Demônios de Ficção

 


Pe. Zezinho, SCJ-DEMÔNIOS DE FICÇÃO


Quem se deu ao trabalho de estudar a sua própria religião e as religiões dos outros, sabe que em todas elas há o elemento realidade e o elemento ficção. Isto é: elas trabalham com o histórico palpável e de provas cabíveis e com o imaginário que não se pode provar, mas existe. Mais ainda: há lendas, histórias pedagógicas e personagens que ilustram algum ensinamento moral. O próprio Jesus criou alguns personagens em suas parábolas para ensinar verdades. Eles não existiram, nem Jesus pretendeu que eles existissem. O filho pródigo, a mulher que perdeu a moeda, o bom samaritano... Nem tudo o que está nos livros sagrados aconteceu realmente. Mas não deixam de ser histórias que libertam e educam para a fraternidade.


Nossa Bíblia contém narrativas de salvação, acontecidas na História e histórias de salvação que não aconteceram, mas ajudam a salvar pelo se denso conteúdo ético. O Filho Pródigo é uma dessas histórias. Mas aí, o autor, em geral, deixa claro que é ficção que educa.


Quando, porém, se passa ao fiel, à guisa de realidade, algo que é teatro ou ficção, a mente desse fiel tem enorme dificuldade em voltar à realidade. É o caso de algumas visões e recados de videntes, ou dos exorcismos de televisão. Estudiosos do que se convencionou chamar de possessão sabem que não há demônios submissos e obedientes ao pregador. O uso do nome de Jesus, nesses casos, torna-se abuso porque não há demônio a ser expulso. Demônios submissos demais que aparecem ao comando do pregador, não são demônios: são coadjuvantes. É o que se chama hoje de demônios de palco. O personagem principal é o pregador que chama a atenção para si. O nome de Jesus aparece em segundo plano e o demônio é um brinquedo com quem o pregador até se diverte, tamanho parece ser o poder que Deus lhe deu. Nem Jesus fez isso e nunca o fez com essa freqüência e com esse tipo de exibição de poder.


Demônios que respondem a todas as perguntas do pregador e dizem tudo o que o pregador quer ele diga para impressionar os presentes é ator secundário numa peça, em que o grande personagem é o dominador. O que as religiões entendem por demônio não cabe naquele conceito. É ficção. Vale tanto quando uma peça de teatro. Qualquer ator pode reproduzir aquilo. Há embuste nas perguntas, nas explicações e na voz dos possuídos. Pelo que se tem ciência no passado, os verdadeiros casos que os estudiosos não conseguiram explicar são bem mais misteriosos e o som que os possessos emitem é outra coisa.


Quem quiser acreditar acredite. Mas submetam aqueles sons a uma análise, destrinchem aqueles ruídos e se verá que era apenas a voz alterada da pessoa também alterada. Não veio de nenhum outro lugar, senão da cabeça e da garganta de quem tentou modifica-la, mas não conseguiu mais do que aquilo. No passado isso era charlatanismo. Agora talvez, tenha mudado de nome. Mas não se trata dos demônios aos quais as religiões e referem. Estes, se aparecerem de verdade, farão o que os demônios fizeram no livro dos Atos àqueles que brincavam de expulsa-los. Seja curioso e leia! (At 19,1-17) Depois, questione!

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