O Holocausto, Pio XII e os aliados



Autor: Joaquim Blessmann (Matéria da PR 11/03)


O prof. J. Blessmann apresenta um livro que é tais do que uma apologia (muito documentada) de Pio XII; descreve outrossim, condições de vida nos campos de concentração e a perplexidade dos países aliados, que não viam coto intervir na Alemanha de Hitler para pôr termo às atrocidades aí cometidas. Muito importante é a observação do autor assim concebida: só dezoito anos após o término da segunda guerra mundial, ou seja, em 1963, começam os ataque a Pio Xll; por que não tardiamente se de fato o Papa foi réu durante a guerra? A resposta (também muito documentada) afirma que a agressão não visa a Pio XII propriamente, tas sim à Igreja Católica por ser esta a voz da consciência que admoesta os homens tendentes a graves desvios morais et nossos dias; querem denegrir a Igreja denegrindo a figura do Papa Pio XII.

0 prof. Joaquim Blessmann é Mestre e Doutor em Ciências pelo ITA e dedicado estudioso de temas ligados à Religião. Publicou uma obra sobre o Santo Sudário e em 2003 oferece aos leitores precioso estudo sobre "O Holocausto, Pio XII e os Aliados", obra da qual passamos a apresentar traços salientes.


1. Pio XII e os judeus

Já se tem dito e repetido - e Blessmann o faz a seu turno - que Pio XII não podia clamar em voz alta contra as atrocidades dos campos de concentração, porque isto provocaria represálias ainda mais cruéis da parte dos nazistas. Todavia o Papa agiu energicamente em defesa dos judeus, salvando a vida de milhares deles. As páginas 63 a 72 do livro apresentam eloqüentes testemunhos de israelitas e não israelitas c afirmam quanto o Pontífice se empenhou pela defesa dos judeus. Sej citados apenas alguns dos muitos depoimentos recolhidos por Blessmann

O Primeiro Ministro de Israel, Moshe Sharett disse a Pio XII c seu `primeiro dever era agradecer a ele e à Igreja Católica por tudo c eles fizeram para socorrer judeus".

Isaac Herzog, Rabino Chefe de Jerusalém, assim se manifestou:

"O povo de Israel jamais esquecerá o que Sua Santidade e se ilustres representantes, inspirados pelos eternos princípios da religião que formam os genuínos fundamentos da verdadeira civilização, fizer por nossos desafortunados irmãos e irmãs na tais trágica hora de no; história, o que é uma prova viva da Providência Divina no mundo".

Leonard Bernstein, ao saber da morte de Pio XII enquanto dirigia sua orquestra no Carnegie Hall de Nova York, pediu um minuto de silo cio coto tributo para o Papa que tinha salvado a vida de tantas pessoas sem distinção de raça, nacionalidade ou religião.

Do Dr. Joseph Nathan, representante da Comissão Hebraica, fim da guerra, são as seguintes palavras: "Antes de tudo, nós agrade tos ao Supremo Pontífice e aos religiosos e religiosas que, executar as indicações do Santo Padre, reconheceram os perseguidos coto sE irmãos e, com grande abnegação, apressaram-se a ajudá-los, desprezando os terríveis perigos a que se expunham".

Em 5 de abril de 1946 a Comunidade Judaica Italiana envios seguinte mensagem a Pio XII:

"Os delegados do Congresso da Comunidade Judaica Italiana, reunidos em Roma pela primeira vez após a Libertação, sentem que é imperativo prestar homenagem a Sua Santidade e expressar a tais p funda gratidão que anima todos os judeus por sua fraternal humanidade para com eles durante os anos de perseguição, quando suas vidas estavam ameaçadas pelo barbarismo nazi-fascista. Muitas vezes sacerdotes foram aprisionados e enviados a campos de concentração, e oferecer suas vidas para ajudar os judeus de todos os todos. Esta demonstração de bondade e caridade que ainda anima o justo, serviu para diminui humilhação, tortura e tristeza que afligiram milhões de seres humano: (Cf. Blessmann, pp 68s.)


2. Por que atacar Pio XII?

Como se vê, os testemunhos de pessoas que viveram o drama segunda guerra mundial (1939-45) e do imediato pós-guerra foram altamente favoráveis a Pio XII. Pergunta-se então: por que o atacaram e atacam tão ferrenhamente? E por que essa agressão só começou em 1963, dezoito anos após o término da guerra, valendo-se de falsas acusações? Se estas eram ou são verídicas, por que não foram levantadas logo que possível após a guerra?

Escreve Blessmann: "A resposta que temos encontrado é, em parte, surpreendente; ao menos o foi para nós. Mas, refletindo cuidadosamente e recordando tudo que lemos e escrevemos sobre esse tema, acabamos dando razão a esses autores e estamos a seguir expondo, sinteticamente, suas ponderações e conclusões.

