A Dormição de Maria



Autor: John Nascimento


Na sequência da festa da Assunção de Nossa Senhora, podemos reflectir sobre aquilo a que se chamou a Dormição.


Emprega-se este termo Dormição como um neologismo que os dicionários ainda não registam em referência ao que se chamaria a Morte de Nossa Senhora.


Como a morte é a consequência do primeiro pecado, pecado original, e Nossa Senhora foi concebida sem pecado original, não estava sujeita à morte e então, para falar da morte de Nossa Senhora, emprega-se esta expressão de Dormição de Nossa Senhora.


Algumas reflexões sobre a Dormição de Nossa Senhora, a propósito da conclusão da vida terrena de Maria.


l. O Concílio Vaticano II retomou os termos da Bula de definição do dogma da Assunção e afirma :


- A Virgem Imaculada, que fora preservada de toda a mancha da culpa original, terminando o curso da sua vida terrena, foi elevada à glória celeste em corpo e alma. (LG 59).


Também o Catecismo da Igreja Católica, em referência à Assunção e citando a Liturgia bizantina, diz :


966. - No teu parto guardaste a virgindade e na tua dormição não abandonaste o mundo, ó Mãe de Deus; alcançaste a fonte da vida. Tu que concebeste o Deus vivo e que, pelas tuas orações hás-de livrar as nossas almas da morte. (Tropário da festa da Dormição, 15 de Agosto).


Pio XII, ao definir o dogma da Assunção, não quis negar o facto da morte de Maria, mas apenas não julgou oportuno afirmar solenemente a morte da Mãe de Deus, como verdade que devia ser admitida pelos crentes.


Alguns teólogos afirmaram a isenção da morte da Virgem e a sua passagem directa da vida terrena à glória celestial.


Todavia, esta opinião é desconhecida até ao século XVII, enquanto, na realidade, existe uma tradição comum que considera a morte de Maria como a sua introdução na glória celeste.


2. Reflectindo sobre o destino de Maria e sobre a sua relação com o Filho divino, parece legítimo julgar que Maria de Nazaré teria experimentado na sua carne o facto real da morte.


Dado que Cristo morreu, seria difícil afirmar o contrário no que diz respeito a Maria.


Os santos Padres sempre raciocinaram no sentido de uma morte real de Maria, configurada com a morte de seu Filho, (sem todavia se admitir a corrupção), e a sua glorificação celeste.


3. A Revelação da morte apresenta-se como o castigo do pecado; todavia o facto de a Igreja proclamar Maria liberta do pecado original por singular privilégio da Mãe de Deus, não nos leva a concluir que Ela recebesse também o privilégio da imortalidade corporal.


A Mãe não é superior ao Filho, que assumiu a morte, dando-lhe novo significado e transformando-a em instrumento de salvação.


Maria pôde assim compartilhar o sofrimento e a morte em vista da Redenção da Humanidade.


4. O Novo Testamento, por sua vez, não oferece qualquer notícia sobre as circunstâncias da morte de Maria.


Este silêncio leva a supor que esta se tenha verificado normalmente sem qualquer pormenor digno de menção.


Quanto aos motivos da morte de Maria, não parecem fundadas as opiniões que lhe quereriam excluir causas naturais.


Mais importante é a busca da atitude espiritual da Virgem no momento da sua despedida deste mundo, como uma morte por amor.


Qualquer que tenha sido o facto orgânico e biológico que, sob o aspecto físico, causou a cessação da vida do corpo, pode-se dizer que a passagem desta vida para a outra constituiu para Maria uma maturação da graça na glória, de tal forma que jamais como esse caso a morte pôde ser concebida como uma dormição.


5. No final da sua existência terrena, Maria terá experimentado, como Paulo e mais do que ele, o desejo de se libertar do corpo para estar com Cristo para sempre.


A experiência da morte enriqueceu a pessoa da Virgem : passando pela sorte comum de todos os seres humanos, ela pode exercer com mais eficácia a sua maternidade espiritual em relação àqueles que chegam à hora suprema da vida".


No Oriente e nas Gálias e ainda noutras regiões, a festa principal de Nossa Senhora era, porém, a da sua morte e subida ao céu em corpo e alma, a que( ...) os latinos chamavam ; Dormitio, Transitus, Depositio, Pausatio, Natale ou Assumptio.


Todavia foi esta última que prevaleceu, e isto não está em contradição com o facto da tradição geral de que Nossa Senhora fora levada para o céu em corpo e alma, que já nos vem desde o século VI na Igreja Oriental e em Roma foi adoptada no século VII em que o papa Sérgio I ordenou uma procissão solene em honra desta festa tradicional.


O que está em causa é mais a glorificação de Nossa Senhora do que a sua morte, ou dormição.


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