New Age (Nova Era)

 


Autor: D. Eugenio de Araújo Sales em 6/6/2003


No mundo atual há uma grande variedade de tendências religiosas e algumas que até usam o nome de Cristo, à semelhança do que ocorreu no declínio do paganismo no Império Romano. Crenças vindas do Oriente ocupavam espaços, inclusive nas classes dominantes. Em nossos dias é comum nascerem correntes constituídas de uma mistura de conceitos, normas, um credo fabricado pelo pensamento em voga. Sempre existem adeptos disponíveis às mais singulares experiências transcendentais. Há fanáticos que se suicidam, por ordem de um ditador, em atentados terroristas, acobertados por princípios religiosos falsamente interpretados. Há também ensinamentos que conduzem às mais diversas práticas religiosas, como uma reação à vida trepidante do mundo atual. Ora são crenças esotéricas ou tentativas de uma religião universal ou ainda mescla de variados credos. A Igreja católica e outras denominações tradicionais preservam seu espaço e identidade.


Uma dessas novas doutrinas merece uma atenção especial por sua influência em alguns setores da sociedade. Trata-se da "New Age", "Nova Era". Respeitando os que seguem essa opção religiosa, parece-me oportuno tecer alguns comentários à luz da Fé católica.


O "Grande Dicionário das Religiões" assim descreve a "Nova Era": "Os Movimentos de "New Age", como um grande rio com múltiplos afluentes representam uma forma típica da sensibilidade religiosa contemporânea, como uma nova religiosidade que se reveste de muitos caracteres da Gnose eterna". Propõe ensinamentos sobre Deus, o homem e o mundo em oposição à pregação de Jesus, ao nosso credo. Tem suas raízes mais recentes nas agitações estudantis de 1968. Remonta às publicações da Sociedade Teosófica. E de Alice Bayley. Em seu livro "O retorno do Cristo" (1948), existe "a visão do reaparecimento de um novo messias, chefe da Hierarquia espiritual, junto com o iminente início da Idade de Aquário (...) Começaria um período de harmonia universal, de uma forte influência mística sobre a vida sócio-política e de uma auto-realização espiritual do indivíduo" ("New Age", "Dicionário de Teologia Fundamental").


O Cardeal Paul Poupard, Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, publicou na revista "Religioni e sette nel Mondo", (nº 6) uma síntese que revela a incompatibilidade com a Fé cristã: "O fenômeno da "New Age", juntamente com alguns outros Movimentos religiosos constitui um grande desafio na preservação da fé cristã. Trata-se de um problema também no plano cultural: a "New Age" propõe teorias e doutrinas sobre Deus, o homem e o mundo, que são incompatíveis com a Fé cristã. Além disso, é o sintoma de um progresso intelectual profunda crise e, ao mesmo tempo, resposta errônea a esta situação de crise cultural, às suas inquietações e interrogações, às suas aspirações e esperanças".


Nos primeiros séculos da Igreja, em substituição à decadência do paganismo, surgiram várias correntes de idéias, entre elas, o gnosticismo, misto de elementos filosóficos e religiosos. A figura de Cristo e sua Doutrina foram aproveitados dentro de uma perspectiva sincretista. Alguns grupos se intitulavam abusivamente "cristãos". São Justino menciona esse fato: designavam-se seguidores de Jesus a quem reconheciam como Senhor e rejeitavam outros artigos da Fé cristã. Essas heresias foram objeto de muitas condenações no esforço de preservar a pureza do ensinamento do Senhor. Chegaram a pretender ser a religião cristã a verdadeira gnose. O erro renasce em nossos dias, com a "New Age".


Recentemente, o Pontifício Conselho para a Cultura e o Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso apresentaram um documento sobre a "New Age". Essa reflexão cristã, tem data de 3 de fevereiro do corrente ano. Trata-se do trabalho de um Grupo de Estudos do qual participam também a Congregação para a Evangelização dos Povos e o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos. É um relatório provisório sobre as reflexões dos integrantes desses Organismos da Santa Sé. Vamos respigar algumas conclusões a que chegaram e que mostram a diferença e a incompatibilidade entre a "New Age" e a Fé cristã. Aproveito esta oportunidade a fim de tornar públicas algumas passagens desse documento para conhecimento dos católicos e pessoas de boa vontade, na preservação dos ensinamentos de Jesus em sua pureza.


São muitos os aspectos em que a doutrina desse Movimento está em contraste com a Fé cristã. O corpo doutrinário, confiado implícita ou explicitamente ao Magistério da Igreja, deve ser aceito, em sua integralidade. Não estamos em um supermercado, onde o comprador escolhe o que lhe agrada, deixando de lado o que lhe parece contraditar suas posições ideológicas ou religiosas. Precioso o ensino da Epístola de São Pedro (3,15ss): "Santificai a Cristo em vossos corações, estando sempre prontos a dar a razão de vossa esperança a todo aquele que vô-la pede; fazei-o, porém, com mansidão e respeito, conservando vossa boa consciência". A proposta da "New Age" é atraente a uma cultura consumista, empresarial, do "evangelho da prosperidade" e influencia muitos que julgam possível introduzi-la no interior do cristianismo. A confusão daí resultante é uma clara resposta negativa a quem segue com fidelidade, Jesus Cristo. Mesmo admitindo-se que a religiosidade da "New Age" responda a algumas legítimas aspirações da natureza humana, devemos reconhecer que o faz opondo-se frontalmente à Revelação cristã. Aliás, João Paulo II já alertou para "o renascimento da antiga idéia gnóstica sob a forma do Movimento New Age" ("Cruzando o Limiar da Esperança").


Peçamos a Deus que nos ilumine, pois não se pode seguir Jesus, a não ser preservando a fisionomia que nos é apresentada por sua Igreja. Há uma identidade entre Cristo, Filho de Deus, e sua Obra. Esta é a presença visível de Jesus, no mundo.

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