 9:30 - fecha aspas."


Mas estaria me expressando com sua "ipsisima vox" se digo:


"O padre O'Reilly me disse que estaremos encerrando as nove e meia."


Não estaria falando com sua "ipsisima verba" porque não usei suas palavras exatas, mas o estaria com sua "ipsisima vox" porque precisamente contém o que foi dito por ele, se bem que de uma maneira diferente. Para aplicar isto as Sagradas Escrituras Apostólicas e a Tradição Apostólica, poderiamos dizer que as Sagradas Escrituras Apostólicas nos dão a "ipsisima verba de Deus", enquanto que a Tradição Apostólica nos proporcionam a "ipsisima vox de Deus". Ambas revelam a palavra de Deus: uma o faz mediante o uso das palavras exatas que Deus determinou; a outra expressando o mesmo em outras palavras.


POR QUE É NECESSÁRIO SE NÃO É INSPIRADO?


Isto é importante porque, acontece com frequência uma certa dificuldade de compreender o que uma pessoa quer nos dizer até escutar a idéia enunciada de manera diferente. Essa é a resposta para pergunta de uma pessoa que quer saber, "Por que empregar a Tradição Apostólica se a Sagrada Escritura é inspirada?" Porque nos brinda com uma segunda forma pela qual os pensamentos de Deus se expressam, fazendo-os mais inteligiveis para nós --algo que necessitávamos desesperadamente toda vez que a Sagrada Escritura advierte que os pensamentos de Deus são superiores aos nossos. Também a necessitamos porque a forma na qual as palavras de Deus se consignaram na Sagrada Escritura está adequada ao contexto de culturas antigas -aquelas dos Hebreus e Gregos- e como resultado necessitamos re-expressar os pensamentos das Sagradas Escrituras de uma maneira mais contemporênea. Este é, por exemplo, o propósito básico de uma palestra da Biblia -uma reexpressão dos ensinamentos da Sagrada Escritura em uma manera mais acessivel para as pessoas de nossa cultura.


PORQUE CONFIAR SE NÃO É INSPIRADA?


O fato de que a Tradição Apostólica ser uma segunda maneira pelo qual os ensinamentos de Deus são manifestadas também é a resposta a questão, "Por que confiar na Tradição Apostólica se não é inspirada?" Porque as coisas não necessitam ser inspiradas para ser fidedignas, somente necesitam ser verdadeiras. A veracidade é necessaria para confiar, não a inspiração. Quando me visto nas manhãs eu não necessito uma revelação inspirada da divinidade me dizendo onde estão meus sapatos.


Simplesmente necessito conhecer a verdade sobre onde estão eles. Enquanto isto, posso seguir adiante e me vestir. Quanto mais então devo crer na autoridade da Tradição dos Apóstolos, como quer que expressem os ensinamentos de Deus, se bem com palavras diferentes. Na teologia não tenho que possuir a verdade estabelecida nas proprias palavras de Deus antes de crer nela, somente necessito saber que Deus a ensena, sem importar como a expressa. Assim nas coisas como a doutrina da Trindade, não preciso que a Biblia diga "Deus é Trino, isto é, o Pai, o Filho e o Espíritu Santo são três Pessoas mas que são um só Deus." Se necessitasse estaria com problemas porque não existe nenhuma declaração direta sobre a Trindade nas Sagradas Escrituras. Tudo o que requer saber é que essa doutrina está implicita nas Sagradas Escrituras, ainda que se as palavras exatas não afirmem. Na Tradição Apostólica, tudo o que necessito conhecer é que existe algo que é a Tradição Apostólica no lugar da tradição dos homens. Uma sendo pode confiar nela.


"UNIFICAÇÃO INJUSTIFICADA"?


Um crítico diria, "Você não está unindo injustificadamente a Sagrada Escritura com a Tradição Apostólica se uma é inspirada e a outra não?" De maneira nenhuma. Apesar da Tradição Apostólica não ser inspirada, é infalivel. Deus não pode ensinar um erro, sendo assim qualquer coisa que ensinou aos apóstolos é automáticamente infalivel. Se entende portanto que a Tradição Apostólica é infalivel só tenho que ser capaz de identifica-la. Além disso, em 2 Cor 6,14, o versículo que refere-se as uniões desigualmente constituidas, ou seja, esta falando do matrimonio. Um crítico pode estabelecer um paralelo com esta pasagem, mas vejamos se a analogia do matrimonio funciona. Certamente, a Tradição Apostólica é menos que as Sagradas Escrituras num sentido, mas isso não faz uma união desigual.