Robert P. George (Rychlak, 2000, p. 309-312): Os anti-católicos fanáticos e os católicos anti-Papa têm um grande interesse em manter o mito de que Eugenio Pacelli foi o `Papa de Hitler'. 0 mito é de grande utilidade em seus contínuos esforços para minara credibilidade da Igreja Católica e a autoridade exercida pelo Papa e os bispos em comunhão com ele, bem como para enfraquecer a influência moral e cultural da Igreja Católica. Por quê? Porque a Igreja Católica - e, dentro da Igreja, a instituição do Papado - é a mais poderosa força a favor da moralidade tradicional nos conflitos culturais com o comunismo, utilitarismo, individualismo radical e outras ideologias secularistas. George chama a atenção para o fato da difamação de Pio XII não ter começado na comunidade judaica, nem é aí que estão os que mais agressivamente a fomentam. São principalmente católicos descontentes, cuja principal disputa é com o princípio da teologia católica da autoridade Papal em matéria de fé e de moral (o grifo é nosso).

Ronald J. Rychlak (2000, p. 306): Rychlak cita alguns desses princípios, que são contestados pelos assim erroneamente chamados católicos `progressistas': celibato dos sacerdotes, não-ordenação de mulheres, contracepção apenas por métodos naturais, aborto, etc.

Ralph Mclnerny (2001, p. 182): Transcreveremos um de seus comentários:

O fato é que tais livros de ataque não são realmente contra o Papa Pio XII. Ele é meramente um alvo de ocasião. O alvo real é a Igreja Católica e sua doutrina moral imutável (o grifo é nosso). Isto está bem claro nos livros escritos pelos auto-intitulados católicos. Seus livros expressam uma fúria contida porque a Igreja não segue suas falsas interpretações do Concílio Vaticano li. Sua animosidade contra Paulo VI e João Paulo II é em cada ponto tão grande como a que sentem contra Pio XII. Estes dignos prelados seguem por um caminho não trilhado pelos católicos dissidentes. Hordas de católicos pós-conciliares convencem uns aos outros que eles podem inventar seu próprio catolicismo e rejeitar o Magistério da Igreja. Começou com a revolta da teologia moral, espalhou-se pelos seminários e terminou nos púlpitos [...]. A uma geração foi dito que eles não precisam aceitar ensinamentos oficiais da Igreja, solenemente reiterados pelo Santo Padre.

Michael Bobrow (Marchione, 2000, p. 136). Em carta a Margherita Marchione, de 26/12/1998, Bobrow, judeu americano e correspondente da Terra Santa no final dos anos 60, disse que:

Os crescentes ataques caluniosos a Pio XII tanto por judeus e gentios (incluindo alguns "católicos" renegados) realmente não têm nada a ver com a história do Holocausto, mas têm tudo a ver com a recente guerra cultural: um decidido esforço para desacreditar a Igreja, devido ao seu papel de liderança nos problemas de aborto e eutanásia, bem como sua oposição a pornografia e sua defesa dos valores tradicionais da família (...]. Os ataques a Pio XII começaram com a peça 0 Vigário, no início dos anos 60, quando os valores da família e da moral judaico-cristã declinaram.

Margherita Marchione (2000, p. 138) também se posiciona na mesma linha: Como se explica o malicioso ataque ao Pontífice vários anos após sua morte, em 1958? Foi o anti-catolicismo ressuscitado pelas mudanças culturais que aconteceram nos anos 60? Aparentemente a Igreja foi vista como um instrumento de repressão contra a liberdade dos indivíduos". (cf. Blessmann, pp. 87-89).

Tal explicação dos ataques a Pio XII é plausível. A Igreja Católica tem sido a consciência que desperta os homens para os valores éticos ameaçados por correntes da sociedade moderna; é uma voz que muitos desejariam sufocar, como desejam eliminar a Santa Sé da assembléia das Nações Unidas, pois ela vota sempre contra o menosprezo da vida e da família. Ser consciência em tais condições é incômodo, mas vem a ser um serviço prestado à humanidade vítima da violência (até mesmo em família), da guerra e das drogas. 0 católico, ao assumir sua profissão de fé, assume também os riscos (nobres e nobilitantes) que ela acarreta.


3. Conclusão

Como dito, o livro de Blessmann, além de ser uma apologia de Pio XII fartamente documentada, é também um rico manancial de informações sobre temas correlatos. Assim oferece minucioso noticiário sobre os campos de concentração do nazismo e suas técnicas de extermínio, mostrando os requintes da perversidade das equipes hitleristas que aí trabalhavam. Refere também os planos de Hitler relativos à Igreja Católica, o Führer pensou em capturar Pio XII e deportá-lo, a fim de que sua voz não pudesse ser ouvida pelos adversários do nazismo. Blessmann também se estende longamente sobre a atitude dos aliados frente aos avanços de Hitler; de modo geral nem os próprios alemães nem os estrangeiros em outros países sabiam precisamente o que acontecia na Alemanha; os procedimentos da perseguição e do extermínio eram encobertos por rigoroso sigilo, aplicado com grande êxito; os que conseguiam escapar de um campo de concentração e contavam o que lá acontecia, eram tidos como "exagerados e não fidedignos". Somente quando, no fim da guerra, os aliados entraram nos campos, tomaram consciência das atrocidades lá cometidas.

Em suma, o livro de Blessmann merece ser lido por todos os que se interessam por aquilo que a história apresenta de cruel e... de belo. [Pergunte & Responderemos - novembro de 2003]

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