Significado das procissões



Autor: Con. Vidigal


Mariana (MG), 16/6/2004 - 08:30



Rito religioso, as procissões têm um simbolismo profundo. Trata-se de uma caminhada de oração que reforça o sentido comunitário entre os fiéis. O caminhar daqueles que rezam é um cerimonial imponente em honra de Cristo, sua mãe ou de algum santo protetor. Representa, além disto, a caminhada do ser racional rumo à Casa do Pai.


Todo homem é um viandante neste mundo, transeunte nesta terra em busca da Jerusalém celeste. Há ainda nas procissões o caráter penitencial não apenas no esforço físico daquela marcha processional, mas ainda no fundo de cada coração através do arrependimento pelas faltas cometidas e do desejo de purificação.


A procissão tem o mérito de afastar toda discriminação, pois, também nela, pobres e ricos se irmanam num mesmo objetivo, numa mesma prece, numa mesma fé. Cada um com seu problema pessoal, mas todos unidos na busca de uma solução divina para suas necessidades. Peregrinos nesta terra, todos, no dizer de Santo Agostinho, somos "mendigos de Deus" e, lá no céu, os nossos antepassados na crença se tornam poderosos intercessores, cuja benevolência se quer atrair através de uma demonstração pública de sua santidade e valimento.


No Antigo Testamento encontramos momentos singulares nos quais se deram famosos cortejos. A marcha do êxodo foi a procissão por excelência. Lemos nos primeiros capítulos do livro dos Números como o próprio Deus ordenou o modo como se devia realizar tais séqüitos. O livro de Esdras também se refere a caminhadas do povo de Deus (Esd 1,8-11;3,3-6). Nem se pode se esquecer da tomada de Jericó (Js 6,1-6), do transporte da Arca para Jerusalém (2 Sm 6,12-19), da procissão de Neemias (Ne 12,27-43), da procissão de Judite (Jt 15,12-16).


No Evangelho vemos a apoteótica procissão que foi a entrada de Jesus em Jerusalém, descrita com entusiasmo pelos evangelistas. No cristianismo merecem atenção especial as procissões que comemoram os mitérios cristológicos e, depois, as devocionais em honra de Nossa Senhora e dos santos.


Para atingirem seu objetivo religioso as procissões devem ser cultos profundamente teológicos, testemunhando uma fé autêntica, longe de qualquer tipo de superstição. O cortejo em si não atrai os favores celestes, mas sim o espírito religioso que anima cada fiel no seu decurso. No caso dos santos qualquer laivo de lenda deve ser afastado, de tal forma que, sejam evitados elementos espúrios que possam ter, através do tempo, contaminado uma religiosidade esclarecida e conducente ao mistério salvífico.


O culto de dulia cumpre seja sempre distinto de qualquer manifestação que pudesse parecer idolatria, sabedor o fiel de que somente se adora a Deus e que apenas Jesus é o único salvador. O culto das imagens é preservado nas procissões. No século VIII as forças do mal se uniram para destruir tão salutar demonstração de piedade. O imperador-soldado Leão III (717-741), chamado o Isáurico abriu luta contra as imagens em Constantinopla, hoje dita Istambul. Mandou retirar ou cobrir todas as imagens. O campeão da ortodoxia foi João Damasceno, monge no convento de São Sabas, próximo de Jerusalém. Em desacordo com a heresia iconoclasta, a combateu em diversas obras.


Citava São Basílio, bispo de Cesaréia: "A veneração prestada à imagem transita para o protótipo". Explicava: "Como nem todos têm conhecimento das letras nem tempo para ler, pareceu aos Padres que certas façanhas notáveis devessem ser representada em imagens que delas seriam uma breve recordação", ou seja, a imagem é a Bíblia dos iletrados.


Entretanto, que os cristãos mais instruídos compreenderam que contemplar a figura de um santo era um incentivo à imitação e mais um canal de bênçãos celestes. Assim, até os papas sempre veneraram os notáveis discípulos de Jesus, como o sábio João Paulo II que já visitou inúmeros santuários de Maria e dos Santos. O sétimo concílio ecumênico de Nicéia em 787 declarou que se podia e se devia tributar um culto de devota veneração com lâmpadas, incenso e prostrações à Santa Cruz, às imagens de Cristo, da Virgem, dos Anjos e dos Santos, pois essa veneração é dirigida ao protótipo mesmo, isto, é à pessoa representada. Adoração, firmaram os padres conciliares, só a Deus.


É de notar que no Oriente, no século IX a imperatriz Teodora, ante novo surto iconoclasta, repôs o culto das imagens num sínodo reunido em Constantinopla em 843. Como perene recordação daquele faustoso evento foi instituída a "grande festa da ortodoxia", que é celebrada antes do primeiro domingo da quaresma. Esta festa se dá até nossos dias na Igreja grega. Veneremos, pois, as imagens dos nossos santos e façamos das procissões em sua honra um momento de intensa reflexão bíblica, valorizando, porém, sobretudo as procissões eucarísticas!


Fonte: Font, Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

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