Autor: Dom Amaury Castanho
Jundiaí (SP), 27/1/2004 - 08:24
Não deixa de ser preocupante, como vimos em artigos anteriores, a expansão, no Brasil e na América em geral,das Igrejas "pentecostais" e "neo-pentecostais". No ano de 1889, quando foi proclamada a República, os católicos éramos 98% da população. O último Censo realizado pelo IBGE, apresenta um quadro religioso bem diferente. No ano 2000, 73,9% dos brasileiros se declarou inserido na Igreja Católica, 15% nas Igrejas Protestantes "históricas", "pentecostais" e "neo-pentecostais" e o restante em outros grupos religiosos menores, aumentando o número dos não filiados a qualquer Igreja. Foi rápido, sem dúvida, o crescimento dos não-católicos, especialmente de 1970 para cá.
Os Bispos, Sacerdotes e Pastoralistas da Igreja Católica viemos nos perguntando ultimamente sobre as razões dessa nova situação e quais os caminhos para responder a esses novos desafios. Na última Assembléia Geral dos Bispos, realizada em Itaici, em abril do ano passado e na Assembléia do episcopado paulista, realizada no mesmo local em junho, aprofundamos a reflexão sobre essa nova situação perguntando-nos, especialmente, que respostas dar à mesma. Tanto o novo Plano de Evangelização da CNBB, como o do episcopado paulista, definidos em outubro, dão ênfase ao preocupante problema e à sua urgente superação.
Antes de tudo, tomamos consciência das falhas e omissões na evangelização e catequese dos que foram batizados por nós. São milhões, que certamente não se tornaram adultos e conscientes da própria fé. É geral o reconhecimento de que a ênfase que viemos dando aos problemas políticos e sociais, particularmente depois de 1970, é uma das causas dessa nova situação. Acrescente-se o notável investimento feito pelas Igrejas "pentecostais" e "neo-pentecostais" em emissoras de rádio e canais de televisão como, também, as suas freqüentes visitas de casa em casa, bairro após bairro. Reconheçamos, ainda, que nem sempre as nossas Paróquias deram aos fiéis que as procuravam o acolhimento a que tinham direito.
Além do dever de nos voltarmos para um trabalho de evangelização e catequese centrado na pessoa e mensagem de Jesus Cristo, mais que em problemas de ordem social e política, ficou bem claro que em todos os Serviços, Paróquias, Movimentos e Organizações da Igreja Católica, deveremos dar maior ênfase à Pastoral do Acolhimento. A menos que os que nos procuram sejam acolhidos com respeito e atenção, continuarão buscando alhures onde aconselhar-se sobre os seus problemas pessoais. O acolhimento que temos a obrigação de dar aos que nos procuram, deve levar, também, os nossos Sacerdotes, Diáconos e Agentes de Pastoral, ao encontro dos que sofrem enfrentando maiores problemas em suas vidas. Urge uma presença maior da Igreja nas periferias das nossas cidades.
A Pastoral da Visitação é outro caminho que precisa ser percorrido por nós. Anunciar de casa em casa o Kerigma, o amor de Deus, a redenção realizada por Cristo, a necessidade do batismo e da inserção na comunidade de fé, são iniciativas mais que urgentes. Felizmente, as Escolas de Evangelização, os Cursos dos nossos Centros Catequéticos que se multiplicam e a ação das nossas numerosas Pastorais, Associações e Movimentos, vêm valorizando a Pastoral da Visitação. Entretanto, é pouco o que foi feito levando em conta o que os "pentecostais" e "neo-pentecostais" fizeram e continuam fazendo.
Como comunicador social, insisto em que outro caminho a ser percorrido sempre mais, como resposta ao desafio da expansão dos não-católicos nas últimas décadas, deve ser o de organizar bem melhor a Pastoral das Comunicações, investindo substancialmente em jornais, programas radiofônicos e televisivos, valorizando o teatro, o canto e outros recursos da comunicação social. É urgente uma reavaliação das editoras, dos jornais, revistas, rádios e canais de televisão que temos, dando-lhes melhor qualidade, contratando profissionais mais qualificados, colocando-os a serviço dos valores do Evangelho. A Igreja Católica, que sempre foi pioneira na imprensa falada e escrita, lamentavelmente chegou à televisão com 50 anos de atraso. De 1950 para cá, acabamos perdendo a liderança na informação e formação da opinião pública. Ou reconquistamos o espaço perdido ou o futuro será ainda mais preocupante.
A criatividade e novos métodos na ação evangelizadora e catequética da Igreja, veio sendo objeto de incentivo por parte do venerando Papa João Paulo II desde o ano de 1983, quando começou a insistir em "uma nova evangelização, com renovado ardor missionário, novos métodos e nova linguagem". Ele mesmo, em seu longo e fecundo pontificado, tornou-se um exemplo para os Bispos e Presbíteros da Igreja. Incansável, João Paulo II partiu para o encontro de todos os povos, percorrendo todos os caminhos do mundo em suas Visitas Apostólicas. No Vaticano acolheu, paternalmente, milhões de peregrinos católicos, cientistas, artistas, jovens e famílias, esportistas e turistas não-católicos. Ninguém como ele tem valorizado tanto os modernos meios de comunicação social. Que o seu exemplo nos impulsione a percorrer os mesmos caminhos.
Fonte: Dom Amaury Castanho - Administrador Apostólico da Diocese de Jundiaí
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