Depois de tudo, um homem e uma mulher não estão unidos de maneira injusta somente porque a esposa seja menos que seu esposo num sentido. Se vamos nos servir desta analogia do matrimonio, a usemos por completo: a Tradição Apostólica e a Sagrada Escritura estão casadas, com a Sagrada Escritura levando a guia e a Tradição Apostólica julgando um papel sustentador, interpretativo, exatamente como um homem e uma mulher casados, o homem levando a guia e a mulher julgando um papel saudavel, de suporte, explicando e interpretando os desejos do esposo para os filhos quando as proprias explicações dele não tenham sido feitas com uma claridade completa para eles. Esta é uma doutrina católica chamada prima Scriptura. A Sagrada Escritura Apostólica tem primazia sobre a Tradição Apostólica (e a Igreja também, veja o Concilio Vaticano II, Dei Verbum 11). Olhamos primeiro a ela principalmente porque é inspirada, dando-nos a "ipsisima verba de Deus". Mas também olhamos a Tradição Apostólica para nos ajudar a entender a Sagrada Escritura Apostólica, como quer que comunique a "ipsisima vox de Deus". Como Católico não creio na sola scriptura, mas sim firmemente na prima scriptura.


UM MANDATO PERMANENTE


2 Tesalonicenses 2,15 ordena a seus leitores a manter-se firmes nas Tradições Apostólicas, tanto orais como escritas. Este é um mandato permanente do Novo Testamento. Como se é feito notar por muitas vezes nos círculos Reformados, uma vez que Deus dá um mandato este é obrigatório até que seja específicamente revogado. Se Deus não revogou as cerimônias Mosaicas, tais como a circuncisão, a comida, as leis de separação, elas poderiam seguir sendo obrigatorias para nós.


2 Tesalonicenses 2,15 é um mandato permanente da palavra de Deus e deve ser obedecido a menos que seja dado instruções específicas para desatende-lo em outra parte. Assim se um crítico quer sustentar que 2 Tesalonicenses 2,15 não é obrigatorio mais para nós, deve primeiro nos indicar os versículos que digam que estas Tradições Apostólicas deixaram de ser obrigatórias. Mas estes com certeza não podem faze-lo. Se a Tradição Apostólica era obrigatoria então, é obrigatoria agora. A única pergunta é como podemos identificar as Tradições Apostólicas? É o papel cumprido pela Igreja, que como noiva viva de Cristo continua hoje e sempre a reconhecer e identificar para seus filhos a autêntica voz de seu esposo.


O ARGUMENTO DA MUDANÇA DE PARADIGMA


Um último ponto: Todos deberiam admitir que não se usou a sola scriptura enquanto a Biblia estava sendo escrita, porque não havia biblia. No Antigo Testamento houve profetas entregando a palabra de Deus, e se você perguntar a uma pessoa, " Tem recebido todo seu conhecimento de Deus somente pelas Sagradas Escrituras ?" Poderia dizer, "Claro que não. Se Deus fala qualquer coisa, quer seja através das Sagradas Escrituras quer seja através de um profeta, tenho que escuta-lo. Estou obrigado pela Palavra de Deus sem importar a vía através da qual chega."


A posição de uma pessoa nos tempos Bíblicos poderia deste modo ser "sola verba" e não "sola scriptura". No periodo do Novo Testamento estiveram as Escrituras do Antigo Testamento, uns poucos profetas neotestamentarios e a Tradição dos Apóstolos, todos os quais eram obrigatorios. Se você perguntar a um crente do Novo Testamento, " Tem recebido todo seu conhecimento de Deus somente das Sagradas Escrituras?" Ele poderia dizer, "Claro que não. Devo atender a palavra de Deus sem importar como me tem chegado, bem nas Sagradas Escrituras ou bem na Tradição dos apóstolos!" Sua posição, como a dos católicos, pode assim mesmo ser "sola verba", não sola scriptura.


Deste modo alguém que negue a posição católica tem que admitir que o principio utilizado nos tempos bíblicos não era sola scriptura. Para mostrar que sola scriptura é obrigatoria hoje, ainda considerando que não o era então, o crítico terá que mostrar que o Novo Testamento ensina que existe uma mudança descomunal de paradigma ao final da época apostólica. Deve apresentar versículos que declarem que as Tradições Apostólicas serão todas apontadas de modo que hoje só existe uma fonte de Tradição Apostólica. Mas o critico não pode fazer isto. Não existe tais versículos.


Além disso sabendo que as Tradições Apostólicas chegaram antes das Sagradas Escrituras Apostólicas não tem que ser materialmente diferentes daquelas nas Sagradas Escrituras Apostólicas, mas simplesmente reafirmações ou interpretações autênticas delas, um crítico deveria provar a proposição impossível de que nenhuma interpretação autêntica das Sagradas Escrituras tenha sido transmitida desde a época apostólica. E isto simplesmente não pode faze-lo.


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