Origem e Valor dos Evangelhos

 


Autor: John Nascimento


Origem dos Evangelhos


Actualmente nós temos quatro Evangelhos canónicos : Segundo S. Mateus, segundo S. Marcos, segundo S. Lucas e segundo S. João.


Estes livros não foram compostos de uma só vez, como acontece quando se escreve e publica qualquer livro moderno.


Antes de aparecerem como livros, eles passaram de mão em mão, de comunidade em comunidade, num período de gestação.


Por isso não têm apenas a garantia dum simples autor, mas também o apoio ou a garantia da Igreja em cujo seio nascerem e circularam.


O Cristianismo, desde Jerusalém, difundira-se pela Judeia, Samaria, Síria (Antioquia), e chegara mesmo a Roma, capital do mundo antigo.


A circulação deste maravilhoso peregrinar é, em parte, narrado no Livro dos Actos de Apóstolos e reflecte-se nas Epístolas de S. Paulo e de alguns dos outros apóstolos.


Ora os Apóstolos e outros mensageiros cristãos, ao chegarem ao seio de uma nova comunidade, anunciavam a "Boa Nova" (é este o sentido da palavra "Evangelho"), anunciavam a Morte redentora e a Ressurreição vivificadora de Cristo.


Depois, à medida que iam aumentando os convertidos, a pregação desenvolvia-se sobre a Paixão de Jesus e sobre os acontecimentos da Sua vida pública a começar pelo Seu Baptismo no Jordão.


- “É indispensável, portanto que, dentre os homens que nos acompanharam durante todo o tempo que o Senhor Jesus viveu no meio de nós, a partir do baptismo de João até ao dia em que nos foi arrebatado para o Alto, um deles se torne, connosco, testemunha da Sua Ressurreição”.(Act.1,21-22).


Estas narrações, à força de serem repetidas, começavam a tomar uma forma unitária e fixa.


Pouco a pouco, começaram a pôr-se por escrito para atender as necessidades do ensino da Igreja.


Assim devem ter aparecido, em primeiro lugar, as narrações da Paixão e Ressurreição de Cristo, seguidas de colecções de ensinamentos de Jesus e de factos importantes da Sua vida pública.


Uma primeira compilação, feita em "folhas soltas", deve ter sido feita em Jerusalém, em arameu; e, o seu autor, segundo a tradição, foi o Apóstolo Mateus :


- “Partindo Jesus dali, viu um homem chamado Mateus, sentado ao telónio, e disse-lhe : "Segue-Me"! E ele levantou-se e seguiu-O”. (Mt. 9,9).


Mas este original não chegou até nós.


Traduzido para grego e muito ampliado por volta do ano 70, é o actual Evangelho de S. Mateus.


Isto deve ter acontecido provavelmente em Antioquia.


Entretanto, em Roma, como é mais verosímil, Marcos, servindo-se das fontes escritas desta Igreja e sobretudo da pregação oral e viva de Pedro, escreveu também um Evangelho, isto é, a "Boa Nova de Jesus Cristo , Filho de Deus" :


- “Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus”.(Mc. 1,1).


Pouco depois, Lucas, tal como "muitos" outros empreenderam compor a narração dos factos que entre eles ocorreram, transmitidos por testemunhas oculares, depois de muita investigação, escreveu também duas obras: o 3° Evangelho (segundo S. Lucas), e os Actos dos Apóstolos :


- “Já que muitos empreenderam compor uma narração dos factos que entre nós se consumaram, como no-los transmitiram os que desde o princípio foram testemunhas oculares e se tornaram servidores da Palavra, resolvi eu também, depois de tudo ter investigado cuidadosamente desde a origem, expor-vos por escrito e pela sua ordem, ilustre Teófilo, a fim de que reconheças a solidez da doutrina em que fostes instruído”. (Lc. 1,1-4).


Lucas inicia o seu Evangelho com este prólogo escrito num grego elegante e clássico, diferente do resto do livro que é num estilo popular-religioso, baseado no grego dos Setenta (LXX), cheio de semitismos.


Este nome de Teófilo (palavra grega que significa "amigo de Deus"), não se sabe bem se é um personagem ou apenas o símbolo das comunidades cristãs a quem Lucas dedica o seu Evangelho.


No seu Evangelho, Lucas apresenta Jesus desde a Galileia até Jerusalém.


Nos Actos apresenta Jesus de Jerusalém a Roma, pelo que começa logo com o facto da Ascensão após um prólogo que serve de ponte entre os dois livros. (Act.1,4-11).


Finalmente, em Éfeso, segundo parece, foi publicado o 4° Evangelho, sob a orientação do Apóstolo João.


Este Evangelho, comparado com os três anteriores, os chamados "Sinópticos", difere bastante deles e, sem perder as características duma testemunha ocular, apresenta já um estado evoluído da reflexão da Igreja sobre o Mistério de Cristo.


-Valor histórico dos Evangelhos


Os Evangelhos perpetuam para nós, dum modo particular, a pregação da Igreja Apostólica :


- Os autores sagrados, porém, escreveram os quatro Evangelhos, escolhendo algumas coisas entre as muitas transmitidas por palavra ou por escrito, sintetizando umas, desenvolvendo outras, segundo o estado das Igrejas, conservando, finalmente, o carácter de pregação, mas sempre de maneira a comunicar-nos coisas autênticas e verdadeiras acerca de Jesus. Com efeito, quer relatassem aquilo de que se lembravam e recordavam, quer se baseassem no testemunho daqueles "que desde o princípio foram testemunhas oculares e ministros da palavra", fizeram-no sempre com intenção de que conheçamos a "verdade" das coisas a respeito das quais fomos instruídos.(Lc. 1,24). (cf. Const. sobre a Divina Revelação, (DV) n. 19).


Não foi, pois, intenção dos Evangelistas compor uma biografia de Jesus, em sentido moderno.


A intenção deles foi a de nos anunciar a “Boa-Nova" de Jesus, a fim de que acreditássemos que Ele é o Messias, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhamos a vida em Seu nome.


Por isso, os autores neotestamentários não escreveram tudo o que Jesus fez :


- “Muitos outros prodígios fez ainda Jesus, na presença dos discípulos, os quais não estão escritos neste livro”. (Jo.20,30-31).


Assentes estes princípios, quanto ao valor histórico dos Evangelhos, devem evitar-se dois extremos :


1 . O daqueles que pensam que os autores sagrados foram uma espécie de "repórteres" dos meios de comunicação que acompanharam o Senhor, registando minuciosamente cada uma das Suas palavras e cada um dos Seus actos.


2 . O daqueles que, no extremo oposto, crêem que os Evangelistas foram apenas uns compiladores de folhas soltas sobre os vários episódios da vida de Jesus, que teriam circulado nas primitivas comunidades.


Os autores do Novo Testamento nem foram "repórteres" nem coleccionadores.


Continuando a falar por comparações, poderíamos dizer que foram antes pintores.


Cada um deles traçou-nos um quadro de Jesus, segundo o encontrou na sua própria Igreja e o Espírito Santo lhe inspirou.


Ora bem, quando quatro artistas retratam o mesmo personagem, temos quatro quadros que traduzem fielmente o personagem retratado, mas com intuições diferentes, cores de fundo diversas, jogos de luz variados, etc.


Uma coisa parecida sucede com os quatro Evangelhos.


Cada um deles retrata fielmente o rosto de Cristo, mas sob perspectivas diferentes, com tonalidades e cores variadas.


Com efeito, eles não captaram a realidade cristã dum modo inerte e frio, mas dum modo vivo e à luz da fé. (cf. Difusora Bíblica).

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