O protestantismo no Brasil Parte 3

 


Autor: Dom Amaury Castanho


Jundiaí (SP), 18/11/2003 - 08:48


A EXPLOSÃO PENTECOSTAL


As invasões calvinista e luterana dos séculos XVI e XVII de nossa história, fracassaram. Mas, como vimos, no século XIX os protestantes vieram para ficar. Durante o primeiro e o segundo Impérios, ainda que a Igreja católica fosse a oficial e constitucionalmente a Igreja do Estado, a nossa tradicional tolerância e hospitalidade acabaram abrindo espaços para os luteranos, os metodistas, os batistas e, finalmente, aos congregacionais da Assembléia de Deus.



Já lembramos que, em um século, os protestantes passaram de 2% para 15% da população brasileira. Cem anos após a proclamação da República, entre 1889 e o ano 2000, perdemos a unidade religiosa. Continuando católica a maioria dos brasileiros - exatamente 73,9% segundo o último Censo - perdemos anualmente, entre 1980 e o fim do segundo milênio, 1% dos nossos fiéis. Somos ainda a maior nação católica do mundo com cerca de 130 milhões de fiéis. Os não-católicos de centenas e centenas de Igrejas subiram para exatamente 15% da população. Os restantes dividem-se entre afro-brasileiros praticantes do candomblé e da macumba. Diminuíram, sensivelmente, os kardecistas. Mas aumentou o número dos que crêem, porém, desvinculados de qualquer instituição religiosa. Os descrentes confessadamente ateus continuam, felizmente, não passando de dois ou três por cento, até em cidades de alto nível cultural como Campinas, segundo recente pesquisa.



Os protestantes, em especial os de linha pentecostal, fincaram pé em grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro. Em ambas os católicos já não passam de 65% e 60% da população. Os Estados com maior presença dos "evangélicos" são os do Norte, particularmente Roraima, Acre e Amazonas. A maior percentagem de católicos continua na região nordestina, sendo o Piauí o Estado em que os protestantes são apenas 10%. A absoluta maioria continua católica. Mas, queiramos ou não, enquanto os protestantes "históricos" - luteranos, presbiterianos e metodistas - também perdem fiéis, os "pentecostais" da Assembléia de Deus, Congregação Cristã do Brasil, Evangelho Quadrangular, Deus é Amor, Brasil Para Cristo e tantas outras avançam a olhos vistos.

Recomendamos ao leitor interessado em estatísticas, uma consulta ao "Atlas de Filiação Religiosa e Indicadores Sociais do Brasil", publicação de responsabilidade da PUC do Rio de Janeiro e da Editora Loyola (São Paulo, 2003).


Os poucos bispos ainda inconscientes do novo quadro religioso brasileiro, levaram um susto na última 41a Assembléia Geral, realizada em abril deste ano no Mosteiro de Itaici. Ainda bem, pois é o que faltava para que a nossa CNBB em todo o Brasil, e o episcopado paulista, em particular, se decidissem a um Plano de Evangelização que quanto antes responda ao desafio dos pentecostais.



A Diocese que pastoreio há anos, integrando dez municípios além de Jundiaí, com um milhão de habitantes é, graças a Deus, uma exceção. Pesquisa de poucos anos atrás acusou 85% de católicos. Os protestantes "históricos" são pouquíssimos. Mas os "pentecostais" chegam a 10%. Temos centenas de nossas Comunidades presentes e atuantes na periferia de Jundiaí, Itu, Salto, Várzea Paulista e outras cidades da Dicoese. São Comunidades vivas. Mas, acabando de cumprir o meu dever de Visitas Pastorais a 50 das nossas 55 Paróquias, vi com os meus olhos, além da esperançosa presença evangelizadora das nossas centenas de Comunidades, milhares de Grupos de Rua e outros atuantes Movimentos eclesiais. O mínimo de dez templos "pentecostais", pequenos em geral, proliferam em toda a periferia urbana dos onze municípios. O leitor apenas pode imaginar quantos locais de culto dos "pentecostais" encontrará em outras Arquidioceses e Dioceses do Estado de São Paulo e pelo território brasileiro. Nós católicos, e eles, os protestantes, estamos trabalhando. Mas no ritmo em que as coisas caminham, preparemo-nos para ser no próximo Censo do ano 2010, quando muito 65% da população brasileira, enquanto os "pentecostais" estarão beirando de 22% a 25%!

Por que chegamos a tal situação? Em que é que a Igreja católica falhou? Por que os "pentecostais" avançaram tanto, roubando milhões dos nossos fiéis? Não adianta escamotear. Pior ainda seria fugir do problema. É urgente enfrentá-lo com coragem e sem perder a esperança de virmos a estancar a debandada de tantas crianças, jovens e adultos que batizamos nas últimas décadas.


Brevemente responderemos, com objetividade, com a coragem e transparência necessárias, ao desafio do fenômeno ou explosão "pentecostal". Adianto que a Renovação Carismática Católica, mesmo incompreendida, criticada e ignorada por alguns teólogos e pastoralistas, foi e continua sendo uma bênção de Deus. Sem a RCC e outros ativos Movimentos de nossa Igreja, outros milhões de católicos já teriam debandado para os "pentecostais".



Fonte:  Dom Amaury Castanho - Bispo Diocesano de Jundiaí

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