O protestantismo no Brasil Parte 2

 


Autor: Dom Amaury Castanho


EVANGÉLICOS CHEGAM PARA FICAR


As primeiras tentativas de introdução do protestantismo no Brasil falharam. Os calvinistas huguenotes que, no século XVI, desembarcaram no Rio de Janeiro, logo foram expulsos pelos portugueses e indígenas. Os luteranos holandeses que invadiram Pernambuco, outros Estados do nordeste e norte brasileiro, na primeira metade do século XVII, acabaram não tendo melhor sorte. Resistiram mais que Vilegagnon, ameaçavam fincar pé, mas também acabaram empurrados mar adentro, voltando à Holanda.


Motivados pela fidelidade a El Rey de Portugal e pela fé católica, liderados pelos jesuítas Padre José de Anchieta e Antonio Vieira, os colonizadores lusos e os indígenas convertidos, não deram trégua aos hereges invasores que acabaram vencidos. No século XVIII não conseguiram firmar-se na Terra de Santa Cruz. No Brasil Colônia e Império a Igreja católica era a religião do Estado.


O belo e grande quadro a óleo de nosso pintor Victor Meireles, da segunda metade do século XIX, exposto na Europa e na América do Norte, hoje do acervo do Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, sintetiza a fé que embalou as origens do Novo Mundo, integrando-o nos espaços da Igreja católica. Ante uma grande cruz que os índios ajudaram a erguer, o Frei Henrique de Coimbra, franciscano, celebra a Primeira Missa diante dos portugueses devotos, de índios e índias admirados.


Chegamos a 1889, quando foi proclamada a República. Informações bem fundamentadas asseguram que, nessa data histórica, os católicos eram 98% da população. De cada cem brasileiros, apenas dois eram protestantes. Isso significa que no correr do Império, além de uma inexpressiva minoria de judeus, já se encontravam aqui e ali, particularmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, alguns protestantes. Duncan Alexander Reily, em sua respeitável "História Documental do Protestantismo no Brasil" (Aste, São Paulo, 1993), situa a "implantação do anglicanismo e metodismo", entre nós, no princípio do século XIX. Exatamente em 1808.



Os primeiros missionários que passaram pelo Rio de Janeiro, Henry Martin, anglicano, e S. Broadbent, metodista, atestam não só a grande religiosidade de nosso povo mas, também, o notável número de belas igrejas e de franciscanos. Mas eles aqui estiveram apenas de passagem. Na realidade, a primeira capela anglicana, autorizada pelo Príncipe Regente Dom Pedro, foi construída alguns meses antes da proclamação da Independência. Houve protestos da parte do Núncio Apostólico Lourenço Coleppi. Porém, mais tolerante, Dom José Caetano da Silva Coutinho, bispo do Rio de Janeiro, não viu tanto mal no fato. Dizia que "ninguém chegaria perto da mesma, tal o apego dos cariocas à fé católica". Dois clérigos anglicanos, casados, foram os primeiros capelães da pequena comunidade no Brasil. Em documentos que nos deixaram, referem-se à decadência daquela construção, destacando, contudo, a tolerância dos luso-brasileiros.


Dom João VI autorizou, em maio de 1818, a primeira imigração de famílias suissas procedentes do Cantão de Frigurgo, algumas luteranas e outras católicas. Em 1823 desembarcavam, vindos da Alemanha, os primeiros 334 agricultores protestantes, acompanhados de seu Pastor Oswald Sauerbronn. Deveriam ter se instalado na Bahia, mas acabaram se estabelecendo na Província do Rio de Janeiro, em Nova Friburgo. A data da fundação da primeira capela luterana no Brasil é 1827. O seu atendimento foi precário até 1863, quando Sauerbronn foi sucedido por Johan Meyer.


Em 1826 já havia luteranos em São Leopoldo, RS, a julgar por uma carta de certo Pastor Voges que recebeu, no Rio de Janeiro, para os luteranos do sul, 100 Bíblias e 250 Novos Testamentos. Havia, entretanto, 52 famílias alemãs católicas entre as 308 imigrantes da Alemanha. Sempre seria melhor, no sul, a convivência entre católicos e não-católicos, o que não se poderia dizer dos que se acomodaram na Província do Rio de Janeiro.


As leis proibiam, durante o Império, a construção de igrejas protestantes. Somente em 1887, era lançada em Santa Maria, RS, a pedra fundamental de uma capela luterana com a sua torre. Algumas autoridades locais compareceram ao ato. Logo, porém, as obras foram embargadas pelo chefe de polícia local, baseado no artigo 5o da Constituição Imperial.


Com a proclamação da República, separado o Estado, da Igreja católica, os protestantes acabaram adquirindo plenos direitos à liberdade religiosa. Abriram as suas primeiras Escolas. Na realidade, antes mesmo da proclamação da República, já atuavam no Brasil, embora timidamente, a Sociedade Bíblica Americana e, em Petrópolis, o primeiro grupo congregacional. A primeira comunidade presbiteriana remonta ao ano de 1862, presente na cidade de Brotas, na Província do Estado de São Paulo. Também os Batistas, lá pelo ano de 1861, fincavam pé em Santa Bárbara, SP, e, em 1882, em Salvador, na Bahia.


Os protestantes, como foi lembrado, eram uma pequena minoria, apenas 2% da população, na proclamação da República no final do século XIX. Mas vieram para ficar. Na primeira metade do século XX passariam a ter uma presença com maior visibilidade e atuação. Depois de 1950, acabariam, especialmente os pentecostais, se expandindo rapidamente. O Censo do ano 2000 computou como "evangélicos" 15% da população brasileira. Um crescimento mais que preocupante pelas razões que se verá mais adiante.


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